XII CADN AFA (Pirassununga)



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Transcrição:

XII CADN AFA (Pirassununga) Expansão da Influência Chinesa na Namíbia: Impactos na Cooperação entre Brasil e Namíbia e no Atlântico Sul Diana Voervloet Dalman de Magalhães - 5º Período do curso de Relações Internacionais da Unilasalle do Rio de Janeiro Felipe Carvalho da Silva - 5º Período do curso de Relações Internacionais da Unilasalle do Rio de Janeiro Lauany Ferreira Fabbreschi Carvalho - 5º Período do curso de Relações Internacionais da Unilasalle do Rio de Janeiro Naemi Goto Wakisaka -5º Período do curso de Relações Internacionais da Unilasalle do Rio de Janeiro Paola Gonçalves Matias -5º Período do curso de Relações Internacionais da Unilasalle do Rio de Janeiro RESUMO: Este artigo inicia o estudo das ações bilaterais do Brasil na área de defesa do Atlântico Sul relacionando-as com a presença de potências estrangeiras no dado perímetro oceânico. Abordagem histórica e analítica das cooperações entre Brasil e África, e especificamente com Namíbia, na área de defesa naval traçando um paradoxo com a aproximação da China com a Namíbia e o impacto da expansão da influencia chinesa no que cerne a cooperação Brasil-Namíbia na esfera de defesa do entorno estratégico do Atlântico Sul. A metodologia usada nesta pesquisa é de método bibliográfico promovendo uma analise histórica das relações já mencionadas e também em caráter corroborável, foi realizada uma entrevista a um oficial da reserva da Marinha Brasileira. Por fim promove uma analise comparativa das relações cooperativas de Brasil e China com a Namíbia identificando as incongruências diante da abordagem estratégica conceitual de Alfred Thayer Mahan a qual enfatiza a importância da expansão naval para ampliação da capacidade de projeção de poder. Palavras-chaves: Namíbia, Brasil, China, Cooperação 1

INTRODUÇÃO O Atlântico Sul ganhou destaque nas últimas décadas, devido a militarização de estratégia de defesa das riquezas ali presente. Para tanto este artigo realiza um estudo sobre o Brasil e a defesa do Atlântico Sul perpassando a importância de tal perímetro nas esferas econômicas e no monitoramento dos interesses soberanos brasileiros. Dada importância do caráter de defesa na zona do Atlântico Sul aborda o trabalho os fatos da politica externa do Brasil e seus acordos bilaterais com países da costa do Continente Africano, assim como as relações são históricas. Esboça-se uma abordagem empírica das relações brasileiras com países africanos contendo o eixo nas relações de cooperação com a Namíbia na sua estruturação militar do poder naval, portanto, firma uma parceria mais efetiva no controlo e defesa dos recursos e rotas comerciais do Atlântico Sul. Ressalta-se ainda, a análise do efeito provocado pela aproximação da China para com a Namíbia, nas relações cooperativas desse país com o Brasil e como consequência dessa relação como China-Namíbia, o impacto na defesa do Atlântico Sul. Explora-se a presença da China na Namíbia em relação à cooperação assimétrica do controle de recursos naturais, em especial energéticos, estrategicamente encontrados tanto na área continental quanto no oceano sul-atlântico e o produto de tal exercício. A aplicação da análise conceitual de Alfred Thayer Mahan (1890) que defende a projeção do poder naval possibilita, analiticamente, dentre as relações cooperativas apresentadas neste artigo a que possui as vantagens comparativas na esfera geopolítica. Portanto, o problema analisado no texto é: o de quanto a aproximação entre China e a Namíbia pode afetar o laço cooperativo desse país com o Brasil em relação a defesa do Atlântico Sul? A hipótese básica é a de que a presença da China na Namíbia afeta diretamente a defesa do Atlântico Sul, visto que a cooperação assimétrica praticada pelos chineses foca no controle de recursos naturais, em especial energéticos. Riquezas, estas, estrategicamente encontradas tanto na área continental quanto no oceano sul-atlântico. Dessa forma não se pode excluir a possibilidade de uma projeção naval futura chinesa, que possa afetar as relações de cooperação do Brasil no que tange a defesa do Atlântico Sul, bem como a identidade regional construída, enfraquecendo-as e afetando os interesses brasileiros. 2

