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Transcrição:

Por Rodrigo Amaral Walter Polido, advogado, critica órgão regulador, seguradoras e até compradores pela falta de produtos satisfatórios para grandes riscos no Brasil Você acha que o setor de seguros corporativos brasileiro tem suas falhas? É bem provável que tenha razão. Neste caso, não é difícil identificar o culpado pelo atraso, segundo o advogado Walter Polido: trata-se de todo o mercado. Em palestra realizada durante o XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e de Seguros, em São Paulo, Polido fez duras críticas à Susep, às seguradoras nacionais e estrangeiras e até mesmo aos compradores de seguros, que, em sua opinião, muitas vezes estão mais preocupados em obter um preço baixo do que uma boa cobertura. O advogado, que também é árbitro da Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da Fiesp, descreveu os clausulados dos contratos de seguro como coisa de país tecnicamente atrasado e criticou a falta de técnicas de subscrição no país. É tudo no olhômetro, afirmou durante o seminário organizado pela Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR). Polido se autodescreveu durante a palestra como uma das poucas vozes que se levantam para ressaltar as deficiências de um setor que, em sua opinião, não está evoluindo como deveria no Brasil. Leia abaixo as principais observações feitas pelo advogado: Clausulados confusos 1 / 5

Hoje, os modelos de clausulados comercializados pelas seguradoras nacionais e multinacionais no Brasil atendem de forma eficaz os segurados? Tem gente que responde que sim, que ainda defende o status quo do mercado. Eu gostaria que essas pessoas pudessem me explicar o volume expressivo de ações judiciais contra seguradoras existentes no país. A demora excessiva e o fator incerteza sempre presentes nos processos de regulação de sinistros, especialmente os grandes sinistros. Às vezes são necessários oito meses, quase um ano para a seguradora se manifestar se um sinistro é coberto pelo seguro ou não. Isto é um absurdo. Isso acontece pela má elaboração dos clausulados hoje existentes. Hoje, se você vai para uma reunião de sinistros, a sala tem que ser muito grande. Não pode ser em qualquer lugar, porque vão participar umas 20 pessoas, ou mais. Cada ressegurador vai levar seu advogado, seu loss adjuster. Parece que um não confia no outro. E cada corretor, cada seguradora envolvida vai estar presente. Isso porque existe uma falta de confiança nos clausulados. Cláusulas absurdas Eu dou muito parecer sobre sinistros, mas há cláusulas que eu às vezes leio dez vezes, dou para outra pessoa ler e tentar me explicar o significado, e muitas vezes eu não consigo entender o espírito da coisa. Hoje eu pego casos de sinistros, por exemplo em RC, e além das condições gerais, há mais umas dez condições especiais, e 39 cláusulas particulares. Isso é absurdo. É coisa de país tecnicamente atrasado. Muito comercial e pouco técnico As seguradoras internacionais não usam no Brasil os mesmos clausulados que em seus países de origem. E por que isso? Por que o segurado não cobra. E nós temos um Estado com visão estúpida e despreparada, de gente que ainda vive no século 19 em matéria de seguros. O Estado teve um papel muito grande no mercado durante os quase 70 anos do monopólio do resseguro. Isso desgastou o mercado. Mas eu não vou jogar todas as culpas no IRB, mesmo porque trabalhei lá por 23 anos e sempre cobrei que as seguradoras apresentassem ideias, e a 2 / 5

grande maioria não apresentava. Todas cresceram muito à sombra do IRB, incluindo as multinacionais. Hoje nós somos um mercado altamente comercial e pouco técnico, os corretores em geral reclamam que não existe ninguém com quem conversar sobre uma cláusula, uma linha, uma situação nova de risco dentro de uma seguradora. Paternalismo tupiniquim Há um grande paternalismo do Estado em uma área que requer grande especialização técnica. A Susep não tem que ser especializada em D&O, em riscos de engenharia. Ela botou agora em audiência pública que vai padronizar os riscos de engenharia no Brasil. Isso é coisa de gente atrasada, fora da realidade. Isso não existe em país sério. O mundo inteiro usa o padrão Munich Re em riscos de engenharia. Quem é a Susep para criar um clausulado tupiniquim para o segurador que vai reter muito pouco do risco inclusive e que o ressegurará em grande parte com os internacionais? E então as seguradoras se movimentam. A Fenseg movimenta comissões para analisar o padrão apresentado pela Susep e sugerir melhorias. Ora, não tem que sugerir melhorias. Tem que sugerir que a Susep cumpra o papel dela, que é fiscalizar a provisão técnica e a reserva de sinistros das seguradoras. Não é o papel dela sugerir produtos para o setor privado. A elaboração do produto padronizado é para seguradora desqualificada se esconder. Se eu não quero investir em empregados, não quero pagar bons salários, não quero preparar um corpo técnico decente, eu uso o produto padronizado da Susep. Vivemos um momento de estagnação dos modelos há décadas, e as seguradoras utilizam isso sem ficar com vergonha. O Brasil não está integrado às boas práticas de seguros que existem no mundo. Está na hora das seguradoras trazerem os clausulados que possuem nos Estados Unidos, na Alemanha, na Espanha. Seguros singulares 3 / 5

A Susep fulminou o que ela chama de seguros singulares. Isso é o máximo do despreparo e da incapacidade do Estado. Ela tentou fulminar o que é inerente à nossa atividade, que é a subscrição de riscos. Inexperiência no mercado É preciso dar um jeito nesta ausência total de técnicas de subscrição. Nós não temos técnicas aqui no Brasil. É tudo no olhômetro. As seguradoras também não sabem regular sinistros, não preparam as pessoas. Nós precisamos de especialização dos subscritores. A seguradora precisa de profissionais preparados para realizar esta tarefa. Nós estamos em uma fase de transição no mercado, onde as pessoas com mais experiência estão saindo, e muitos jovens estão assumindo cargos de projeção nas empresas. Hoje todo mundo é senior underwriter com 24 anos de idade. Isso é ridículo. A seguradora precisa preparar esta gente. Precisa mandar para a matriz no exterior, para ver como são as coisas em um mercado civilizado e depois trazer a boa ideia aqui para o Brasil. Comprador merece o que recebe Um reflexo de tudo isso é que há uma maior seleção de riscos no mercado. Cada vez mais, grandes riscos já não são aceitos em algumas atividades, e isso vai continuar. E tem muito segurado que não merece ser segurado, e não o será. Resseguro local Resseguro local é coisa de país atrasado. Resseguro é internacional. Nós precisamos de capacidade, e não de capital nacionalizado. 4 / 5

Fonte: Risco e Seguro, em 03.11.2015. 5 / 5