Tainá Decker Fischer

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Transcrição:

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE ESTUDOS AGRÁRIOS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Tainá Decker Fischer RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA Ijuí, RS 2017

Tainá Decker Fischer RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA Relatório do Estágio Curricular Supervisionado na Área de Inspeção de Produtos de Origem Animal apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária. Orientador: Prof. Dr. Felipe Libardoni Ijuí, RS 2017

Tainá Decker Fischer RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA Relatório do Estágio Curricular Supervisionado na Área de Inspeção de Produtos de Origem Animal apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária. Aprovado em 21 de novembro de 2017: Felipe Libardoni, Dr (UNIJUÍ) (Orientador) Luciana Mori Viero, Dra (UNIJUÍ) Ijuí, RS 2017

AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, pela vida e por tudo o que tenho, pela oportunidade de estudar e seguir em busca de meus sonhos. Aos meus familiares, que sempre acreditaram em mim e me incentivaram. Em especial aos meus pais, Airno e Luciana, que nunca mediram esforços para me ver feliz e realizada. Também a minha vó Odalila, por todas as orações. Sem vocês eu não seria nada. A todos meus professores, pela disposição a ensinar muito mais do que os conteúdos de aula e serem exemplos de profissionais e pessoas admiráveis. Em especial ao meu orientador, Felipe Libardoni, pelo auxílio e paciência durante o período de estágio final. Aos médicos veterinários Luís Antônio Vielmo, supervisor de estágio, Carlos Eugênio Vidal e Miguel Linardakis, pela oportunidade de estagiar e aprender com três profissionais exemplares, com ensinamentos e visões diferentes que levarei por toda a vida. Aos funcionários do Frigorífico Silva, em especial aos auxiliares de inspeção, pelo acolhimento, ensinamentos e por terem sido como uma segunda família no período de estágio. Aos animais, que desde minha infância foram fonte de amor inesgotável, sempre me trazendo alegria e tranquilidade. Por eles sigo essa profissão. E a todos que, de alguma forma, contribuíram para que eu chegasse até aqui. Muito obrigada!

RESUMO RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA AUTOR: Tainá Decker Fischer ORIENTADOR: Felipe Libardoni O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado na área de Inspeção de Produtos de Origem Animal, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), responsável pela fiscalização do Frigorífico Silva Indústria e Comércio Ltda., SIF 1733, localizado na cidade de Santa Maria/RS. As atividades foram desenvolvidas no período de 14 de agosto a 19 de setembro de 2017, totalizando 150 horas. O estágio foi realizado sob orientação do Professor Médico Veterinário Dr. Felipe Libardoni e supervisão do Médico Veterinário, Auditor Fiscal Federal Agropecuário, Luís Antônio Vielmo. O frigorífico abate bovinos, com capacidade de matança diária de 700 animais. Durante o período de estágio foram acompanhadas as atividades de inspeção ante e post mortem desenvolvidas pelos médicos veterinários e auxiliares de inspeção. No presente trabalho são descritas a identificação do Mycobacterium bovis em lesões suspeitas de tuberculose e sua diferenciação com actinobacilose; além da ocorrência de hidatidose nos bovinos abatidos no estabelecimento durante os meses de janeiro a setembro de 2017. O estágio permite o crescimento do aluno a partir do convívio com profissionais da área e da vivência na prática dos desafios enfrentados pelo médico veterinário. Palavras-chave: Inspeção. Saúde pública. Bovinos. Tuberculose. Hidatidose.

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Atividades desenvolvidas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Inspeção de Produtos de Origem Animal, no Frigorífico Silva (SIF 1733), durante o período de 14 de agosto a 19 de setembro de 2017.... 10 Tabela 2 Local de coleta de amostras para identificação do M. bovis através da PCR.... 15 Tabela 3 Localização das lesões com resultado positivo para o Complexo M. tuberculosis e M. bovis.... 17 Tabela 4 Localização das lesões com resultado negativo para M. bovis, provavelmente causadas pelo Actinobacillus lignieresii.... 18 Tabela 5 Ocorrência de hidatidose nos diferentes órgãos durante os meses de janeiro a setembro de 2017.... 26

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 8 2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS... 10 3 DESENVOLVIMENTO... 13 3.1 IDENTIFICAÇÃO DE Mycobacterium bovis EM CARCAÇAS DE BOVINOS ABATIDOS PARA CONSUMO HUMANO... 13 3.1.1 Introdução... 13 3.1.2 Metodologia... 15 3.1.3 Resultados e Discussão... 16 3.1.4 Conclusão... 20 Referências Bibliográficas... 20 3.2 OCORRÊNCIA DE HIDATIDOSE EM BOVINOS ABATIDOS PARA CONSUMO HUMANO... 23 3.2.1 Introdução... 23 3.2.2 Metodologia... 24 3.2.3 Resultados e Discussão... 25 3.2.4 Conclusão... 29 Referências Bibliográficas... 30 4 CONCLUSÃO... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 34

1 INTRODUÇÃO O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado na área de Inspeção de Produtos de Origem Animal, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), responsável por fiscalizar o Frigorífico Silva Indústria e Comércio Ltda. O período de realização do estágio foi de 14 de agosto a 19 de setembro de 2017, sob supervisão do médico veterinário, Auditor Fiscal Federal Agropecuário, Luís Antônio Vielmo e orientação do professor Dr. Felipe Libardoni. De acordo com a estrutura organizacional do MAPA, a inspeção de produtos de origem animal é de competência do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), que é representado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), presente em todos os estabelecimentos registrados no DIPOA. O Serviço de Inspeção Federal é responsável por garantir a qualidade dos produtos de origem animal com base nas legislações nacionais e internacionais. O Frigorífico Silva Indústria e Comércio Ltda é fiscalizado pelo SIF 1733, composto por uma equipe de 2 médicos veterinários Auditores Fiscais Federais Agropecuários (AFFAs), 3 Agentes de Inspeção de Produtos de Origem Animal (AISIPOAs) e 25 auxiliares de inspeção. Dentre as funções do SIF estão a inspeção ante e post mortem dos animais abatidos e a inspeção higiênico-sanitária e tecnológica do estabelecimento. O estabelecimento está localizado na BR 392, Km 8, na localidade de Passo das Tropas, no município de Santa Maria/RS. Fundado em 1972, sua estrutura conta com 18.334,85m² de área construída e uma equipe de 900 funcionários, distribuídos entre os setores de abate, desossa, charque, miúdos, bucharia, triparia, indústria de porcionados, expedição, graxaria, administração e manutenção. Além disso, dispõe de 28 currais de matança, com capacidade para alojar 1022 animais. A capacidade máxima de matança diária do abatedouro é de 700 animais por dia, com velocidade de até 100 animais por hora. Atualmente, possui habilitação para exportar carne bovina sem osso, envoltórios naturais e miúdos congelados para os países da Lista Geral e da Lista Especial, com exceção da Rússia. A escolha da área de Inspeção de Produtos de Origem Animal se deu em virtude do interesse em aprender sobre as atividades desenvolvidas pelos profissionais da área. A profissão de médico veterinário tem

