193 INDUÇÃO AO ESTIOLAMENTO IN VITRO DE BROTOS DE ABACAXI cv. PÉROLA RESUMO MARIA APARECIDA MOREIRA (*) ALEXANDRE DOS ANJOS SOBRINHO (**) MOACIR PASQUAL (***) Esse trabalho teve como objetivo promover o estiolamento in vitro de brotos de abacaxi cv. Pérola para posterior recuperação desses brotos. Os talos utilizados como explante foram obtidos de brotos que já se encontravam estabelecidos in vitro, dos quais foram retiradas as folhas. Foi utilizado o meio MS suplementado com 0,1 mg L -1 de ANA e 0,5 mg L -1 de BAP, meio MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP e MS sem reguladores de crescimento. O estiolamento foi induzido colocando os explantes em tubos de ensaio de 150x5mm, contendo os referidos meios de cultura, na ausência de luz, por 0, 40 e 80 dias. Após esse tempo, os brotos estiolados foram retirados dos tubos para avaliações do comprimento e número de brotações estioladas. Para a variável número de brotos o melhor meio foi o MS + 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP, onde se obteve uma média de 10,78 brotações aos 49,3 dias na ausência de luz. Porém, essas brotações tiveram um comprimento menor que 1,0cm. Para a variável comprimento de brotos estiolados o meio MS sem reguladores de crescimento foi significativamente melhor quando os explantes foram mantidos por 80 dias no escuro apresentando um comprimento médio de 10,86cm. DESCRITORES: cultura de tecidos, reguladores de crescimento, abacaxi. SUMMARY INDUCIOM IN VITRO ETIOLATION OF SHOOTS OF PINEAPPLE CULTIVAR PEROLA This work was designed to promote the in vitro etiolation of shoots of pineapple cultivar Perola for further recovery of those shoots. The stems utilized as explants were obtained from shoots which were already established in vitro, from which leaves were removed. The MS medium supplemented with 0.1 mg L -1 of ANA and 0.5 mg L -1 of BAP, MS medium supplemented with 1.8 mg L -1 of ANA and.0 mg L -1 of BAP and MS without growth regulators. Etiolation was induced by putting the explants into test tubes of 150 x 5 mm, containing the referred culture media in the dark for 0, 40 and 80 days. After that time, the etiolated shoots were removed from the tubes for evaluations of the length and number of etiolated shoots. For the varying number of shoots, the best medium was that of MS + 1.8 mg L -1 of ANA and.0 mg L -1 of BAP, where a mean of 10.78 shoots at 49.3 days in the dark was obtained but those shoots presented a length less than 1.0 cm. For the variable length of etiolated shoots, the MS medium without growth regulators was significantly better when the explants were kept for 80 days in the dark presenting an average length of 10.86 cm. KEY WORDS: tissue culture, growth regulators, pineapple. 1.INTRODUÇÃO O abacaxi é propagado vegetativamente através de mudas denominadas coroa, filhote ou mudas do cacho, filhote-rebentão e rebentão. Outro método de obtenção de mudas é através da produção de plântulas a partir da brotação de gemas contidas nos pedaços de talo ou haste da planta mãe (Silva e Sanábio, 1996). Esses tipos de propágulos podem ocasionar problemas como: 1) cada propágulo requer um tempo para florescimento criando dificuldades na hora da colheita se plantas vierem de diferentes tipos de propágulos; ) a propagação por coroas, filhotes ou rebentões é um processo lento e, além disso, coroas são vendidas com o fruto, o que inviabiliza o seu uso; 3) plantar material para produzir propágulos também pode se tornar inviável, pois, por exemplo, o * Professora UNIFENAS - C.P. 3 Alfenas - MG. CEP: 37130.000 **Eng. Agr. - C.P. 37 Lavras - MG. CEP: 3700.000 ***Professor UFLA C.P. 37 Lavras MG. CEP: 3700.000. Smooth Cayenne produz poucos filhotes (Py et al., 1984). Há que se considerar que esse processo requer intensa utilização de mão de obra, dispende muito tempo, produz um pequeno número de mudas e gera materiais de qualidade sanitária duvidosa (Fauth, 1994). Um sistema eficiente de propagação in vitro pode permitir um aumento rápido de material para propagação. Além disso, variações que podem ocorrer na cultura de tecidos podem ser utilizadas como fonte de variabilidade genética para criar variedades, visto que a maioria das variedades de abacaxi são mutantes que foram selecionadas e propagadas. Muitas pesquisas de abacaxi têm enfocado a micropropagação, como a regeneração de plantas através de brotos apicais cultivados em meio sólido (Sita et al. 1974), produção de vários brotos através
