danilo arnaldo briskievicz ESPELHO

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Transcrição:

danilo arnaldo briskievicz ESPELHO

danilo arnaldo briskievicz ESPELHO tipographia serrana serro brasil 2010

espelho estava parado diante do espelho não sabia da vida estacionada diante da própria imagem frágil sabia apenas de mim em corpo antigo estava entregue ao tempo e isso foi se misturando com os dias e os dias foram se mostrando quem habita o corpo diante do espelho no espelho sou espelho

situação de sono não procuro no sonho ninguém nada mas vem não imagino situações absolutamente mas tem quem o sonho me faz outro no sono não sei se isso é real ou não

pudera mendigo do dia o sentido preciso do dia o digo gostaria do dia a fantasia

chegada do trabalho quando a pipa recebeu do céu azul quase azul em fim de tarde autorização para o vôo ocasional quando do céu a rabiola da pipa branca agitou-se por causa do vento a meditação seguiu em espiral quando na tarde depois da chuva a pipa cor-de-rosa de rabiola branca voou dentro de mim eu fui embora para casa

cor do que se foi o arco-íris depois da chuva medindo a curva da terra eu de relance percebi cores novas em mim dores mortas enfim algo novo acontece não sei quando vem sem aviso algo de velho morre sei que foi hoje foi sem sentido o arco-íris não sabe de nada nem das cores novas em mim ele só sabe da chuva que sem ela ele, que é choro de chuva, não teria começo só fim

estouro do jeito que vai vai apenas e sai e sai apenas e ai a vida é correria do jeito que estou não sei se vou ou fico ou sou a vida é estouro

anti-espelho a escuridão me trouxe o dia não a sombria manhã que ela estava bela e o sol fazia no rosto um espelho contrário iluminando a escuridão sem nenhum sucesso eu não acordei espelho do dia antes o dia se pareceu um oposto como a sombra da lua imersa na noite contrasta com o lado iluminado pelo sol hoje acordei inverso

coisa das coisas que duras permanecem eu as vejo mutantes entre tantas outras coisas errantes das coisas que pesadas enrijecem eu as vejo antes entre outras várias coisas pedantes das coisas que ásperas entristecem eu as vejo rolantes entre muitas tantas coisas quebrantes

mudança da despedida guardo a memória limpa e purificada por ter vindo afinal para cá da tristeza de quando antes de ser agora eu aguardo outro tanto de mudança de endereço

altura ponto final não há nem poderia sou letra maiúscula a começar a palavra solta pelo ar eu viajo nas alturas do começo de despontar eu sou como a chuva do alto para o alto sempre feita para o alto bem alto voltar

não não resolvi meu coração para a tristeza mesa sem pão não permiti meu coração fincar um ponto fixo sou mutação não insisti em solidão sou mais que o tempo da pouca paixão não investi em reflexão quero ser apenas pouco com muito de intenção apenas eu ação

afloração os óculos tirados deixados sobre a mesa em descanso para as vistas a mente livre leve e revolta ao mesmo tempo em tudo eu sou poesia quando despido da lente de fora eu sou poema quando poesia de dentro aflora

obra nem poderia estar eu me ausento de vez em quando eu fujo para ficar quieto dentro e por fora sem barulho eu prefiro manifestar em mim eu mesmo em sonho de palavra meu sonho é palavra e não sonho senão dentro do tempo esse tempo vão interior

o tempo no espelho o espelho é a vida dada em sua franqueza diante dos olhos mesmo cansados o espelho é agora dado em sua fraqueza das mãos tolas sem argumento eu me vejo em tempos tantos e me vejo vendo outros cenários se vou chegar a percebê-los não sei vale o espelho como exercício contra o medo não, eu não parei de sonhar eu tenho quadros de miragem antes aqueles que chegaram até aqui minha mente caminha com espelhos eternos não, eu desejo esquecer a vida eu quero me espelhar no passado sem sombras nem ofuscação eu preciso do espelho do tempo eu sei da hora passada em frente de mim ou em busca de mim mesmo sem fim eu sei que a mente me engana mas sei da minha imagem gostaria de passar pelo espelho sem que dele viesse o tempo gostaria de brincar para sempre do tempo de crescimento

