Plano Geral de Atuação 2011. Manual de Apoio tecnicojurídico. Eixo: Enfrentamento à venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes



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Transcrição:

Plano Geral de Atuação 2011 Manual de Apoio tecnicojurídico Eixo: Enfrentamento à venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes 1

Produção: Centro de Apoio Cível e de Tutela Coletiva Coordenação da Área da Infância e Juventude Jorge Luiz Ussier Procurador de Justiça Coordenador Geral do CAO Cível e de Tutela Coletiva Tiago Cintra Zarif Procurador de Justiça Coordenador Geral Adjunto do CAO Cível e de Tutela Coletiva Lélio Ferraz de Siqueira Neto e Fernando Henrique de Moraes Araújo Promotores de Justiça Coordenadores da área da infância e juventude Equipe Técnica Isabel Campos de Arruda e Rachel Fernanda Matos dos Santos Assistentes Sociais do Centro de Apoio Cível e de Tutela Coletiva Gustavo Barros Médico psiquiatra UNIFESP Assistente Técnico (ATP) do Centro de Apoio Cível e de Tutela Coletiva Maria de Fátima Moraes Tedesco Vourodimos Oficial de Promotoria Chefe Maria Carla Mejuto Oficial de Promotoria Valdemir da Silva Araújo Auxiliar de Promotoria 2

SUMÁRIO 1 a Parte do Material de Apoio (Enfoque na atuação prática tutela coletiva) 1. Introdução... 06 2. Histórico do processo político de aprovação da Lei Estadual n. 14.592/11... 07 A) Em 14/06/2011: Evento do MP sobre álcool e drogas na adolescência reúne cerca de mil pessoas... 09 B) Em 1 o /08/2011: Estado lança programa de prevenção ao consumo de álcool na infância em coordenação com o MP... 19 C) Em 19/10/2011 Resultado Final Sancionada Lei Estadual para coibir comercialização e consumo de álcool na infância e adolescência... 24 3. Roteiro de sugestões para obter efetividade no enfrentamento à venda e consumo de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes... 27 4. Roteiro de Peças Práticas disponibilizadas... 30 5. Quadro sinótico das peças práticas... 32 2 a Parte do Material de Apoio (peças práticas)... 33 1. Modelos de peças práticas... 33 A) Modelo de Portaria de IC para apuração/responsabilização civil de estabelecimentos infratores da Lei Estadual n. 14.592/11... 33 B) Modelo de Recomendação Fiscalização da venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes e cumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11 e do disposto na Lei Federal n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente)... 36 C) Minuta de Compromisso de Ajustamento de Conduta infração de venda/comércio de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes... 39 D) Modelo de Ofício destinado à Vigilância Sanitária Estadual com cópias de autos de Inquérito Civil, comunicando o descumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11 para obter-se a devida responsabilização administrativa... 44 3

E) Modelo de Ofício Destinado à Prefeitura Municipal, PROCON e/ou Vigilância Sanitária Municipais em cidades em que não haja Vigilância ou PROCON Estaduais, para que auxiliem na fiscalização do cumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11... 47 3 a Parte do Material de Apoio - Doutrina e Referencial Técnico... 50 A) Artigo: Adolescência e fatores de risco e proteção para o uso indevido de álcool... 50 B) Artigo: Propostas para evitar o consumo de álcool entre adolescentes Sintonia com a Estratégia Global da Organização Mundial da Saúde em relação ao Álcool - Resolução da 63ª Assembléia Mundial da Saúde de Maio de 2010... 62 4ª Parte do Material de apoio Políticas, Programas e Projetos... 81 A) Decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007 - Aprova a Política Nacional sobre o Álcool/ medidas para redução do uso indevido de álcool e sua associação com a violência e criminalidade, e dá outras providências... 81 B) Anexo I Política Nacional sobre o Álcool... 82 C) Decreto nº 32.108, de 25 de agosto de 2010 - Institui a Política Distrital sobre Drogas e cria o Sistema Distrital de Política sobre Drogas... 89 D) Projeto Município de PAULÍNIA - SP Anteprojeto de uma Intervenção Comunitária no Uso de Substâncias Psicoativas para a cidade de Paulínia... 102 5ª Parte do Material de apoio Leis Estaduais a respeito do tema... 119 A) Lei Estadual nº 14.592, de 19 de outubro de 2011 - Proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar ou permitir o consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade... 119 B) Lei Estadual nº 10.301, de 29 de abril de 1999 - Proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 (dezoito) anos... 125 4

C) Lei Estadual nº 10.501, de 16 de fevereiro de 2000 - Obrigatoriedade da afixação de cartazes alertando sobre os males causados pelo alcoolismo... 126 D) Lei Estadual nº 12.224, de 11 de janeiro de 2006 - Disciplina o consumo de bebidas alcoólicas... 128 E) Lei Estadual nº12.301, de 16 de março de 2006- Proíbe o uso de bebidas alcoólicas como premiação a menores de idade em quermesses, clubes sociais, instituições filantrópicas, casas de espetáculos, feiras, eventos ou qualquer manifestação pública... 129 F) Lei Estadual nº 12.540, de 19 de janeiro de 2007 Dispõe sobre a cassação da eficácia da inscrição no cadastro de contribuintes do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação-icms, dos bares, hotéis, restaurantes e similares que venderem bebidas alcoólicas a menores de idade ou forem flagrados consentindo ou comercializando drogas... 131 6ª Parte do Material de apoio Legislação Municipal (modelos)... 133 A) Lei Municipal nº 14.450, de 22 de junho de 2007 - Institui o programa de combate à venda ilegal de bebida alcoólica e de desestímulo ao seu consumo por crianças e adolescentes, no âmbito do município de São Paulo... 133 B) Decreto nº 49.662, de 20 de junho de 2008 - Regulamenta a Lei nº 14.450, de 22 de junho de 2007, que institui o Programa de Combate à Venda Ilegal de Bebida Alcoólica e de Desestímulo ao seu Consumo por Crianças e Adolescentes no âmbito do Município de São Paulo... 137 5

1. INTRODUÇÃO A área da infância e juventude deve, por comando constitucional, ser tratada como prioridade absoluta (artigo 227 da Carta Magna). Além deste argumento, as recentes mudanças normativas internas e o objetivo do Plano Geral de Atuação aprovado para o ano de 2011 levaram o Centro de Apoio Cível e de Tutela Coletiva área da infância e juventude a idealizar a elaboração do presente material de apoio tecnicojurídico. O presente material se justifica em decorrência da necessidade de enfrentamento do consumo de álcool por crianças e adolescentes, notadamente em razão da aprovação da Lei Estadual n. 14.592/11, que dispõe sobre a proibição de venda e comercialização de bebidas alcoólicas (a despeito da existência da tipificação da conduta, conforme previsto no artigo 243 da Lei Federal n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente). A finalidade do Centro de Apoio Cível é disponibilizar material de apoio que permita ao Promotor de Justiça da Infância e Juventude, extrajudicial ou judicialmente, cobrar a fiscalização, repressão e responsabilização de comerciantes e empresários que comercializem bebidas alcoólicas ou permitam seu consumo nas dependências de seus estabelecimentos comerciais. Esclarece-se, por fim, que referido material embora destacado (a fim de permitir melhor manuseio e atuação prática diária) faz parte de um contexto mais amplo (de uma Política local de atenção a crianças e adolescentes usuários de álcool e outras drogas). São Paulo, novembro de 2011. CENTRO DE APOIO CÍVEL E DE TUTELA COLETIVA Coordenação da área da Infância e Juventude 6

2. HISTÓRICO DO PROCESSO POLÍTICO DE APROVAÇÃO DA LEI ESTADUAL N. 14.592/11 Para que os Promotores de Justiça da infância e juventude compreendam o processo historicopolítico relativo à aprovação da Lei Estadual n. 14.592/11 o Centro de Apoio Operacional Cível (área da infância e juventude) apresenta breve explicação a respeito da atuação do Ministério Público em tal contexto. Desde meados de 2008 a Coordenação da área da infância e juventude do CAO Cível vem promovendo contato com a Secretaria Estadual de Saúde e com renomados profissionais da área da saúde mental do Estado das diversas instituições de ensino superior, com o objetivo de alcançar a implementação de política pública de saúde mental em âmbito estadual. Após longo processo de discussão, neste ano de 2011 o Governo do Estado de São Paulo aceitou implementar uma das linhas de ação propostas pelo Ministério Público de São Paulo para o enfrentamento da questão referente à venda e consumo de álcool por crianças e adolescentes. As notícias publicadas no portal do Ministério Público de São Paulo (abaixo transcritas) abreviadamente esclarecem esse processo, que demonstra atuação em tudo ajustada ao que a doutrina mais especializada sobre o tema de há muito propõe: Nenhum Ministério Público, em todo o mundo, ostenta volume tão grande de tão diversificadas e relevantes atribuições. (...) No exercício desse mister, tem contato diário, sistemático e concreto com a aplicação prática dessas leis, encontrando-se, pois, em posição privilegiada para verificar suas imperfeições, as omissões que mais frequentemente permitem àqueles que as descumprirem escapar das sanções previstas, as dificuldades reais de fiscalização e o que seria necessário para tornar mais efetivo esse controle. (...) Poderia, além disso, elaborar toda uma revisão do sistema normativo no tocante a uma área determinada (por exemplo, no que diz respeito à execução da pena, ao 7

sistema eleitoral, ou à poluição de mananciais), sugerindo a revogação de textos de lei, a alteração ou edição de outros. Poderia sugerir a adoção de políticas públicas para assegurar a observância dessas leis. O Ministério Público, em suma, pela rica experiência advinda do trato diário com a aplicação de inúmeras das leis mais importantes do sistema legal positivo, poderia e deveria desempenhar papel destacado no esforço de assegurar efetividade a certas normas, esforço esse que aqui denominamos de enforcement. Para tanto, seria indispensável que ele se organizasse para desenvolver de modo sistemático essa análise. Contando com a participação de todos os promotores, os Centros de Apoio Operacional poderiam, por exemplo, elaborar relatório anual em que analisariam, cada um em sua área específica de atuação, os problemas enfrentados, apresentando sugestões para eliminá-lo. (...) A divulgação desses estudos e informações seria importante contribuição social prestada pela Instituição e ensejaria, num momento seguinte, maior aproximação com os Poderes Legislativo e Executivo: dever-se-ia tornar institucional e permanente o contato do Ministério Público com ambos, a fim de discutir questões relacionadas com a aplicação daquelas leis (enforcement). (...) Esses dois Poderes do Estado têm todo interesse em receber esse auxílio, que tornaria mais eficiente suas ações e elevaria o reconhecimento que lhe devota a sociedade e, pois, seu prestígio. O Ministério Público, dessa forma, seria um parceiro importante do Legislativo e do Executivo, fundamental mesmo para a eficaz aplicação das leis. 1 O resultado da atuação do Ministério Público foi a aprovação da Lei Estadual n. 14.592/11, grande passo para coibir a venda e o consumo de álcool por crianças e adolescentes no Estado de São Paulo. 1 FERRAZ, Antônio Augusto Mello de Camargo. FERRAZ, Patrícia André de Camargo. Ministério Público: Instituição e processo. São Paulo: Atlas, 1997. p. 120-121. 8

A) Em 14/06/2011: Evento do MP sobre álcool e drogas na adolescência reúne cerca de mil pessoas Cerca de mil pessoas assistiram ao evento Prevenção e tratamento de drogas na adolescência: intervenção baseada em evidências, promovido nesta terça-feira (14/06/2011) pelo Ministério Público, por meio do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva (CAO-Cível), com apoio da Escola Superior do MP (ESMP), Associação Paulista do MP, Instituto Bairral, Sociedade Paulista de Desenvolvimento da Medicina e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O público lotou o Auditório Ulisses Guimarães, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Ao falar sobre a importância do evento, o Procurador-Geral de Justiça Fernando Grella Vieira disse que uma recente pesquisa mostrou que o consumo de crack não está mais restrito às grandes cidades brasileiras, mas em todos os municípios do País. Apesar do aumento no consumo da droga no Brasil, o Poder Público, vale dizer, União, Estados e Municípios pouco tem avançado no enfrentamento do problema. E na área da infância e juventude a situação é ainda mais grave, lembrou Grella. E completou: É aí que entra o MP, pois sendo órgão de defesa da sociedade, deve servi-la levando ao Poder Público tal pleito de implementação de políticas públicas voltadas à solução dos problemas sociais. 9

Procurador-geral Fernando Grella: implementação de políticas públicas voltadas aos problemas sociais O Diretor da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, Procurador de Justiça Mário Luiz Sarrubbo, destacou a oportunidade de se debater o problema. Com este evento, estamos pensando 10, 20, 30 anos adiante. Vivemos uma guerra que só venceremos quando conseguirmos desviar as crianças e os adolescentes dessa rota de álcool e drogas. 10