194 M. A. MOREIRA; A. dos A. SOBRINHO e M. PASQUAL de gemas (Mapes, 1973 citado por Moore et al., 199) e vários outros sendo que resultados similares foram conseguidos (Teo, 1974; Pannetier e Lanaud, 1976). A metodologia para a micropropagação do abacaxi consiste, basicamente, em desfolhar as mudas e dos talos obtidos são retiradas as gemas, em ambiente asséptico, para obtenção das brotações. Em quase todos os trabalhos o meio MS (Murashige e Skoog, 196) tem sido utilizado suplementado com combinações de auxina e citocinina (Moore et al., 199). Alguns dados de número de mudas produzidas através da micropropagação já foram fornecidos (Drew, 1980; Zepeda e Sagawa, 1981), mas um ponto ainda a ser considerado é com relação ao tempo de estabelecimento e proliferação das culturas que é ainda considerado longo. Nesse sentido, Kiss et al., (1995), propuseram um novo método de propagação rápida do abacaxi, baseado no alongamento de brotos induzidos in vitro : brotos de Smooth Cayenne produzidos in vitro foram colocados em meio MS adicionado de ANA (10µm) e mantidos a 8 C no escuro por 30 a 40 dias, depois de retiradas todas as folhas. Esse processo promoveu o estiolamento dos brotos e indução de novas gemas. Depois de estiolados os brotos foram colocados em placas de Petri, no sentido horizontal, contendo o meio de cultura N6 suplementado pelos reguladores de crescimento cinetina (5µm) ou BA(0µm), conseguindo dessa maneira uma taxa de regeneração de 13 a 15 plantas por nó, aumentando a taxa de multiplicação in vitro. Com esse mesmo objetivo, Moreira et al. (1997), usando brotos cortados sem folhas, de plantas já estabelecidas in vitro da cv. Primavera conseguiram um maior estiolamento (10,6cm) dos brotos aos 45 dias de incubação no escuro. O objetivo geral desse trabalho é a obtenção de mudas micropropagadas de abacaxi cv. Pérola com objetivo específico de aumentar a taxa de multiplicação in vitro através do estiolamento das brotações para posterior recuperação dos brotos estiolados..material E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos do Departamento de Agricultura da Universidade Federal de Lavras (UFLA), utilizando metodologia padrão para cultura de tecidos. Brotações de abacaxi cv. Pérola estabelecidas in vitro foram selecionadas e colocadas em meio MS antes de serem submetidas aos tratamentos. Essa seleção foi feita de acordo com o tamanho de maneira, que depois de retiradas as folhas, permitissem a obtenção de talos de ±1,0cm de comprimento. Em condições assépticas, foram retiradas as folhas e raízes dos brotos e foram colocados em tubos de ensaio de 150mmx5mm contendo meio solidificado com 6,0g L -1 de ágar e ph ajustado para 5,8. Foi utilizado o meio MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP(1); e MS com 0,1 mg L -1 de ANA e 0,5 mg L -1 de BAP() e o meio MS (3). O estiolamento foi induzido colocando os talos nos tubos contendo os referidos meios, no escuro por 0, 40, 80 dias, totalizando 9 tratamentos. O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado com 5 repetições e 3 brotos /repetição. Os tubos foram levados para sala de crescimento envoltos em papel alumínio para indução do estiolamento. Ao término de cada tempo, os brotos foram retirados dos tubos para avaliações do tamanho e número dos brotos estiolados. Feita a avaliação, os brotos estiolados foram colocados horizontalmente em placas de Petri contendo meio MS e reguladores de crescimento para posterior avaliação das brotações nos nós. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, ao teste de Tukey e a naálise de correlação e regressão, de acordo com Banzato e Kronka (199). 