VARIAÇÃO DA LINHA DE COSTA PARA A PRAIA DE MOSTARDAS ENTRE OS ANOS DE 1997 E 2005

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Transcrição:

VARIAÇÃO DA LINHA DE COSTA PARA A PRAIA DE MOSTARDAS ENTRE OS ANOS DE 1997 E 2005 Luciano Absalonsen 1 ; Elírio Ernestino Toldo Jr. 2 1 Mestrando Geologia Marinha, UFRGS(ocelab@yahoo.com.br; 2 Instituto de Geociências, UFRGS Abstract: The survey of longshore profiles using DGPS in the central part of Rio Grande do Sul coast, between Mostardas lighthouse and São Simão, was used to diagnose areas of erosion and accretion. The lines obtained in 1997 and 2005 were compared, using the same method for both. From this comparison it was possible to define three classes with different behaviors: The area presents 8,7 km with erosion (24%); 4,8 km showing stability (13,3%) and 22,8 km with accretion (62,7%). The higher concentration of stretches with erosion occurs in the southern half of the surveyed area and a pattern accretion in the northern part, following the point of significant variation in the coast line orientation. The identification of the coast line behavior is essential for coastal management in the area. Palavras-chave: perfil longitudinal, variação da linha de praia Introdução O litoral do Rio Grande do Sul foi caracterizado durante décadas como um litoral bastante homogêneo com uma orientação NE- SW em que pensava-se que os parâmetros hidrodinâmicos atuavam de maneira similar para toda a extensão deste litoral. Atualmente, pode-se notar uma nova tendência para os estudos na zona costeira e é constatado que apesar da aparente homogeneidade do litoral, grandes diferenças na morfologia das praias e dunas são perceptíveis em pequenas distâncias. Os resultados da análise temporal de 22 anos (1975-1997) mostraram que a linha de praia do Rio Grande do Sul é caracterizada por estados erosivos ou acrescivos, com 442 km de praias em retração, 173 km em progradação e 6 km sem variações significativas (Toldo et al., 1999). Baseando-se nesta divisão o litoral central do Rio Grande do Sul, apresenta duas regiões distintas das praias do entorno, a praia de Dunas Altas e Mostardas, com 31 e 35 km respectivamente, e com áreas de comportamento progradante, difereciando-se das praias vizinhas que apresentam um padrão de erosivo (Toldo et al,. 2004). Esta região do litoral, se estende desde o norte da desembocadura da Lagoa dos Patos até o farol da Solidão (com aproximadamente 220 km de extensão), é caracterizado por Barletta (2000) como apresentando praias oceânicas dominadas por ondas caracterizadas por areias de granulometria fina a muito fina; sedimentos quartzosos de alta maturidade. Segundo Esteves (2003) o litoral central apresenta praias não urbanizadas, com pouco impacto antrópico, com baixo uso e vocação para turismo ambiental ligado à pesca, atividades náuticas, ecoturismo, que visam desenvolver e preservar as lagoas costeiras e a praia. Estas características tornam este trecho uma área latente, no qual a finalização do asfalto da BR 101 e o risco de degradação ambiental das lagoas costeiras e das praias ainda virgens fazem com que

estratégias preventivas de planejamento de ocupação e usos sejam urgentemente definidos. A praia de Mostardas, com pouco mais de 11000 habitantes (Censo IBGE 2000), enquadra-se dentro desta zona latente por ser ainda pouco explorada e também por estar localizada na extremidade norte do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, um local que e abriga importantes ecossistemas e um dos maiores santuários de aves migratórias do hemisfério sul. Materiais e Métodos O levantamento do perfil longitudinal da praia em janeiro de 2005 foi realizado desde o farol de Mostardas (limite sul) até o balneário de São Simão (limite norte) por uma área de aproximadamente 40 km. Este perfil seguiu os padrões do realizado em 1997 para toda a costa gaúcha. As medidas consistem na aquisição de dados utilizando um receptor Pathfinder Pro-XS GPS (Sistema de Posicionamento Global), marca Trimble, com precisão submétrica entre 10 e 30 cm no modo de navegação, tanto para o datum vertical, quanto para o horizontal. No campo a antena receptora do GPS é instalada em um veículo que se desloca sobre a linha d água a uma velocidade média de 50 km/h. A antena estática do GPS encontra-se instalada junto ao Departamento de Geodésia do Instituto de Geociências da UFRGS, como parte integrante da rede de antenas do IBGE, cobrindo uma área com um raio de 500 km a partir da cidade de Porto Alegre. Os dados gerados por esta antena são utilizados para a correção daqueles adquiridos no campo. A taxa de amostragem de ambos equipamentos é de 3 s, o que permitiu a geração de arquivos para pós-processamento com precisão, também, submétrica (Toldo e Almeida, 2003). As condições meteorológicas e oceanográficas da área de estudos foram freqüentemente monitoradas utilizando as páginas de previsões do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE), Grupo de Modelagem Oceânica (GMOC) e através da estação meteorológica de Tramandaí. Estes dados serviram de base para se determinar uma data ideal para a realização do levantamento dos dados e também auxiliaram na interpretação de como se encontraria o perfil praial, evitando assim dias de tempestade e alto nível do mar (maré meteorológica e astronômica) que prejudicariam a comparação dos perfis de 1997 e 2005. As diferenças entre os perfis de 1997 e 2005 ocasionadas pela diferença do clima de ondas em cada um dos levantamentos pode ser corrigida através da utilização de equações 1 e 2 para o set-up e run-up, respectivamente. S = 0,4H 0rms R = 0,27( βh L 0 0 ) (1) (2) Onde: H 0 rms é a altura média quadrática para a onda em águas profundas; β é a declividade da face praial; H 0 a altura das ondas em águas profundas e 0 L é o comprimento de onda em águas profundas. Foram criadas três classes para a elaboração do mapa de variabilidade da linha de praia. A linha de praia caracterizada como susceptível a erosão mostrou um recuo de mais de 10 m; a acresção foi associada ao