o tempo espelhado na vida se faz idade e da idade retiro o som dos ossos gemendo procurando a melhor imagem eu não sei se o espelho mente se a vida é uma mentira sórdida sei que do tempo em imagens tantas eu me faço espelho de agora eu não posso saber da próxima imagem que o tempo vagueia pela vida antes da pose eu sei apenas das horas programando encontros com meus novos rostos vistos eu sou espelho de dentro se revirando para fora eu sou onda do tempo passando imagem pura que o espelho me seja amigo como o tempo me faz companhia que o espelho me corrija o erro da rota dos dias vazios

presença no silêncio posterior a nós das vozes caladas na noite eu sinto o imponderável quando vejo seus olhos no silêncio depois vida das almas silenciadas eu sinto a existência continuando forte eu amo o silêncio da declaração de amor sem palavras somente presença

todo dos rostos no espelho da rainha do rei dos rostos no tempo da freira do frei eu sei da parte do todo só deus

antes e depois o vento sem barulho é presença do absoluto a chuva sem bonança é ausência do orgulho o silêncio dos dias me dá a paz a verdade das vidas capaz me faz o vento antes da chuva o silêncio antes da verdade a vida é assim antes e depois

cercado o tempo entre nós é cercado de mistério deixemos a cerca aprisionar a paixão o silêncio entre nós é cercado de pretérito deixemos a cerca amordaçar a sensação

rompimento da palavra acho que não do verbo faço que sim adjetivo rompimento substantivo sentimento

chave vou para a cama dormir um pouco antes do dia acabar com voz rouca vou me apagar a vela da consciência brilhou demais quanta paciência vou me retirar fechar a porta jogar a chave nos lençóis depois eu encontro depois eu acho a chave de fora

uma hora de sonho son o son o son o son o

tempo e espelho no espelho da vida visada do tempo eu sei que hoje risada do ontem no espelho do tempo há vida que passa há também eu mesmo parado quando do fato o espelho não mente apenas e somente sou eu no tempo presente

resulta da poesia da bela flor resulta a boa semente da tela em flor delira a sábia mente da grande árvore desfruta da altura o pássaro da fronte altiva desnuda o sábio realidade belas e grandes mentes sábias fazem um mundo de sensibilidade

sonoridade existencial na tarde amassada feito papel inútil ao fim do dia eu me vejo em necessidades tantas não sei até até quando essa alternativa de esconder o som interior será possível não sei se conseguirei esconder de mim a música reflete na parede os acordes de ternura ou ainda de mutilações da vida feitas pelo amor eu escuto e não me encontro entre as notas da tarde essa tarde me parece uma outra imagem do meu interior eu sei que há horas em que o tempo é inútil não nego a beleza da vida que vaga sem tempo o sem tempo do estar em si presente e vendo a si mesmo na solidão o único invólucro que a vida me dá agora eu sei muito bem eu sei das horas de fim e reinício hoje o medo de que eu esteja entardecendo por dentro veio me levando para caminhos antes desconhecidos é que a idade é uma prisão sem volta do hábito cotidiano não posso me furtar de saber quem sou eu e somos tantos perdidos em olhares de espelhos tantos e ocos e fartos essa vastidão de sins e nãos que passam pelo rosto como brisa silenciosa que é apesar de singela eu sei não me posso deixar sem pensamento ele vem e me rouba e me confessa a mim mesmo quem sou não, não sei, porque exatamente agora no fim de tarde entre um minuto vago e uma hora estúpida eu me vi eu me vi cheio de palavras interiores e de vazios externos não sei nada da vida e da vida vivida pouco entendo sou apenas agora meu espelho sem avesso eu sou apenas essa miragem de sonoridade interior