3.RESULTADOS E DISCUSSÕES Para as duas variáveis analisadas a interação entre o tipo de meio e o tempo no escuro foi significativa. A perda de explantes (8,15%) foi devida a contaminações por fungo e estiolamento das folhas. É importante observar essa perda, porque para que se obtenha um melhor resultado de estiolamento dos brotos, as folhas devem ser arrancadas uma a uma e não cortadas, pois caso contrário haverá estiolamento dos resíduos de folhas, prejudicando o estiolamento dos talos. Para a variável número de brotos os três tipos de meios utilizados tiveram comportamento semelhante aos 0 dias no escuro. O meio MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP (1) foi superior para essa variável onde se obteve 10,6 brotações e o meio MS suplementado com 0,1 mg L -1 de ANA e 0,5 mg L -1 de BAP foi superior com 8,19 brotações (Tabela 1). Observouse, que esses dois tipos de meio de cultura proporcionaram brotações menores que 1,0cm de comprimento que podem ser recuperadas em tubos de ensaio contendo meio MS com ou sem reguladores de R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:193-1197, 1999
INDUÇÃO AO ESTIOLAMENTO IN VITRO DE BROTOS DE ABACAXI cv. PÉROLA. 195 crescimento em sala de crescimento a 5 C e fotoperíodo de 16 horas de luz. Outra observação feita foi quanto a presença de calos, com expressiva presença nos talos cultivados em meio MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP. O meio MS sem reguladores de crescimento foi inferior, obtendo-se máximo de,49 brotações (Tabela 1). Quando se utiliza o meio MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP o número médio máximo de brotações (10,78) foi conseguido aos 49,3 dias e para o meio MS suplementado com 0,1 mg L -1 de ANA e 0,5 mg L -1 de BAP o número médio máximo de brotos (8,49) foi obtido aos 69,4 dias no escuro (Figura 1). Para a variável comprimento de brotos estiolados o meio MS sem fitoreguladores foi significativamente melhor (Tabela ). Os explantes quando mantidos por 80 dias no escuro apresentaram um comprimento médio de 10,86cm (Figura ). Quando mantidos durante 0 dias no escuro os três meios tiveram estatisticamente o mesmo comportamento. A Figura 3 mostra brotações estioladas em meio MS aos 80 dias. Essa variável é importante, pois está diretamente relacionada com o número de nós que serão recuperados em novas brotações, quando colocados em condições de luz em fotoperíodo de 16 horas de luz e 8h de escuro. Para que isso ocorra, os brotos estiolados foram colocados horizontalmente em placas de Petri contendo meio de cultura e foram mantidos em sala de crescimento (Figura 4). Para a cv. Perola esse tempo de estiolamento foi maior em relação a cvs. Primavera (Moreira, et al., 1997) e Smooth Cayenne (Kiss et al., 1995). 4.CONCLUSÕES - O meio de cultura MS suplementado com 1,8 mg L -1 de ANA e,0 mg L -1 de BAP proporcionou uma taxa de multiplicação de 10,97 brotações/ explante aos 49,6 dias na ausência de luz. - O meio de cultura MS suplementado com 0,5 mg L -1 de BAP e 0,1 mg L -1 de ANA proporcionou uma taxa de multiplicação de 8,8 brotações aos 70 dias na ausência de luz. - Para a variável comprimento de brotos estiolados o melhor meio foi o MS sem reguladores de crescimento quando os explantes ficaram por 80 dias no escuro. Tabela 1. Número médio de brotos estiolados de abacaxi cv. Pérola submetidos a condições de ausência de luz. Meio de cultura Tempo(dias) 1 3 0 4,39 a,36 a,49 a 40 10,6 a 6,33 b,9 c 80 3,96 b 8,19 a 1,6 c Médias seguidas por letras distintas, na horizontal, diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05). Tabela. Comprimento médio de brotos estiolados de abacaxi cv. Pérola submetidos a condições de ausência de luz. Meio de cultura Tempo 1 3 0 0,30 a 0,65 a 1,01 a 40 0,5 b 0,7 b,60 a 80 0,84 b 1,36 b 10,86 a Médias seguidas por letras distintas, na horizontal, diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey (p<0,05). N o de brotos Comprimento de brotos estiolados (cm) 1 10 8 6 4 0 1 10 8 6 4 Meio 1 y = -7,48800 + 0,74455x - 0,0075x r = 1,00 Meio y = -3,63333 + 0,35040x - 0,0053x r = 1,00 0 0 40 60 80 100 Tempo (dias) Figura 1. Número médio de brotações estioladas de abacaxi cv. Pérola em diferentes meios de cultura em função da ausência de luz. UFLA, Lavras - MG, 1998. y = 1,10983-0,04690x+0,0011x r = 1,00 0 0 0 40 60 80 100 Tempo (dias) Figura. Comprimento médio de brotos estiolados de abacaxi cv. Pérola em meio MS em função na ausência de luz. UFLA, Lavras - MG, 1998.