Diretor da ESMP, Mário Sarrubbo: vivemos uma guerra O secretário estadual da Saúde, Giovanni Guido Cerri, lembrou o empenho do Governo do Estado no combate às drogas: Temos nos preocupado muito com o assunto, e tenho certeza que a partir deste e outros eventos poderemos montar um plano de ação para os próximos anos. 11

Secretário de Saúde Giovanni Guido: plano de ação para os próximos anos 12

Outro palestrante no evento, o médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira, diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas, destacou: A combinação de vários setores da sociedade, uma verdadeira rede social, pode diminuir o custo social das drogas. O objetivo é termos ações concretas a partir da definição de qual o melhor estilo de tratamento, em especial para crianças e adolescentes. 13

Psiquiatra Ronaldo Laranjeira: ações concretas Para o coordenador da área da Infância e Juventude do CAO-Cível, promotor de Justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto, a articulação é essencial nessa luta. É 14

importante a participação de todos, uma articulação da sociedade para a luta contra as drogas. Temos que sair daqui com propostas, estimulados para mudanças. Temos que montar uma estrutura formativa e não reativa. Ele também destacou o papel do promotor de Justiça nesse esforço: O promotor da Infância e da Juventude é o elo para integrar a sociedade; deve ser um agente catalisador na batalha contra as drogas. Coordenador da área da Infância e Juventude Lélio Ferraz: promotor é o elo para integrar a sociedade O norte-americano Ken Winters, especialista em pesquisas de prevenção e tratamento de adolescentes usuários e dependentes de drogas, membro do Departamento de 15

Psicologia da Universidade de Minnesota e cientista sênior do Instituto de Pesquisas de Tratamentos da Filadélfia, foi o principal palestrante do evento. Dr. Ken Winters: foco na prevenção do uso de álcool por adolescentes é fundamental Winters fez uma explanação de como é feita a prevenção nos EUA: Nós temos 14 princípios que nos norteiam para a prevenção, uma espécie de mapa para nos organizarmos. São princípios que falam em como reduzir os riscos, atendimento de todas as formas de abuso geradas pelo uso de drogas, definição de público alvo, planejamento familiar e dentro das escolas, planos de prevenção, e como envolver a sociedade, os líderes comunitários, e, finalmente, a implementação desse projeto. 16

Outro destaque dado pelo especialista norteamericano foi no plano econômico. Temos estudos comprovando que cada dólar investido em prevenção, gera, no futuro, uma economia de 3 a 10 dólares, destacou. Segundo ele, a economia se faz no campo da saúde, no sistema penitenciário, no tempo que se ganha com processos que deixam de tramitar na Justiça. E citou um exemplo: Os adolescentes inseridos em programas de prevenção às drogas, dirigem melhor e causam menos acidentes que os que não receberam. Isso gera uma economia significativa. O nosso programa de prevenção e combate às drogas e ao álcool inclui um elemento muito importante: a família. É na relação familiar, na comunicação dos pais com os filhos que está a maior chance de sucesso desse programa enfatizou Winters. Para ele, é preciso que os pais reduzam a disciplina rígida, a ausência, e deem o exemplo, não usando drogas e abusando de bebidas, o que vale também para os irmãos mais velhos. É preciso também que o programa cuide de familiares de adolescentes que tenham problemas psíquicos. Na outra mão, é preciso aumentar a disciplina consistente, a relação familiar, o monitoramento dos adolescentes, estimular a comunicação na família, os pais precisam interagir com seus filhos. Ele também falou da importância de trazer todos os parceiros possíveis: O plano de prevenção deve incluir líderes comunitários, educadores, todo o material humano possível. Os melhores resultados acontecem quando se usa todos os personagens, quando todos os setores da sociedade participam. Outro fator destacado por Winders foi a persistência. Após a escolha de qual projeto aplicar, é preciso persistir no projeto, manter-se dentro do planejamento. Ele também lembrou que os educadores devem buscar conhecer quem e o que é o adolescente: Muitos se esquecem o que é ser adolescente. Temos que reconhecer que o adolescente quer se separar do adulto. É importante que os educadores trabalhem como mentores, orientadores e não como mandões, dando as cartas aos jovens. Prestigiaram o evento, que teve tradução online pela internet e para LIBRAS, por meio do intérprete Gualter Vieira da Costa, o subprocurador-geral de Justiça de Gestão, Márcio Fernando Elias Rosa; o procurador de Justiça e coordenador adjunto do CAO- 17

Cível, Tiago Cintra Zarif; o coordenador da área da Infância e Juventude do CAO-Cível, promotor de Justiça Fernando Henrique de Moraes Araujo; o Desembargador José Amado de Faria Souza, representando o presidente do Tribunal de Justiça; os deputados estaduais Donisete Pereira Braga e Orlando Bolçone; além de promotores de Justiça, professores, médicos, e representantes da sociedade civil. Cerca de mil pessoas estiveram presentes ao evento 18

B) Em 1 o /08/2011: Estado lança programa de prevenção ao consumo de álcool na infância em coordenação com o MP O Governo do Estado de São Paulo lançou, nesta segunda-feira (1 o /08/2011), um programa para enfrentamento à venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, projeto que foi inicialmente discutido e gestado com o Ministério Público em coordenação com vários órgãos do Estado envolvidos com a área da Infância e Juventude. Governador Geraldo Alckmin: projeto prevê punição para quem vender álcool a menores 19

O programa do Governo inclui ações para tratamento, educação e fiscalização do consumo indevido por álcool por adolescentes nos estabelecimentos comerciais do Estado. Na solenidade de lançamento do programa, que contou com a presença do Procurador-Geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, o governador Geraldo Alckmin assinou o projeto de Lei de autoria do Executivo, enviado à Assembleia Legislativa, que prevê punições severas para estabelecimentos comerciais que venderem ou permitirem o consumo de bebidas alcoólicas por menores de idade. O trabalho articulado entre MP e Governo do Estado começou no dia 14 de junho, com a realização de uma palestra do médico psiquiatra norte-americano Ken Winters, especialista em prevenção e tratamento de adolescentes usuários de álcool e drogas, promovida pelo MP no Auditório Ulisses Guimarães, no Palácio dos Bandeirantes, que teve mais de 900 pessoas na platéia. "A nossa proposta é não ter nem a venda e nem a possibilidade de consumo de álcool para menores de 18 anos em nenhum estabelecimento comercial. É um grande trabalho, um verdadeiro pacto pela infância e pela juventude, afirmou o Governador durante o lançamento do programa que envolve também diversas secretariais estaduais, como Saúde, Educação, Segurança Pública, Justiça e Comunicação, além de órgãos como o Procon-SP e a Vigilância Sanitária Estadual. O Governador explicou que, se o projeto de Lei enviado à Assembléia Legislativa for aprovado, o estabelecimento que vender bebida alcoólica a menor ou permitir que o menor consuma bebida alcoólica no local será multado e, em caso de reincidência, poderá ter cassado a sua inscrição estadual, o que inviabilizará o seu funcionamento. 20

Procurador-Geral Fernando Grella: Enfrentamento do problema é imprescindível Ao falar durante a cerimônia, o Procurador-Geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, enfatizou que a venda e consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes são problemas não só do Ministério Público, mas também, das Polícias, da Justiça, da Saúde ou dos governos, e de toda a sociedade, notadamente em razão de seu prejuízo para a geração, ainda em formação, de crianças e adolescentes e, consequentemente, para as futuras. E acrescentou: O compromisso de todos - da família, da sociedade e do Estado - no enfrentamento a essa forma de violência social é imprescindível. O Procurador-Geral também explanou o Plano Geral de Atuação do MP na área da infância e juventude, que envolve diversas ações para o enfrentamento da questão da venda ilegal de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes de forma organizada, competente e resolutiva a questão. Fernando Grella explicou que o Plano Geral de Atuação envolve ações de combate e possíveis compromissos de ajustamento, tanto em relação a instituições de grande 21

alcance comercial, quanto aos estabelecimentos de pequeno e médio porte, a fim de que se forme um verdadeiro pacto cidadão de respeito e cooperação para a preservação da infância e juventude sadia e responsável. O Plano Geral de Atuação define uma sistemática de atendimento comum de abordagem no enfrentamento, com material de apoio para atuação dos promotores de Justiça em todas as regiões do Estado. A despeito da existência do crime de venda de bebida alcoólica previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, o álcool é a substância psicotrópica mais utilizada pelos jovens e tem gerado diversos problemas de natureza social para essa população como envolvimento em acidentes de trânsito, brigas, vandalismo, sexo sem proteção ou sem consentimento, maior risco de suicídio, homicídio ou acidentes diversos relacionados ao uso, citou o Procurador-Geral. Além disso, lembrou, uso do álcool tem sido a principal causa de morte e inaptidão para o trabalho entre jovens, mais do que todas as drogas ilícitas combinadas, aumentando em cinco vezes a possibilidade de dependência, com prejuízos cognitivos para a memória, atenção e capacidade de planejamento, com grave repercussão para a vida adulta. Secretário de Saúde Giovanni Cerri: prevenção, tratamento e reabilitação dos mais jovens 22

O Secretário Estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, mostrou números oficiais para demonstrar a gravidade do problema gerado pelo álcool, segundo ele o maior problema de saúde pública no País. Segundo o secretário, as crianças brasileiras começam a beber por volta dos 13 anos de idade e 18% dos menores entre 12 e 17 anos bebem regularmente. Quatro em cada 10 menores compram bebidas alcoólicas livremente no comércio, citou, complementando que o consumo de álcool é responsável por 50% dos acidentes automobilísticos, 60% dos casos de violência doméstica, 50% das faltas no trabalho e 90% das internações. É na adolescência que o vício se instala, afirmou, anunciando que o Estado vai ampliar o sistema de atendimento aos usuários de álcool e drogas e vai, com o programa, fazer a prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, com prioridade para os mais jovens. Participaram também da cerimônia os secretários de Estado Eloisa de Sousa Arruda (Justiça e Defesa da Cidadania), Herman Jacobus Voorwld (Educação), Antonio Ferreira Pinto (Segurança Pública), Saulo de Castro Abreu Filho (Transporte e Logística) e Davi Zaia (Emprego e Relações do Trabalho); o subsecretário de Comunicação, Márcio Aith; o presidente da Assembléia Legislativa, Barros Munhoz; deputados federais e estaduais; o comandante da Polícia Militar, coronel Álvaro Batista Camilo; e os coordenadores da área da Infância e Juventude do CAO-Cível, promotores de Justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto e Fernando Henrique de Moraes Araújo, além de outras autoridades. 23

C) Em 19/10/2011 Resultado Final Sancionada Lei Estadual para coibir comercialização e consumo de álcool na infância e adolescência O Governador do Estado, Geraldo Alckmin, sancionou, nesta quarta-feira (19/10/2011), a Lei Estadual que estende a prevenção ao consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes. Com a lei, os estabelecimentos comerciais incluindo bares, restaurantes e lojas de conveniência que já eram proibidos por lei de vender esses produtos a crianças e adolescentes -, também não poderão mais permitir que tal público consuma bebidas alcoólicas em suas dependências. A lei faz parte de um programa de prevenção lançado em agosto, inicialmente discutido e gestado com o Ministério Público, em coordenação com vários órgãos do Estado envolvidos com a área da Infância e Juventude. Procurador-Geral Fernando Grella: lei é marco nacional na formulação de política na defesa dos direitos humanos A partir de agora, todos os estabelecimentos que operam como autosserviço - como supermercados, padarias e lojas de conveniência, entre outros - também 24

deverão expor as bebidas alcoólicas em espaço separado dos demais produtos, com a devida sinalização sobre a lei. A Lei prevê sanções administrativas, além das punições civis e penais já previstas pela legislação brasileira, a quem vende bebidas alcoólicas a menores de idade. Prevê a aplicação de multas de até R$ 87,2 mil, além de interdição por 30 dias, ou até mesmo a perda da inscrição no cadastro de contribuintes do ICMS, de estabelecimentos que vendam, ofereçam, entreguem ou permitam o consumo, em suas dependências, de bebida com qualquer teor alcoólico entre menores de 18 anos de idade em todo o Estado. O Governo do Estado fará uma campanha educativa durante 30 dias. A partir de 19 de novembro, cerca de 500 agentes da Vigilância Sanitária Estadual e Procon irão fiscalizar o cumprimento da lei em todo o Estado. Ao sancionar a lei, em cerimônia realizada no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), o governador Geraldo Alckmin destacou a importância da participação do Ministério Público nesse esforço para combater o consumo precoce de álcool e disse ter certeza na eficácia da lei. O Governador lembrou que uma pesquisa encomendada pela Secretaria Estadual de Saúde apontou que 18% das crianças e adolescentes paulistas fazem uso regular de bebidas alcoólicas e que o consumo começa por volta dos 13 anos de idade, quando o cérebro e o fígado ainda não estão preparados, aumentando o risco de dependência. Essa legislação vem para fortalecer a cidadania, o convívio em sociedade, a relação de consumo e a segurança, acrescentou. Para o Secretário Estadual de Saúde, Giovanni Guido Cerri, a lei é um grande avanço do combate ao grave problema de saúde pública que é o consumo de bebidas alcoólicas em idade precoce. Ele alertou, porém, para a necessidade de a lei contar com o apoio da sociedade. A mobilização tem de começar, sobretudo, pela família, onde boa parte dos adolescentes é introduzida no consumo do álcool, afirmou. 25