1. ATLÂNTICO SUL E SUA RELEVÂNCIA Em suas dimensões política, econômica, social, militar e ambiental, os oceanos têm desempenhado um importante papel na história das civilizações. Os espaços marítimos são decisivos para o fluxo de comércio, para a exploração de recursos e o transporte, se configurando como parte importante do processo de globalização. No caso do Brasil, o mar possui uma relevância inquestionável para seu progresso, e desde o descobrimento do país, vem sendo instrumentalizado para determinado fim (Silva, 2014, p. 202) O Brasil é um país de dimensões continentais que possui cerca de 8,5 milhões de km² de área terrestre e uma área marítima de 4,5 milhões de km², em grande parte derivada de seu imenso litoral (7,4 mil km), configurando o que se denominou como uma verdadeira Amazônia Azul. Nessa imensa área, incluindo a camada do pré-sal, estão as maiores reservas de petróleo e gás, fontes de energia imprescindíveis para o desenvolvimento do País, além da existência de grande potencial pesqueiro, mineral e de outros recursos naturais (Ministério da Defesa, 2012, p. 17). O litoral brasileiro possui dois segmentos, o primeiro vai do cabo de São Roque, no Nordeste, ao arroio Chuí no Sul e, o segundo estende-se do cabo de São Roque ao rio Oiapoque, no Norte. O primeiro segmento vincula o país fisicamente ao Atlântico Sul tratando-se da faixa mais povoada do território onde estão localizados os principais portos, por meio dos quais se viabiliza a maior parte do comércio exterior brasileiro. Este segmento marítimo é vital para o relacionamento (político e econômico) com os países vizinhos do Cone Sul. Já o segundo segmento projeta o Brasil para a porção norte da África, para a Europa Ocidental, Canal do Panamá, Caribe e América Central e do Norte (Ibidem, p. 20). O Atlântico Sul possui áreas estratégicas significativas como a "Garganta Atlântica", entre a costa do Nordeste brasileiro e a África Ocidental, espaço intercontinental vital para o comércio mundial. As passagens ao sul, que ligam o Atlântico ao Pacífico, constituem uma via alternativa ao Canal do Panamá, principalmente para navios de grande porte. A rota do Cabo da Boa Esperança, por conectar o Atlântico Sul ao oceano Índico, é uma alternativa ao canal de Suez, oferecendo, ainda, o melhor acesso marítimo à Antártica (Ibidem, p. 38). Na dimensão global, o Atlântico Sul tem uma importância relativa como via de comunicação marítima, e é periférico em termos estratégicos. Mas, no âmbito regional e local, a sua importância econômica e geopolítica é fundamental, sendo para o Brasil uma via de transporte essencial para o seu comércio exterior; fonte de riquezas, especialmente na exploração de petróleo; elemento fundamental para a sua defesa; e via para a sua projeção marítima internacional (Silva, 2014, p. 202). Dessa forma, por possuir a maior costa entre os países banhados pelo Atlântico, o Brasil exerce uma influência natural sobre o Atlântico Sul, e assim, o considera parte integrante do seu entorno estratégico, devendo defendê-lo. Assim como há relação direta entre a estabilidade sul-americana e a estabilidade brasileira, a paz no Atlântico Sul é condição essencial para a manutenção da segurança do Brasil. Os problemas do Atlântico Sul são, portanto, problemas do Brasil (IPEA, 2014, p.10) Para viabilizar a defesa sul-atlântica, o Brasil propôs em outubro de 1986, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), a criação da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS). Esta foi aprovada pela resolução 41/11 da ONU que conclama os países militarmente significativos de outras regiões a não introduzirem armamentos de destruição em massa no Atlântico Sul. Sua presença militar nesse oceano deve ser reduzida e, futuramente, eliminada. Conflitos e rivalidades estranhos ao Atlântico Sul não devem ser projetados sobre ele por países situados em outras regiões (Ministério da Defesa, 2012, p. 39). A ZOPACAS inclui países da costa leste da América do Sul e da costa oeste da África. 3

Atualmente possui 24 países membros: África do Sul, Angola, Argentina, Benin, Brasil, Cabo Verde, Camarões, Congo, Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Namíbia, Nigéria, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Togo e Uruguai (Ibidem, p. 39). Dentre os principais objetivos da ZOPACAS estão: preservar a independência, a soberania, a integridade territorial e desenvolver as relações sob condições de paz e liberdade; preservar a região da militarização, da corrida armamentista, da presença de bases militares estrangeiras e, sobretudo, das armas nucleares; promover a cooperação regional para o desenvolvimento econômico e para a paz; estimular os princípios e normas do direito internacional aplicáveis ao espaço oceânico; impulsionar a paz e a segurança internacionais, eliminando todas as fontes de tensão na região; e incentivar a proteção do meio ambiente e a conservação dos recursos da área oceânica. Dentre os objetivos já alcançados destaca-se o incentivo a independência da Namíbia e ao fim do Apartheid na África do Sul (Cabrera; Souza; Correia; 2007 p. 3). Percebe-se que a criação de uma identidade sul-atlântica por meio da ZOPACAS é uma tarefa complexa. Primeiramente, porque o Atlântico Sul é compartilhado com dezenas de nações do continente africano. Segundo, por conta da presença de possessões extrarregionais. E, por fim, pelas características das normas vigentes no mar, onde a liberdade de navegação não permite um conceito restrito de "territorialidade", visto que isso significaria reduzir a capacidade da potência militar hegemônica