9 importância não só para os animais, mas também para os humanos, a partir da garantia da qualidade dos produtos consumidos, a fim de evitar as zoonoses e os problemas de saúde pública. O local de estágio foi escolhido devido ao seu tamanho e grande capacidade de abate, o que permite maior prática nas atividades desenvolvidas. Além disso, o SIF responsável pelo estabelecimento é composto por uma excelente equipe de veterinários e auxiliares, que desempenham suas funções de forma exemplar, o que permite um maior desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional. O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária é o momento em que o aluno tem a oportunidade de vivenciar na prática o que foi estudado em sala de aula. É a partir do contato com a realidade que se tem a dimensão dos desafios enfrentados pelos profissionais da área, bem como sua importância para a saúde pública.

2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária foi realizado no período de 14 de agosto a 19 de setembro de 2017, das 6h00 às 9h00 e 12h00 às 15h00, com carga horária de 30 horas semanais, totalizando 150 horas. As atividades desenvolvidas e acompanhadas foram o recebimento dos animais e inspeção ante mortem, além da inspeção post mortem, através das linhas de inspeção realizadas pelos auxiliares e acompanhamento do Departamento de Inspeção Final (DIF) junto ao médico veterinário do serviço oficial. A descrição das atividades, seu total de horas e o percentual estão dispostos na Tabela 1. Tabela 1 Atividades desenvolvidas durante a realização do Estágio Curricular Supervisionado em Medicina Veterinária, na área de Inspeção de Produtos de Origem Animal, no Frigorífico Silva (SIF 1733), durante o período de 14 de agosto a 19 de setembro de 2017. Atividade Horas % Exame ante mortem 15 10,00 Linha A 4 2,67 Linha B 8 5,33 Linha D 10 6,67 Linha E 10 6,67 Linha F 12 8,00 Linha G 8 5,33 Linha H 10 6,67 Linha I 10 6,67 Linha J 3 2,00 DIF 60 40,00 Total 150 100,00 A primeira inspeção ante mortem era acompanhada no momento da chegada dos animais no estabelecimento, em que eram realizadas a conferência da Guia de Trânsito Animal, nota fiscal do produtor e romaneio; além da contagem, distribuição nos currais de matança e exame visual dos bovinos. Em torno de uma hora antes do início do abate, junto ao médico veterinário do serviço oficial, realizava-se nova inspeção visual e, quando necessário, encaminhava-se animais para o abate de emergência. O processo de abate compreendido pela saída dos animais dos currais, banho de aspersão, insensibilização, sangria, esfola, retirada de chifres, orelhas,

11 patas e tendões, oclusão do reto e esôfago, serragem do peito, desarticulação e retirada da cabeça, evisceração, divisão da carcaça, toalete, carimbagem, pesagem e lavagem das meias-carcaças era verificado regularmente pelo médico veterinário para garantir a segurança e qualidade. A inspeção post mortem foi acompanhada nas linhas de inspeção e no Departamento de Inspeção Final (DIF). As linhas são executadas pelos auxiliares de inspeção, regidos pelo Artigo 73 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), e são distribuídas de A a J, de acordo com o que segue: Linha A: consiste no exame visual de patas e lábios. Linha A1: exame visual, palpação e incisão longitudinal do úbere, além de incisão dos linfonodos retromamários. Linha B: exame do conjunto cabeça e língua. Na cabeça, os músculos masseter e pterigoides são incisados, além dos linfonodos retrofaríngeos e paroitídeos. Na língua é realizada a inspeção visual e palpação, além de incisão de sua base e dos linfonodos sublinguais. Linha C: cronologia dentária. Não realizada no estabelecimento. Linha D: exame do útero através de palpação e corte nos cornos uterinos; além de corte nos linfonodos mesentéricos, abertura do esôfago e inspeção visual e palpação do trato gastrointestinal, baço, pâncreas e vesícula urinária. Linha E: exame do fígado. Os linfonodos hepáticos são incisados, além de palpação do parênquima e corte e compressão dos ductos biliares. Linha F: são examinados o pulmão e coração. No pulmão, os linfonodos apicais, traqueobrônquicos, mediastínicos e esofagianos são incisados, além de corte no parênquima na altura dos brônquios e abertura da traqueia. O coração é palpado e incisado para abertura e visualização de todo o órgão. Linha G: exame dos rins, a partir da retirada dos mesmos da gordura perirenal, inspeção visual e palpação do órgão. Juntamente a isso é realizada a inspeção e corte no diafragma. Linha H: exame da parte caudal da carcaça, através de incisão dos linfonodos inguinal, pré-crural, ilíaco e isquiático. Linha I: exame da parte cranial da carcaça. Os linfonodos pré-peitoral e préescapular são incisados, além de flexão na região da articulação escapuloumeral para detecção de rigidez.

12 Linha J: carimbagem das carcaças liberadas para o consumo. Carimbo no coxão, lombo, ponta de agulha e paleta. Quando detectada alguma lesão na carcaça ou órgãos inspecionados nas linhas, os mesmos eram encaminhados ao DIF. O acompanhamento desse setor totalizou 10 dias durante o estágio. No DIF o médico veterinário realizava uma inspeção mais detalhada, incisando a musculatura e revisando os linfonodos, a fim de dar a destinação correta à carcaça. Os destinos possíveis são a liberação para consumo direto, tratamento pelo frio, tratamento pelo calor, salga e condenação total da carcaça.