O Procurador-Geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, participou da cerimônia de sanção da lei. Ao discursar, Grella ressaltou que a lei, nascida da ampla discussão do problema entre o Ministério Público e o Governo do Estado, significa um marco nacional na formulação de política pública na defesa dos direitos humanos, resultado da articulação entre Executivo, Legislativo, Ministério Público e a sociedade civil organizada. Ele também destacou que a lei põe São Paulo na vanguarda do combate ao consumo de álcool por menores de idade e demonstra a responsabilidade de atacar as causas e não somente os efeitos do problema. Participaram da solenidade, ainda, secretários de Estado, deputados federais e estaduais, vereadores, autoridades, e os coordenadores da área de Infância e Juventude do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva (CAO-Cível) do MP, promotores de Justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto e Fernando Henrique de Moraes Araújo, que participaram ativamente das discussões do projeto com o governo estadual. 26

3. ROTEIRO DE SUGESTÕES PARA OBTER EFETIVIDADE NO ENFRENTAMENTO À VENDA E CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES A seguir, o Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva (área da infância e juventude) propõe sugestões de como o Promotor de Justiça da infância e juventude pode traçar uma estratégia de trabalho, visando o combate à venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes: 1 o PASSO Avaliação da legislação local (independentemente da existência da Lei Estadual n. 14.592/11) a Verificar se existem leis municipais prevendo a fiscalização de estabelecimentos comerciais que vendam bebidas alcoólicas e que já estabeleçam infração administrativa, bem como quais órgãos são responsáveis pela fiscalização. Em caso positivo, avaliar o espectro de abrangência da lei municipal e a necessidade de sua observância. b Verificar se tais leis estão sendo cumpridas, cobrando relatório informativo a respeito das fiscalizações, por exemplo, dos últimos 12 meses, com indicação dos locais fiscalizados, e eventuais punições administrativas impostas (para verificar se a lei está sendo observada); 2 o PASSO A responsabilização penal (independentemente da existência da Lei Estadual que prevê sanções administrativas) a Buscar a responsabilização criminal pelo delito previsto no art. 243 do ECA e não pela contravenção penal prevista no artigo 63 do Decreto-Lei n. 3.688/41; 3 o PASSO 27

Articulação para uma fiscalização eficiente a Caso se considere necessário, realizar reuniões de articulação com as Polícias Civil e Militar e mesmo com os serviços de fiscalização da Prefeitura para avaliar a melhor estratégia de ação; b Estabelecer uma rotina de fiscalização de acordo com as peculiaridades locais (tempo/ região/ escolas/ faculdades/ locais perigosos/ locais vulneráveis/ venda de outras drogas); c Estabelecer um dia específico e simbólico (dia D) para uma ação de força e significativa; d Trabalhar paralelamente com a Vigilância Sanitária e a Receita Federal para ampliar o espectro de ação e realmente trazer uma perspectiva mais ampla da responsabilização e adequação das atividades de venda de bebidas alcoólicas. 4 o PASSO Da importância da deliberação sobre uma política pública de enfrentamento a Propor que os Conselhos setoriais, especialmente o da Criança e Adolescente e/ou Saúde/Política sobre Drogas, deliberem a respeito da necessidade de uma política pública a respeito (inserida no contexto mais amplo de um Plano Municipal de Atendimento Integral a crianças e adolescentes envolvidos com uso de álcool e outras drogas conforme manual de apoio anexo). 5 o PASSO Importância da divulgação a Verificar a possibilidade de divulgação das ações e principalmente da existência da Lei Estadual 14.592/11 para a população em geral, a fim de estimular denúncias contra os estabelecimentos que a estejam descumprindo (pelo n. 0800) em rádios, jornais e televisão; divulgação em locais públicos, tais como escolas, colhendo a legitimidade e apoio dos pais e responsáveis, bem como do corpo docente e funcionários. 28

6 o PASSO Reuniões e contato com a comunidade a Caso necessário, realizar reuniões com os donos de bares, mercados e supermercados, esclarecendo a importância, responsabilidade e alcance das ações, especialmente para avaliar a possibilidade de serem firmados compromissos de ajustamento de conduta. b Estimular que representantes de Escolas, GM, Conselho Tutelar, Secretarias de Juventude, Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura, Conselhos Setoriais (Infância, Anti Drogas, Saúde, Assistência Social) comuniquem a PM a respeito dos principais locais de venda e consumo de álcool por crianças e adolescentes para a devida fiscalização e responsabilizações penal e administrativa; c Eventualmente realizar audiência pública sobre o tema (para estímulo à discussão e sensibilização dos gestores quanto à necessidade de fiscalização e responsabilizações penal e administrativa); 29

4. ROTEIRO DE PEÇAS PRÁTICAS DISPONIBILIZADAS a) Modelo de portaria de IC para apuração/responsabilização quanto à venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes no Município Trata-se de instrumento jurídico e formal de apuração da situação de venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, colheita de informações, em especial para responsabilização dos infratores da lei. A medida permite que o Promotor de Justiça possa agir tanto na responsabilização, como estimular a discussão e os aspectos formativos, inclusive de políticas públicas, de atenção ao problema. O desfecho do IC será decorrência da linha de ação que o Promotor de Justiça adotar: v.g. a responsabilização civil do estabelecimento comercial que vendeu ilegalmente bebida alcoólica a crianças/adolescentes; o encaminhamento de cópia à VISA Estadual para que promova a elaboração de auto de infração; a obtenção de informações relativas ao enfrentamento à venda de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes em nível de cada Município (com a possibilidade de verificar se há leis municipais com previsão de sanções administrativas e se os órgãos competentes estão promovendo a apuração/responsabilização nas esferas administrativa e penal). b) Modelo de Recomendação proibição venda de bebidas Referido modelo tem por objetivo propor que a Polícia Militar fiscalize o respeito à Lei Federal n. 8.069/90 e à Lei Estadual n. 14.592/11, sem prejuízo da fiscalização administrativa que o Poder Público possa exercer em Municípios onde já existam leis municipais prevendo sanções para estabelecimentos que comercializem álcool a crianças e adolescentes. 30

c) Modelo de compromisso de ajustamento de conduta proibição venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes e providências correlatas O compromisso de ajustamento se refere a algumas possibilidades de composição e imposição de outras obrigações cabíveis, com o objetivo de obter compensações em pecúnia ou obrigações de fazer, com previsão de formas diversas para lidar com eventuais situações violadoras ou até prevenir futuras. d) Modelo de ofício Vigilância Sanitária Estadual comunicação da ocorrência de infração à venda de bebidas para permitir responsabilização administrativa O modelo de ofício é destinado a permitir a comunicação da ocorrência da infração às normas de proteção, visando à responsabilização administrativa, especialmente pelas implicações das Leis Estaduais nº 12.540/2007 e 14.592/2011. e) Modelo de ofício PROCON e Vigilância Sanitária Municipais, Prefeitura Municipal para obter auxílio na fiscalização referente à responsabilização administrativa O modelo de ofício é destinado aos órgãos municipais de cidades em que não haja PROCON ou agências/divisões regionais da Vigilância Sanitária, a fim de buscar auxílio na fiscalização da Lei Estaduais nº 14.592/2011. 31

5. QUADRO SINÓTICO DAS PEÇAS PRÁTICAS Modelo de Peça Destinatário Forma de Utilização Momento de Utilização Objetivo Importância Prática Modelo de portaria de IC para apuração/ responsabilização civil Estabelecimento infrator; Prefeitura; Polícias; GM; CT a) Por ofício Após a notícia de fato ilícito Apurar a responsabilidade civil e trabalhar na formulação de uma política de atenção Garante: apuração/responsabilização Maior amplitude nos resultados a serem obtidos Modelo de recomendação fiscalização sobre a proibição venda de bebidas Modelo de termo de ajustamento de conduta Polícia Militar Estabelecimento infrator a) Entrega, por oficio, em reunião no IC instaurado para responsabilizar o infrator Depende da estratégia local de ação A partir da constatação de infração ou previamente ao ilícito Garantir a necessidade de fiscalização e responsabilização penal, administrativa, civil Obter formas de responsabilização com cláusulas repressivas ou mesmo prévios a atos ilícitos Compromisso, conhecimento e formalização das ações Garante: Composição/ imposição de outras penalidades/ novas formas de compensação Modelo de ofício destinado à Vigilância Sanitária Estadual Vigilância Sanitária Estadual Por ofício Confirmada a ocorrência da infração Responsabilização administrativa Obter-se o cumprimento da Lei Estadual 14.592/11 Modelo de ofício PROCON, Vigilância Sanitária, Prefeitura Municipal Procon, Vigilância Sanitária, Prefeitura Municipal Por ofício Para Prevenir ilícitos ou fiscalizar sua ocorrência Cooperação institucional/ Ação articulada Eficiência de intervenções/ ações coordenadas/auxílio da Prefeitura onde não há órgãos estaduais de fiscalização 32

2 a PARTE DO MATERIAL DE APOIO (PEÇAS PRÁTICAS) A) MODELO DE PORTARIA DE IC PARA APURAÇÃO/RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DE ESTABELECIMENTOS INFRATORES DA LEI ESTADUAL N. 14.592/11 Observações do CAO Cível (área da infância e juventude) A condução e desfecho deste IC dependerá do norte que o Promotor de Justiça adotar, a saber: a) a responsabilização civil do estabelecimento comercial que vendeu ilegalmente bebida alcoólica a crianças/adolescentes, mediante o estabelecimento de TAC e/ou ajuizamento de ACP; b) o encaminhamento de cópias à VISA Estadual para que promova a elaboração de auto de infração; c) o encaminhamento de cópias à Delegacia de Policia para que seja formalizado registro de ocorrência por crime previsto no artigo 243 do ECA; d) a obtenção de informações relativas ao enfrentamento à venda de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes em nível de cada Município (com a possibilidade de verificar se há leis municipais com previsão de sanções administrativas e se os órgãos competentes estão promovendo a apuração/responsabilização nas esferas administrativa e penal), com o escopo de trabalhar-se a implementação de políticas públicas em tal sentido (o que pode ser obtido em um contexto mais amplo dentro de uma Política ou Plano Municipal de Atenção Integral conforme proposto no manual anexo). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu representante que abaixo subscreve, com exercício na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de XXXXXXXX, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos 127, 129, III, da Constituição Federal, e pelo artigo. 8º, 1º, da Lei n. 7.347/85. CONSIDERANDO que tramita nesta Promotoria de Justiça o Procedimento nº xxxxx, instaurado a partir de representação oferecida por XXX, com o fim de apurar a responsabilidade pela venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes em relação ao estabelecimento comercial YYY fato ocorrido em / /2011, às h min, na Rua..., neste Município; 33

CONSIDERANDO que a Constituição Federal em seu art. 227, caput e os arts. 4º e 5 o da Lei nº 8.069/90 determinam ser dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, dentre outros, o direito à dignidade e ao respeito de toda criança e adolescente, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão; CONSIDERANDO a necessidade de se prevenir e coibir o uso de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, que compromete o desenvolvimento social e psicológico, bem como o crescimento digno dessas pessoas em condições peculiares de desenvolvimento; CONSIDERANDO que a venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes constitui crime, consoante preceitua a Lei n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 243. Vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança e adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida, Pena detenção de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave ; CONSIDERANDO que a Constituição Federal estabelece que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, a qual é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio; CONSIDERANDO a vigência da Lei Estadual nº 14.592, de 19 de Outubro de 2011 que proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar ou permitir o consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas; CONSIDERANDO ser uma das missões do Ministério Público a tutela dos interesses transindividuais e individuais relativos à proteção da infânia e juventude; RESOLVE instaurar o presente INQUÉRITO CIVIL, visando à continuidade da investigação, com as diligências necessárias para a apuração dos fatos. DETERMINA as seguintes providências: de Promotoria XXX. 1. A nomeação, sob compromisso, para secretariar os trabalhos, o Oficial 2. O registro do presente procedimento no SIS MP INTEGRADO, instituído pelo Ato Normativo nº 665/2010-PGJ-CGMP; 3. Notifique-se o representante, dando-lhe ciência da instauração do presente procedimento; 34