e das potências navais de atuarem na política internacional através de suas forças navais (Silva, 2014, p. 209). A manutenção do Atlântico Sul como uma zona de paz, livre de armas de destruição em massa requer que os países lindeiros tenham capacidade para, juntos, manterem-na livre de ameaças extrarregionais. Tal capacidade se faz necessária, ainda, para que as linhas de comunicações marítimas que atravessam o Atlântico Sul se mantenham em funcionamento, preservando, dessa maneira, a boa ordem no mar (IPEA, 2014, p.12). Para alcançarem tal objetivo, os países lindeiros devem dispor de meios materiais e humanos adequados, ademais da necessidade de certo grau de institucionalidade nas relações entre os dois lados do Atlântico Sul, facilitando o diálogo dos temas de interesse mútuo e o avanço de atividades de cooperação (Ibidem, p. 12). Assim, fica claro que a estabilidade sul-atlântica depende, fundamentalmente, de processos ocorridos na costa ocidental africana, visto que esta também é banhada por tal oceano. Por isso, o entorno estratégico brasileiro se estende até a outra margem do Atlântico. E esse é um dos motivos pelo qual o Brasil busca contribuir para o desenvolvimento desses países lindeiros, em áreas tão diversas como saúde, educação, agricultura e segurança pública (Ibidem p. 10). 2. COOPERAÇÃO BRASIL-AFRICA O Brasil emprega uma política de cooperação Sul-Sul com o continente africano pautado na ideia de estreitamento das relações com os países dessa região. Para isso se busca desenvolver uma construção de identidade comum com os países da costa da África, tendo em vista que o Atlântico Sul representa uma área de importância geopolítica, econômica. Essa importância se dá pelas oportunidades que são oferecidas por esse oceano, tanto nas áreas de minérios, petróleo, quanto a sua biodiversidade entre outros que poderão ser explorados (Abdenur; Neto; 2014 p.219). Uma das formas que o Brasil arquiteta a sua política de influência é através da ZOPACAS, esta organização busca consolidar os interesses de seus membros na zona do Atlântico Sul. As relações cooperativas do Brasil nesta região buscam a construção de um 4

cinturão de boa vontade 1, isto em virtude do fortalecimento dessa organização para prováveis e futuras ameaças. O poder naval brasileiro nas relações de cooperação com os países da costa ocidental africana se mostra como uma ferramenta eficaz da política externa brasileira e da política de defesa. Temos como exemplo a relação de sucesso em cooperação entre Brasil e Namíbia na área de defesa e segurança do Atlântico Sul (Abdenur; Neto; 2014 p.219). 2.1 HISTÓRICO DE COOPERAÇÃO BRASIL-NAMÍBIA A ligação brasileira com a Namíbia aparece antes mesmo da independência do país africano, pois as relações diplomáticas iniciaram-se com o apoio do presidente José Sarney, em 1987 ao líder do movimento SWAPO (Organização do Povo do Sudoeste Africano) ao recebê-lo em Brasília. (Itamaraty, 2015) A relação diplomática bilateral entre Brasil e Namíbia teve e tem ênfase na área de defesa, tendo em vista que as primeiras ações de cooperação ocorreram na área de estruturação e formação da marinha da Namíbia, até então inexistente, através do estabelecimento do Acordo de Cooperação Naval Brasil Namíbia (ACNBN) em 1994. O relevante dessa relação ficou pautado pelo ACNBN, que definia a construção da marinha da Namíbia assim como o adestramento das tropas; estudos de sua região hidrográfica, que visavam melhor utilização dos seus recursos; o fornecimento de equipamentos e navios adequados para a proteção da costa namibiana e as responsabilidades financeiras quanto à formação dos militares, custeado pelo Brasil (Almeida, 2012, p.36). A expectativa da Marinha do Brasil (MB) para essa cooperação era o retorno do investimento na medida de compensação dos custos do ACNBN. A execução do acordo de intercâmbio de conhecimento entre os países se constituía pela formação dos militares namibianos em território brasileiro e o envio de militares da MB para secretariar o Ministério de Defesa namibiano, desta forma na década de 1990 iniciou-se construção da Marinha Namibiana (Ibidem, p. 40). A assistência brasileira se fez presente também no mapeamento hidrográfico da costa namibiana, como previsto no acordo. Para a realização desse estudo houve a necessidade de um trabalho em conjunto entre os órgãos público e privado brasileiros. Assim, a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON) 2 atuou junto a MB no mapeamento hidrográfico e no desenvolvimento da infraestrutura de apoio logístico após a assinatura do acordo. Em razão desse apoio, o porto de WalvisBay (Baía das Baleias) foi o local escolhido para o início da operação, e também foi onde seria construída a futura base naval (Ibidem, p. 41). O fornecimento das embarcações para a Namíbia, conforme previsto no acordo sofreu mudanças, muito devido ao fato do país recém-independente e a sua limitação de recursos, a reavaliação da forma como os navios seriam empregados no mar e a tentativa do governo da Namíbia de conseguir empréstimos concessivos com o Brasil, foram fatores que impediram a aquisição de quatro navios-patrulha (NPa). A aquisição da primeira NPa só ocorreu em 2004 (Almeida, 2012, p. 42). As crises financeiras na Índia em 1997 e na Rússia em 1998 agravaram-se tendo em sequência uma crise econômica internacional, o que acabou por influenciar o ACNBN, uma vez que os dois países enfrentaram dificuldades em cumprir o acordo. No caso do Brasil, o país não conseguia mais arcar com os custos da formação e treinamento dos militares namibianos. Esta situação levou a uma revisão do acordo (Ibidem, p.42). 