3 DESENVOLVIMENTO 3.1 IDENTIFICAÇÃO DE Mycobacterium bovis EM CARCAÇAS DE BOVINOS ABATIDOS PARA CONSUMO HUMANO 3.1.1 Introdução A tuberculose bovina é uma importante zoonose que está disseminada por todo o mundo e gera preocupações econômicas e de saúde pública. Quando presente em um rebanho leva a perdas pela morte de animais, redução no ganho de peso, diminuição da produção leiteira e descarte precoce (PACHECO et al., 2009; RADOSTITS et al., 2010). O principal agente envolvido na patologia da doença em bovinos é o Mycobacterium bovis, pertencente ao complexo Mycobacterium tuberculosis (RADOSTITS et al., 2010). A principal forma de transmissão do patógeno é a via respiratória, o que representa um maior risco para os bovinos de leite, devido ao contato direto entre os animais na ordenha, e àqueles mantidos em confinamento (CHADDOCK, 2006). Dados a respeito de tuberculose humana causada pelo Mycobaterium bovis são escassos, pois sua ocorrência é subnotificada. Antigamente, antes do controle da doença e uso da pasteurização, a infecção se dava por ingestão de leite contaminado, que leva a formas extrapulmonares da doença. Também há relatos de profissionais que trabalham em abatedouros e fazendas, que foram infectados pela via aérea e desenvolveram a forma pulmonar (BIET et al., 2005). Devido a sua grande importância para os bovinos, a tuberculose é foco do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose, instituído no país em 2001. A conduta preconizada pelo programa é a realização do diagnóstico da doença pelo teste da tuberculina e, se o animal for positivo, o abate deve ser realizado em estabelecimento sob serviço de inspeção oficial (BRASIL, 2017). Ainda, a inspeção post mortem realizada em frigoríficos representa papel fundamental na vigilância da doença, para detecção de focos remanescentes e auxílio no rastreamento de rebanhos infectados (FURLANETTO et al., 2012). Nesse contexto, é importante que o médico veterinário consiga identificar com um alto grau

14 de sensibilidade as lesões que são características da doença (CORNER et al., 1990). O principal achado da tuberculose é o tubérculo, um granuloma encontrado principalmente nos linfonodos do trato respiratório (CHADDOCK, 2006). Apesar de sugestivo, a presença do granuloma é uma característica comum a outras doenças, que podem servir de diagnóstico diferencial. Uma das patologias mais comumente confundidas com a tuberculose é a actinobacilose, uma enfermidade infecciosa, não contagiosa, crônica e granulomatosa, causada pelo Actinobacillus lignieresii (CURCIO et al., 2002; MÉNDEZ, 2001). A actinobacilose é também conhecida como língua de pau, devido ao acometimento característico da língua, ocasionando edema e endurecimento do tecido. Além das lesões nesse local, a doença pode ser encontrada em linfonodos, pulmões, fígado, musculatura e lábios, além de relatos de casos atípicos cutâneos e no peritônio de bovinos (KASUYA et al., 2017; TESSELE et al., 2014; ZAMBONI et al., 2016). O exame post mortem realizado durante a inspeção em frigoríficos permite apenas um diagnóstico presuntivo e, em casos como os das patologias citadas, a observação feita pelo médico veterinário pode ser insuficiente e levar a julgamentos e destinos errados às carcaças. Portanto, a confirmação do diagnóstico pode ser feita por métodos complementares, como o exame histopatológico, cultura bacteriológica, baciloscopia e Reação em Cadeira da Polimerase (PCR) (CORNER, 1994; FRÁGUAS et al., 2008; FURLANETTO et al., 2012). Uma alternativa em destaque, que vem sendo bastante utilizada e tem sua eficácia comprovada por diversos estudos, é a PCR. Esse método permite a identificação do M. bovis de forma rápida e simples, o que aumenta a sensibilidade e especificidade do diagnóstico, de forma a auxiliar o trabalho do médico veterinário (FILHO et al., 2014; RUGGIERO et al., 2007). Devido à importância do controle da tuberculose e por confundir-se facilmente com a actinobacilose na inspeção post mortem, o presente trabalho tem por objetivo a descrição do uso da PCR para confirmação de diagnóstico em lesões macroscopicamente sugestivas de tuberculose.

15 3.1.2 Metodologia A rotina de inspeção post mortem de um frigorífico sob inspeção federal, que abate bovinos para consumo humano, foi acompanhada durante os meses de agosto e setembro de 2017. Quando detectadas lesões suspeitas nódulos caseosos ou purulentos, localizados principalmente em linfonodos, com a presença de grânulos amarelados de aspecto arenoso nas linhas de inspeção, os órgãos e a carcaça dos animais eram desviados ao Departamento de Inspeção Final (DIF) para o exame mais detalhado realizado pelo médico veterinário do serviço oficial. Dos 27.897 animais abatidos no período, 11 apresentaram lesões características e foram julgadas e destinadas como tuberculose. 22 amostras desses animais foram coletadas e enviadas ao Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal de Goiás para realização de análise pelo método de PCR e confirmação do diagnóstico. As localizações das lesões de onde foram coletadas as amostras estão descritas na Tabela 2. Tabela 2 Local de coleta de amostras para identificação do M. bovis através da PCR. Local de coleta Linfonodo paroitidiano 1 Linfonodo retrofaríngeo 6 Linfonodo poplíteo 1 Linfonodo ilíaco 1 Linfonodo traqueobrônquico 1 Linfonodo mesentérico 1 Linfonodo esofagiano 2 Linfonodo hepático 2 Linfonodo mediastínico 4 Parênquima pulmonar 2 Parênquima hepático 1 Total 22 As amostras que apresentaram resultado negativo para o Mycobacterium bovis foram então consideradas de actinobacilose, de acordo com a orientação e