4. Oficie-se à Prefeitura Municipal, solicitando informe: a) Se há leis municipais prevendo a imposição de sanções administrativas a estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e congêneres que comercializem bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes; a.1) Se há previsão legal de restrição de venda nas proximidades de estabelecimentos de ensino; a.2) A quais órgãos compete a fiscalização; a.3) Envie relatório informativo a respeito da fiscalização e autuação referente aos últimos 12 ou 24 meses, bem como cópias das punições administrativas impostas (este último quesito tem por objetivo verificar se a lei está sendo efetivamente cumprida) 5. Oficie-se à Polícia Militar, Guarda Civil Municipal solicitando que enviem relação de ocorrências envolvendo crianças e adolescentes usando bebidas alcoólicas nos últimos 12 ou 24 meses no Município; 6. Oficie-se à Delegacia de Polícia solicitando que envie relatório contendo o numero de inquéritos policiais/termos circunstanciados instaurados nos últimos 12 ou 24 meses envolvendo as infrações penais previstas nos artigos 243 do ECA e 63, a, do Dec. Lei n. 3.688/41. 7. Oficie-se ao Conselho Tutelar, solicitando relatório referente ao número de ocorrências envolvendo crianças/adolescentes usando bebidas alcoólicas e quais foram identificados, nos últimos 12 ou 24 meses, bem como quais as decisões do colegiado/medidas protetivas aplicadas; 8. Oficie-se à Associação Comercial do Município para que envie relação de todos os estabelecimentos comerciais cadastrados nessa Associação que trabalhem com a venda de bebidas alcoólicas. 9. Notifique-se o responsável pelo estabelecimento comercial XXX para comparecimento na Promotoria de Justiça na data de / /2011, às..., a fim de ser ouvido sobre os fatos tratados na representação. 10. Com as respostas tornem conclusos. Local, data. Promotor(a) de Justiça 35

B) MODELO DE RECOMENDAÇÃO FISCALIZAÇÃO DA VENDA DE BEBIDAS ALCOÓLICAS A CRIANÇAS E ADOLESCENTES E CUMPRIMENTO DA LEI ESTADUAL N. 14.592/11 E DO DISPOSTO NO ARTIGO 243 DA LEI FEDERAL N. 8.069/90 (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE) RECOMENDAÇÃO Nº XXXXXX O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu órgão de execução que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais que lhe são conferidas, com fulcro nas disposições contidas no art.127, caput, inciso III da Constituição Federal, e ainda: CONSIDERANDO que a Constituição Federal em seu art. 227, caput e os arts. 4º e 5 o da Lei nº 8.069/90 determinam ser dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, dentre outros, o direito à dignidade e ao respeito de toda criança e adolescente, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão; CONSIDERANDO que, para efeitos legais, criança é a pessoa de até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade, de acordo com o art. 2.º da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente ECA); CONSIDERANDO que o direito ao respeito, conforme previsão legal, compreende a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, dentre outros (art. 17 da Lei 8.069/90); CONSIDERANDO a necessidade de se prevenir e coibir o acesso de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, que compromete o desenvolvimento social e psicológico, bem como o crescimento digno dessas pessoas em condições peculiares de desenvolvimento; CONSIDERANDO que a venda de bebidas alcoólicas à criança e ao adolescente constitui crime, consoante preceitua a Lei n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 243. Vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança e adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida, Pena detenção de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave ; CONSIDERANDO que a Lei Estadual nº 14.592, de 19 de Outubro de 2011 proíbe a venda, a oferta, fornecimento, entrega ou permissão de consumo de bebida 36

alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas; CONSIDERANDO que incumbe à Polícia Civil as funções de polícia judiciária a apuração das infrações penais, bem como que compete à Polícia Militar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública, por determinação do art. 144, 4º e 5º da Constituição Federal; CONSIDERANDO a edição do Decreto Presidencial n.º 6.117/07, que aprova a Política Nacional sobre o Álcool, dispõe sobre as medidas para redução do uso indevido de álcool e estabelece a sua associação com a violência e criminalidade, especialmente no seu Anexo II, alíneas 5.1 e 9.3; CONSIDERANDO que, de acordo com o Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID, nos últimos cinco anos a ingestão de bebidas alcoólicas aumentou 30% entre jovens de 12 a 17 anos, e 25% entre jovens de 18 a 24 anos; RESOLVE RECOMENDAR ao Comandante da Polícia Militar local (base, batalhão, Comando, etc) que efetue fiscalizações contínuas (vide observações que seguem abaixo) a fim de verificar o respeito e cumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11 e do artigo 243 do ECA, de acordo com os seguintes critérios e procedimentos: a) fiscalização nos estabelecimentos comerciais ao menos uma vez por mês (a cada bimestre)/ uma vez por semana/a cada quinze dias, nos bairros X, Y, Z (de acordo com critérios de maior vulnerabilidade social/ocorrências policiais) devendo: a.1) em caso de infração penal prevista no artigo 243 do ECA, proceder o encaminhamento do autor do fato à Delegacia de Policia para o devido registro de ocorrência. a.2) em caso de infração prevista na Lei Estadual n. 14.592/11, ao Órgão regional da Vigilância Sanitária Estadual para que se proceda à devida autuação administrativa; a.3) encaminhar relatório circunstanciado mensal/bimestral (etc periodicidade a ser estabelecida) das fiscalizações realizadas à Promotoria de Justiça para ciência e providências cabíveis na esfera cível; Observações do CAO Cível (área da infância e juventude) A recomendação é instrumento que deve ser utilizado em hipóteses excepcionais, pois seu descumprimento acarreta a necessidade de ajuizamento de ação civil pública. É imprescindível que o Promotor de Justiça se reúna com o Comandante da Policia Militar de seu Município para estabelecer os critérios de cumprimento e observância da recomendação, a fim de evitar eventual descumprimento e necessidade de ajuizamento de 37

ação civil pública contra o Estado, pois obviamente não é este o objetivo da atuação ministerial, e sim obter-se a verificação a respeito do cumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11 e do artigo 243 do ECA. Ademais, a Polícia Militar é instituição estatal parceira do Ministério Público, devendo assim ser tratada com o devido respeito -, garantindo-se reciprocidade nas ações que envolvem ambas as instituições, servidoras da sociedade. É importante que o Promotor de Justiça se reúna e saiba das dificuldades ou não do Comando da PM local, a fim de acertar a quantidade/rotina de fiscalizações referentes à observância das normas vigentes. Portanto, razoável que se definam os critérios relativos à quantidade de fiscalizações a serem realizadas durante o mês (ou em prazo mais elástico, de acordo com as condições e peculiaridades/tamanho populacional, quantidade de estabelecimentos comerciais etc), locais de fiscalização e procedimentos a serem adotados por ocasião das fiscalizações (registro de ocorrência policial, encaminhamento de copias à VISA Estadual para proceder-se a devida autuação administrativa, comunicação ao MP para ciência e eventuais providências cíveis que o Promotor de Justiça considerar cabíveis, tais como formalização de TAC e ou ajuizamento de ACP etc). Conseqüências jurídicas do não atendimento da Recomendação O não atendimento da presente Recomendação ensejará o ajuizamento de ação civil pública pelo Ministério Público para que o Poder Judiciário obrigue o Estado de São Paulo (mais precisamente a Policia Militar) a cumprir a recomendação e promover todas as medidas necessárias destinadas a fiscalizar o fiel cumprimento da Lei Estadual n. 14.592/11 e Lei Federal n. 8.069/90, observados a forma, prazos e acima propostos nesta Recomendação para sua concretização. Local, data. Promotor(a) de Justiça 38

C) MINUTA DE COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA INFRAÇÃO DE VENDA/COMÉRCIO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS A CRIANÇAS E ADOLESCENTES O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu órgão que esta subscreve, no exercício das atribuições que lhe são conferidas por lei, com fundamento no artigo 127, caput, e artigo 129, incisos II e III da Constituição Federal; no artigo 97, parágrafo único da Constituição Estadual; no artigo 25, inciso IV, da Lei nº 8.625/93; no artigo 5, 6º da Lei nº 7.347/85; no artigo 211 da Lei Federal n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); e nos artigos 103, inciso VIII, e 104, incisos I e II, 112, todos da Lei Complementar Estadual nº 734/93 e e ESTABELECIMENTO COMERCIAL XXX, (endereço do estabelecimento), nscrito no CNPJ sob nº, sediada no nº da Rua, bairro, Município de, representado por (nome), RG Nº, (nacionalidade), (naturalidade), (estado civil), (profissão), (endereço do representante), denominado COMPROMISSÁRIO, que também subscreve o presente termo, nos autos do INQUÉRITO CIVIL nº em trâmite na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude desta comarca de..., e CONSIDERANDO que a Constituição Federal em seu art. 227, caput e os arts. 4º e 5 o da Lei nº 8.069/90 determinam ser dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, dentre outros, o direito à dignidade e ao respeito de toda criança e adolescente, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão; CONSIDERANDO que, para efeitos legais, criança é a pessoa de até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade, de acordo com o art. 2.º da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente ECA); CONSIDERANDO que o direito ao respeito, conforme previsão estatutária, compreende a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, dentre outros (art. 17 da Lei 8.069/90); CONSIDERANDO a necessidade de se prevenir e coibir o uso e consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, que compromete o desenvolvimento social e psicológico, bem como o crescimento digno e sadio de indivíduos em condições peculiares de desenvolvimento; 39

CONSIDERANDO que a venda de bebidas alcoólicas à criança e ao adolescente constitui crime, consoante preceitua a Lei n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 243. Vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança e adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida, Pena detenção de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave ; CONSIDERANDO que o art. 86 do ECA prevê a implantação de políticas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, por meio de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; CONSIDERANDO que a Lei Estadual nº 14.592, de 19 de Outubro de 2011 proíbe a venda, oferta, fornecimento, entrega ou permissão de consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas; CONSIDERANDO a edição do Decreto Presidencial n.º 6.117/07, que aprova a Política Nacional sobre o Álcool, dispõe sobre as medidas para redução do uso indevido de álcool e estabelece a sua associação com a violência e criminalidade, especialmente no seu Anexo II, alíneas 5.1 e 9.3; CONSIDERANDO que, de acordo com o Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID, nos últimos cinco anos a ingestão de bebidas alcoólicas aumentou 30% entre jovens de 12 a 17 anos, e 25% entre jovens de 18 a 24 anos; CONSIDERANDO que a Constituição da República estabelece que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, a qual é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio; CONSIDERANDO que incumbe à Polícia Civil as funções de polícia judiciária a apuração das infrações penais, bem como que compete à Polícia Militar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública, por determinação do art. 144, 4º e 5º da Constituição Federal; termos: Celebram Compromisso de Ajustamento de Conduta nos seguintes 1) Das obrigações 40

a) O COMPROMISSÁRIO assume ter infringido o disposto no artigo 243 da Lei Federal n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nos artigos 1 o e 2 o da Lei Estadual n. 14.592/11 e se compromete a cumprir as seguintes obrigações: Observações do Centro de Apoio As seguintes obrigações são meramente sugestivas, cabendo ao Promotor de Justiça verificar quais entende cabíveis ao caso concreto a.1) de fazer, consistente em fazer constar na face de todas as comandas ou documentos de mesmo conteúdo utilizadas em seu estabelecimento, a seguinte inscrição: É proibida a venda, o fornecimento ou entrega de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. a.2) de fazer, consistente em exigir de todos os freqüentadores de seu estabelecimento comercial a prévia apresentação de cédula de identidade (RG) ou outro documento de identidade hábil a comprovar a maioridade (com fotografia), conforme previsto no Parágrafo 3 o do artigo 2 o da Lei Estadual n. 14.592/11. a.3) de fazer, consistente em entregar, a todas as pessoas menores de 18 anos de idade que a seu estabelecimento comercial ingressarem, comanda diferenciada, com cor e texto próprios contendo, em destaque, expressa advertência de impossibilidade de compra, recebimento e consumo de bebidas alcoólicas em razão do determinado no artigo 81, inciso II, e no artigo 243, ambos da Lei Federal n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente); a.4) de fazer, consistente em elaborar no prazo de 60 (sessenta) dias, campanha de divulgação da proibição da venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, baseado em documento elaborado pela UNIAD (modelo anexo) com divulgação periódica (durante uma semana/mês/etc) em jornal de veiculação no Município, com tamanho de XXX, pelo prazo de XXX meses, comprovando o cumprimento da obrigação mediante a apresentação mensal nos autos, de cópia(s) do jornal e nota fiscal da inserção; a.5) de fazer, consistente em elaborar no prazo de 60 (sessenta) dias, elaborar campanha de divulgação da proibição da venda de bebidas alcoólicas para crianças e adolescentes, baseado em documento elaborado pela UNIAD (modelo anexo) com divulgação em XXX pontos do Município, tais como Escolas, Postos de Saúde, Instituições de Ensino Superior (Universidades, Faculdades), bibliotecas,... pelo prazo de XXX meses, comprovando o cumprimento da obrigação mediante a apresentação mensal nos autos, de cópia(s) dos cartazes; a.6) de pagar, a título de compensação financeira pelo ilícito civil cometido, no prazo máximo de 30 dias, a quantia de de R$ ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente conta n., agencia n., Banco. a.7) de pagar o tratamento integral de XX criança(s)/adolescente(s) que necessitem de atendimento e internação em outro Município em razão de uso/dependência de álcool e drogas, conforme prazo e prescrição previstos nos casos analisados; 41