1 Discurso do Ministro da Defesa na abertura do II Seminário de Defesa Nacional, realizado na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro, em 15 de fevereiro de 2012. 2 A EMGEPRON é uma empresa pública, vinculada ao Ministério da Defesa, por intermédio do Comando da Marinha do Brasil, e que atua na gerência de projetos e na comercialização de produtos e serviços do setor naval da indústria de defesa nacional. 5

Em 2001, foi estabelecido o novo acordo de cooperação, no qual consta que os custos de formação seriam acordados pelos órgãos executores. A partir disto, verificamos um fortalecimento da cooperação bilateral, podendo se notar no artigo II, inciso I que diz: as partes cooperarão entre si, como objetivo de criar e fortalecer a Ala Naval do Governo da República da Namíbia (Expedito, 2011, p.1). A intensificação das relações bilaterais favoreceu a área diplomática e as atividades do ACNBN. A partir de 2003, foi possível notar esta intensificação, tanto que neste mesmo ano o Brasil fez a doação de uma corveta, que passou para o controle da marinha da Namíbia, após reparo. Para auxiliar na manobra operacional desta aquisição foi criado o Grupo de Apoio Técnico (GAT), estabelecendo-se na Namíbia Almeida, 2012, p. 44-45). No ano seguinte foi acordado a construção de um NPa e de duas Lanchas-Patrulhas (LPa). As embarcações foram entregues em 2009 e 2011, sendo o NPa e uma LPa e a outra LPa, respectivamente. A criação do Corpo de Fuzileiros Navais da Namíbia (CFN-N) foi outro ponto importante para estreitar as relações. Ficou decidido que a MB daria apoio para o treinamento do CFN-N na própria Namíbia, sendo assim, em 2008 deu se início ao CFN-N (Expedito, 2011, p.4-6). O expressivo cooperativo brasileiro nesta relação aborda um grau de importância relevante em comparação a outros países africanos, que solidifica a cooperação Sul-Sul em acordos bilaterais na área de defesa no âmbito do Atlântico Sul. 2.2 PADRÃO DE COOPERAÇÃO BRASILEIRO O padrão de cooperação que o Brasil pratica busca fazer uma ligação entre a sua política externa e a sua política de defesa que tem como meta aumentar a influência brasileira dentro e fora da sua área regional. Desta forma, o modo como o Brasil se relaciona com os países africanos, pela cooperação Sul-Sul faz com que a sua imagem ganhe cada vez mais força no cenário internacional. Para instalação de tal colaboração o governo brasileiro se utiliza da ZOPACAS, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), entre outras instituições. O sucesso da cooperação entre o Brasil e a Namíbia se dá por vinte e um anos, e esse resulta ocorre pela orientação pacifista do Brasil, o distanciamento dos conflitos internacionais e o desenvolvimento que a Marinha Brasileira possuía na época em que a cooperação foi estabelecida. Ao longo da história da cooperação entre os dois países é possível notar os ganhos que a Namíbia obteve. O mapeamento hidrográfico possibilitou ao governo daquele país a explorar de forma mais eficiente a sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e também prevenir a sua costa das novas ameaças, como a pirataria, o tráfico de drogas, a pesca ilegal e outras atividades ilícitas; o Levantamento da Plataforma Continental em 2002 foi realizado pela EMGEPRON. A plataforma continental visava possibilitar aquele Estado reivindicar junto à ONU a extensão das suas águas jurisdicionais (ONU, 2009). A questão comercial não mostra ter grande relevância na cooperação entre os países. O Brasil não tem um histórico exportador para a Namíbia, a exportação que ocorre por parte da área comercial brasileira concentra-se na área de defesa, ou seja, armamentos, equipamentos, materiais e serviços, que buscam promover à indústria defesa do Brasil. No segmento de defesa o governo brasileiro pretende efetuar cooperação nas áreas terrestres e aérea. E, essa operação foi iniciada em 2013 com a visita do ministério da defesa a Namíbia, gerando resultados positivos como a exportação de viaturas militares para a força de defesa namibiana. Igualmente, o efeito positivo para o Brasil na cooperação com os países do Atlântico Sul está no fato de que o governo brasileiro propicia no intercâmbio de conhecimento a autonomia a Namíbia, sendo esse o mesmo padrão de cooperação estabelecido com outros países africanos. Portanto a diferença de cooperação que os países do Norte estabelecem com os do Sul é notória, pois a relação Norte-Sul e de dependência e não interdependência. 6