eu sou apenas o que pensa o mundo e do mundo faz o conteúdo de si para não dizer a verdade hoje eu faria qualquer coisa mas não posso eu me vejo fazendo alguma coisa e não posso os cabelos agitados pelo vento me falam me amordaçam à realidade essa prisão do tempo de um tempo ecoando dentro de mim feito maldição quem sou eu? talvez o que se faz sem saber se fazendo e já feito que estou eu? talvez o que jaz sem saber jazendo e já jazido eu que pergunto respondo em alto som na tarde dada por fora porque dentro sou noite [a estranha noite escura a misteriosa noite densa de mim mesmo com sons de desespero de ser si mesmo]

agora de lado apenas virado o rosto no travesseiro nu na noite o rosto triste a noite longa a lágrima pura sou da noite a briga continua ecos de palavras o pensamento é prisão de palavra a noite de lua muda a fase quisera eu mudar agora

mundão o mundo pulsa como eu pulso compulsão o mundo gira como eu giro girassol

delírio ela disse ainda sob o efeito da medicação de um modo tão espontâneo que por um momento breve feito picada de seringa acreditei no seu delírio voltei no tempo ela disse: moro lá embaixo no botavira e o botavira da infância surgiu diante bem diante dos olhos de nós mas ela estava em outra cidade no hospital que não era a casa de caridade e seu braço em soro escorria o botavira virou delírio na tarde quente de fritar miolos

frio na barriga o frio na barriga esse precede o fim da linha do trem do trem do dia esse dia ordinário como outro dia desnecessário esse dia impróprio como aquele dia óbvio o frio na barriga processo do sim de ontem e agora começo de fim

espelho de banheiro o espelho do banheiro é fumê nele eu me vejo não você o delírio do corpo prazer nele estou sozinho sem você o espelho embaçado por todos os lados na mente um passado você do meu lado

esponja na minha casa de gente miúda era comum muito comum mesmo dividir o sabonete a esponja fosse sintética ou de bucha natural na minha casa era comum tão comum e normal tomar banho junto para passar o tempo a vida o pecado fosse de dia ou em alta noite

fronteira o espelho verdadeiro foi seus olhos aqueles perdidos na paisagem interior como se eu caminhasse léguas e léguas e nunca alcançasse eu nunca alcancei a verdade de seus olhos distantes feito vento rodopiando no mar e eu na montanha no meio do mundo longe de seu mundo de além-mar voltarei ainda várias vezes em eras das eras perdidas vou atravessar sua fronteira e encontrar minha verdade o meu espelho é você sempre você para sempre você

miragem a miragem do sonho na vida passando é seus olhos dentro dos meus inteiros próximos a ponto de cegar as horas passageiras ótimos a ponto de chegar no fundo da alma

reflexão o mar é azul espelho de iemanjá virado para o teto do oposto do mar o retrovisor do carro é espelho do longe o raio da bicicleta movimenta o tempo o rio calmo é espelho do céu o frio intenso miragem de véu

interpretação no barulho do mar reage o ouvido faz dentro pensar na vibração do vento reage a pele faz sempre arrepiar eu repouso na noite depois do dia interpretar

ressonho das horas reponho na estante o sonho por mais estranho amanhã eu sei se sei talvez a vida será ressonhar

sentido os sentidos são espelhos do mundo lá fora transformam em ideias dentro a caneta o papel a seta o anel os sentidos são reflexos do mundo todo interpretam em mentiras centro o menino a maçã o piriquito a manhã os sentidos são mentais levam para dentro o que por fora atrai

quatro o fogo pode dar sinal se do alto visto o fogo pode ser final de noite a água pode afogar se dentro do corpo a água pode matar fatal a terra pode sustentar se a casa se edifica a terra pode deslizar mumifica o ar pode engasgar se entrar errado o ar pode acabar sepultado

mudez o espelho não fala apenas reflete se eu fosse espelho seria mais feliz sem espelho não haveria a palavra muda sem espelho não teria a palavra surda o espelho não dialoga apenas transfere para os olhos o movimento

objeto de tempo para trocar de roupa espremer o cravo conferir a ruga lugar certo espelho indicado por especialistas para observar as pintas passar o creme escovar os dentes lugar perto espelho indicado por existencialistas

criação o homem imagem semelhança de deus o deus contrário diferença dos seus espelho?