b) O presente Compromisso de Ajustamento não exime O COMPROMISSÁRIO de responsabilidade criminal e administrativa pela infringência das normas acima relacionadas. 2) Dos prazos e forma de fiscalização de cumprimento do ajuste a) Fica estabelecido o prazo de 15 (quinze) dias, a partir da presente data, para que O COMPROMISSÁRIO dê início à implementação do uso de comandas diferenciadas, conforme as cláusulas anteriores deste compromisso de ajustamento de conduta (alíneas a.1 a a.3); b) A fiscalização do cumprimento das obrigações assumidas neste Compromisso de Ajustamento poderá ser realizada pelo Ministério Público, por servidores da Vara da Infância e Juventude ou pelo seu Serviço Voluntário, servidores da Prefeitura Municipal de XXX, Conselho Tutelar, Polícia Militar, Polícia Civil, PROCON e demais autoridades públicas, na esfera de suas atribuições, ou qualquer cidadão, em vista do disposto no artigo 70 do Estatuto da Criança e do Adolescente; 3) Das sanções civis para o caso de descumprimento do ajuste a) O descumprimento de quaisquer das obrigações constantes do presente compromisso sujeitará o COMPROMISSÁRIO, a título de cláusula penal, ao pagamento de multa diária no importe de R$.000,00 ( mil reais), exigível enquanto perdurar a violação, mediante fiscalização por parte do técnicos ou pelo próprio membro do Ministério Público (por meio de constatação direta ou por resposta a ofícios para tanto expedidos), cujo valor será atualizado de acordo com índice oficial, desde o dia de cada prática infracional até efetivo desembolso, sem prejuízo de eventual ajuizamento de ação executiva específica para cobrar-se o fiel cumprimento das obrigações, caso não respeitados as formas e os prazos previstos neste compromisso, na forma estatuída no parágrafo 6º, do artigo 5º, da Lei Federal nº 7.347, de 24 de julho de 1985, artigo 84, do Código de Defesa do Consumidor, 461 e 730, ambos do Código de Processo Civil. 4) Do início de vigência do presente ajuste a) Este ajuste somente produzirá efeitos legais a partir de sua homologação pelo E. Conselho Superior do Ministério Público, conforme previsto no artigo 112, parágrafo único da Lei Estadual n. 734/93. b) Após a homologação e baixa dos autos à Promotoria de Justiça o COMPROMISSÁRIO será cientificado pelo Ministério Público por oficio, do início de vigência do presente ajuste, bem como dos prazos a serem observados. 5) Disposições Finais 42

a) Fica consignado que os valores eventualmente desembolsados a título de cláusula penal deverão ser revertidos em benefício do FUNDO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (FMDCA), de que tratam a Lei Federal nº 8.069/90 (artigos 88, IV, 214, 260, 2 o e 4 o ) e Lei Municipal n. (Lei que cria o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), na conta corrente nº..., da agência nº..., do Banco... b) As questões decorrentes deste compromisso serão dirimidas no Foro da Comarca de..., local em que está sendo firmado o presente ajuste. por todos assinado. E, por estarem assim de acordo, firmam o presente compromisso que vai Local e data Promotor(a) de Justiça COMPROMISSÁRIO (representado por ) Advogado OAB/SP nº TESTEMUNHAS: YYY oficial de promotoria (matrícula n. ) YYY oficial de promotoria (matrícula n. ) 43

D) MODELO DE OFÍCIO DESTINADO À VIGILÂNCIA SANITÁRIA COM CÓPIAS DE AUTOS DE INQUÉRITO CIVIL COMUNICANDO O DESCUMPRIMENTO DA LEI ESTADUAL N. 14.592/11 PARA OBTER-SE A DEVIDA RESPONSABILIZAÇÃO ADMINISTRATIVA Local, data Ofício nº XXXXXX Ilmo(a). Sr.(a) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu ÓRGÃO que abaixo subscreve, com exercício na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de XXXXXXXX, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos 127, 129, III, da Constituição Federal, e pelo artigo. 8º, 1º, da Lei n. 7.347/85. CONSIDERANDO que tramita nesta Promotoria de Justiça o Procedimento nº, instaurado a partir de representação oferecida por XXX, com o fim de apurar a venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes por comerciantes, proprietários de comércio em geral, restaurantes, lanchonetes e, bares e similares deste Município; CONSIDERANDO ser atribuição do Ministério Público a tutela dos interesses transindividuais relativos à proteção da infância e juventude; CONSIDERANDO que a Lei Estadual nº 12.540 dispõe sobre a cassação da eficácia da inscrição no cadastro de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação-ICMS, dos bares, hóteis, restaurantes e similares que venderem bebidas alcoólicas a menores de 18 anos de idade ou forem flagrados consentindo ou comercializando drogas e CONSIDERANDO essencialmente o teor da Lei Estadual nº 14.592, de 19 de Outubro de 2011 que proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar ou permitir o consumo de bebida 44

alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas, especialmente pela disposição de que: Artigo 3º - As infrações das normas desta lei ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil ou penal e das definidas em normas específicas: I - multa; II - interdição. Parágrafo único - As sanções previstas neste artigo poderão ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente, de procedimento administrativo. Artigo 4º - A multa será fixada em, no mínimo, 100 (cem) e, no máximo, 5.000 (cinco mil) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo UFESPs para cada infração cometida, aplicada em dobro na hipótese de reincidência, observada a seguinte gradação: I - para as infrações de natureza leve, assim consideradas as condutas contrárias ao disposto no inciso I e no 1º do artigo 2º: a) 100 (cem) UFESPs, em se tratando de fornecedor optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Simples Nacional, instituído pela Lei Complementar federal nº 123, de 14 de dezembro de 2006; b) 500 (quinhentas) UFESPs, para fornecedor que não se enquadre na hipótese da alínea a e cuja receita bruta anual seja igual ou inferior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs; c) 1.500 (mil e quinhentas) UFESPs, para fornecedor cuja receita bruta anual seja superior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs; II - Para as infrações de natureza média, assim consideradas as condutas contrárias ao disposto no inciso II e no 2º do artigo 2º desta lei: a) 150 (cento e cinquenta) UFESPs, em se tratando de fornecedor optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Simples Nacional, instituído pela Lei Complementar federal nº 123, de 14 de dezembro de 2006; b) 750 (setecentas e cinquenta) UFESPs, para fornecedor que não se enquadre na hipótese da alínea a e cuja receita bruta anual seja igual ou inferior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs; c) 2.000 (duas mil) UFESPs, para fornecedor cuja receita bruta anual seja superior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs; III - Para as infrações de natureza grave, assim consideradas as condutas contrárias ao disposto no artigo 1º e no artigo 2º, inciso III e 3º e 4º, desta lei: a) 200 (duzentas) UFESPs, em se tratando de fornecedor optante pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Simples Nacional, instituído pela Lei Complementar federal nº 123, de 14 de dezembro de 2006; b) 1.000 (mil) UFESPs, para fornecedor que não se enquadre na hipótese da alínea a e cuja receita bruta anual seja igual ou inferior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs; c) 2.500 (duas mil e quinhentas) UFESPs, para fornecedor cuja receita bruta anual seja superior a 650.000 (seiscentas e cinquenta mil) UFESPs. Artigo 5º - A sanção de interdição, fixada em no máximo 30 (trinta) dias, será aplicada quando o fornecedor reincidir nas infrações dos artigos 1º e 2º, inciso III e 3º e 4º, desta lei. Artigo 6º - Na hipótese de descumprimento da sanção de interdição, ou se for verificada nova infração do disposto nesta lei, será oficiada a Secretaria da Fazenda, que deverá proceder à instauração de processo para cassação da eficácia da inscrição do fornecedor infrator no cadastro de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação ICMS, consoante disposto na Lei nº 12.540, de 19 de janeiro de 2007. 45

Artigo 7º - Considera-se reincidência a repetição de infração de quaisquer das disposições desta lei, desde que imposta a penalidade por decisão administrativa irrecorrível. Parágrafo único - Para os fins do disposto no caput deste artigo, não se considera a sanção anterior se entre a data da decisão administrativa definitiva e a da infração posterior houver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos. Artigo 8º - A fiscalização do disposto nesta lei será realizada pelos órgãos estaduais de defesa do consumidor e de vigilância sanitária, nos respectivos âmbitos de atribuições, os quais serão responsáveis pela aplicação das sanções decorrentes de infrações às normas nela contidas, mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa. Vem por meio deste, informar a V. Sa., para que sejam adotadas as providências administrativas cabíveis, que a empresa...(denominação, CNPJ, responsável), situada à rua..., nesta cidade, conforme documento anexo (indicar...), no dia..., às... horas, nesta cidade, assumiu ter descumprido a Lei Federal n. 8.069/90 (art. 243) e a Lei Estadual n. 14.592/11, pois vendeu/ofertou/forneceu/ entregou/permitiu o consumo de bebida alcoólica (verificar se foi gratuitamente), a pessoa menor de 18 (dezoito) anos de idade conforme cópias anexas (extraídas dos autos de Inquérito Civil n.). Sem mais para o momento, e aguardando o pronto atendimento do disposto na Lei Estadual n. 14.592/11 envia-se o presente ofício com as cópias que o instruem, aproveitando o ensejo para renovar protestos de consideração e apreço. Local, data. Promotor(a) de Justiça Ilmo. (a) Sr. Diretor Técnico da Divisão Regional de Serviço de Vigilância Sanitária Estadual Município de... 46

E) MODELO DE OFÍCIO DESTINADO À PREFEITURA MUNICIPAL, PROCON E/OU VIGILÂNCIA SANITÁRIA MUNICIPAIS EM CIDADES EM QUE NAO HAJA VIGILÂNCIA OU PROCON ESTADUAIS, PARA QUE AUXILIEM NA FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA LEI ESTADUAL N. 14.592/11 Local, data Ofício nº XXXXXX Ilmo(a). Sr.(a) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por seu Órgão que abaixo subscreve, com exercício na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de XXXXXXXX, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelos artigos 127, 129, III, da Constituição Federal, e pelo artigo. 8º, 1º, da Lei n. 7.347/85. CONSIDERANDO que tramita nesta Promotoria de Justiça o Procedimento nº xxxxx, instaurado a partir de representação oferecida pelo xxxxxxxxx, com o fim de apurar a venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes por comerciantes, proprietários de comércio em geral, restaurantes, lanchonetes e, bares e similares deste Município; CONSIDERANDO que a Constituição Federal em seu art. 227, caput e os arts. 4º e 5 o da Lei nº 8.069/90 determinam ser dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, dentre outros, o direito à dignidade e ao respeito de toda criança e adolescente, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão; CONSIDERANDO a necessidade de se prevenir e coibir o acesso de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes, que compromete o desenvolvimento social e 47

psicológico, bem como o crescimento digno dessas pessoas em condições peculiares de desenvolvimento; CONSIDERANDO que a venda de bebidas alcoólicas à criança e ao adolescente constitui crime, consoante preceitua a Lei n. 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 243. Vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança e adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida, Pena detenção de 2 (dois) anos a 4 (quatro) anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave ; CONSIDERANDO que a Constituição Federal estabelece que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, a qual é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio; CONSIDERANDO ser atribuição do Ministério Público a tutela dos interesses difusos e coletivos e individuais homogêneos relativos à proteção da infância e juventude; CONSIDERANDO a lei estadual nº 12.540, que dispõe sobre a cassação da eficácia da inscrição no cadastro de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação-ICMS, dos bares, hóteis, restaurantes e similares que venderem bebidas alcóolicas à menores de idade ou forem flagrados consentindo ou comercializando drogas; CONSIDERANDO essencialmente o teor da Lei Estadual nº 14.592, de 19 de Outubro de 2011 que proíbe vender, ofertar, fornecer, entregar ou permitir o consumo de bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, aos menores de 18 (dezoito) anos de idade, e dá providências correlatas; 48