16 experiência prática do médico veterinário, devido à semelhança entre as lesões. Além disso, essa é a doença granulomatosa que mais acomete os animais abatidos no estabelecimento. 3.1.3 Resultados e Discussão A tuberculose é caracterizada na inspeção post mortem por um nódulo granulomatoso, duro, branco ou amarelado, de aspecto purulento ou caseoso, com presença de cápsula fibrosa e centro normalmente calcificado. Essa lesão é denominada tubérculo (SOUZA et al., 2016; JONES; HUNT; KING, 2000). Já a actinobacilose leva à formação de nódulos firmes, constituídos de tecido marrom claro e com a presença de pequenos grânulos amarelos (ANDREAZZA et al., 2013; TESSELE et al., 2014). No exame microscópico, os tubérculos apresentam uma camada de células inflamatórias (linfócitos, macrófagos, células epitelióides e células gigantes de Langhans) circundadas por uma orla de fibroblastos com linfócitos entremeados. As células do centro do granuloma sofrem necrose caseosa e a presença de calcificação é comum. Além disso, a presença do bacilo pode ser observada no material necrótico (JONES; HUNT; KING, 2000). Quanto à actinobacilose, a principal característica observada é o fenômeno de Splendore-Hoeppli, em que se visualiza piogranuloma composto de uma massa de estruturas eosinofílicas em forma de clavas dispostas radialmente. Estas são cercadas por neutrófilos, macrófagos epitelioides, plasmócitos, linfócitos, eosinófilos e células gigantes multinucleadas. Observa-se também a presença dos bacilos gram-negativos no interior das clavas e pode ocorrer mineralização no centro do piogranuloma. (ANDREAZZA et al., 2013; TESSELE et al., 2014; ZAMBONI et al., 2016). A reação de Splendore-Hoeppli corresponde macroscopicamente aos grânulos amarelos que são observados na lesão, conhecidos como grãos de enxofre (MÉNDEZ, 2001). Esses grânulos são uma das formas de diferenciar a patologia da tuberculose, visto que essa apresenta a calcificação semelhante a grãos de areia. Outra diferenciação que pode ser observada pelo médico veterinário é que a actinobacilose leva à formação de pus amarelo, espesso, brilhoso, com alta coesão e baixa adesividade (JONES; HUNT; KING, 2000). Essa formação é mais brilhante

17 que o material encontrado na tuberculose. Os nódulos da actinobacilose normalmente se sobressaem ao tecido adjacente, enquanto as lesões tuberculosas são planas (WILSON, 2005). A localização das lesões positivas para tuberculose estão demonstradas na Tabela 3. Do total de 22 amostras coletadas, 11 pertencentes a 4 animais diferentes confirmaram a presença de M. bovis. Dos 4 animais, 2 apresentaram uma única lesão, enquanto nos demais foram observados de 1 até 5 locais afetados. As diferentes localizações demonstram o que dizem Radostits et al. (2010), que, apesar de acometer mais comumente o pulmão, o M. bovis se dissemina por via linfática e pode causar lesão em qualquer local do organismo. Tabela 3 Localização das lesões com resultado positivo para o Complexo M. tuberculosis e M. bovis. Local Complexo M. tuberculosis M. bovis Linfonodo paroitidiano 1 - Linfonodo retrofaríngeo 2 2 Linfonodo poplíteo 1 - Linfonodo mediastínico 4 4 Linfonodo hepático 2 2 Linfonodo esofagiano 1 1 Parênquima pulmonar 1 1 Parênquima hepático 1 1 Total 13 11 As lesões pulmonares iniciam na junção bronquíolo-alveolar e se disseminam para os alvéolos e linfonodos brônquicos; o acometimento de outros órgãos pode ocorrer de forma rápida ou mais tardiamente, dependendo da imunidade no animal. Quando generalizada, a tuberculose pode se apresentar na forma miliar abrupta e maciça, com grande número de bacilos na circulação ou protraída que é a mais comum, com disseminação linfática ou sanguínea, acometendo todos os tecidos (RADOSTITS et al., 2010).

18 O local que mais apresentou resultados positivos para o M. bovis foi o linfonodo mediastínico, seguido pelos linfonodos retrofaríngeo e hepático. O resultado encontrado corresponde aos descritos na literatura, que indicam os linfonodos retrofaríngeo, mediastínico e traqueobrônquico como os mais acometidos, além do parênquima pulmonar (CORNER et al., 1990; FURLANETTO et al., 2012; PINTO et al., 2004). Sousa et al. (2003), por sua vez, encontraram o maior número de lesões nos linfonodos mediastínico, pré-escapular, mesentérico e isquiático. Ainda, 11 amostras apresentaram resultado negativo para M. bovis e, embora não tenham sido realizados outros exames, seguindo a casuística mais comum encontrada no estabelecimento de abate, provavelmente eram lesões de actinobacilose. Suas localizações estão descritas na Tabela 4. A maior parte se encontrava nos linfonodos retrofaríngeos, o que corrobora com resultados encontrados por Tessele et al. (2014) e Mondadori et al. (1994). Tabela 4 Localização das lesões com resultado negativo para M. bovis, provavelmente causadas pelo Actinobacillus lignieresii. Local Linfonodo paroitidiano 1 Linfonodo retrofaríngeo 4 Linfonodo poplíteo 1 Linfonodo ilíaco 1 Linfonodo traqueobrônquico 1 Linfonodo mesentérico 1 Linfonodo esofagiano 1 Parênquima pulmonar 1 Total 11 O maior número de lesões de actinobacilose no linfonodo retrofaríngeo pode ser explicado pela patogenia da doença. A infecção ocorre quando há uma solução de continuidade na cavidade oral dos bovinos, pela qual o A. lignieresii, comensal do trato digestivo, penetra no tecido, atingindo preferencialmente os linfonodos regionais da cabeça e língua, levando à formação do granuloma (RADOSTITS et al., 2010).