rapidez a vida no corpo esse momentâneo e estranho sentimento uma prisão instantânea vai ser rápida vai ser breve sei do tempo passando vai ser ágil vai ser leve sei do ermo ficando

erro das horas perdidas da vida feridas ficaram no corpo a alma se vai libertando todo dia comemoro a ida está chegando a hora da saída flutuando a morte não é nada sei da vida nada exata errando

inteiro a chuva fina na madrugada consola a mente deitada no travesseiro a lua cheia da hora tardia aumenta a tristeza da mente sabendo do meio a vida quando em processo de vida é lenta demais para ser inteira

espelho de fome os olhos da abelha espelham as flores os olhos dos pardais espreitam as cores nos bichos os olhos são aptos ao espelho a natureza alimenta por que é espelho a fome precisa de espelho o alimento na fonte

dia o dia corre tanto em coisas tão vagas não é o mar no seu ritmo claro é o dia com seu cinismo chato o dia passa ligeiro em falas tão ácidas não é o almoço é o dia com seu apetite de asco

cansaço cansado de corpo e alma me ausento durante o sono quando retomo a consciência me custa a identidade o tempo a calma ausentes das horas cotidianas quando perco minha vontade me assusto haverá em outro canto outro eu pronto? haverá de novo o encanto meu sem pranto?

fotografia as fotografias são espelhos do tempo os sorrisos desbotados os abraços depois do clique o registro eterno da situação espelhos do tempo na gaveta ou nos álbuns de família ou no arquivo digital vistos no momento lacrimal a vida na fotografia é espelho da família daquela que passou como o tempo usado fotografias são espelhos do tempo

sala de espelhos a vida espelhos em brincadeira sou tantos sou vários formatos múltiplos gordo magro grande pequeno informe cabeça para baixo espelhos em brincadeira numa sala ampla o tempo muda a cena o corpo a mente a vida

amor torto na hora errada não se cala o coração na vez da traição morro estafado pequenas traições é o sonho da perfeição no amor que rola breve entre os dedos as feridas incicatrizáveis o peito batendo em terremoto a língua afiada para machucar gostaria de acabar com a cena pequenas traições sentir-se atraído para lugar nenhum o amor é torto

o espelho e o vento o lago parado o dia em azul tudo calmo o rio sereno o dia em domingo muito fácil vem o vento no lago azul borrado passa o vento no rio serenidade breve

marca a página do livro o espelho é a mente se mentira dentro da mente depende a televisão em cores o espelho é o cérebro se conteúdo doente o aumento é da lente vejo os objetos do mundo há neles uma intencionalidade se espelhar fundo na alma deixando marcas

infinito o infinito não é espelho não me vejo dentro não consigo mirar o incontável deus é infinito o universo é infinito [onde haverá um espelho para o corpo?]

vítima do tempo quando as vistas cansadas e as pernas atravessando o samba quando a chuva sem som na janela e eu perdido em olhar tonto o tempo serei a vítima do tempo ele terá passado por todo meu organismo deixando as marcas fundas da existência e eu cedido ao tempo sem volta

vidro de loja na rua a loja de vidro temperado lá dentro o ar condicionado refrigera a alma os carros passam refletidos no vidro com a propaganda estampada em cor de rosa o dia se passa em espelho a rua é um movimento de reflexos agitados a loja continua parada o movimento é o espelho o mundo do lado de fora

