ANTECIPAÇÃO DE PLANTIO E IRRIGAÇÃO SUPLEMENTAR NA MAMONEIRA I Efeito nos componentes de produção Anielson dos Santos Souza e Francisco José Alves Fernandes Távora Universidade Federal do Ceará-UFC, anielsonsantos@gmail.com RESUMO: A antecipação do plantio da mamoneira através da irrigação favorece o número de racemos por planta e de frutos por racemo, que são importantes componentes da produção. Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da antecipação do plantio e da irrigação suplementar nos componentes de produção da mamoneira. O experimento foi conduzido na Fazenda Experimental do Vale do Curu, no município de Pentecoste - Ceará. O solo foi preparado e adubado convencionalmente. A semeadura da cultivar Nordestina foi feita no espaçamento 1,5m x 1,0m. O delineamento foi o de blocos ao acaso, com 8 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos foram compostos por 4 épocas de plantio e em cada uma delas instalaram-se dois tratamentos com diferentes manejos de irrigação. Pelos resultados, verificou-se que a antecipação do plantio favoreceu a produtividade de grãos por planta, haja vista, o maior número de racemos por planta, produzido quando o ciclo da mamoneira foi prolongado com a irrigação. O número de frutos por racemo foi pouco influenciado pela data de plantio e o número de frutos por categoria de racemo, variou muito entre as ordens. INTRODUÇÃO A mamoneira (Ricinus communis L.) é cultivada há séculos. Há cerca de 4 mil anos, os egípcios já utilizavam o óleo de suas sementes em lâmpadas para iluminação. É uma planta nativa da África tropical, possui crescimento peculiar com caule e ramificações laterais encerradas por um racemo que pode ter de 15 a 80 cápsulas. O óleo contido em suas sementes, cujo teor varia entre 35 e 55%, tem atualmente na produção de biodiesel, denominação genérica para combustíveis e aditivos derivados de fontes renováveis, sua aplicação mais importante. Vale ressaltar que de acordo com o Projeto de Lei 3.368 e a medida provisória 214, a partir de 2008 a Petrobrás deverá adicionar 2% de biodiesel ao diesel de petróleo e, a partir de 2013, 5% (OPLINGER et al., 1997; HOLANDA, 2006). Há grandes possibilidades desta cultura vir a se tornar a principal fonte de matéria-prima para suprir está demanda, especialmente no Nordeste. Entretanto, a produtividade da mamoneira no Nordeste brasileiro ainda é baixa, o que se deve, em parte, ao baixo nível tecnológico empregado por grande parte dos agricultores, que acreditam que a planta não necessita de muitos cuidados. Realmente, a cultura apresenta ampla capacidade de adaptação à seca sendo considerada xerófila, porém é sensível ao excesso de umidade por períodos prolongados, notadamente na fase inicial e na frutificação (AMORIM NETO et al., 2001; BELTRÃO et al., 2003); contudo, necessita de, no mínimo, 700mm de chuva bem distribuídos. A cultura que é muito exigente em umidade na fase inicial do crescimento, necessita de períodos secos na
maturação dos frutos (TÁVORA, 1982). Como na prática a cultura fica exposta às intempéries climáticas, a irrigação é uma medida importante para garantir o suprimento hídrico à cultura nos momentos de demanda. Alguns autores têm verificado que a irrigação é eficiente no aumento da produtividade, pelo efeito benéfico nos números de racemos por planta e de cápsulas por racemo e no peso de mil sementes (KOUTROUBAS et al., 1999). Para estes autores, em condições adequadas, a planta pode produzir muitos racemos, dependendo do número de ramificações laterais; já o número de frutos por racemo depende do número de flores femininas. Dessa forma, é possível que a antecipação do plantio da mamoneira através da irrigação prolongue o seu ciclo produtivo, favorecendo o número de racemos por planta e de frutos por racemo. Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da antecipação do plantio e da irrigação suplementar nos componentes de produção da mamoneira. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido entre dezembro de 2003 e dezembro de 2004, na Fazenda Experimental do Vale do Curu, pertencente à Universidade Federal do Ceará no município de Pentecoste-Ce, geograficamente situado nas coordenadas de 3º47 34 S e 39º16 13 W, a uma altitude média de 60 metros. O clima é, segundo a classificação de Köppen, do tipo Aw : tropical chuvoso (BRASIL, 1973). Durante o experimento foi registrada uma precipitação pluvial de 930,9 mm, concentrada entre os meses de janeiro e abril. O solo da área experimental foi classificado como NEOSSOLO FLÚVICO. Antes do plantio, foi coletada uma amostra de solo a profundidade de 0-30 cm para análise química, cujos resultados, utilizados para recomendação de adubação, encontram-se na Tabela 1. A adubação foi composta por 60 kg ha -1 de N, 30 kg ha -1 de P e 10 kg ha -1 de K, na forma de uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. O solo foi preparado com uma aração profunda e uma gradagem niveladora. A semeadura da cultivar Nordestina foi feita em covas abertas manualmente nas parcelas, utilizando-se o espaçamento de 1,5m x 1,0m; distribuíram-se três sementes por cova e o desbaste foi feito quando as plantas atingiram 20 cm de altura, deixando-se uma por cova. Quando necessário foram feitas capinas. O delineamento foi o de blocos ao acaso, com 8 tratamentos e 4 repetições, com parcelas de 10,0m x 6,0m. Os tratamentos foram compostos por 4 épocas de plantio eqüidistantes em 30 dias, o primeiro plantio foi feito em 05 de dezembro de 2003 e último em 05 de março de 2004. Em cada época instalaram-se dois tratamentos, ambos irrigados por microaspersão, até março de 2004; após o período chuvoso foi necessário irrigar apenas um. As plantas dos tratamentos implantados em março não foram
irrigadas no início do ciclo, uma vez que este mês foi considerado como época de plantio de sequeiro. Os tratamentos foram identificados utilizando-se as iniciais do mês correspondente à respectiva época de plantio e os números 1, quando houve irrigação no início do ciclo, e 2, no início e após a estação chuvosa. O tratamento Jan2, p.ex., indica que a cultura foi semeada em janeiro e irrigada no início do ciclo e ao término do período chuvoso. Coletaram-se dados de produtividade de grãos por planta, número de racemos por planta e número de frutos por ordem de racemo, que foram submetidos à análise da variância pelo teste F (p 5%); compararam-se as médias pelo teste de Tukey. RESULTADOS E DISCUSSÃO A produtividade por planta e o número de racemos por planta foram influenciados significativamente pelas épocas de plantio, havendo diferença estatística a 1% de probabilidade pelo teste F. O plantio em janeiro com irrigação suplementar ao final da estação chuvosa (Jan2) propiciou a maior produtividade de grãos, 637,75 g planta -1, e não diferiu estatisticamente apenas do plantio em janeiro sem irrigação ao término do período chuvoso (Jan1). Tais resultados indicam que a antecipação do plantio de março para janeiro, utilizando-se a irrigação suplementar, quando necessária, confere alta produtividade de grãos por planta, haja vista o menor rendimento ter sido obtido com a semeadura feita em março, em condições de sequeiro (Mar1), cujos valores foram inferiores à metade dos obtidos no tratamento Jan2 (Tab. 2). Não houve diferença estatística entre os plantios feitos em dezembro de 2003 e fevereiro e março de 2004. As maiores produções obtidas com a antecipação do plantio para janeiro, devem estar associadas ao prolongamento do ciclo da cultura, que estimulou o surgimento de racemos de até quarta ordem. Estes resultados corroboram com informações de Távora e Barbosa