19 Além da língua e cabeça, o agente pode atingir outros órgãos, por via linfática ou hemática, e se disseminar por todo organismo (MÉNDEZ, 2001). Essa característica pode ser demonstrada pelas localizações das lesões aqui encontradas, distribuídas em linfonodos da cabeça, pulmão e traseiro do animal; algo em comum com a tuberculose, que pode dificultar ainda mais a diferenciação entre as duas. Ao comparar o número total de amostras coletadas em relação à quantidade de M. bovis encontrado, podemos observar que 50% apresentaram resultado negativo. Em um estudo realizado por Tamemmagi et al. (1973), de 635 casos de suspeita de tuberculose, 67 casos (10,5%) eram actinobacilose e 34 (5,3%) eram outras lesões que não tuberculose. Furlanetto et al. (2012) encontraram um resultado negativo para 98,3% dos granulomas suspeitos da doença. Embora o granuloma seja uma lesão clássica de tuberculose, não podem ser descartadas outras causas. O contrário também pode ocorrer, quando se faz o diagnóstico presuntivo de actinobacilose e na realidade as lesões são tuberculosas. Mondadori et al. (1994) demonstraram em seu estudo que de 159 lesões características de actinobacilose, 82,39% confirmaram o diagnóstico, porém 9,43% eram tuberculose. Somente um animal, que obteve resultado negativo para M. bovis, mas possuía lesões generalizadas, foi destinado à condenação total. Para os demais, o tratamento instituído foi a esterilização pelo calor. Nos casos de tuberculose, o aproveitamento está correto, pois este deve ser atribuído quando os órgãos e linfonodos apresentarem lesões caseosas discretas, localizadas ou encapsuladas, como foi observado nos animais (RIISPOA, 2017). Para a actinobacilose, segundo o Art. 135 do RIISPOA (2017), as carcaças devem ser aproveitadas condicionalmente pela esterilização pelo calor quando as lesões são localizadas e afetam os pulmões. A liberação para o consumo pode ocorrer quando as lesões não comprometem os linfonodos e outros órgãos, depois de removidas as áreas atingidas. Os resultados encontrados indicam que erros durante o julgamento de lesões suspeitas de tuberculose pode ocorrer frequentemente. Para a destinação das carcaças, esses erros não apresentam grandes problemas apesar de levarem a condenações desnecessárias em alguns casos, porém, deve ser levada em consideração a diferença de importância quanto aos fatores zoonóticos e de perdas

20 econômicas geradas pelas duas patologias (FRÁGUAS et al., 2008; FURLANETTO et al., 2012). O número de equívocos se deve à rotina de utilizar somente a avaliação macroscópica durante a inspeção post mortem em abatedouros. Por isso, o uso de exames complementares é uma forma de melhorar esses índices e, segundo Marassi et al. (2013), a certeza de que todos os animais infectados serão identificados só pode ocorrer através da combinação de diferentes técnicas de diagnóstico. A partir do maior número de acertos no diagnóstico da tuberculose, as destinações de carcaças serão mais corretas, auxiliando também no sucesso do programa de vigilância da tuberculose bovina, respaldando a atuação do médico veterinário e prevenindo a disseminação de doenças aos manipuladores e à população (SIMÕES et al., 2013). 3.1.4 Conclusão As lesões características da tuberculose podem ser confundidas com outras patologias, principalmente a actinobacilose. Um maior controle quanto aos casos positivos é necessário e de extrema importância para a vigilância da doença. A confirmação do diagnóstico deve ser feita através de métodos complementares, como a PCR, que se mostra uma opção efetiva para a identificação do Mycobaterium bovis nos casos suspeitos. Palavras-chave: Tuberculose. Zoonose. Inspeção. Referências Bibliográficas ANDREAZZA, D. et al. Caracterização patológica e imuno-histoquímica das lesões de actinobacilose em bovinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 3, p. 305-309, 2013. BIET, F. et al. Zoonotic aspects of Mycobacterium bovis and Mycobacterium aviumintracellulare complex (MAC). Veterinary Research, v. 36, n. 3, p. 411-436, 2005. BRASIL. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa n. 10, de 3 de março de 2017. Dispõe sobre o Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal PNCEBT. Diário Oficial da União, Brasília, 20 jun. 2017, Seção 1, p. 4-8.

21 BRASIL. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), 108f. Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei n. 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Diário Oficial da União, Brasília, 30 mar. 2017, Seção 1, p. 3-27. CHADDOCK, H. M. Tuberculose. In: SMITH, B. P. Medicina interna de grandes animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 2006. CORNER, L. A. et al. Efficiency of inspection procedures for the detection of tuberculous lesions in cattle. Australian Veterinary Journal, v. 61, n. 11, p. 389-392, 1990. CORNER, L. A. Post mortem diagnosis of Mycobacterium bovis infection in cattle. Veterinary Microbiology, v. 40, p. 53-63, 1994. CURCIO, B. R. et al. Isolamento de Arcanobacterium pyogenes de granuloma actinomicóide em bovino. Ciência Rural, v. 32, n. 5, p. 885-889, 2002. FILHO, F. A. et al. Identificação de Mycobacterium bovis em carcaças de bovinos abatidos no estado da Bahia, Brasil, por métodos bacteriológico e molecular. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 5, p. 1585-1591, 2014. FRÁGUAS, S. A. et al. Estudo comparativo de métodos complementares para o diagnóstico da tuberculose bovina em animais reagentes à tuberculinização. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 15, n. 3, p. 117-121, 2008. FURLANETTO, L. V. et al. Uso de métodos complementares na inspeção post mortem de carcaças com suspeita de tuberculose bovina. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 32, n. 11, p. 1138-1144, 2012. JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Patologia Veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. KASUYA, K. et al. Multifocal suppurative granuloma caused by Actinobacillus lignieresii in the peritoneum of a beef steer. Journal of Veterinary Medical Science, v. 79, n. 1, p. 65-67, 2017. MARASSI, C. D. et al. A multidisciplinary approach to diagnose naturally occurring bovine tuberculosis in Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 1, p. 15-20, 2013. MÉNDEZ, M. C. Actinobacilose. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de ruminantes e equinos. São Paulo: Livraria Varela, 2001. MONDADORI, A. J. et al. Actinobacilose em bovinos no Rio Grande do Sul. Ciência Rural, v. 24, n. 3, p. 571-577, 1994. PACHECO, A. M. et al. Tuberculose bovina relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v. 7, n. 13, 2009.

22 PINTO, P. S. A. et al. Avaliação do desempenho dos exames anatomopatológico e histopatológico na inspeção post mortem de bovinos suspeitos ou reagentes à prova de tuberculinização. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 11, n. 1/2, p. 27-31, 2004. RADOSTITS, O. et al. Clínica Veterinária: Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. RUGGIERO, A. P. et al. Tuberculose bovina: alternativas para o diagnóstico. Arquivos do Instituto Biológico, v. 74, n. 1, p. 55-65, 2007. SIMÕES, S. G. et al. Diagnóstico histopatológico da tuberculose em carcaça de bovino condenada em matadouro relato de caso. In: XIII Jornada De Ensino, Pesquisa e Extensão, 2013, Recife/PE. Anais... Recife/PE: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2013. SOUSA, R. D. et al. Linfonodos com maior frequência de localização para tuberculose bovina, em animais abatidos em um frigorífico sob inspeção federal, no município de Uberlândia MG. Higiene Alimentar. v. 17, n. 106, p. 35-39, 2003. SOUZA, M. A. et al. Exames complementares no diagnóstico da tuberculose em bovinos reagentes à tuberculinização comparada. Arquivos do Instituto Biológico, v. 83, p. 1-8, 2016. TAMEMMAGI, L. et al. A study of tuberculosis-like lesions in cattle slaughtered in Queensland meatworks. Australian Veterinary Journal, v. 49, 1973. TESSELE, B. et al. Lesões granulomatosas encontradas em bovinos abatidos para consumo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 34, n. 8, p. 763-769, 2014. WILSON, W. G. Specific diseases. In: (Ed.), Wilson s Practical Meat Inspection. 7. ed. Oxford: Blackwell, 2005. ZAMBONI, R. et al. Actinobacilose atípica em bovino no sul do Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 36, n. 2, p. 60-61, 2016.