O padrão de cooperação que o Brasil vem exercendo, principalmente com a Namíbia, é de cunho estratégico militar e suporte à manutenção de seus interesses soberanos, assim também como da ZOPACAS. O intercâmbio técnico e intelectual oferecido pelo Brasil de forma a instruir e habilitar a defesa naval namibiana tem um reconhecimento de parceria e não somente de ganhos relativos como agem outras potência ao se introduzirem no continente africano. Potências tais, como a China, em que a cooperação é divergente á brasileira por dispor de caráter de expectativa de retorno por vias de projeção de poder ou influência de poder e se instalar, como no caso da Namíbia com bases militar chinesas, para captação de forma incisiva dos ganhos na dada conjuntura. 3- NOVOS DESAFIOS O Brasil enfrenta alguns desafios na cooperação com a Namíbia, a priori, com relações às questões orçamentárias, pois o Brasil historicamente fornece ajuda em defesa, baseada na ajuda econômica na área militar. Entretanto, a deficiência orçamentária do Brasil nos últimos anos é um problema na relação, pois não se detém recursos suficientes. Outra questão é a interferência da China, decorrente de sua investida por recursos o que intensificou suas relações com a Namíbia. Esta significativa investida econômica resultou na construção de projetos de prestígios, dentre os quais estão a construção de centros esportivos e prédios de grande porte, que marcam a presença asiática. Na área de defesa, a marinha tem sido destaque pela ajuda com o navio Elefante, de apoio logístico, treinamento militar e armamentos. Assim, a Namíbia tem se tornando mais dependente da China que por sua vez tem aumentado sua área de influência para a obtenção de recursos visando sustentar o seu crescimento. A interferência asiática pode se tornar um desafio a defesa do Atlântico Sul, pois não sabemos em que medida esta presença pode se tornar uma ameaça ao equilíbrio na cooperação sul-sul entre Brasil e Namíbia, com isso implicando no planejamento estratégico brasileiro para defesa do Atlântico-Sul. O ACNBN e a ZOPACAS podem sofrer alterações pela crescente aproximação chinesa. Por esse motivo, será analisada a cooperação China- Namíbia na área militar, principalmente na área naval, a fim de compreender tais implicações e como a diplomacia brasileira pode intervir na política externa por meio de estratégias, com o objetivo de evitá-las (Almeida,2012p.15). 3.1- DEFICIÊNCIAS DE RECURSOS Em 2015, o Ministério da Defesa terá um orçamento de R$ 17,028 bilhões em custeio e investimento. Esse volume de recursos representa contingenciamento de R$ 5,617 bilhões (24,8%) em relação ao fixado na Lei Orçamentária Anual (LOA) que era de R$ 22,645 bilhões. Sabe-se que restrições orçamentárias semelhantes tem atingido outros setores nacionais e compreende-se que ela seja decorrência da situação econômica e financeira do país. Diante disto o Ministério da Defesa se manifestou afirmando estar ciente de que o reajuste fiscal é condição essencial para a estabilidade econômica do País. (Brasília, 2015 p.1). Assim, a Namíbia e o Brasil têm o desafio em dar continuidade aos projetos, mostrando a necessidade de adaptação a novas circunstâncias de modo a contribuir aos interesses nacionais para a defesa do Entorno estratégico do Atlântico Sul (Ipea,2014)(Almeida, 2012) As restrições orçamentárias da Namíbia e a falta de capital do Brasil levaram à repartição de custos entre ambos os países. Dessa forma, a Namíbia tem recebido ofertas apresentadas por potências estrangeiras, principalmente da China. A questão orçamentária brasileira favorece o governo chinês na sua inserção na Namíbia, pois, como pode ser visto, em 2011 os investimentos na África por parte do Brasil foram de U$27,66 bilhões enquanto o 7

fluxo comercial com a China foi de U$166 bilhões ( Abdenur,2015 p.6) Percebe-se que os recursos destinados as Forças Armadas do Brasil são insuficientes, não condizendo com a estatura político-estratégica da nação. (Pinto; Rocha; 2005 p.125-139) Encontra-se inserido na Estratégia Nacional de Defesa (END) um esforço para melhorar os recursos do exército, marinha e aeronáutica com um investimento de R$66,4 bilhões em projetos estratégicos, de 1999 até 2030. Alguns desses projetos são: desenvolver submarino de propulsão nuclear, fortalecer a vigilância fronteiriça com uso de radares, aquisição de novos blindados e anfíbios, conduzir a produção semi-industrial de combustível nuclear, construção de navios-patrulha oceânicos e renovar a frota de superfície com embarcações modernas, compra de novos caças e helicópteros, melhorar o transporte militar com o desenvolvimento de novos cargueiros pela Embraer e aquisição de material bélico. 