Vem por meio deste, SOLICITAR a V. Sa., sejam promovidas diligências no sentido de dar cumprimento à Lei Estadual acima citada, com a elaboração de autos de constatação públicos de locais em que seja constatada a venda ou qualquer forma de comercialização de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes, o consumo indevido de álcool por pessoas menores de 18 anos de idade ou a disposição de bebidas alcoólicas em desacordo ao disposto no artigo 2 o, Parágrafo 2 o da Lei Estadual n. 14.592/11. Sem mais para o momento, e aguardando o préstimo desse órgão municipal para obter-se o devido atendimento do disposto na Lei Estadual n. 14.592/11 envia-se o presente ofício com as cópias que o instruem, aproveitando o ensejo para renovar protestos de consideração e apreço. Local, data. Promotor(a) de Justiça Ilmo. (a) Sr. (a) Responsável pelo PROCON Municipal Ilmo. (a) Sr. (a) Diretor/Coordenador/responsável pela Vigilância Sanitária Municipal Ilmo. Sr. Responsável pelos serviços públicos municipais (discriminar) 49

3 a PARTE DO MATERIAL DE APOIO DOUTRINA E REFERENCIAL TÉCNICO A) ADOLESCÊNCIA E FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA O USO INDEVIDO DE ÁLCOOL Paulo Roberto Aranha de Macedo Médico Especialista em Psiquiatria - ABP AMB Especialista em Dependência Química UNIAD / UNIFESP-EPM Consultor - Área Técnica de Álcool e Drogas ASTEC / SAS / Ministério da Saúde DROGAS SAÚDE MENTAL E USO INDEVIDO DE ÁLCOOL E OUTRAS A questão do uso abusivo e/ou dependência de álcool e outras drogas nunca foi um problema exclusivamente psiquiátrico ou médico. As implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas são enormes e devem ser consideradas na compreensão global do problema, a qual deve considerar a tríade substância, indivíduo e meio ambiente (Olievenstein, 1990) e as suas mais diversas características. A enorme quantidade de variáveis implicadas neste consumo permite um número infindável de configurações possíveis para o uso de substâncias psicoativas. O comprometimento global conseqüente ao uso de álcool e outras drogas envolve muito estigma, exclusão e preconceito. Além disso, sofre influência da desabilitação que promove, sento esta definida como a perda ou restrição nas habilidades de um indivíduo para exercer uma atividade, função ou papel social, em qualquer um dos domínios da vida de relação. Suas conseqüências afetam, com considerável prejuízo, as nações do mundo inteiro, ultrapassando fronteiras, na medida em que a problemática inerente ao abuso / dependência de drogas avança por todas as sociedades, envolvendo homens e mulheres de diferentes grupos étnicos, independentemente de classe social e econômica, ou mesmo de idade. 50

As evidências em questão dificultam abordagens terapêuticas que não sejam planejadas em função de cada indivíduo, e do sofrimento psíquico que o uso abusivo ou a dependência de álcool e outras drogas traz a ele, ou aos que o cercam. Sendo assim, o planejamento de ações terapêuticas, preventivas e educativas que sejam relativas a tal uso somente é viável (considerando-se alguma projeção de eficácia e efetividade para tais ações) dentro de uma perspectiva ampliada de saúde mental. A promoção de saúde mental pode ser considerada a viabilização de ganhos de autonomia por parte de pessoas em estado de sofrimento psíquico, com a busca da otimização da qualidade de vida destas pessoas, considerando que a expressão dos processos patológicos correlatos é mediada pelas práticas diárias destes indivíduos, e que estas práticas podem agir contra ou a favor de seu bem estar psíquico, tendo portanto influência em sua vidas, de uma forma geral. Um conceito de saúde mental como sendo unicamente a ausência de doença mental é limitado demais para contemplar todo um continuum evolutivo de instalação ou remissão de acometimento psíquico, não envolvendo devidamente os aspectos subjetivos envolvidos neste processo: cada indivíduo constitui campo de integração e interrelação de vários fenômenos de manifestação biopsicossocial, podendo ser este indivíduo a interseção existente entre todas esta variáveis. A maneira como este indivíduo percebe conscientemente esta interseção pode ser definida como subjetividade, sendo esta o sítio de percepção e manifestação do que chamamos saúde mental ou transtorno psíquico (expressão preferível, ao invés de doença mental, de acordo com orientação da Organização Mundial de Saúde), no mais simples sentido de bem-estar ou mal-estar, respectivamente. Temos então a justificativa para que a mesma lógica permeie o planejamento de ações preventivas voltadas a usuários de álcool e drogas o uso abusivo de substâncias psicoativas configura um desafio à premente organização de dispositivos de cuidados voltados especificamente para esta clientela, cada vez mais exposta à crescente disponibilidade de substâncias lícitas e ilícitas. Vemos então que o uso indevido de substâncias psicoativas tomou 51

proporção de grave problema de saúde pública no país; esta constatação também se reflete nos demais segmentos da sociedade pela relação comprovada de tal uso com os agravos sociais dele decorrentes (Ministério da Saúde, 2001). A exclusão social e a ausência de cuidados que atingem, de forma histórica e contínua, aqueles que sofrem de transtornos mentais, apontam para a necessidade da reversão de modelos assistenciais que não contemplem as reais necessidades de uma população (Silva Filho, 2001). Isto é uma demanda mundial, amplamente respaldada por evidências científicas. Citando somente um exemplo, dados fornecidos por estudo capitaneado pela Universidade de Harvard indicam que, das dez doenças mais incapacitantes em todo o mundo, cinco são de origem psiquiátrica: depressão, transtorno afetivo bipolar, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno obsessivo-compulsivo (Murray e Lopez, 1996). Apesar de responsáveis diretas por somente 1,4% de todas as mortes, as condições neurológicas e psiquiátricas foram responsáveis por 28% de todos os anos vividos com alguma desabilitação para a vida. Salvo variações sem repercussão epidemiológica significativa, a realidade acima encontra equivalência em território brasileiro. ADOLESCÊNCIA E USO INDEVIDO DE ÁLCOOL CONTEXTO ATUAL Qualquer sociedade deve assumir o compromisso ético de cuidar de suas crianças e adolescentes (Saggese, 2000), o que deveria encontrar equivalência no aumento na atenção voltada para esta faixa etária específica; não devemos esquecer que o descaso do presente poderá incorrer em um custo futuro pesado para toda a sociedade. Os transtornos mentais e de comportamento têm ocorrência relativamente comum durante a infância e adolescência (OMS, 2001). Com freqüência, não são detectados, mesmo porque existe um certo consenso popular sobre a sua inexistência, ou mesmo sobre um suposto caráter incomum. Apesar disso, trazem custo inestimável para a sociedade como um todo, especialmente nos aspectos humano e financeiro. Constituem grave problema de saúde pública mundial, o que se agrava pelo fato de que muitos dos transtornos ocorridos nestas fases do desenvolvimento humano podem continuar se manifestando durante a idade adulta, em um 52

comprometimento global de estimativa complexa e difícil; geram grande carga agregada de doenças, sendo freqüentemente o reflexo de doença maior, em um contexto sócio-familiar. Ainda que apresentem variação considerável, estudos investigativos evidenciam uma prevalência geral elevada de transtornos mentais e de comportamento em crianças 10 a 20% delas podem ter um ou mais problemas mentais. Porém, enquanto fases do desenvolvimento, a infância e a adolescência não proporcionam uma clara delineação / delimitação entre fenômenos tidos como anormais, e outros aceitos como componentes de um desenvolvimento normal, o que certamente superestima a prevalência acima mencionada. Em contrapartida, vemos uma elevação na identificação de transtornos que, freqüentemente observados em adultos, podem ter seu início na idade infantil, como no caso dos transtornos depressivos. No tocante a categorias diagnósticas específicas da infância e adolescência (CID-10, 1996), vemos que transtornos hipercinéticos, distúrbios de atenção e hiperatividade, distúrbios de conduta e transtornos emocionais da infância podem constituir fator de risco para a ocorrência futura de comorbidades diversas. A despeito do uso de substâncias psicoativas de caráter ilícito, e considerando qualquer faixa etária, o uso indevido de álcool e tabaco tem a maior prevalência global, trazendo também as mais graves conseqüências para a saúde pública mundial. Corroborando tais afirmações, estudo conduzido pela Universidade de Harvard e instituições colaboradoras (Murray e Lopez, 1996) sobre a carga global de doenças trouxe a estimativa de que o álcool seria responsável por cerca de 1,5% de todas as mortes no mundo, bem como sobre 2,5% do total de anos vividos ajustados para incapacidade. Ainda segundo o mesmo estudo, esta carga inclui transtornos físicos (cirrose hepática, miocardiopatia alcoólica, etc) e lesões decorrentes de acidentes (industriais e automobilísticos, por exemplo) influenciados pelo uso indevido de álcool, o qual cresce de forma preocupante em países em desenvolvimento. Existe uma tendência mundial que aponta para o uso cada vez mais precoce de substâncias psicoativas, incluindo o álcool, sendo que tal uso também ocorre de forma cada vez mais pesada. No Brasil, estudo realizado pelo CEBRID Centro Brasileiro de 53

Informações sobre Drogas Psicoativas sobre o uso indevido de drogas por estudantes (n = 2.730) dos antigos 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras (Galduróz et. al., 1997) revelou percentual altíssimo de adolescentes que já haviam feito uso de álcool na vida: 74,1%. Quanto a uso freqüente, e para a mesma amostra, chegamos a 14,7%. Ficou constatado que 19,5% dos estudantes faltaram à escola, após beber, e que 11,5% brigaram. Comparativamente a estudos semelhantes realizados anteriormente, com o mesmo rigor metodológico (o que permite algum nível comparativo, visto que se referem a grupos populacionais definidos), o uso freqüente de álcool aumentou em seis capitais, e o uso pesado (20 vezes ou mais por mês) aumentou em oito das dez capitais participantes do estudo. Estudos como este encontram dificuldades para a sua replicação em ambientes escolares de natureza privada, o que se justifica por diversas razões; dentre elas, destacamos o temor (por parte de diretores e donos de escolas) de que, mediante divulgação indevida dos dados obtidos, estes estabelecimentos de ensino fiquem de alguma forma estigmatizados como locais nos quais haveria uma suposta facilitação ao uso de substâncias psicoativas, o que supostamente teria impacto indesejado sobre a credibilidade da escola como local de formação pessoal. Ao considerarmos crianças e adolescentes em situação de rua, vemos um agravamento da situação acima descrita, no tocante às substâncias psicoativas em geral (Noto et. al., 1993), sendo apresentados percentuais altíssimos de uso na vida, em todas as capitais pesquisadas, também de forma cada vez mais precoce e pesada. FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA O USO DE ÁLCOOL, NA ADOLESCÊNCIA Uma vez estando claro que a promoção de saúde mental pode ser considerada a viabilização de ganhos de autonomia por parte de pessoas em estado de sofrimento psíquico, com a busca da otimização da qualidade de vida destas pessoas, e se estas premissas também são válidas em relação à população de adolescentes, qualquer tentativa de 54

reduzir ou eliminar uma possível influência de fatores de risco para o uso abusivo e/ou dependência de álcool deve considerar as suas práticas diárias; vale a pena ratificar que, se estas práticas podem influenciar positiva ou negativamente o seu bem estar, podem ser qualificadas como fatores de proteção ou de risco para este uso indevido. Os fatores de risco para o uso indevido de álcool são características ou atributos de um indivíduo, grupo ou ambiente de convívio social, que contribuem para aumentar a probabilidade da ocorrência deste uso. Em uma leitura primária, se as manifestações do uso indevido de álcool por adolescentes encontram seu lugar na comunidade, é neste ambiente comunitário que terão lugar as práticas terapêuticas, preventivas e educativas de maior impacto sobre os chamados fatores de risco para este uso indevido. Fatores de risco e de proteção podem ser identificados em todos os domínios da vida adolescente: nos próprios indivíduos, em suas famílias, em seus pares, em suas escolas e nas comunidades, e em qualquer outro nível de convivência sócio-ambiental; é importante notar que tais fatores de risco não ocorrem de forma estanque, havendo entre eles considerável transversalidade e conseqüente variabilidade de influência. Ainda assim, podemos dizer que a vulnerabilidade é maior em indivíduos que estão insatisfeitos com a sua qualidade de vida, possuem saúde deficiente, não detêm informações minimamente adequadas sobre a questão de álcool e drogas, possuem fácil acesso às substâncias, e possuem integração comunitária deficiente. Também vale a pena ressaltar que, se existem fatores de risco atuantes em cada um dos domínios citados, estes últimos também possuem os seus fatores específicos de proteção. Vejamos: Domínio individual Podemos identificar como principais fatores de risco a baixa auto-estima, falta de auto-controle e assertividade, comportamento anti-social precoce, doenças pré-existentes (ex.: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), baixa religiosidade e vulnerabilidade psicossocial. Como fatores de proteção, a apresentação de habilidades sociais, flexibilidade,, 55