23 3.2 OCORRÊNCIA DE HIDATIDOSE EM BOVINOS ABATIDOS PARA CONSUMO HUMANO 3.2.1 Introdução A carne bovina é um alimento amplamente consumido em todo o mundo, que pode trazer riscos à saúde se não passar por um adequado controle higiênicosanitário. Um dos principais problemas relacionados a isso é a transmissão de zoonoses, que pode ocorrer pela falta de cuidados no abate ou consumo da carne crua, mal passada e de origem clandestina (BICA; BRUM; COPETTI, 2014). Nesse sentido, o abatedouro frigorífico constitui de um importante instrumento relacionado à saúde pública, tanto para o controle da qualidade dos alimentos consumidos, quanto para o diagnóstico e mensuração das patologias que estão acometendo os animais. Além disso, através dos dados de abates diários, pode-se identificar focos de doenças, a fim de auxiliar o controle e a erradicação das mesmas (MOREIRA; SANTOS; GUARENTI, 1971). No que se refere à produção animal brasileira, ainda que sejam observados avanços, os rebanhos ainda são acometidos por inúmeras zoonoses. Para melhorar esses índices, o trabalho do médico veterinário torna-se essencial na produção de alimentos de origem animal livres de agentes patogênicos (JOAQUIM et al., 2016). Dentre as zoonoses que acometem os animais de produção e são observadas nos abatedouros destaca-se a hidatidose, uma das principais causas de condenações de vísceras bovinas. A hidatidose é causada pelo estágio intermediário do Echinococcus granulosus, um cestoide da Família Taeniidae que parasita o intestino delgado de seu hospedeiro definitivo, o cão (URQUHART et al., 2008). O principal hospedeiro intermediário do parasita é o ovino e o ciclo caninoovino é considerado o mais importante em muitas regiões, mas os bovinos e humanos são comumente afetados. A perpetuação dessa doença ocorre principalmente pelo hábito de alimentar os cães com vísceras cruas de animais abatidos a campo, prática que representa uma importante fase no ciclo de vida do parasita (BARROS, 2011). O ciclo se inicia quando os parasitas adultos liberam proglotes nas fezes dos cães, contaminando as pastagens. Quando ingeridos pelo hospedeiro intermediário, os ovos que estavam nas pastagens eclodem e o embrião penetra na parede do intestino e migra para outros órgãos, sendo normalmente fígado e pulmão os de

24 predileção. Nos órgãos, o embrião cresce e forma cavitações, onde se desenvolve o cisto hidático. Quando os cães são alimentados pelas vísceras cruas de animais abatidos, ingerem o cisto e o ciclo se completa (BOWMAN, 2010; CULLEN, 2009). A hidatidose é considerada uma doença rural, porém sua ocorrência em áreas urbanas é significante, devido à maior capacidade de transmissão ao homem em áreas de grande densidade demográfica. Os humanos são infectados através da ingestão acidental de oncosferas, que estão presentes na pelagem dos cães, ou por alimentos contaminados pelas fezes desses animais (HOFFMANN; MALGOR; DE LA RUE, 2001; MORO e SCHANTZ, 2009). A doença tem por característica o desenvolvimento lento, o que pode fazer com que indivíduos que foram infectados na infância só apresentem sinais clínicos e sejam diagnosticados na fase adulta. Isso pode levar a complicações que, dependendo da localização e tamanho do cisto, trazem riscos à saúde humana. Já para os animais, a doença não tem grande importância clínica e normalmente só é diagnosticada no momento do abate (MORO e SCHANTZ, 2009; CULLEN, 2009). Tanto em humanos quanto em bovinos, os locais mais comumente acometidos são o fígado e pulmão, mas são inúmeros os relatos de cistos localizados em diversos locais, como osso, coração, rim, baço, musculatura, entre outros (CHIATTONI et al., 2003; TESSELE; BRUM; BARROS, 2013). Diante da importância da hidatidose como doença nos humanos e as perdas econômicas geradas pelas condenações de vísceras nos abatedouros, o presente trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência da hidatidose em bovinos abatidos para consumo humano no período de janeiro a setembro de 2017. 3.2.2 Metodologia Durante quinze dias do período de estágio curricular foi acompanhada a rotina das linhas E e F de inspeção post mortem de bovinos, realizadas pelos auxiliares de inspeção de um frigorífico sob inspeção federal, localizado na cidade de Santa Maria/RS. Nesse período, foi possível visualizar a frequente ocorrência de hidatidose nas vísceras animais, principalmente no fígado e pulmão. Os animais abatidos no local são provenientes de diferentes regiões do Rio Grande do Sul. A inspeção do fígado ocorre na linha E, e consiste na incisão dos linfonodos hepáticos, palpação do órgão e cortes e compressão dos ductos biliares. Já o