música a música toma conta do espaço que pertencia à sua imagem um novo rumo toma o pensamento e eu que pensava em saudade o ritmo da música cria outra esfera nela circulo com novo humo uma novidade em cada nota e eu que pensava no fim do amor

sísmico o poema é reflexo do perplexo eu cismo sísmico o poema é espelho do recente eu mimo mímico

não quero ver não atravesso diante do espelho se não quero me enxergar não grito diante da caverna se não quero me ouvir eu prefiro me ocultar quando nada quero ouvir ou enxergar por isso prefiro a ausência do espelho

infância a infância jogou as redes ainda caio nos medos de uma vida ignorante a infância deixou fraturas ainda cedo aos medos de um dia o antes a infância é espelho da alma agora infelizmente nessa hora

reflexo sem visão quantos reflexos dentro dos olhos molhados na manhã dos dias não viram imagem dentro da mente?

memória espelho de mim eu puxo a mão da memória para não perder a imagem de quem sou diante do espelho de mim mesmo não quero impor a ninguém um corpo e uma alma sem noção de si mesmos

olhos do lago o espelho da natureza é invertido o dia ensolarado vira em instantes chuva de granizo por sobre os quintais apagando o sol que antes iluminava o rio cheio de água na estação das chuvas se enfraquece no inverno que é frio lá na montanha o rio cheio é espelho do peixe em desespero na natureza os reflexos são invertidos em opostos de seco e molhado em sol e chuva por todos os lados nos olhos do lado

o que o que muda ficou um tempo igual senão seria outro afinal o que luta venceu um pouco parcial senão seria derrota total o que vive foi um instante inicial senão seria morto final

oposição o diferente de mim é o mar o dado em movimento mais que o ar o oposto de mim é o amar o feito em sentimento mais que raciocinar

espelho fixo passado não voltarei ao passado mas ele insiste em ficar dentro de mim rachado não gostarei do deixado mas ele persiste em falar algo por mim calado o passado é o pesadelo do espelho ainda vivo mesmo quebrado

reflexo interior a filosofia me desconfia o reflexo me esvazia o niilismo é futuro que a mão tecia a filosofia me desafia o reflexo me sacia o psiquismo é turvo sou eu à luz do dia

oposição amor espelho máximo da dor? de que lado se dá o reflexo? se soubesse quebraria o inverso o sonho do oposto é ser sem oposição

enquanto enquanto o corpo joga para fora o tempo em pele e ruga o vento em sopro quente a vida em células mortas enquanto o corpo jorra a cada hora o passado em doença e cirurgia o erro em palavras de chumbo você em lembranças de versos enquanto a alma se depura na angústia do corpo morrendo eu vou me lembrando sempre de você no meu espelho

sereia a sereia se olha no espelho ela tem passado como eu? a calda é a calda da sereia o seu passado achei a resposta a sereia tem calda que se arrasta mais que meu passado apenas imagem a calda a calda da sereia divide sua existência ela bem se parece comigo mas ela vai morrer meio a meio gente e peixe eu vou morrer três a três passado presente futuro a sereia se olha no espelho ela tem passado como eu

monóculo o monóculo da festa do rosário foi o primeiro espelho da idade visto depois de muitos anos ele ainda é uma novidade o monóculo tem uma criança pareço eu ainda em tempos outros com outras pessoas em tempos idos ele ainda sou eu em outra cidade

gato o cheiro do gato morto na esquina no lote vago é espelho final da vida toda em saltos brincadeiras? pulo do gato onde andará o morto do gato?

