TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA



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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE GABINETE DO REITOR COMISSÃO DA VERDADE TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA Entrevista realizada em: 24.5.2013 Hora: 14h30min. Local: Sala de reuniões do Gabinete da Reitoria Entrevistado: Antônio Alfredo Santiago Nunes Responsável pela transcrição: Edilson Pedro Araújo da Silva (bolsista) Carlos Gomes: Vamos ouvir agora o nosso professor Antônio Alfredo Santiago Nunes. Então, ele já sentiu o que é que nós queremos: fale sobre a sua militância no movimento estudantil, se houve, antes mesmo de ser universitário, depois como universitário e depois como professor. Antônio Alfredo Santiago Nunes: Bom, em primeiro lugar eu gostaria de agradecer profundamente por essa oportunidade que eu estou tento, de discutir, de escutar pronunciamentos tão importantes, não somente no mundo universitário, mas de uma forma mais geral depois do golpe de 64. E eu me dirijo particularmente a vocês jovens que têm o dever e a obrigação de saber tudo isso, saber o lado obscuro que as nossas gerações passaram. Eu começo, por exemplo, dizendo uma coisa, plagiando a presidente Dilma dizendo o seguinte: Da minha parte revanchismo nunca, esquecimento nunca! E perdão jamais!. Isso posto, eu gostaria de começar pensando duas colocações, uma aqui do professor Hermano e outra do Willington. O Hermano diz assim o seguinte: a gente vivia naquele clima: o aluno desconfiava do aluno, o professor desconfiava do aluno, o aluno do professor etc. Como eu sou um cinéfilo, sou amante de cinema, 1

acompanho muito cinema, eu me lembrei imediatamente de um filme sobre a Segunda Guerra Mundial que foi traduzido para o Brasil como Cartas anônimas, a comunidade começa a promover a discórdia através de pequenas cartas... Quer dizer, o diretor na sua genialidade que a população estava exatamente retransmitindo o que era o pavor nazista, a desconfiança instaurada, a desconfiança instaurada nas mínimas coisas. Isso é um traço importante que todas as ditaduras transmitem para nós, seja ditadura de esquerda, seja ditadura de direita. A colocação do professor Germano diz o seguinte na sua fala inaugural: Olha, na minha geração antes de 64, nós tínhamos uma militância ativa nos sindicatos. Para vocês terem uma ideia, Macau tinha vinte e seis sindicatos, uma efervescência cultural enorme que nós tínhamos antes do golpe de 64, você tinha uma participação da estudantada muito grande. Por exemplo, para que vocês tenham uma pálida ideia, em 1962, um grupo de jovens como vocês capitaneado por um grande professor nosso, ele era o vigário da Igreja de Nossa Senhora Terezinha, nós nos reuníamos lá aos sábados e um grupo de meninos cria o famoso cinema de arte, que foi história na cidade de Natal, tinha exibições no Rex depois no Nordeste, finalmente terminou no Rio Grande, você já sabia quem ia lá, você já sabia que ia encontrar o Hermano, que ia encontrar o Carlos Gomes, o Spinelli etc. etc. depois essa meninada ia discutir de uma forma até petulante Bergman, Buñuel, cada um que sacasse as coisas mais atrevidas possíveis, mas eu estou dizendo que isso é importante nas nossas vidas. Então, por exemplo, a minha geração, antes de 64, eu não tive uma militância no secundário organizada, participei, mas de forma não organizada. Isso nas Ciências Sociais a gente chama de consciência social e política. Quem tem consciência política tem uma consciência social, quem tem consciência social necessariamente não tem uma consciência política. Vide, por exemplo, o nosso grande rei do baião, as suas composições e suas letras são absolutamente revolucionárias, vozes das secas etc. etc. Eu me lembro que uma vez eu tive a honra e o prazer, aqui em Natal, de conhecer o eminente pai da sociologia moderna, professor Florestan Fernandes, quando ele foi impedido de fazer uma conferência na nossa semana de estudos sociais lá da fundação de José Augusto, e ele diz o seguinte: como é que pode o sujeito ter uma letra absolutamente revolucionária e fazer comício pra ARENA, hipotecar seu apoio à ARENA. Então a gente vê muito isso. [inaudível] O Brizola teve aqui, o Jango teve aqui em Natal acho que umas três vezes e a gente garoto vê um Presidente da República num comício, é um troço assim absolutamente fantástico. 2