25 exame do pulmão é realizado na linha F, na qual os linfonodos traqueobrônquicos, apicais e mediastinais são incisados, além de corte no parênquima na altura dos brônquios. Ambos os órgãos são condenados quando observada a presença de cistos hidáticos e a ocorrência é registrada em quadro marcador de cada linha, para posterior registro no SIGSIF (Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal). Para análise da frequência de ocorrência de hidatidose nos bovinos abatidos, dados de janeiro a setembro de 2017 foram coletados no SIGSIF referentes às condenações de vísceras no estabelecimento e seus respectivos destinos. A ocorrência de hidatidose foi registrada e computada em planilhas do Microsoft Excel, de acordo com os meses e diferentes órgãos acometidos. 3.2.3 Resultados e Discussão A lesão observada na linha de inspeção é o cisto hidático, que pode variar de tamanho e quantidade em um mesmo órgão. Em bovinos, os cistos costumam atingir 5-10 cm e são preenchidos por um líquido transparente quando viáveis. Ao longo do tempo, o cisto se degenera e se torna inviável, apresentando, nesses casos, uma massa caseosa e mineralizada em seu centro (BARROS, 2011; TESSELE; BRUM; BARROS, 2013). O cisto é composto por uma cápsula, que é formada por membrana externa e um epitélio germinativo interno, de onde se originam cápsulas prolígeras, com vários escólices. Essas cápsulas podem se soltar, liberando escólices no líquido do cisto, caracterizando a areia hidática (URQUHART et al., 2008). Quando analisados microscopicamente, os cistos constituem de uma cápsula espessa localizada externamente de tecido fibrovascular, infiltrada por células mononucleares e eosinófilos, e uma camada inflamatória com macrófagos epitelioides, células gigantes, células mononucleares e eosinófilos. Internamente, há uma membrana hialina acelular laminada e uma camada germinativa, de onde brotam as cápsulas prolígeras contendo escólices (TESSELE; BRUM; BARROS, 2013). Na tabela 5 está demonstrada a ocorrência dos cistos hidáticos durante os meses analisados, conforme sua localização, comparando-se com o total de animais abatidos no estabelecimento.

26 Tabela 5 Ocorrência de hidatidose nos diferentes órgãos durante os meses de janeiro a setembro de 2017. Coração Fígado Pulmão Rim Animais abatidos Janeiro 0 511 871 19 12577 Fevereiro 2 862 1005 87 13439 Março 1 1135 1380 57 15372 Abril 2 819 817 122 12519 Maio 5 942 1338 3 12658 Junho 2 753 785 3 9110 Julho 1 340 314 8 8827 Agosto 0 676 672 90 14995 Setembro 1 446 344 33 12902 Total 14 6484 7526 422 112399 Pode-se observar que o pulmão foi o órgão mais afetado nos bovinos abatidos nesse estabelecimento. Do total de animais abatidos, 6,69% apresentaram algum cisto hidático nessa víscera, totalizando 7.526. A localização mais comumente encontrada está de acordo com os resultados de Bekele e Butako (2011) e Balbinotti et al. (2012), que também indicaram o pulmão como o órgão mais acometido. Entretanto, segundo Barros (2011), o fígado costuma apresentar 90% dos cistos hidáticos em bovinos. Apesar do maior número aqui apresentado, a hidatidose representa um pequeno percentual em relação às condenações do pulmão, aparecendo normalmente atrás do enfisema, aspiração de sangue e aspiração ruminal nas principais causas de condenações desse órgão (DANTAS et al., 2015; NASCIMENTO et al., 2015). Mesmo assim, pode ser considerada a patologia mais importante, pois as outras causas são geradas por tecnopatias, podendo ocorrer em virtude da má insensibilização, que leva à respiração agônica do animal (LIMA et al., 2007). O segundo órgão mais acometido foi o fígado, com 6.484 condenações durante o período avaliado. Esse número corresponde a 5,76% do total de animais abatidos. É importante levar em consideração, porém, que esse número pode não

27 representar a real ocorrência, pois no quadro marcador e posterior registro no SIGSIF, somente uma causa de condenação pode ser indicada. Neste sentido, o fígado, por ser o principal órgão de metabolização, normalmente é acometido por mais de uma patologia ao mesmo tempo. Para um maior controle das causas de condenações dessa víscera, uma adequação no sistema poderia ser realizada. O fígado foi o local de maior ocorrência de cistos hidáticos encontrados por Tessele, Brum e Barros (2013) e Duarte (2015). Em estudos sobre as causas de condenações da víscera, a hidatidose normalmente figura entre as principais, embora em nenhum caso leve ao maior número de condenações (MAHL et al., 2016; ZIEGLER et al., 2017). Apesar disso, pode ser considerada a causa de condenação mais relevante no que diz respeito aos riscos para a saúde pública (TORGERSON e BUDKE, 2003). Além dos órgãos de eleição do E. granulosus, em que a ocorrência já é esperada, foram encontrados cistos no rim e no coração, locais considerados incomuns. No rim, foram 422 cistos, representando 0,37% do número de animais abatidos. Já no coração, foram 14, apenas 0,012%. A pouca ocorrência nesses órgãos está de acordo com o citado por Balbinotti et al. (2012) e Tessele, Brum e Barros (2013). Ocasionalmente as oncosferas podem evadir-se para a circulação sistêmica, tornando o acometimento de outros órgãos algo comum em abatedouros (BARROS, 2011). Segundo o Art. 155 do RIISPOA (2017), as carcaças e os órgãos de animais que apresentem cisto hidático devem ser condenados quando houver caquexia. Nos órgãos em que lesões periféricas, calcificadas e circunscritas forem observadas, a liberação para o consumo pode ocorrer, depois de removidas e condenadas as áreas atingidas. No estabelecimento acompanhado, todos os órgãos acometidos pelos cistos eram condenados e destinados à graxaria, independentemente do tamanho e se estavam calcificados ou não. A condenação das vísceras pode representar uma grande perda econômica para os abatedouros, pois a comercialização agrega valor direto ao faturamento das empresas. Embora a hidatidose não seja a principal causa de condenação dos órgãos, pode gerar prejuízos (FRUET et al., 2013). Um estudo realizado por Duarte (2015), no qual foi avaliada a ocorrência de hidatidose em três abatedouros do município de Farroupilha/RS, encontrou um total de 2.108 vísceras condenadas por apresentarem a doença. A perda econômica