habilidade em resolver problemas, facilidade de cooperar, autonomia, responsabilidade e comunicabilidade são os mais influentes, paralelamente à vinculação familiar-afetiva, religiosa ou institucional. Domínio familiar O uso de álcool e outras drogas pelos pais é um fator de risco importante, assim como a ocorrência de isolamento social entre os membros da família. Também é negativamente influente um padrão familiar disfuncional, bem como a falta do elemento paterno. São considerados fatores de proteção a existência de vinculação familiar, com o desenvolvimento de valores e o compartilhamento de tarefas no lar, bem como a troca de informações entre os membros da família sobre as suas rotinas e práticas diárias; o cultivo de valores familiares, regras e rotinas domésticas também deve ser considerado. Domínio dos pares Os principais fatores de risco são pares que usam drogas, ou ainda que aprovam e/ou valorizam o seu uso; a rejeição de regras, práticas ou atividades organizadas é considerada um sinalizador para indivíduos com potencial negativo de influência. Ao contrário, pares que não usam álcool / drogas, e não aprovam ou valorizam o seu uso exercem influência positiva, o mesmo ocorrendo com aqueles envolvidos com atividades de qualquer ordem (recreativa, escolar, profissional, religiosa ou outras), que não envolvam o uso indevido de álcool e outras drogas. Domínio escolar Ocorre o entrecruzamento de fatores de risco presentes em todos os outros domínios; em verdade, a escola é o ambiente em que boa parte (ou a maioria) destes fatores pode ser percebida. De qualquer forma, os maiores fatores de risco apresentados são a falta de habilidade de convivência com grupos e a disponibilidade de álcool na escola e nas redondezas; além disso, uma escola que apresente regras e papéis inconsistentes ou ambíguos 56

com relação ao uso de drogas ou à conduta dos estudantes também vem por constituir importante fator de risco relativo ao uso de álcool. Apresenta fatores de proteção a escola que evidencia regras de padrões comportamentais claros consistentes com exemplificação dos adultos; da mesma forma, é importante a participação dos estudantes em decisões de questões escolares, com a inerente aquisição de responsabilidades. ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO A prevenção voltada para o uso abusivo e/ou dependência de álcool em adolescentes pode ser definida como um processo de planejamento, implantação e implementação de múltiplas estratégias voltadas para a redução dos fatores de risco específicos, e fortalecimento dos fatores de proteção. Implica necessariamente em inserção comunitária das práticas propostas, com a colaboração de todos os segmentos sociais disponíveis. A prevenção primária teria como objetivo impedir o uso de álcool pela primeira vez; a secundária, impedir uma escalada do uso; a prevenção terciária buscaria minimizar as conseqüências de tal uso. O planejamento de ações voltadas para minimizar os efeitos adversos do uso de álcool entre adolescentes deve identificar fatores de risco e proteção; deve assim contemplar práticas que favoreçam a minimização dos fatores de risco para o consumo de álcool, de forma paralela ao reforço de fatores de proteção. As estratégias de prevenção devem contemplar a utilização combinada dos seguintes elementos: fornecimento de informações sobre o álcool e outras drogas, práticas educativas diversas, alternativas para lazer e atividades livres de drogas; devem também facilitar a identificação de problemas pessoais, e o acesso ao suporte para tais problemas. Devem buscar o fortalecimento de vínculos afetivos e a melhora da auto-estima dos adolescentes, e das outras pessoas da comunidade. Também devem contemplar formas de intervenções sobre a disponibilidade da droga (intervenções ambientais). O MINISTÉRIO DA SAÚDE E A REDE ASSISTENCIAL 57

As práticas de saúde voltadas para este problema específico devem configurar um desenho preventivo para uma política de saúde; ciente da necessidade de enfrentamento para esta grave questão de saúde pública (e fenômenos correlatos), e na certeza (técnica, cientifica e epidemiologicamente) fundamentada de que tal enfrentamento colhe seus melhores frutos quando ocorre na comunidade, o Ministério da Saúde propõe e viabiliza a criação de redes locais de saúde mental que contemplem a atenção ambulatorial, inserida na comunidade, flexível e resolutiva, (MS, 2002); estas redes se articulam em torno de unidades denominadas CAPS Centros de Atenção Psicossocial, as quais, pela disponibilidade contínua de cuidados, constituem concreta alternativa ao modelo assistencial anteriormente centrado no hospital psiquiátrico excludente, não-resolutivo e ineficaz, em termos de saúde pública. A concepção dos CAPS contempla, de forma inconteste: - A Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 (MS, 2002), a qual dispõe sobre o atendimento a portadores de transtornos psíquicos, e reorienta o modelo assistencial vigente; - As disposições e deliberações constantes no Relatório Final da Pré- Conferência Infância e Adolescência, em 03 e 04 de dezembro de 2001; - As deliberações ocorridas na III Conferência Nacional de Saúde Mental (Brasília, 2001), constantes em seu relatório final (SUS, 2002); - As 10 Recomendações para a Ação da OMS para a Saúde Mental (Relatório Sobre a Saúde no Mundo, OMS, 2001), a saber: proporcionar tratamento na atenção primária, garantir o acesso a medicamentos, garantir atenção na comunidade, fornecer educação em saúde para a população, envolver comunidades / famílias / usuários, estabelecer políticas, programas e legislação nacionais, formar recursos humanos, criar vínculos com outros setores, monitorizar a saúde mental na comunidade e dar mais apoio à pesquisa; 58

- As Portarias Ministeriais GM/336, SAS/189, GM/816 e SAS/305, referentes aos Centros de Atenção Psicossocial, em todas as suas modalidades (CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad) Por sua característica de serviço aberto e comunitário, o CAPS pode oferecer programas terapêuticos de menor nível de exigência, portanto disponíveis a mais pessoas da comunidade. As modalidades de cuidados para álcool e drogas nas unidades CAPS devem obedecer a uma lógica de redução de danos, seja esta relativa a práticas voltadas para DST/HIV/AIDS, seja em relação ao próprio uso indevido de álcool por adolescentes (ex.: intervenções breves para adolescentes que fazem uso de álcool em um padrão abusivo. Devemos ressaltar o enorme potencial benéfico desta lógica, em termos de saúde pública. Se considerarmos somente o fato de que a faixa etária mais acometida pelo HIV gravita em torno de 25-35 anos de idade, e se considerarmos que o vírus pode permanecer silente no organismo por até 10 anos, vemos aqui uma irrefutável justificativa para a preconização de práticas preventivas e os CAPS contemplam a atuação comunitária, nos planos preventivo / terapêutico / educativo. O Ministério da Saúde lançou em abril passado o Programa Nacional de Atenção Comunitária Integrada a Usuários de Álcool e Outras Drogas (Portaria GM/816 -- 30 de abril de 2002), o qual, entre outras propostas, viabiliza a implantação dos chamados CAPSad Centros de Atenção Psicossocial voltados para o atendimento específico em álcool e drogas; é prevista, para os próximos 03 anos, a implantação de 250 unidades CAPSad. Já estão cadastrados 31 serviços especializados tipo CAPSad; a estes, se somam 28 unidades CAPSi - CAPS para a infância e adolescência, já existentes (Portaria GM/336-19 de fevereiro de 2002). CAPSad e CAPSi totalizam portanto 59 unidades, com previsão de rápida expansão para este número, o qual, somado aos CAPS específicos para o atendimento a portadores de transtornos psíquicos severos, chega a 379 unidades, espalhadas pelo Brasil número ainda insuficiente, de forma relativa à demanda existente, porém em franca expansão nacional. 59

Os CAPS atuam de forma articulada a outros dispositivos assistenciais em saúde mental (ambulatórios, leitos em hospital-geral, hospitais-dia) e da rede básica de saúde (unidades básicas de saúde, etc), bem como ao Programa de Saúde da Família e ao Programa de Agentes Comunitários de Saúde; também se articulam em torno dos dispositivos de suporte social existentes nas comunidades, configurando redes flexíveis de cuidados, que possam responder por um determinado território populacional, e que se remodelem de forma dinâmica, mediante a necessidade de inclusão / exclusão de novos serviços e formas de cuidado, de forma pareada pela demanda assistencial. Aliando a implantação / implementação dos CAPS a outros programas de cuidados, as Áreas Técnicas de Saúde Mental e de Álcool e Drogas do Ministério da Saúde buscam contemplar as múltiplas possibilidades para o trabalho com os fatores de risco e proteção já mencionados. O rumo tomado pela implantação / implementação das práticas assistenciais determinará a configuração real de uma política especificamente voltada para os adolescentes que fazem uso abusivo de álcool, ou são dele dependentes. Estes são os passos iniciais para a oportunização de condições básicas à reconstrução não somente de uma vivência adolescente em que a participação do álcool seja mínima ou nenhuma, mas de projetos de vida individualizados que comportem opções mais produtivas, e que detenham uma perspectiva evolutiva para o futuro destas pessoas. Referencias Bibliográficas Brasil, Ministério da Saúde, Secretaria Executiva. Legislação em Saúde Mental 1990-2002. 3ª Edição. Brasília, Ministério da Saúde, 2002 Brasil, Ministério da Saúde. Relatório do seminário sobre o atendimento aos usuários de álcool e outras drogas na rede do SUS. Caderno de Textos de Apoio da III Conferência Nacional de Saúde Mental. MS, Brasília, 2001 Comissão Organizadora da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Pré-Conferência Infância e Adolescência. Relatório Final. Brasília, 2001 60

Galduróz, J.C.; Noto, A. R.; Carlini, E. A.. IV Levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras 1997. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID, Escola Paulista de Medicina, 1997 Murray, C.J.L. Lopez, AD. The global burden of disease: a comprehensive assessment of mortality and disability, form diseases, injuries and risk factors in 1990 and projected to 2020. Cambridge, Massachusetts Harvard School of Public Health to World Health Organization and World Bank. Global Burden of Disease and Injury Series, Vol I, 1996 Noto, A R.. O uso de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua de seis capitais brasileiras no ano de 1997. Tese de Doutorado. Escola Paulista de Medicina, São Paulo, 1998 Alegre, 1990 Olievenstein, C. A Clínica do Toxicômano. Ed. Artes Médicas, Porto Organização Mundial da Saúde. Relatório sobre a Saúde no Mundo 2001 Saúde Mental: Nova Concepção, Nova Esperança. OMS, Genebra, 2001 Saggese, E. Apresentação. Cadernos IPUB nº 11: Saúde Mental na Infância e Adolescência, 2ª edição. Rio de Janeiro, UFRJ/IPUB, 2000 Silva Filho, J.F. Saúde Mental e Qualidade de Vida. Caderno de Apoio à III Conferência Estadual de Saúde Mental do Maranhão. Coordenação Estadual de Saúde Mental, Gerência de Estado de Qualidade de Vida, Governo do Maranhão, 2000 Sistema Único de Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Organizadora da III CNSM. Relatório Final da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília, 11 a 15 de dezembro de 2001. Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde, 2002. Fonte: http://www.uniad.org.br/independencia/ado_fatoresrisco.htm 61