3.2 PRESENÇA DA CHINA A retórica chinesa para com a África historicamente advém da amizade. A presença chinesa neste continente, com uma estratégia diplomática passou de uma agenda políticoideológica para o foco político-econômico (Alden, 2006 p.52) A conferência Afro-Asiática de Bandung, 1955, consagrou o movimento dos Países Não-Alinhados. Na terceira conferência, intensificaram-se os movimentos de descolonização na África entre as décadas de 1960 e 1970. Nesse período, a China passou a declarar apoio aos movimentos de descolonização e estabelecer relações diplomáticas. Isso foi um marco na diplomacia e na cooperação econômica, com ajuda financeira para obras de infra-estrutura, e com o objetivo de estabelecer a imagem chinesa diante da cooperação Sul-Sul (Almeida, 2012.p53). Em certos casos, a presença chinesa se tornou alvo de insatisfações, pois trouxe efeitos negativos à economia, devido a substituição de mão de obra local por chinesa e, por conseguinte, o fechamento de muitos locais de trabalho no comércio nacional, por conta dos baixos preços dos produtos chineses. Tais circunstâncias resultaram na indignação da população africana e a instabilidade nacional frente à entrada chinesa na África (Alden,2007 p.60) Atualmente a relação entre China e Namíbia se concentra em alguns setores,como no campo econômico, imigração de chineses para a Namíbia e relação militar com foco a área naval.(almeida,2012) No setor econômico, a China tem grande necessidade de manter o comércio com a Namíbia, pois tal potência asiática precisa importar de commodities para sustentar seu crescimento e a Namíbia da importação produtos de baixo custo. A China tem como maior foco na compra de recursos naturais, e isso é revelado analisando os principais produtos que importa da Namíbia: urânio, cobre e zinco. Caso delicado está relacionado a compra de Urânio pelo Grupo China Guangdong Nuclear Power que detém a mina Husab, a qual acredita-se ser uma das maiores do mundo.essas relações comerciais movimentaram o equivalente a 529 milhões de dólares em 2010. (Almeida,2012 p.34apud Halper,2012 p.62) Na área da defesa, os primeiros contratos obtidos pela China, a priori, foram na área de construção. Em 2007, a Academia Militar foi construída por fornecimento de um empréstimo de US$8,5milhões livre de juros. Juntamente com esse empréstimo, o governo namibiano adquiriu várias aeronaves militares chinesas (Almeida, 2012.p35). Outro grande passo do governo namibiano foi a compra com custos reduzidos do navio de patrulha Elephant, e o governo chinês, juntamente com o navio, ofereceu também serviços e armamentos. Todos esses fatores acima mencionados contribuíram para que a China intensificasse sua presença na capacitação militar da Namíbia e também no apoio logístico de todas essas operações. 8

Em pesquisa para este artigo, foi realizada uma entrevista junto ao professor José Vanni Filho, oficial da reserva da MB e atualmente Adjunto Técnico-Comercial da EMGEPRON que por essa tem um contato na relação comercial com a Namíbia no fornecimento de equipamentos, manutenção de navio, cursos ministrados de MB e outras esferas comerciais realizadas pela empresa supracitada. Para tal, ao levantar a questão da presença da China na Namíbia, o professor José Vanni Filho afirmou: a Namíbia esta tendo muito assedio da China agora... a China vendeu algumas aeronaves para a Namíbia e também um navio, o Elefante, mais todos os comandos estão em chinês, ou seja, para cada avião precisa de um chinês, tendo uma relação de dependência. Diante da fala do professor, pode-se observar a relação de instituir dependência dos namibianos a utilização dos recursos repassados pela China. 4 APLICAÇÃO DA ABORDAGEM TEÓRICA Tendo por base a discussão sobre a defesa e domínio dos mares, que no presente trabalho foca no oceano sul-atlântico cabe mencionar Alfred Thayer Mahan, que descreve seis condições para obter poder naval relevante: posição geográfica, formação física, extensão territorial, tamanho da população, caráter do povo e caráter do governo (Mahan,1890 p.29). Ter uma posição geográfica favorável pode elevar as chances de domínio no comércio marítimo e na obtenção de poder militar naval, como uma base de operações estratégicas para prevenção de prováveis inimigos (Mahan,1890 p.30). Segundo o Jornal Lanka Herald a China pretende construir 18 bases navais em diferentes regiões do mundo. Porém a posição geográfica brasileira nos dá mais vantagem em relação à China, por estarmos perto da costa Africana e pelo alinhamento governamental entre os países de língua portuguesa principalmente (Lanka Herald,2014). Na formação física, Mahan se refere a costa de um país, que quanto maior sua extensão, maior será a tendência de projeção para ligação com o resto do mundo. E como já foi visto anteriormente, a China detém de tecnologia e capital para se estabelecer em sua costa e em outras partes do mundo comercialmente, porém