[Inaudível] Muito bem, tempos depois eu estou na faculdade, aí eu comecei a arrumar minha cabeça. No Diretório Acadêmico Josué de Castro, por exemplo, eu participei quase todos os anos em que fui aluno, à exceção do último ano que o Diretório foi abusivamente fechado. Então a Faculdade de Sociologia e Política tinha uma efervescência polícia muito grande, era admirada e respeitada até pelos nossos mais ferrenhos adversários. Nós tivemos presentes em tudo o que se diz respeito ao mundo político e cultural aqui, vou lhe dar alguns exemplos simples: Nós criamos a semana de estudos sociais, realizamos até a terceira semana, tivemos um jornal, Sociologia em foco, que era um jornal que promovia discussões, não somente internamente, mas em outros meios acadêmicos; nós tivemos um programa radiofônico também chamado Sociologia em foco que eu apresentava com Rinaldo aos domingos às 12h25 na Rádio Rural, dom Nivaldo chegou uma vez e fechou. Quem foi pra dom Nivaldo solicitar o fechamento desse programa? Dou uma fatia de bolo para quem adivinhar. Padre Itamar de Souza, foi lá pedir à Igreja que abolisse o nosso programa, e assim foi feito. Muito bem, dei aula no Sete de Setembro, para segundo ano ou terceiro ano colegial lá na turma de contabilidade e também uma turma de primeiro ano do ginasial. E uma noite eu vou lá dar aula e os alunos: mas professor, o senhor deixou a gente..., a meninada... Pois é, eu não pude mais. Eu sabia que tinha sido alguma determinação superior, quando eu fui à secretaria, o secretário disse que meu contrato tinha sido rescindido por ordem do Exército. Tempos depois, eu fui quando a saudosa Faculdade de Sociologia e Política, da não menos saudosa Fundação José Augusto... não há uma vez que eu passe em frente à Fundação José Augusto para não me emocionar, diferentemente quando eu passo em frente ao Marista, estudei no Marista, tive ódio. Então para você ver como sãos as coisas, como é o estabelecimento educacional, como você construía aquilo, estabelece essa relação de carinho, de amor, de respeito. Esse processo pedagógico tem dessas coisas. Quando a Faculdade de Sociologia e Política foi federalizada, incorporada à Universidade em fevereiro de 1975, eu fui para, como aqui já foi dito, né, eu fui contratado e fui fazer a pós-graduação lá na Unicamp. Eu tinha sido selecionado meses depois, em agosto de 1975, para a Embrapa, que dava condições muito melhores que a Universidade, minha paixão sempre foi o magistério, talvez a única profissão que tivesse me realizado como eu me realizo. Fui para lá e depois de um 3