196 M. A. MOREIRA; A. dos A. SOBRINHO e M. PASQUAL Figura 3. Brotações estioladas in vitro de abacaxi cv. Pérola em meio MS sem reguladores de crescimento. Figura 4. Recuperação das brotações estioladas de abacaxi cv. Pérola. R. Un. Alfenas, Alfenas, 5:193-1197, 1999
INDUÇÃO AO ESTIOLAMENTO IN VITRO DE BROTOS DE ABACAXI cv. PÉROLA. 197 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANZATO, D. A. E KRONKAS, S. do N. Experimentação agricola. Jaboticabal. UNESP, 1985. 47p. DREW, R. A. Pineapple tissue culture unequalled for rapid multiplication. Queesland Agricultural Journal, Quesland (Australia), v.106, n. 5, p.447-451, sept.-oct. 1980. FAUTH, A.; TOFOL, M.; SILVA, A. L. e MARASCHIN, M. Aclimatação de mudas de abacaxi (Ananas comosus (L.) Merril) resistentes à fusariose, cultivados in vitro. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.16, n., p. 7-1, set.1994. SILVA, C. R. DE R. e e SANÁBIO, D. Cultura do abacaxizeiro. Informações básicas. Lavras, UFLA/PROEX, 53p. 1996 (Boletim Técnico, 09). SITA L. G.; SINGH, R. & IYER, C. P. A. Plantlets through shoot-tip culture in pineapple. Current Science, Bombay, v.43, n., p.74-75, nov. 1974. TEO, C. Clonal propagation of pineapple (Ananas comosus) by tissue culture. Planter, 50:58-59, 1974. ZEPEDA, C. & SAGAWA, Y. In vitro propagation of pineapple. HortSciense, v.16, n.4, p.495, aug.1981. KISS, E.; KISS, J.; GYULAI, G. e HESZKY, L. E. A novel method for rapid micropropagation of pineapple. HortScience, Alexandria, v.30, n.1, p.17-19,1995. MOORE, G. A.; DeWALD, M. G. e EVANS, M. H. Micropropagation of pineapple (Ananas comosus L.). In: BAJAJ, Y. P. S. (ed.). Biotecnology in Agriculture and Forestry 18; High-Tech and micropropagation II. New York: Springer-Verlag, p.461-470, 199. MOREIRA, M. A.; ANJOS SOBRINHO, A. dos.; SILVA, A. B. da. e PASQUAL, M. Indução ao estiolamento in vitro de abacaxi cv. Primavera. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FISIOLO- GIA VEGETAL, 6, 1997, Belém. Resumos... Belém: Sociedade Brasileira de Fisiologia vegetal, p.415, 1997. MURASHIGE, T e SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and biossays with tabacco tissue culture. Physiology Plantarum, Copenhagen, v.15, n.3, p.473-497, 196. PANNETIER, C. e LANAUD, C. Divers aspects de l utilisation possible des cultures in vitro our la multiplication végétative de l Ananas comosus L. Merr, variété cayenne lisse. Fruits, Paris, v.31, n.1, p.739-750, dec. 1976. PY,C,; LACOUEUILLE, J. J. e TEISSON, C. L ananas, sa culture, ses produits. Maisonneuve et ACCT, Paris. 56p. 1984.