militarmente sob análise, não é possível na atualidade (Mahan,1890 p.36). Outro ponto analisado por Mahan é o caráter governamental. Segundo tal autor, os homens amam dinheiro, dessa forma, sempre há procura de ganhos, principalmente a busca por recursos, ele cita o exemplo da Espanha e Portugal, que não só procuraram riquezas mas trouxeram mancha ao caráter nacional e também alimentou um comércio e indústria de modo não saudável, através de caminhos equivocados. Assim como na colonização espanhola, por meio da qual muitos espanhóis deixaram sua pátria e influenciaram sobremaneira o modo de vida, língua e cultura, a presença chinesa na África tem se mostrado cada vez mais afirmativa, porém a língua é uma barreira na relação China-Namíbia (Mahan,1890 p.59). Há duas faces do desenvolvimento: a ajuda chinesa na África pode ser bem aproveitada de acordo com as decisões tomadas pelo governante, exercendo com sabedoria o domínio do seu país, levando em conta o futuro da nação e sua afirmação como nacionalidade. Por outro lado, a nação subjugada não teria forças para se desvencilhar dessa influência, levando a dependência. É certo que o controle do mar, de rotas e de portos estratégicos pela China que não é fator desconhecido, em contrapartida no caso do Brasil, não há uma busca significante por commodities, nossa aproximação com a Namíbia é de total importância em defesa do nosso maior bem, o Atlântico Sul e para manutenção dos laços entre ambos os países (Mahan,1890 p.48) De acordo com a embaixada chinesa na Namíbia em documento intitulado China's African Policy (2006), a relação de amizade entre China e África foi consolidada na longa história de intercâmbio de ambos. Por compartilharem uma experiência histórica similar eles se ajudaram na luta pela libertação nacional e com isso formaram uma profunda amizade. A 9

partir de então, o comércio bilateral e a cooperação econômica cresceu rapidamente; a cooperação em outros campos tem rendido bons frutos; e a consulta e coordenação nos assuntos internacionais tem se intensificado. A China tem provido uma excelente assistência para os países africanos, e estes também têm dado um forte suporte para a China em muitas ocasiões. Entre os princípios e objetivos da política chinesa para a África estão: sinceridade, amizade, igualdade, solidariedade, reciprocidade, desenvolvimento comum e troca de conhecimento. Esses valores guiam essa relação de cooperação, direcionando e fortalecendoa. Na 15ª Conferência Ministerial do fórum de cooperação China-África (2012) foram estabelecidas áreas prioritárias para a inserção chinesa na continente africano. Prioritariamente a China objetiva expandir a cooperação no investimento e financiamento para apoiar o desenvolvimento sustentável africano. Ela busca prover 20 bilhões de dólares em linhas de crédito para o desenvolvimento da infraestrutura, agricultura, indústria e pequenas e média empresas. Outra questão prioritária é a construção de mais centros de demonstração tecnológica de agricultura, visto que é uma necessidade a ajuda aos países africanos no aperfeiçoamento da produção, processo, armazenamento e distribuição de alimentos; a China pretende contribuir com o envio de 1500 tripulações médicas para África providenciando tratamento medico de graça para pacientes com catarata; implementará o African Talents programa para treinar 30,000 africanos para várias profissões e oferecerá 18000 patrocínios governamentais para bolsas de estudos; pretende estabelecer, ainda, facilidades de formação profissional e técnica, em assistência aos países africanos na capacidade de construção de infraestrutura meteorológica, proteção e administração das florestas; e dará continuidade a ajuda em perfurações e projetos de abastecimento de água no continente. Por fim, China irá apoiar o processo de integração africano e ajudará a aumentar a capacidade integral do desenvolvimento da região. A China será parceira da África no desenvolvimento da infraestrutura transnacional e transrregional, e nos projetos relacionados ao estudo de planejamento e viabilidade desta, encorajando os negócios chineses e instituições financeiras a fazerem parte desse desenvolvimento, ademais, ainda, ajudar os países africanos a atualizar as taxas aduaneiras e as instalações de inspeção de mercadorias para promover a facilitação do comércio intra-regional. Para o governo chinês acordo com a Namíbia se estabelece por uma política com os princípios estabelecidos pela: sinceridade, amizade, igualdade, solidariedade, reciprocidade, desenvolvimento comum e troca de conhecimento, mas tal politica factualmente é marcada de modo assimétrico, pois a China fornece ajuda para assegurar acesso a aos recursos de tal país (China Embassy,2006; Alden,2007 p.45). A China afirma que a cooperação se estabelece visando ganhos mútuos, porém dada a assimetria nas negociações, percebe-se que tal potência asiática tem como objetivo o controle dos recursos naturais da Namíbia, principalmente o urânio, para sustentar seu desenvolvimento. O discurso chinês tem como base a ajuda para o desenvolvimento namibiano, com investimentos econômicos em ajuda técnica para a agricultura, preservação das florestas, fornecimento de água, assistência médica e militar. Porém, dada suas intenções, a presença chinesa tem sido vista pela população namibiana com forte desconfiança, contribuindo para a instabilidade nacional.