USO DE EXTRATOS VEGETAIS NA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO MICELIAL IN VITRO DE Acremonium sp. E Fusarium verticillioides Liliane Silva de Barros 1, Andressa Iraides Adoriam 2, Leimi Kobayasti 3 1 Engenheira Agrônoma, Doutoranda em Agricultura Tropical da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá MT, Brasil. E-mail: (agrlilianebarros@yahoo.com.br). 2 Graduanda em Agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá MT, Brasil. 3 Engenheira Agrônoma, Professora Doutora da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá MT, Brasil. Recebido em 06/05/2013 Aprovado em 17/06/2013 Publicado em 01/07/2013 RESUMO Extratos de plantas têm sido utilizados como alternativa ao uso de agrotóxicos devido a procura por alimentos isentos de contaminação, melhor preservação do meio ambiente, e vem demostrado ser viável e promissor. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito fungitóxico de extratos vegetais de coentro e pimenta-do-reino sobre o crescimento micelial de Acremonium sp. e Fusarium verticillioides. Os extratos vegetais foram obtidos a partir de plantas secas e moídas, utilizando-se água como meio extrator. Os mesmos foram incorporados na proporção de 0, 5, 10, 20 e 30% em meio BDA (Batata-Dextrose-Ágar), avaliados por meio da medição do crescimento micelial das colônias e da produção de conídios. O extrato de pimentado-reino tem eficácia nas concentrações a partir de 10%, podendo inibir o crescimento em até 42% e 32% na proporção de 30% de extrato no controle de F. verticillioides e Acremonium respectivamente. O extrato de coentro não manifesta atividade fungitóxica nos patógenos estudados e estimula a produção de conídios de Fusarium verticillioides. PALAVRAS-CHAVE: Controle alternativo, Coriandrum sativum, Piper nigrum L. USE OF PLANT EXTRACTS ON THE INIBITION OF MYCELIAL GROWTH OF Acremonium sp. E Fusarium verticillioides IN VITRO ABSTRACT Extracts of plants is being used as an alternative to the use of pesticides because the demand for food exempt contamination, better preservation of the environment, and has shown to be viable and promising.the objective of this study was to evaluate the antifungal effect of plant extracts coriander and pepper kingdom on the mycelial growth of Acremonium sp., and Fusarium verticillioides. The extracts were obtained from plants dried and ground, using water as extractor. They were incorporated in the proportion of 0, 5, 10, 20 e 30% on BDA (Potato-Dextrose-Ágar) evaluated by measuring the mycelial growth of the colonies. The extract of pepper kingdom is effective at concentrations from 10%, and inhibit the growth by 42% and 32% in the proportion of 30% extract in control of F. verticillioides and Acremonium respectively. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2071 2013
The coriander extract unmanifested fungitoxicity the studied pathogens and stimulates the production of conidia of Fusarium verticillioides. KEYWORDS: Alternative control, Coriandrum sativum, Piper nigrum L. INTRODUÇÃO Na agricultura, o uso de agrotóxicos para controle de doenças é cada vez mais frequente, pois os resultados são em curto prazo e, em muitos casos, a única medida eficiente e viável de controlar doenças e garantir a sustentabilidade da atividade agrícola (SILVA, 2009). O principal problema está ligado ao fato de esses produtos serem, muitas vezes, aplicados de forma excessiva ou de forma inadequada. Além disso, o uso de fungicidas, por longo período acarreta o surgimento de isolados dos fitopatógenos resistentes às substâncias químicas utilizadas, com resultados negativos, tanto para a sociedade como um todo como para o meio ambiente, devido à poluição causada pelos resíduos (MENEZES et al., 2009). Para se obter um produto que seja viável para recomendação aos produtores e que seja menos agressivo ao meio ambiente, ou a síntese de nova molécula fungicida utilizando o mínimo possível de substâncias sintéticas, existe a necessidade de pesquisas que encontrem essas substâncias, tendo como hipótese que extratos de plantas de nossa flora têm propriedades antimicrobianas (CELOTO et al., 2008; MILANESI et al., 2009) que protegem as plantas contra ataque de organismos patogênicos. Atualmente alguns trabalhos comprovam a eficácia destas substâncias, como é o caso do extrato proveniente da Azadirachta indica que foi eficiente contra oídio em tomateiro e antracnose em feijoeiro com persistência curta no meio ambiente (CARNEIRO, 2008). Também extrato de cravo-da-índia reduziu antracnose em frutos da goiabeira (ROZWALKA et al., 2008) e estudos com uso de pimenta evidenciaram propriedades antifúngicas, para controle de fungos em plantas (LORENZI & MATOS, 2008). A busca por métodos alternativos para proteção de plantas tem recebido atenção mundial e um dos focos principais das pesquisas é o estudo das propriedades que algumas plantas possuem que são eficazes no controle de fitopatógenos. Portanto, o objetivo neste trabalho foi avaliar o potencial de extratos de coentro (Coriandrum sativum) e pimenta do reino (Piper nigrum L.) no controle in vitro de Acremonium sp. e Fusarium verticillioides. MATERIAL E METODOS Os ensaios experimentais foram conduzidos no Laboratório de Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Cuiabá. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2 x 5 sendo dois extratos aquosos (pimenta-do-reino e coentro) e cinco concentrações de cada extrato (0, 5, 10, 20 e 30%). Foram usadas cinco repetições para avaliação do crescimento micelial e três repetições para quantificação dos conídios em cada bioensaio. Cada repetição foi constituída por uma placa de Petri. Para cada bioensaio foram utilizados os fungos Acremonium sp. e Fusarium verticillioides isolados a partir de amostras de plantas de milho. Os extratos aquosos foram obtidos a partir de 30 g de folhas e caule (coentro) e frutos (pimenta-do-reino), lavados em solução de hipoclorito de sódio a 2% e água ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2072 2013
destilada, secos em estufa de ventilação forçada a 50 C, triturados em moinho de facas e misturados a 120 ml de água destilada, filtrados em papel Wathman n 1 e adicionados ao meio de cultura Batata-Dextrose-Ágar (BDA), nas concentrações desejadas. A sua utilização ocorreu no mesmo dia de preparo. Os meios foram vertidos em placas de Petri e após sua solidificação, efetuouse a repicagem de um disco micelial de 0,5 cm de diâmetro dos fitopatógenos, retirados de colônias puras. Posteriormente, as placas foram vedadas com filme plástico e colocadas em câmara de incubação a uma temperatura de 22 C ± 2 ºC, com fotoperíodo de 12 horas. A avaliação do crescimento micelial dos tratamentos foi feita diariamente, em dois sentidos perpendiculares da colônia até o momento que as mesmas atingissem ¾ da superfície do meio de cultura (STANGARLIN et al., 1999), sendo depois calculada a média de cada placa. Para quantificação da produção de conídios, foram adicionados 10 ml de água destilada à placa de Petri e misturados com o auxílio de um pincel, para facilitar a liberação dos conídios. Essa suspensão foi filtrada em dupla camada de gaze. Três alíquotas de cada placa foram amostradas para determinar a concentração de conídios com auxílio de câmara de Neubauer e microscópio, sendo realizada ao final da avaliação do crescimento micelial. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e os que apresentaram significância foram comparados por meio do teste de Scott Knott a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferença significativa no crescimento micelial e produção de conídios dos fitopatógenos em função do extrato utilizado e concentrações utilizadas (Tabela 1). TABELA 1. Crescimento micelial e produção de conídios de Acremonium sp. e Fusarium verticillioides em meios contendo diferentes extratos vegetais Crescimento micelial (cm) Acremonium sp. Fusarium verticillioides Pimenta Coentro Pimenta Coentro 0 4,36aD 4,36aA 4,12aC 4,12aA 5% 3,91aC 4,08aA 3,39aB 4,09bA 10% 3,32aB 4,30bA 2,62aA 4,17bA 20% 3,00aA 4,03bA 2,42aA 4,21bA 30% 2,95aA 3,98bA 2,39aA 3,99bA CV 6,93 9,12 Produção de conídios (ml) Fusarium verticillioides Sem extrato Pimenta Coentro 10,8x10 5 b 6,6x10 5 a 10,9x10 5 b CV 27,49 Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste Scott Knott 5% de probabilidade. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2073 2013
Quando se usou o extrato de pimenta do reino, tanto o crescimento micelial como a produção de conídios foi menor, nos dois patógenos. As plantas do gênero Piper possuem algumas substâncias que apresentam propriedades inseticidas (LORENZI & MATOS, 2008), muito utilizadas na agricultura orgânica. As concentrações a partir de 10% obtiveram melhores resultados no controle de F. verticillioides e houve redução do crescimento micelial em até 42% quando utilizado 30% de extrato. Para Acremonium sp., as concentrações de 20 e 30% diminuíram o crescimento micelial em 31 e 32% respectivamente. Em trabalhos realizados com espécies do gênero Piper foi verificado que houve controle do crescimento micelial in vitro de Phytophthora palmivora e Phytophthora capicisi (SILVA & BASTOS, 2007) e Alternaria alternata (NASCIMENTO et al., 2008) em 100%. CATÃO et al., (2010) também relataram 100% de controle na incidência de F. oxyxsporum em