FLF5250 Filosofia Geral (Feminismo, Transfeminismo e Teoria Queer) 1º Semestre de 2019 Profa. Tessa Moura Lacerda 08 créditos Duração: 12 semanas I OBJETIVOS Quais são os processos de construção da subjetividade na contemporaneidade? É possível falar de identidade do sujeito? O que é o sujeito e qual a relação entre subjetividade e sujeição? Quando Simone de Beauvoir escreve a famosa frase que afirma que não se nasce mulher, torna-se mulher, inaugurando toda uma reflexão sobre o feminismo, traz à tona também um questionamento sobre a identidade do sujeito, tal como era pensada pela metafísica clássica, e sobre a naturalidade biológica do sexo. Sem colocar a questão em termos feministas e tampouco refletindo sobre a mulher, é Foucault, todavia, quem vai nos apresentar a ideia de que não há um sujeito fora das relações de poder que definem a sociedade, não há uma identidade ou uma essência que precisa se confrontar com uma realidade externa, há relações de poder e processos de subjetivação no interior dessas relações de poder de uma sociedade de controle. O poder, pensado por Foucault, como soberania, disciplina e biopoder, é retrabalhado por Paul B. Preciado e ganha uma quarta dimensão, característica do capitalismo contemporâneo, isto é, do neo-liberalismo: o regime farmacopornográfico. A construção e a desconstrução da subjetividade só pode ser pensada como resistência no interior deste regime de controle. O curso visa pensar essa desconstrução e construção da subjetividade contemporânea a partir das reflexões sobre a identidade da mulher, sobre a construção social e política do gênero, sobre os dispositivos de controle e subjetivação da sociedade contemporânea.
II CONTEUDO 1. Simone de Beauvoir e Virgínia Woolf O que significa tornar-se uma mulher? Análise do/da protagonista de Orlando e crítica da explicação biológica a respeito do gênero. 2. Foucault e a questão do poder 2.1 Poder soberano 2.2 Poder disciplinar 2.3 Biopoder 2.4 Como pensar o corpo? 2.5 Sujeito: sujeição e subjetivação 3. Feminismo queer 3.1 Judith Butler: sujeito e sujeição a partir da leitura de Foucault; teoria performativa do gênero. 3.2 Paul B. Preciado: crítica às técnicas de sujeição e à interferência do Estado no corpo. O regime farmacopornográfico. 3.3 Donna Haraway: a teoria ciborgue e o corpo tecnológico. 3.4 Teresa De Lauretis: a tecnologia de gênero e a representação. 4. Outros feminismos e possíveis diálogos e/ou divergências com Foucault 4.1 Angela Davis: o feminismo negro. 4.2 Sivia Federici: feminismo, teorias do comum e crítica do capitalismo. III - AVALIAÇÃO Seminários individuais ou em grupo e dissertação. IV BIBLIOGRAFIA (Bibliografia complementar será fornecida ao longo do curso).
1. Simone Beauvoir e Virgínia Woolf BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2009.. Memórias de uma moça bem-comportada. CARD, Claudia. The Cambridge Companion to Simone de Beauvoir. Cambridge; N. York; Melbourne: Cambridge University Press, 2003. SANTIAGO, Silviano. Posfácio. IN: Orlando. Belo Horizonte: Autêntica, 2017, pp. 265-284. WOOLF, Virgínia. Mulheres e ficção. IN: O valor do riso. São Paulo: Cosac Naify, 2014. Profissões para mulheres e outros artigos feministas. Porto Alegre: LP&M, 2017.. Orlando. Trad. Cecília Meirelles. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1978. 2. Foucault FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder e Sobre a genealogia da ética: um resumo do trabalho de curso. IN: Ditos e Escritos, IX. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014, pp. 118-140 e 214-237.. Aula de 7 de janeiro de 1976 e Aula de 14 de janeiro. IN: Em defesa da sociedade curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 2010, pp. 3-35.. História da Sexualidade. Vol. 1 (A vontade de saber), cap. II-IV. 13 a. edição. Rio de Janeiro: Graal, 1999.. História da Sexualidade. Vol. 2 (O uso dos prazeres), Introdução. 13 a. edição, Rio de Janeiro: Graal, 2009. Technologies of the Self. IN: MARTIN, Luther; GUTMAN, HUCK; HUTTON, Patrick (orgs.). Technologies of the Self a seminar with Michel Foucault. Londres: Tavistock Publications, 1988, pp. 16-49. DELEUZE, Gilles. Um retrato de Foucault. In: Conversações 1972-1990. 3 a. Edição. São Paulo: Editora 34, 2013, pp. 131-151. 3. Judith Butler SÁEZ, Javier; PRECIADO, Beatriz. Prólogo. IN: BUTLER, Judith. Lenguage, Poder e identidade. Madrid: Editorial Síntesis, 1997, pp. 10-13. SAFATLE, Vladimir. Posfácio. BUTLER, Judith. Relatar-se a si mesmo crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015, pp. 173-196.
SOLEY-BELTRAN, Patrícia. Nobody is perfect Transexualidad y performatividad de género. IN: SOLEY-BELTRAN, Patrícia; SABSAY, Leticia. Judith Butler en disputa Lecturas sobre la performatividad. (orgs.). Barcelona; Madrid: Egales Editorial, 2012, pp. 59-100. BUTLER, Judith. Undoing gender. N. York: Routledge, 2004. [trad. espanhol Deshacer el género. Paidós: Barcelona, 2006]. Sexual Politics, torture and secular time. IN: Frames of war When is Life Grievable? Londres; N.York: Verso, 2009. [trad. brasileira Política sexual, tortura e tempo secular. IN: Quadros de guerra Quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.] Paul B. Preciado PRECIADO, P. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2017. PRECIADO, P. Testo Junkie. Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: n-1 edições, 2018. Donna Haraway HARAWAY, D. Manifesto Ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo socialista no final do século XX. In HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. Teresa De Laurentis DE LAURENTIS, Teresa. Genealogías feministas. Un itinerario personal. In DE LAURENTIS, Teresa. Diferencias etapas de un caminho a través del feminismo. Madrid: horas y HORAS, 2000, pp. 11-32.. The Technology of Gender. IN: Technologies of gender Essays on Theory, Film and Fiction. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 1987, pp. 1-30. [trad. espanhol in DE LAURENTIS, Teresa. Diferencias etapas de un caminho a través del feminismo. pp. 33-70.] 4. Angela Davis DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. Mulheres, cultura e política. São Paulo: Boitempo, 2017. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo, 2018. Silvia Federici FEDERICI, S. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante Editora, 2017.
Gerais Dicionário crítico do feminismo. São Paulo: Editora da Unesp, 2009. CHAUI, M.Repressão sexual. Essa nossa (des)conhecida. São Paulo: Brasiliense, 1985. DAVIS, Natalie Zemon. Women s History in Transition: The European Case. IN: Feminist Studies, vol. 3, n. 3/4. Primavera-outono 1976, pp. 83-103. RUBIN, G. Políticas do sexo. São Paulo: Ubu Editora, 2017. TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999.