Filho (1994), que constataram que a antecipação do plantio de fevereiro para dezembro e a irrigação suplementar propiciaram aumentos significativos de produção, devido ao prolongamento do ciclo da cultura. Vijaya Kumar et al. (1997) verificaram que a antecipação do plantio da mamoneira é por vezes, impedida pela falta de umidade adequada no solo e que apenas em condições irrigadas tal prática é possível, sendo eficiente no aumento da produtividade. O maior número de racemos por planta foi verificado no plantio em janeiro com irrigação suplementar ao final da estação chuvosa (Jan2), cujo valor médio foi 18,74 racemos/planta, seguido dos plantios em janeiro sem irrigação suplementar (Jan1) e das semeaduras em dezembro de 2003 (Dez2 e Dez1) e fevereiro de 2004 (Fev2) que não diferiram estaticamente. O menor valor para número de racemos/planta (7,55) foi obtido no plantio de março sem irrigação (Mar1), que diferiu apenas daquele obtido no tratamento Jan2 (Tab. 2). Estes resultados corroboram com informações de Hikwa e Mugwira
(1997), que verificaram que a data de plantio afeta o número de racemos por planta. Kittock e Williams (1968) também encontraram redução no número de racemos com o retardamento do plantio. Como na mamoneira, o surgimento de cachos novos é paralisado com a seca, sua irrigação é de grande importância para o Nordeste brasileiro (BELTÃO et al., 2003), pois, a cultura encontra plenas condições para produzir mais racemos. De modo geral o número médio de racemos por planta obtido no presente estudo é superior aos apresentados para cultivar Nordestina que em condições de sequeiro, produz em média 5,2 racemos (EMBRAPA ALGODÃO, 2002). Em todos os tratamentos o número de racemos é considerado alto, segundo classificação proposta por Savy Filho et al (1999). O número médio de frutos foi analisado por tratamento x ordem do racemo e, pela análise da variância, constatou-se efeito significativo a 1% de probabilidade para esta interação. O maior número de frutos foi observado nos racemos primários que diferiu estatisticamente dos valores observados nos secundários e terciários (Tab. 2). É comum os racemos principais terem uma maior quantidade de frutos, que aqueles de ordens mais avançadas, os quais apesar de numerosos possuem menor número de cápsulas. O fato de a planta se encontrar com apenas um dreno forte e com grande área fotossinteticamente ativa na época da frutificação do racemo primário, pode contribuir para que este tenha um maior número de frutos. Dentro de cada tratamento a antecipação do plantio não promoveu diferenças significativas no número de frutos do racemo primário, que variou entre 40 e 53. Nos secundários, o plantio de fevereiro com irrigação suplementar ao final do período chuvoso (Fev2) não foi inferior estatisticamente apenas àqueles realizados em março. Já para os racemos terciários só se detectou diferença entre o plantio sem irrigação em março (Mar1) com média de 9 frutos por racemo e o com irrigação suplementar em janeiro (Jan2), cujos racemos produziram, em média, 15 frutos (Tab. 2). De modo geral, pode-se dizer que a antecipação do plantio pouco influenciou o número de frutos por racemo e que, apesar dessas constatações, existe uma lacuna na literatura sobre trabalhos que relacionem o número de frutos por racemo com a época de plantio, o que dificulta uma discussão aprofundada dos resultados. Com relação ao número de frutos por categoria de racemo, observou-se grande variabilidade entre as distintas ordens, trabalhos futuros devem investigar a participação de cada uma delas na produtividade total da mamoneira. CONCLUSÕES A antecipação do plantio favorece a produtividade de grãos por planta, haja vista o maior número de racemos emitidos por planta, quando o ciclo da mamoneira é prolongado com o auxílio da irrigação.