ano eu tive a minha recontratação na renovação do meu contrato negado pela ASI, citando à Assessoria de Segurança do Ministério da Educação, do MEC. Pelo indeferimento, conforme expediente do MEC, em 29 de outubro, o reitor já sabia que eu não seria recontratado, aqui tem tudo, é um pouco difícil de ter, é Xerox. Em outras palavras, está dizendo que eu não sou recontratado: 22 de março de 1977, o dia em que eu viajei, como eu falei para vocês há pouco tempo, eu estive com o reitor no sábado, dia 19 de março de 1977 pedindo aumento da minha carga horária, que era de horas e eu estava pedindo para, pelo menos, 40 horas. Não me deu e ainda por cima não renovou meu contrato. Agora vamos ver como é que se demite um professor no regime ditatorial: Senhor professor, pela presente correspondência, comunicamos a Vossa Senhoria que o seu contrato com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a partir de 1º de abril corrente, foi rescindido por ordem superior, conforme correspondência acima epigrafada. Deixamos de fazer comunicação em um prazo mais breve em virtude de não encontrarmos o seu endereço em São Paulo, onde Vossa Senhoria cursa mestrado, sem mais para o momento, firmamo-nos, muito cordialmente, Augusto Carlos Garcia de Medeiros. Bom, eu São Paulo eu tive uma participação em algumas coisas, como por exemplo, em alguns fatos, eventos que eu considero da mais alta importância. Nós, como grupo de colegas, fundamos um jornal chamado O intento, um jornal de circulação nacional que teve uma boa repercussão, que teve uma boa vendagem nacional. Esse jornal não foi adiante porque tinha muitas brigas dos diferentes grupos políticos que ali militavam. Fui também um dos fundadores, quando uma formiguinha, um dos fundadores do PT (Partido dos Trabalhadores), coisa que hoje eu lamento profundamente, talvez tenha sido a maior decepção política da minha vida. Darcy Ribeiro disse uma vez, eu ri, quase chorando: Perdi todas, quase todas as batalhas políticas que eu participei eu perdi, perdi todas, não ganhei uma, repetiria, inclusive os erros. Agora você, o prejuízo financeiro, o prejuízo acadêmico, o prejuízo intelectual, você constrói um Partido para depois o cara está apertando a mão de Sarney, de Renan, de Collor, é demais, em nome de uma governabilidade, pelo amor de Deus. Mas isso aí é um assunto mais pessoal. Bom, quando eu fui demitido, eu fui professor da PUC lá em Campinas. Em novembro de 1985, parece-me, veio a Emenda Constitucional do Sarney... Perdão, ainda estudante da Faculdade de Sociologia e Política, eu ouvi o professor Rinaldo Barros, eu ouvi o 4

professor Rinaldo Barros enquadrado no 477 e ter os seus direitos cassados por três anos. O famigerado Decreto 477 punia o professor, o aluno e o funcionário. O professor não poderia ensinar naquela instituição durante um tempo regulamentar, três anos ou cinco, coisa assim, o funcionário não poderia entrar no prédio e o aluno tinha seus direitos suspensos por três anos. O Rinaldo teve seus direitos cassados pelo 477, o 477 é de 26 de fevereiro de 1969, nós comentamos um panfleto que ele pedia eleição para a presidência do Diretório. No ano seguinte, em 1970, eu sou da segunda turma concluinte, eu fui enquadrado no 477, eu e mais três colegas, todos nós escapamos. Escapamos porque ali já deixava de ser uma perseguição política e ideológica desse cidadão chamado padre Itamar, ou era incorporada uma perseguição ou ódio pessoal também. Qual foi a razão do meu enquadramento? Eu estava procedendo agitação de sala de aula, eu estava agitando a sala de aula. Muito bem, para que os senhores e senhoras tenham uma pálida ideia, você tinha 48 horas para fazer a sua defesa, se você perder, perdeu, estamos conversados. Se você ganhou, tinha a famosa remessa necessária, que o meio jurídico sabe muito bem aí o que é isso, ou seja, o diretor da Faculdade tinha que mandar para o Ministro. Então eu fui enquadrado como agitador de sala de aula, um detalhe: nós tínhamos 48 professores, desses 48, 46 me deram uma declaração que eu nunca tinha agitado uma sala de aula deles, sobraram dois, uma professora tida como de direita que ficou muito ligada à ARENA foi na minha residência pedir desculpas por não ter assinado, pois estava viajando, estava no Rio de Janeiro. Um cidadão muito agitado, tido de esquerda, professor, me disse: olhe Alfredo, esse é um documento profundamente honesto, agora eu não posso assinar, porque eu posso julgar o seu processo. Bom, então esse foi o meio retorno e agora eu volto lá a São Paulo: Passei um tempo como professor da PUC lá em Campinas, e como eu disse há pouco, com a promulgação da Emenda Constitucional de novembro de 1985, eu adquiri direito de entrar com essa minha documentação, solicitando anistia. E o fiz acho que em 1986, num ano de eleição que o Jorge Batista morreu, não foi? Devo muito aos colegas aqui que intercederam notadamente: Elias Maciel advogado, e notadamente, Antônio Joaquim, que foram meus procuradores, todos dois advogados, batalharam muito. Mas esse processo ia pra cá, ia pra lá, resultado: isso eu dei entrada em 1986 e o meu processo saiu em 1990, eu trabalhava em São Paulo, em 1991 eu resolvi voltar, tirei uma licença, fui anistiado em 5