asa a asa se equilibra na outra asa o pássaro tem duas asas se tivesse apenas uma não voaria uma tem a mesma força da outra o pássaro tem duas asas se uma fosse mais forte do chão não sairia

condição hoje eu acordei arisco com medo de repetir o dia de ontem reflexo condicionado

durmo a noite sem lua sonho sem limite imagem perfeita cara no travesseiro a noite dá o sonho o melhor espelho de todos os espelhos o sonho leve e frágil

hoje hoje é feriado nada a fazer um bom poema sai sem dor como a prece na noite é forte de manhã tem pouco calor

pombo vi um pombo morto no chão não era um pombo era um sapato os olhos espelharam errado para a mente vagando de dia de sábado o espelho se confunde

sonhação na cama a alma rodopia em sonho que arrasta para lá da imaginação nunca soube do sonho com explicação a alma se revela outra e sem espelho vaga pelas ideias efêmeras pelos universos paralelos sem complicação complicado é acordar

mosteiro eu poderia prender os pés no vento para sair da realidade mas não o vento passa racional e não sei voar sem asas eu queria estar em vários lugares no alto da montanha um mosteiro a fé é tão passional e não sei calar palavras

envelope dentro do envelope pardo é escuro é claro não sei não vejo dentro do envelope vazio o ar preenche o espaço simulo não percebo dentro do envelope tem papel a palavra lá dentro enche demais

vaziooizav o espaço vazio cheio de ar o copo vazio cheio de ar há paradoxo na visão do espelho a mente mente não sente o ente como se deve a mente é crente se depende não sabe realmente

lágrima a lágrima reflete o mundo à sua volta mas seu mundo não está em volta vem de dentro de mim como a lágrima me reflete sem ela não sabedoria das dores de dentro

calma o arrepio percorre o corpo fiação elétrica dentro é a alma o pensamento morre no tempo mudança dos ventos dentro é a calma

renova sorrio da angústia aquela que matava o tempo novo é o sorriso pleno dos mais plenos dados vem como uma paz depois do combate em guerra sangrenta vem como uma chuva depois do calor ofegante dos poros abertos suados sorrio da angústia é o tempo renovado o tempo renova sempre

ajuntamento a palavra escrita não seria nada sem a folha branca no fundo a palavra proscrita não seria vil sem pensamento do mundo a palavra espiritual não seria útil sem esclarecimento do estamos juntos a palavra semeia a alma ajunta

relampejo a cidade é um relâmpago cenas variadas vividas anonimamente a menina olhando para a vitrine o sorvete derretido no chão o pombo comendo a pipoca a sacola cheia de biscoitos finos pessoas em tempestade as vidas são trovões quando juntas

saída a sala tem quatro paredes eu entro e saio entre elas pela porta a toca tem um caminho o coelho entra e sai dentro dele pelo oco há saída eu sei há saída

visão o livro é espelho do livre a geladeira é espelho do frio a menina é espelho da mãe a televisão é espelho do fel há espelhos por todos os lados de que lado eu quero estar? vendo visto

pensamento penso tanto mas não sei se penso para trás ou para frente o pensamento tem sentido? penso tanto às vezes direita às vezes esquerda para ditadura ou democracia o pensamento é opção? penso pouco quando caminho preciso só das pernas não da vida em fé o pensamento é vazio? penso pouco quando durmo preciso só dos olhos fechados sem nexo o pensamento é solidão?

po[ssibilidade] dessas ligações misteriosas não sei explicar um livro antigo na estante vira pó palavra vira pó desses silêncios misteriosos não sei ouvir a mensagem escrita nas pirâmides vira pó construção vira pó

do silêncio para samantha das areias da praia carrego o silêncio o silêncio absurdo do absoluto das montanhas almejo o silêncio o silêncio obscuro do concreto dos amores desejo o silêncio o silêncio puro do infinito dos livros recebo o silêncio o silêncio profundo do desconhecido das vidas recolho o silêncio o silêncio chocante do recomeço

vida chegar? a vida é uma corrida não sei quando começou e tenho um lugar para terminar? ficar? a morte é um obstáculo não sei quando virá e tenho um medo de findar?