Trabalhos futuros devem investigar a viabilidade econômica da antecipação do plantio da mamoneira irrigada. A data de plantio tem pouca influência sobre o número de frutos por racemo. O número de frutos por categoria de racemo, varia muito entre as distintas ordens, portanto, a participação de cada uma delas na produtividade total da mamoneira deve ser motivo de investigações futuras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM NETO, M. da S.; ARAÚJO, E. de; BELTRÃO, N. E. de M. Clima e solo. In: AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. (eds. tec.). O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. cap. 5, p. 63-76. BELTRÃO, N. E. M. et al. Fisiologia da mamoneira, cultivar BRS-149 Nordestina na fase inicial de crescimento, submetida a estresse hídrico. Rev. bras. oleag. e fibros., Campina Grande: Embrapa Algodão, v. 7, n. 1, p. 659-664. jan-abr. de 2003. EMBRAPA ALGODÃO. BRS 149 Nordestina. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2002. 1 folder. HIKWA, D.; MUGWIRA, L. M. Response of castor cultivar Hake to rate and method of nitrogen fertilizer application in different environments of Zimbabwe. African Crop Sci. Journal, v. 5, n. 2, p. 175-188, mar. 1997. Disponível em: <http://biolineinternational>. Acesso em: 25 de jan. 2006. HOLANDA, A. Biodiesel: combustível para cidadania. Brasília: Plenarium, 2006. 30p. KITTOCK, D. L.; WILLIAMS, J. H. Influence of planting date on certain morphological characteristics of castor beans. Agro. Journal, v. 60, p. 401-403, jul-aug. de 1968. KOUTROUBAS, S. D.; PAPAKOSTA, D. K.; DOITSINIS, A. Adaptation and yilding ability of castor plant (Ricinus communis L.) genotypes in a Mediterranean climate. European journal of agronomy, v. 11, p. 227-237, 1999. Disponível em: <http://www.elsevier.com/locate/eja>. Acesso em: 21 de jan. 2006. OPLINGER, E. S. et al. Ricinus communis L. Field crops manual, Purdue, 1997. Disponível em: <http://www.hort.purdue.edu/newcrop/afcm/castor.html>. Acesso em: 12 de mar. 2006. SAVI FILHO, A et al. Descritores mínimos para o registro institucional de cultivares: mamona. Campinas: IAC, 1999. 7p. (Documentos IAC, 61) TÁVORA, F. J. A. F.; BARBOSA FILHO, M. Antecipação de plantio, com irrigação suplementar, no crescimento e produção da mandioca. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 29, n. 12, p.1915-1926, dez. 1994. TÁVORA, F. J. A. F. A cultura da mamona. Fortaleza: EPACE, 1982. 111p.
VIJAYA KUMAR, P. et al. Influence of moisture, thermal and photoperiodic regimes on the productivity of castor beans (Ricinus communis L.). Agricultural and Forest Meteorology, Hyderabad, v. 88, p. 279-289, 1997. Disponível em: <http://www.scirus.com>. Acesso em: 23 de abr. 2006. Tabela 1. Características químicas do solo antes do plantio*. P Na + K + Al +3 Ca +2 Mg +2 M.O. Profundidade (cm) ph (H 2 O) ------(mg dm -3 )------ -------(cmol c dm -3 )------ ---g dm -3 --- 0-30 7,2 115 32 250 0,0 4,2 4,0 18,41 * Análises realizadas no Laboratório de Química e Fertilidade do Solo, do Departamento de Ciências do Solo. CCA/UFC. Tabela 2. Produtividade de grãos por planta (g), número de racemos por planta, e número médio de frutos por ordem de racemo, da cultivar Nordestina. Pentecoste - Ce, 2004. Produtividade por N de racemos por N médio de frutos Tratamentos -----------------Ordem do racemo------------ planta (g) planta 1 a 2 a 3 a Dez1 389,77 BC 11,46 AB 48 Aa 25 Ab 13 ABc Dez2 395,05 BC 13,95 AB 48 Aa 27 Ab 12 ABc Jan1 506,56 AB 14,24 AB 53 Aa 23 Ab 11 ABc Jan2 637,75 A 18,74 A 48 Aa 27 Ab 15 Ac Fev1 343,46 BC 10,12 B 49 Aa 23 Ab 10 ABc Fev2 379.32 BC 12,00 AB 47 Aa 14 Bb 14 ABb Mar1 266,04 C 7,55 B 41 Aa 18 ABb 9 Bc Mar2 329,94 BC 9,74 B 40 Aa 20 ABb 12 ABc Médias seguidas de letras iguais, maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas dentro de cada característica, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.