(almeida,2012 p.62) A presença chinesa também é notada nos investimentos nas indústrias, e no setor varejista presente na Namíbia, além da entrada de produtos mais baratos do que os produtos nacionais. Para tal processo, muitas indústrias, desse setor e do setor de construção tem substituído a mão de obra nacional por trabalhadores Chineses, para intensificação da produção de bens manufaturados. Porém, isso tem gerado efeitos negativos na economia 10

namibiana, pois não há oferta de emprego para suprir a demanda da população nacional; além de muitas empresas de grande e médio porte varejista terem fechado por conta da concorrência dos produtos chineses; e são relatadas várias denúncias de não cumprimento da legislação trabalhista, nas questões do salário, carga horária, dentre outros. Dessa forma, a presença chinesa tem sido causa de instabilidade interna, por conta das insatisfações populares (Alden,2007 p.45). Ademais, na área de infraestrutura, muitas construções são construídas pela ajuda chinesa, como por exemplo os projetos de prestígios, como por exemplo estádios e a escola militar. Porém, pela presença de empresas publicas, muitas suspeitas sobre corrupção tem sido levantadas e também pela favorecimento ilícito (Alden,2007 p.45). A cooperação entre China e Namíbia, como foi apresentada acima, demonstra a relação assimétrica entre ambos os países. Por um lado há o recebimento de investimentos chineses para o desenvolvimento interno, e por outro há insatisfação popular, de modo que a cooperação chinesa se faz na área econômica e segundo a política chinesa, é destina-se principalmente para o desenvolvimento e melhoria da vida da população. Mas, na verdade existe um intuito de administração dos recursos namibianos subentendidos nos diversos projetos para ajuda, incluindo os da área militar, que podem vir a interferir na defesa do Atlântico Sul (Alden,2007 p.45). A presença da China na Namíbia interfere, sobremaneira, na relação Brasil-Namíbia, pois tal país asiático detém mais recursos para ajudar os países africanos. Assim, a China utiliza desse meio para marcar sua presença e influência no continente africano. Entretanto, cabe ressaltar que sua projeção de poder militar não é possível atualmente, pois a China necessita de fortalecimento militar para resolução de problemas internos como o Mar da China e ademais para a presença na África, a forte marinha para se impor na passagem tal rota.(almeida,2012 p.72) O Brasil é favorecido pela sua área geográfica e formação física, como pode ser observado nos conceitos de Mahan. A costa brasileira é extensa, favorável a constituição de portos profundos, facilitando o comércio e embarcações (Mahan,1890 p.30). A posição geográfica Brasileira favorece sua relação com a Namíbia, pois está mais próximo do que a China. Apesar das deficiências orçamentárias brasileiras para auxílio namibiano, o Brasil detém o seu respeito por conta dos seus laços amistosos, e por meio das ZOPACAS tem capacidade de manutenção da defesa e estratégia na cooperação sul-sul com a Namíbia. O Brasil pelo caráter pacifista, tem como objetivo a cooperação com a Namíbia, por meio do ACNBN, a relacionar-se com aquele país, e de cunho assimétrico. Ademais, o caráter populacional, como afirma Mahan, pode ser um fator que favoreça tal relação, pois a população mais receptiva com a língua como facilitadora gera uma cooperação mútua, como pode ser vista com o fornecimento de treinamento aos namibianos (Mahan,1890p.40).Em suma, a interferência da China na defesa do Atlântico Sul, se dá pelas vantagens comparativas na área econômica em relação ao Brasil. Porém, a política brasileira ao contrário da chinesa, tem mais consideração com a Namíbia, pois tem como foco os ganhos mútuos, que favorece a atuação do governo brasileiro para a projeção de poder sob a defesa sul atlântica. A ZOPACAS pode ser afetada pela relação entre China e Namíbia somente pela área econômica, não tanto na questão da defesa. Mas, tal zona sendo de suma importância para a proteção e defesa, sendo essa utilizado por estratégias brasileiras favorecendo a relação Brasil- Namíbia. 11

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SILVA, Antonio Ruy de Almeida. O Atlântico Sul na Perspectiva da Segurança e da Defesa. In: NASSER, M.R: MORAES, R.F. de (coords.). O Brasil e a Segurança no seu Entorno Estratégico: América do Sul e Atlântico Sul. Brasília: IPEA, 2014. Livro Branco de Defesa Nacional Ministério da Defesa Brasília 2012 13