28 anual estipulada para as condenações foi de R$ 20.306,89, sendo o fígado o responsável pelo maior prejuízo, representando quase 100% do valor. Ainda, Fruet et al. (2013), ao avaliarem as perdas econômicas geradas por condenações de vísceras bovinas em abatedouros na cidade de Santa Maria/RS durante um ano, indicaram que o fígado foi o responsável por 87,44% do prejuízo final de R$ 58.260,38. Aplicando os mesmos valores considerados pelos autores, chegamos a uma perda estimada de R$ 99.983,28 pelas condenações de fígado por hidatidose nesse estabelecimento durante os meses de janeiro a setembro de 2017. Neste sentido comercial, os abatedouros pagam ao produtor somente o valor referente ao peso da carcaça dos animais, o que significa que as vísceras não estão incluídas, gerando um lucro direto ao estabelecimento. Por isso, os produtores não apresentam interesse em controlar a doença, o que mantém seus índices elevados (DE LA RUE, 2008). Apesar das perdas econômicas, o aspecto mais importante que deve ser relacionado à hidatidose é o seu aspecto zoonótico e sua significância para a saúde pública. Não há dados atuais sobre a prevalência da doença em humanos, porém sabe-se que o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior ocorrência da doença. Em um levantamento realizado em 1999 com habitantes de áreas rurais em regiões consideradas endêmicas do estado, a prevalência variou de 8,82 a 89,44% de humanos infectados nas diferentes cidades (DE LA RUE, 2008). Sua ocorrência total durante o período avaliado, considerando o somatório de órgãos afetados, foi de 14.446, o que representa 12,85% do total de animais abatidos, um valor semelhante aos encontrados em estudos no Rio Grande do Sul. Ainda, dados da Defesa Sanitária Animal do estado indicam que no período de 2005-2010 a prevalência da hidatidose em bovinos foi de 10%. No ano de 2011, o levantamento feito pela Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (CISPOA) do estado mostrou que 18% dos animais analisados apresentavam a doença (BALBINOTTI et al. 2012). Informações semelhantes são encontradas em estudo publicado por Bica, Brum e Copetti (2014), que relataram que de um total de 390.341 de animais abatidos sob inspeção estadual, de responsabilidade da CISPOA, no estado do Rio Grande do Sul em 2013, a hidatidose teve uma ocorrência de 8,64%. Noutro estudo, de 4.935.447 bovinos abatidos e inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal do

29 RS nos anos de 2005-2010 em 24 frigoríficos avaliados por Mazzutti, Cereser e Cereser (2011), a hidatidose teve uma prevalência de 10,28%. Ao se comparar os resultados atuais com dados registrados em 1940-1955 e, mais tardiamente, em 1996-2004 pelo serviço oficial, pode-se observar que não está havendo grandes avanços. De 1940 a 1955, a hidatidose apresentava uma ocorrência de 31,36% nos bovinos abatidos (JUNIOR, 2014). Em 1996-2004, a prevalência da doença variou de 16 a 12% (DE LA RUE, 2008). Embora o valor esteja mais baixo, ainda apresenta índices significantes quando comparado a outras regiões, sugerindo que o controle não está sendo eficiente. Além disso, a prevalência tem aumentado nos ovinos. Em 1992 os índices eram de 6,48%, enquanto em 2004, se encontrava em 17,09% (DE LA RUE, 2008). Esse aumento, aliado ao grande rebanho ovino do estado, pode ser uma das explicações para a alta incidência da zoonose no Rio Grande do Sul. Por ter um valor comercial inferior ao dos bovinos, a espécie é comumente abatida em casa, o que facilita a alimentação dos cães com as vísceras infectadas, e na sequência infectando as pastagens dos bovinos (SCALA; VARCASIA; GARIPPA, 2004). O controle da hidatidose envolve uma série de fatores. É de extrema importância a rotina de tratar os cães com anti-helmínticos e controlar a população de cães de rua. Os procedimentos sanitários durante o abate devem ser realizados, bem como o destino adequado de suas vísceras. Além disso, a população deve ser educada e alertada a respeito dos riscos que determinados hábitos podem trazer a sua saúde (MONTEIRO et al., 2016; TORGERSON e BUDKE, 2003) Nesse sentido, a ação conjunta entre profissionais da saúde humana e médicos veterinários parece ser a forma mais adequada para agir contra essa zoonose. Deve-se buscar experiências em países que tem o seu controle mais avançado. Destaca-se que a erradicação é difícil, porém a hidatidose é um problema de saúde pública que deve ser encarada com mais seriedade pelos órgãos competentes, a fim de diminuir os riscos à saúde e perdas econômicas geradas pelas condenações em abatedouros (BARZONI; MATTOS; MARQUES, 2013). 3.2.4 Conclusão A hidatidose é uma importante zoonose que apresenta grande ocorrência no estado do Rio Grande do Sul. Os órgãos de eleição do Echinococcus granulosus

30 são o fígado e o pulmão, porém pode acometer outros locais. As condenações decorrentes dessa patologia representam significantes perdas econômicas. Ainda, uma maior atenção deve ser dada aos hábitos e medidas necessárias para o controle e erradicação da doença. Palavras-chave: Echinococcus granulosus. Zoonose. Inspeção. Referências Bibliográficas BALBINOTTI, H. et al. Echinococcus ortleppi (G5) and Echinococcus granulosus sensu stricto (G1) loads in cattle from Southern Brazil. Veterinary Parasitology, v. 188, p. 255 260, 2012. BARROS, C. S. L. Fígado, vias biliares e pâncreas exócrino. In: SANTOS, R. L.; ALESSI, A. C. (Eds). Patologia Veterinária. São Paulo: Roca, 2011. BARZONI, C. S.; MATTOS, M. J. T.; MARQUES, S. M. T. Prevalência de hidatidose bovina na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil (1999-2007). Revista da FZVA, v. 19, n. 1, p. 79-87, 2013. BEKELE, J.; BUTAKO, B. Occurrence and financial loss assessment of cystic echinococcosis (hydatidosis) in cattle slaughtered at Wolayita Sodo municipal abattoir, Southern Ethiopia. Tropical Animal Health and Production, v. 43, p. 221-228, 2011. BICA, R. F.; BRUM, M. C. S.; COPETTI, M. V. Ocorrência de cisticercose, tuberculose e hidatidose em bovinos abatidos sob inspeção estadual no Rio Grande do Sul, Brasil, em 2013. In: 12º Congresso Latinoamericano de Microbiologia e Higiene de Alimentos, 2014. Anais... São Paulo: Editora Blucher, 2014. BOWMAN, D. D. Parasitologia Veterinária de Georgis. 9. ed. São Paulo: Manole, 2010. BRASIL. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), 108f. Decreto n. 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei n. 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Diário Oficial da União, Brasília, 30 mar. 2017, Seção 1, p. 3-27. CHIATTONI, M. K. S. et al. Cisto hidático intramuscular: relato de caso. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 4, p. 527-529, 2003. CULLEN, J. M. Fígado, Sistema Biliar e Pâncreas Exócrino. In: McGAVIN, M. D.; ZACHARY, J. F. Bases da Patologia em Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.