sementes de mamona quando tratadas com extrato aquoso de pimenta do reino. Já DINIZ et al., (2006) observaram que quando em mistura com outros produtos e aplicada diretamente na planta, não houve eficácia no controle de alguns fungos. De forma geral, estas espécies de plantas são utilizadas na medicina popular em função das propriedades microbianas exibidas por seus constituintes (NASCIMENTO et al., 2008). As concentrações de extrato de coentro não foram suficientes para inibir significativamente o crescimento micelial dos fungos utilizados no estudo, embora na composição química do coentro, esteja presente a substância linalol que pode ser a responsável pela inibição do crescimento micelial de alguns fungos, já que em alguns casos atua como inibidor do desenvolvimento de insetos (BALDIN et al., 2007) e é utilizado como antifúngico de acordo com a cultura popular e antioxidante (MELO et al., 2003). Determinados extratos de plantas não apresentam ação fungitóxica direta no crescimento micelial, mas podem possuir compostos com características elicitoras (ITAKO et al., 2009; SILVA et al., 2009). Esses compostos ativam os mecanismos de resistências bioquímicos em resposta ao tratamento com agentes bióticos ou abióticos (SCHWAN-ESTRADA et al., 2004). Na produção de conídios houve diferença apenas para F. verticillioides. O extrato de pimenta teve mais eficiência no controle em relação ao extrato de coentro, independente da concentração utilizada e controle de 40% em relação à testemunha. Para o extrato de coentro, observou-se estímulo na produção de conídios. O uso de óleo essencial de Piper aduncum em conídios de C. musae na concentração de 100 µg/ml foi suficiente para inibir 100% da germinação (BASTOS & ALBUQUERQUE, 2004). RIBEIRO & BEDENTO (1999) observaram que para Colletotrichum gloeosporioides o grau de inibição foi maior à medida que as concentrações do extrato foram crescentes. A inibição da produção e germinação dos esporos é parte fundamental no controle das doenças fúngicas, pois estas estruturas são o ponto de partida para a propagação e sobrevivência dos fungos e necessárias para a ocorrência de ciclos secundários da doença, de forma que o extrato poderia influenciar negativamente no ciclo de vida do patógeno a campo, reduzindo a ocorrência de epidemias (ITAKO et al., 2009). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2074 2013
CONCLUSÕES O extrato de pimenta-do-reino tem eficácia nas concentrações a partir de 10%, podendo inibir o crescimento em até 42% e 32% na proporção de 30% de extrato no controle de F. verticillioides e Acremonium respectivamente. O extrato de coentro não manifesta atividade fungitóxica nos patógenos estudados e estimula a produção de conídios de Fusarium verticillioides. AGRADECIMENTOS A CAPES pela concessão da bolsa de estudos. REFERÊNCIAS BALDIN E.;, SOUZA D.R.; SOUZA E.; BENEDUZZI R. Controle de mosca-branca com extratos vegetais em tomateiro cultivado em casa de vegetação. Horticultura Brasileira, v.25, p.602-606, 2007. BASTOS C.N. e ALBUQUERQUE P.S.B. Efeito do Óleo de Piper aduncum no Controle em Pós-Colheita de Colletotrichum musae em Banana. Fitopatologia Brasileira, v.29, p.555-557, 2004. CARNEIRO S.M.T.P.G. Efeito do Nim (Azadirachta indica) sobre Oídio e Antracnose. Londrina, IAPAR, Boletim Técnico nº, 115, 13p, 2008. CATÃO H.C.R.M.; AQUINO C.F.; SOARES E.P.S.S.; MOURA R.F.B.; SILVA H.P.; SALES N.L.P. Influência de extratos e hidrolatos de plantas na qualidade sanitária e fisiológica em sementes de mamona. In: I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, Campina Grande. Anais, Embrapa algodão, p. 2119-2123, 2010. CELOTO M.I.B.; PAPA M.F.S.; SACRAMENTO L.V.S.; CELOTO F.J. Atividade antifúngica de extratos de plantas à Colletotrichum gloeosporioides. Acta Scientiarum Agronomy, v.30, p.1-5, 2008. DINIZ L.P.; MAFFIA L.A.; DHINGRA O.D.; CASALI V.W.D.; SANTOS R.H.S.; MIZUBUTI E.S.G. Avaliação de Produtos Alternativos para Controle da Requeima do Tomateiro. Viçosa, Fitopatologia Brasileira, v,31, p. 171-179, 2006. ITAKO A.T.; SCHWAN-ESTRADA K.R.F.; STANGARLIN J.R.; TOLENTINO JUNIOR J.B.; CRUZ M.E.S. Controle de Cladosporium fulvum em Tomateiro por Extratos de Plantas Medicinais. Arquivo do Instituto Biológico, v.76, p.75-83, 2009. LORENZI H.; MATOS F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª ed. São Paulo: Instituto Plantarum, 2008. 576p. MELO, E. A.; MANCINI FILHO, J.; GUERRA, N. B.; MACIEL, G. R. Atividade antioxidante de extratos de coentro (Coriandrum sativum L.). Ciência e Tecnologia ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.9, N.16; p. 2075 2013
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