B) Propostas para evitar o consumo de álcool entre adolescentes Sintonia com a Estratégia Global da Organização Mundial da Saúde em relação ao Álcool - Resolução da 63ª Assembléia Mundial da Saúde de Maio de 2010. Professor Doutor Ronaldo Laranjeira INPAD Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas CNPq Professor Titular de Psiquiatria da UNIFESP A Organização Mundial da Saúde aprovou no ano passado essa resolução com o objetivo de ressaltar o enorme problema de saúde pública que o álcool cria no mundo todo. Em várias regiões do mundo as bebidas alcoólicas causam maiores danos até mesmo do que o fumo. O uso nocivo do álcool causa cerca de 2,5 milhões de mortes no mundo todos os anos. Dessas mortes pelos menos 320.000 são jovens de 15 a 29 anos de idade. É responsável por 3.8% de todas as mortes, e por 4.5% de toda a incapacitação e anos de vida perdidos O uso de álcool é o terceiro fator de risco de saúde no mundo, perde somente para a desnutrição e sexo sem proteção. Esse risco de saúde está relacionado a uma série de doenças como: Câncer (cabeça e pescoço, fígado, colo-retal, mama), AVC, hipertensão, cirrose, pancreatite, doença coronariana, diabetes. Além de tuberculose, HIV, pneumonia, acidentes, violência familiar. É o maior fator de risco evitável das doenças psiquiátricas. Uma parcela significante do custo das doenças atribuídas ao álcool ocorrem devido a acidentes, incluídos aqueles relacionados aos automóveis, violência e suicídios, que na maioria das vezes atinge a população mais jovem. Nas Américas e em especial na América do Sul o álcool é um problema de saúde maior ainda. É o principal fator de risco para todas as doenças, dentre um grupo de 62

mais de 34 fatores, que contribuem para a morte prematura e incapacitação. Nas Américas as mortes atribuídas ao álcool somam 6%, já a incapacitação e anos de vida perdidos atinge 9%, sendo a principal causa, mais importante que o fumo 6%, obesidade 5% e hipertensão 4%. Além de ser um problema de saúde pública, o consumo de álcool é também um problema de desenvolvimento, pois o custo social nos paises em desenvolvimento é muito maior do que nos paises desenvolvidos. A OMS explicitamente menciona que uma atenção especial deva ser dada a populações com risco maior em relação ao álcool como: crianças, adolescentes, mulheres em idade de procriação, mulheres grávidas e amamentando, população indigena, e outras populações com nível sócio economico mais baixo. Também menciona que as ações comunitárias deveriam ser a prioridade. As comunidades podem ser ajudadas a identificar e resolver grande número de problemas relacionados ao álcool, como por exemplo, locais onde os adolescentes podem ter acesso a bebidas alcoolicas. Mobilizar as comunidades para resolver esses problemas é uma medida eficaz. A OMS recomenda que é uma política baseada em evidência, além de estabelecer uma idade na qual o álcool possa ser consumido, que um sistema eficaz de fiscalização seja implementado, com clara sanções determinadas. Por que os jovens merecem um destaque especial? americano. O Álcool é a droga mais usada pelos jovens em todo o continente Uma maior percentagem de jovens usam álcool do que tabaco ou outra droga ilícita. As consequências físicas do uso do álcool pelos jovens variam de problemas 63

médicos até morte, e é importante também numa série de comportamentos sexuais de riscos, violência, acidentes e suicídio. Também causa efeitos secundários em outras pessoas, bebedores e não bebedores, incluindo acidentes de carro que colocam todas as crianças em risco. Em grande parte, pais e outros adultos subestimam o numero de adolescentes que usam álcool. Subestimam o quão precoce o beber começa, a quantidade que eles consomem, e os vários riscos que álcool cria para os adolescentes, e a natureza e extensão das consequências para quem bebe e quem não bebe. Muito frequentemente os pais acreditam que isso não acontece com seus filhos, mas a maioria do adolescentes brasileiros começam a experimentar com álcool aos 14 anos e beber regularmente aos 15. Estudos recentes mostram que o consumo de álcool tem o potencial de desencadear mudanças biológicas com repercussões de longo prazo no cérebro, incluindo comprometimento neurocognitivo. O uso de álcool por adolescentes não deveria ser encarado como um rito de passagem aceitável mas uma verdadeira ameaça a saúde, como as estatísticas sobre acidentes e mortes atestam. Consequências Adversas do beber na adolescência As conseqüências de curto e longo prazos que ocorrem devido ao uso de álcool na adolescência variam no tipo e na magnitude. A adolescência é um periodo da vida caracterizado por uma boa condição de saúde geral, e baixa incidência de doenças, no entanto a morbidade e mortalidade aumenta mais de 200% entre o meio da infância e final da adolescência. Esse aumento dramatico é atribuido em boa parte a um aumento de comportamento que envolvem riscos, busca de sensações e comportamentos erráticos que seguem a puberdade e que contribute para a violência, acidentes, comportamentos sexual de riscos, homicídios e suicídios. 64

Álcool frequentemente está relacionado a todos esses fatores que criam instabilidade nesse período da vida. As pesquisas internacionais mostram que os principais problemas relacionados ao uso de álcool na adolescência são: - é o principal fator de mortes por acidentes - papel significante em comportamento sexual de risco, que inclui relações sexuais sem proteção, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez sem planejamento - aumento do risco de violência física e sexual - associado com problemas na escola e interrupção dos estudos. - associado com uso de drogas ilícitas - associado com uso do cigarro - pode causar uma série de consequências físicas, de ressaca a morte por coma alcoólico -pode causar alterações na estrutura e função no cérebro do adolescente que está em desenvolvimento e que por isso é mais sensível a esse tipo de dano, e que pode ter consequências muito além da adolescência - causa efeitos nas outras pessoas, como danos a propriedades, traumatismos, violência e até mesmo mortes, como por exemplo em acidentes de carro. - quanto mais cedo o uso de álcool maiores as chances de desenvolver dependência do álcool na vida adulta. Estudos internacionais mostram que 40% dos indivíduos que começaram a beber antes dos 15 anos ficam dependentes do álcool. Que é quarto vezes mais alta do que alguém que começa a beber após os 21 anos. Como bebem os adolescentes brasileiros As bebidas alcoólicas são as substâncias psicotrópicas mais utilizadas pelos adolescentes brasileiros. O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil só é legalmente permitido após os 18 anos de idade, no entanto os empecilhos são pequenos para que os adolescentes comprem e consumam álcool. Pesquisa feita pela UNIFESP mostrou que adolescentes 65

conseguiram comprar bebidas alcoólicas em 85% dos 534 estabelecimentos visitados em duas cidades do estado de São Paulo. Pelas particularidades desse grupo, a análise dos padrões de consumo inclui algumas variáveis muito importantes. Pesa muito a idade em que começam a beber, o número de doses que tomam em média a cada vez que bebem, e a quantidade de bebida ingerida nas ocasiões em que bebem muito. Os dados apresentados aqui fazem parte do Primeiro Levantamento de Consumo de Bebidas alcoólicas da população brasileira realizada pela Universidade Federal de São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, que entrevistou 3005 brasileiros escolhidos de uma amostra probabilística do país. Portanto os dados representam o que ocorrem no país como um todo. Início do Consumo O Gráfico 1 apresenta os dados dos jovens adultos (18-25 anos), para efeito de comparação. Adolescentes e jovens adultos apresentam diferenças na idade média do 66

início do consumo e no começo do consumo regular. A opção de se utilizar os jovens de 18 a 25 anos de idade como comparação deve-se ao fato deles terem menor efeito de memória para lembrarem do comportamento do beber do que a população mais velha. Houve diferenças significativas em relação ao começo da experimentação e do uso regular. Isso sugere que os adolescentes estão iniciando seu consumo de álcool cada vez mais cedo. Esse estudo fornece informações consistentes que o fenômeno do beber precoce e regular está realmente acontecendo com os nossos jovens. A frequência com que bebem Com que frequência você geralmente bebe qualquer bebida alcoólica (incluindocerveja, vinho, destilados, bebidas ice ou qualquer outra bebida)? As frequências foram definidas da seguinte maneira: Muito frequente= todos os dias; Frequente: 1-4 vezes/semana; Ocasional= 1-3 vezes/mês;raramente=menos de 1 vez/mês; Abstinentes: menos de 1 vez/ano ou nunca bebeu. 67

O Gráfico 2 mostra que os meninos e meninas consomem bebidas alcoólicas com freqüências semelhantes. Cerca de dois terços de adolescentes de ambos os sexos são abstinentes. É importante lembrar que o consumo de bebidas alcoólicas é legalmente proibido para menores de 18 anos no Brasil. Mesmo assim, em um universo de adolescentes representativo das várias regiões do país e de áreas urbanas e rurais, quase 35% dos adolescentes menores de idade consomem bebidas alcoólicas ao menos uma vez ao ano. Da mesma maneira, o fato de que 24% dos adolescentes bebem pelo menos uma vez ao mês merece atenção. Quantas doses os adolescentes bebem usualmente? Especialmente para os jovens, o número de doses que bebe, seja usualmente ou esporadicamente, é tão importante quanto a freqüência com que bebe. Se cerca de dois terços dos adolescentes são abstinentes, aqueles que bebem consomem quantidades significativas. O Gráfico 3 apresenta a quantidade usual consumida pelos adolescentes que beberam ao menos uma vez no último ano. Quase metade dos meninos adolescentes, que bebeu no último ano, consumiu três doses ou mais por situação habitual. Diferentemente do gráfico de freqüência, há diferenças entre meninos e meninas no que diz respeito à quantidade de álcool ingerida habitualmente. Quase um terço dos meninos que bebem consumiu 5 doses ou mais no último ano, contrastando com 11% para as meninas. 68

A unidade de medida empregada na pesquisa e na avaliação foi a dose. Corresponde, na média, a uma latinha de cerveja ou chope de 350 ml, uma taça de vinho de 90 ml, uma dose de destilado, de 30 ml, uma lata ou uma garrafa pequena de qualquer bebida ice. Cada dose contém cerca de 10-12 gramas de álcool. (anotação: colocar aqui arte com reprodução das doses citadas acima). Nos dias em que você bebe cerveja, vinho, bebidas ice, destilados, quantas doses você geralmente bebe por dia? A intensidade do beber O Gráfico 4 analisa a intensidade do consumo de álcool entre todos os adolescentes da amostra (não apenas os bebedores), mostra que 12% do total dos adolescentes (17% para os meninos) apresentam padrão intenso de consumo de álcool. Além disso, outros 10% dos adolescentes consomem ao menos uma vez ao mês e potencialmente em quantidades arriscadas. Há uma tendência de diferença entre o consumo de meninos e meninas, mas essa diferença não chega a ser estatisticamente significante. 69

Bebedor frequente pesado bebe uma vez/ou mais por semana e consome cinco ou mais doses por ocasião uma vez na semana ou mais Bebedor frequente bebe uma vez/semana ou mais e pode ou não consumir 5 ou mais doses por ocasião pelo menos uma vez/semana, mas mais de uma vez por ano. Bebedor menos frequente bebe de uma a três vezes/mês e pode ou não beber cinco doses ou mais ao menos uma vez ao ano. Bebedor infrequente bebe menos de uma vez/mês, mas ao menos uma vez/ano e não bebe cinco ou mais doses em uma ocasião. Abstêmio bebe menos que uma vez/ano ou nunca bebeu na vida. O Beber com maior risco O beber com maior risco em um curto espaço de tempo, ou o beber em binge, é a prática que mais deixa o adolescente exposto a uma série de problemas de saúde e social. Os riscos vão de acidentes de trânsito o evento mais comum e com consequências mais graves -, até o envolvimento em brigas, vandalismo e a prática do sexo sem camisinha. 70

O Gráfico 5 mostra a percentagem em que a amostra total de adolescentes (incluindo os não bebedores) relatam ter consumido bebidas alcoólicas em binge. Pouco menos de um quarto dos meninos e 12% das meninas já bebeu em binge ao menos uma vez nos últimos 12 meses, o que é uma diferença estatisticamente significativa. Durante os últimos 12 meses, com que frequência você bebeu (SE HOMEM: cinco ou mais doses MULHER: quatro ou mais doses) de qualquer bebida alcoólica em uma única ocasião? 71

binge nos últimos 12 meses. Entram no Gráfico 6 apenas os adolescentes que já beberam em O Gráfico 6 apresenta com que frequência os adolescentes que beberam em binge ao menos uma vez ao ano relatam essa ocorrência. Entre os meninos e meninas que já beberam 4 ou mais ou 5 ou mais doses em uma única ocasião nos últimos 12 meses, metade o fizeram menos de 1 vez por mês. Por outro lado, 30% deles beberam em binge duas vezes por mês ou mais. Assim, uma parte significativa dos adolescentes que bebem grandes quantidades apresenta tal comportamento com regularidade. As bebidas mais consumidas O Gráfico 7 apresenta as percentagens de doses por tipo de bebidas alcoólicas para a população adolescente de bebedores. Aproximadamente metade das doses consumidas por adolescentes é de cerveja ou chope. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores cruzaram dados sobre quantidade de doses consumidas de cada bebida e a frequência com que são consumidas. 72

Os vinhos tiveram também uma participação importante, com mais de 30% das doses consumidas por adolescentes. Não houve nenhuma diferença significativa entre os sexos no que diz respeito aos tipos de bebida (embora os meninos tivessem uma tendência a beber mais destilados que as meninas). Para chegar a esses números, os entrevistadores perguntaram com que freqüência o(a) adolescente consumia cada uma das bebidas e qual foi a quantidade de cada uma delas consumida em um único dia, nos últimos 12 meses. A categoria cerveja incluía cerveja e chope. Bebidas ice são destilados misturados com refrigerantes ou sucos industrializados. Destilados incluem cachaça, uísque, vodca, conhaque, rum. POR JOVENS? ainda inéditos: QUANTO DO CONSUMO DO ÁLCOOL NO BRASIL É FEITO ESSE ESTUDO NACIONAL MOSTROU OS SEGUINTES DADOS Os menores de 18 anos consomem 6% de todo o álcool no Brasil Os jovens de 18 a 29 anos consomem 40% de todo o álcool no Brasil 73