avanço de mais de 10 m e a condição de estabilidade a variações menores que 10 m, tanto para o avanço quanto para o recuo (tabela 1). Resultados A análise dos perfis praias transversais entre 1996 e 1999 apresentou um comportamento estável para a praia de Mostardas, ocorrendo variações morfodinâmicas sazonais. No outono e inverno caracteriza-se a fase de erosão (taxa média de erosão no pacote sedimentar praial de 30,61 m 3 /m, no final do inverno) e na primavera e verão estes sedimentos retornam para a porção subaérea da praia (Barletta, 2000). A variação da linha de praia (entre 1997 e 2005) para o trecho entre o farol de Mostardas e o balneário de São Simão é representada na figura 1. Analisando as variações de curto termo (tabela 1), esta área apresenta 8,7 km em erosão (24%); 4,8 km estáveis (13,3%) e 22,8 km em acresção (62,7%). Este padrão difere do encontrado por Esteves et al. (2001) e Toldo et al. (1999), para todo o litoral do Rio Grande do Sul, com linhas de erosão significativamente maiores 81% e 84%, respectivamente, analisando uma mesma escala temporal. Este padrão progradante, nestas duas praias, está associado à diferença na orientação da praia. Esta variação na orientação de aproximadamente 13 faz com que os sedimentos transportados pela deriva litorânea sejam trapeados e ocorra um alargamento perceptível tanto no campo de dunas, como na cota batimétrica de 10 m (Toldo et al., 2004). A deriva litorânea predominante para o litoral do Rio Grande do Sul é para nordeste, devido à ação das ondas de maior energia vindas do quadrante sul, responsáveis por 30% do transporte longitudinal total. Esta ação das ondas é um outro fator que corrobora a acresção para a área norte do levantamento, pois a praia fica mais protegida a incidência das ondas de sul (devido a diferença na orientação) e o aporte que chega nesta área é superior (2,9.10 6 m 3 /ano) ao que é retirado (2,3.10 6 m 3 /ano) (Lima et al., 2001). A inserção dos parâmetros de correção devido ao comportamento das ondas é extremamente importante em trabalhos de pequena escala temporal, apresentando uma variação de 27 m, apenas pela influência de diferenças no set-up e run-up das ondas. Estes parâmetros tornam-se mais importantes em praias dissipativas e intermediárias, que apresentam menor declividade da face praial. Conclusões O padrão diferenciado do comportamento do perfil longitudinal para a área de estudo quando comparada com o restante do estado do Rio Grande do Sul, ocorre provavelmente devido a diferença na orientação da linha de costa que impede que as ondas com maior energia e capacidade de transportar o sedimentos da zona de surfe atinjam a porção mais ao norte estudada, acarretando em um acúmulo de sedimento nesta área. A posição da linha de praia além de fornecer taxas de variação da linha de costa pode ser correlacionada com o estoque total de areia na porção subaérea da praia (Dail et al., 2000), fornecendo dados importantes sobre a variação volumétrica da praia. Bibliografia

BARLETTA RC. 2000. Efeito da Interação Oceano-Atmosfera sobre a Morfodinâmica das Praias do Litoral Central do Rio Grande do Sul, Brasil. Fundação Universidade Federal do Rio Grande, RS, Dissertação de Mestrado, 136 p. DAIL HJ, MERRIFIELD MA,BEVIS M. 2000. Steep beach morphology changes due to energetic wave forcing. Marine Geology (162) 443-458. ESTEVES LS, TOLDO JR EE, ALMEIDA LESB, NICOLODI J. 2003. Erosão na costa do Rio Grande do Sul entre 1975-2000. VIII Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Imbé-RS. P 511-513. ESTEVES LS. 2003. Identificação de Áreas Prioritárias para o Gerenciamento Costeiro no Rio Grande do Sul. Anais do IX Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Recife-PE. TOLDO JR EE, ALMEIDA LESB, BARROS C, MARTINS LR. 1999. Retreat of the Rio Grande do Sul coastal zone, Brazil. In: Martins, LR and Santana CI (eds.) Non Living Resources of the Southern Brazilian Coastal Zone and Continental Margin. Porto Alegre, Brazil: Editora UFRGS: 62-68. TOLDO JR EE, ALMEIDA LESB. 2003. A Linha D Água como Indicadora da Posição da Linha de Praia. Anais do IX Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. Recife-PE. TOLDO JR EE, NICOLODI JL, ALMEIDA LESB, CORRÊA ICS, ESTEVES LS. 2004. Coastal Dunes and Shoreface Width as a Function of Longshore Transport. Journal of Coastal Research. LIMA SF, ALMEIDA LESB, TOLDO JR EE. 2001. Estimativa da capacidade de transporte longitudinal de sedimentos a partir de dados de ondas para a costa do Rio Grande do Sul. Pesquisas (UFRGS, Brasil) 28 (2), 99-107. Tabela 1: Variabilidade do perfil praial longitudinal entre 1997 e 2005

Variação da Linha de Praia Extensão (km) Porcentagem Estável 4,8 13,3% Erosão 8,7 24,0% Acresção 22,8 62,7% Figura 1: Variação da linha de costa da praia de Mostardas ao balneário de São Simão (1997 a 2005)