1990, deveria retornar em janeiro de 1991 e assim o fiz, voltei para o departamento de Ciências Sociais na época. Bom, aqui em Natal eu tive um início de militância política nesse partido que eu falei há pouco tempo, depois eu fui me desiludindo e praticamente não tive mais militância política, pelo menos de forma mais significativa, mais presente, mais atuante. [inaudível] Por bondade, por absoluta bondade, absoluta generosidade, é bom que isso fique estampado e até porque talvez ninguém quisesse, eu fui chefe de departamento lá de Ciências Sociais e garanto-lhes que eu tive três experiências onde realmente a gente sabe, detecta a verdadeira natureza humana. [inaudível] aí depois a chefia de gabinete da secretaria de educação na gestão do Luiz Eduardo, ali os diretores da escola entravam e diziam assim: você é uma ladrona, não ladrona é você. Um cargo que você aprende muito... Mas eu quero dizer que isso aí complementou um pouco a minha atuação profissional aqui. Fui também coordenador estadual da defesa civil, aqui no Rio Grande do Norte. [inaudível] Eu acho que, grosso modo, professor, é isso aí. Só outra coisa: desses documentos que eu tenho o que o senhor quiser eu posso disponibilizar. Eu tenho o processo todinho do 477, se interessar à Comissão eu posso disponibilizar. Eu fui absolvido, Rinaldo foi condenado no ano anterior. No meu processo, participaram quatro: Eu, Luiza Nóbrega, Jonaldo Carrilho e Daguimar Fernandes, todos foram absolvidos. [inaudível] Quando do meu processo de anistia, o Coronel José Renato Leite ele relutou muito em dar um documento a mim, o que é interessante. Carlos Gomes: Você ingressou no curso de Sociologia em qual ano? Antônio Alfredo Santiago Nunes: Eu ingressei na segunda turma em 1967, saí em 1970. Carlos Gomes: Aquelas datas eu anotei aqui... Antônio Alfredo Santiago Nunes: 19 de março de 1977 eu estive com o reitor para solicitar um aumento da minha carga horária. [inaudível] no dia 22 do mesmo mês, o reitor assina documento negando a minha recontratação. José Antônio Spinelli: Eu queria manifestar uma discordância em relação ao depoimento do professor Antônio Alfredo: Quando ele afirmou que foi eleito pelos professores do departamento pela bondade, porque não teria ninguém disposto a isso. 6

Não é verdade, o professor Antônio Alfredo foi eleito, primeiro pela sua conhecida competência intelectual, pelo seu caráter, por essas qualidades principalmente, porque o departamento reconhecia que tinha à frente da chefia do departamento uma pessoa capacitada, inclusive para negociar o conflito, para negociar as divergências dentro do departamento. E ele se conduziu de forma absolutamente exemplar, foi um dos melhores chefes de departamento que nós tivemos, sempre tratou todos os colegas com profundo respeito e honrou o departamento ao exercer essa chefia, eu queria manifestar essa discordância que não é só minha, eu tenho toda a certeza, às vezes eu comento isso com os colegas, às vezes eu vejo os meus colegas comentando, no período em que o professor Antônio Alfredo foi chefe de departamento [inaudível]. Antônio Alfredo Santiago Nunes: Muito obrigado. Carlos Gomes: Sim, há um detalhe que eu queria comentar: você falou o seguinte: não foi recontratado, mas entrou com um processo e ganhou... Antônio Alfredo Santiago Nunes: Veja bem: eu entrei com o processo da Emenda Constitucional do Sarney, que é de novembro de 1985, aí eu dei entrada em 1986, fui anistiado em 1990 e voltei em janeiro de 1991... Carlos Gomes: Bom, perguntas? [inaudível] O pessoal está cansado [risos] [inaudível]. Declaro encerrada a reunião. 7