contagem conto de um a dez o tempo não muda conto outra vez desisto da luta o tempo não pára quando conto o tempo prossegue quando conto

mãos prezo as mãos uma de cada lado em proporção rezo com as mãos juntas no centro em oração imploro pelas mãos levadas ao céu em depressão as mãos são mensagens espelhos fixos do coração

enfim o fim não existe há apenas o fingimento de que o tempo parou por um momento há tempos não finjo sinto as cordas do tempo rígidas pelo corpo estou preso o fim fim

da morte as pessoas mortas que fazem ainda? a saudade da presença é toda pequena e torta o invisível atrás da porta mesmo não visto há

palavra mutante o corpo de ontem não tem agora o mesmo sentido a palavra mudou tudo o homem de hoje é outro do início outro significado a palavra mexeu em tudo

tatoo não sabia da saudade o reflexo da memória mais doloroso que tatuagem

sempre crio nas voltas da mente a vontade de ser sempre

unidade a mão direita sabe sempre o que faz a mão esquerda não poderia ser diferente na unidade

o verbo semeio a palavra entre a substância e o ouvido faço verbo e o verbo se fez carne

o vento tem várias faces soltei o poema pelo ar para alimentar o vento com palavras de amor o amor sempre vale a tempestade

DANILO ARNALDO BRISKIEVICZ nasceu em Serro, Minas Gerais. Sua primeira publicação poética foi Identidade (1993), seguida de Tonel da memória (1994), Oratório de versos (2000), 300 (2002), Chão de poemas (2004), De tudo e de amor (2006), O cheiro sem cheiro da rosa sobre a mesa (2008), Transmutação (2009), Maresia (2009), Cotidiano (2009), Manhã(2009), Tarde (2009), Noite (2009), Olhos de concreto (2009), Cem módulos (2009). Participou da II Antologia Nacional de Poesia Mares Diversos, mar de versos (2009), da Antologia Vozes da alma (2009) e Textos Seletos (2010). Publicou também O vento do tempo no relógio do templo - Infância (2010) e O vento do tempo no relógio do templo - Adolescência (2010), O vento do tempo no relógio do templo - Maturidade (2010), Resíduo orgânico (2010), Pulso tempo (2010) e Vazio (2010). Interessado pela história serrana realizou diversas pesquisas e registros, publicando o que pretende ser uma série histórica com outros temas que se encontram no prelo. Assim, surgiu A arte da tipografia e seus periódicos (2002) e A arte da crônica e suas anotações (2007). Reeditou o clássico serrano Memória sobre o Serro antigo (2008), de Dario Augusto Ferreira da Silva, de 1928, no qual fez, além do ensaio crítico sobre o poder no século XVIII, a adequação lingüística. Procurando novas formas de registro histórico, publicou Serro duas vezes (2008), trazendo uma visão poética e fotográfica da cidade do Serro. No enfoque fotográfico e histórico publicou Rostos 1998(2009). Publicou o ensaio fotográfico Urbanometria (2009), Cor do tempo (2009), Unicidade (2009), Interior sagrado (2009), Luz interior (2010), Linha do Tempo (2010) e Cor da cidade (2010). Foi redator do Jornal Livre Pensador e um dos criadores da Bolerata do Serro. Publica, desde 2006, O fóssil, jornal digital distribuído pela Internet. Publicou artigos de Filosofia no Recanto das Letras, entre eles Hannah Arendt e a violência política, Michel Foucault: violência, racismo biopoder, A noção de Gramática em Wittgenstein, Maquiavel: Estado, Política e sociedade civil, Violência e poder em Hannah Arendt, entre outros. Formado em Filosofia pela PUC-Minas, pós-graduado em Temas Filosóficos e mestre em Filosofia Social e Política pela UFMG. Acesse todos os livros do autor na homepage: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro

Copyright by Danilo Arnaldo Briskievicz Todos os direitos reservados. Permitida a cópia/citação, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas desde que lhe sejam atribuídos os devidos créditos do autor e da editora por escrito. Capa Arte de rua, 2009, Danilo Arnaldo Briskievicz. Fotomontagem. Contato Danilo Arnaldo Briskievicz doserro@hotmail.com