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Transcrição:

Artigos técnicos Contribuições para o aprimoramento do método simplificado de avaliação do desempenho térmico de coberturas previsto na norma NBR Contributions for the improvement of the simplified method for evaluating the thermal performance of roofs provided by standard NBR :20 Adriana Camargo de Brito a *, Henrique Lima Pires b, Maria Akutsu a a Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade dos Edifícios, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A., São PauloSP, Brasil. b Fundação de Apoio ao IPT, São PauloSP, Brasil. *Email: adrianab@ipt.br Palavraschave: NBR ; desempenho térmico; ventilação; material isolante. Keywords: NBR ; thermal performance; ventilation; insulation material. Resumo Este trabalho tem como objetivo subsidiar o aprimoramento da norma NBR :20 no quesito referente à avaliação do desempenho térmico de edificações pelo método simplificado, para o componente Coberturas. No Anexo I da parte da referida norma, há uma observação quanto a esse método, no rodapé da tabela I.4, informando que, para a Zona Bioclimática 8, coberturas de telha cerâmica, mesmo sem forro, atenderiam o nível Mínimo de desempenho. Neste sentido, existem trabalhos publicados que demonstram exatamente o oposto. Para elucidar essa questão, foram realizadas avaliações do desempenho térmico por meio do método de simulações computacionais, considerandose uma habitação localizada na Zona Bioclimática 8, com vários tipos de coberturas e diferentes condições de ventilação em um dia típico de verão. Os resultados obtidos indicam que, em edificações com cobertura sem material isolante térmico, um aumento da ventilação do ático não é suficiente para melhorar o desempenho térmico da habitação, por não afetar as trocas térmicas que ocorrem por radiação. Somente com o uso de materiais isolantes térmicos há uma melhora significativa no desempenho térmico da habitação. Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208 6

Abstract The objective of this paper is to support the improvement of the standard NBR :20 regarding the assessment of thermal performance of roofs through the simplified method. In Annex I of part of this standard, there is an observation regarding this method, in the foot note of table I.4, stating that, for Bioclimatic Zone 8, ceramic roof tiles, even without a ceiling, would achieve the Minimum performance. In this sense, there are works that demonstrate exactly an opposite conclusion. In order to elucidate this issue, thermal simulations of housing located in Bioclimatic Zone 8, with several types of roofing and different ventilation conditions on a typical summer day, were performed. The obtained results indicate that, for roofs without thermal insulation, just an increase in attic ventilation is not enough to improve the thermal performance of the dwelling, since it does not affect the heat exchange which occurs by radiation. Only with the use of thermalinsulation materials, a significant improvement in the thermal performance of the housing is achieved. Introdução A norma NBR :20 apresenta requisitos e critérios para avaliação do desempenho de edificações habitacionais, visando garantir condições de habitabilidade. Para a avaliação do desempenho térmico, a norma dispõe de três métodos de avaliação: simplificado, simulação e medição. O método simplificado estabelece, para coberturas, um valor limite máximo para a transmitância térmica, em função da Zona Bioclimática, da cor da superfície externa (absortância à radiação solar) e para as Zonas e 8 é considerado também um fator de ventilação. No Anexo I da parte da referida norma, há uma observação quanto a esse método, no rodapé da Tabela I.4, informando que, para a Zona Bioclimática 8, coberturas de telha cerâmica, mesmo sem forro, atenderiam ao nível mínimo. Todavia, vários autores demonstram que isso pode não ocorrer em edificações reais. Brito e Akutsu (20) apontam a importância da isolação térmica da cobertura de habitações no atendimento ao nível de desempenho térmico mínimo que, geralmente, não ocorre sem a presença de laje ou forro, especialmente, em função da cor utilizada na face externa da cobertura e de elementos isolantes. Ferreira, Souza e Assis (20) apontam a necessidade de se utilizar coberturas isolantes, ao invés de somente refletoras, em edificações na Zona Bioclimática 8, o que requer que haja forro ou barreiras radiantes nesse componente. Os objetivos deste trabalho foram: a) identificar o efeito do uso de forros, com e sem materiais isolantes térmicos, na cobertura de habitação e da taxa de ventilação do ático no desempenho térmico da edificação; b) apontar fatores a serem aprimorados no método simplificado de avaliação do desempenho térmico de habitações quanto à cobertura. Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208

2 Procedimento metodológico Foram realizadas simulações computacionais da resposta térmica de uma habitação térrea (Figura ), com paredes de 0 cm de concreto comum e telhado em telhas cerâmicas, sem forro e com forro em drywall. A habitação foi simulada sem fontes internas de calor, com janelas de dormitórios e sala voltadas para a direção oeste, com ventilação a uma taxa de uma renovação do volume de ar do ambiente por hora ( Ren/h). Foram consideradas várias situações de isolação térmica e de condições de ventilação da cobertura, conforme disposto nas tabelas e. A habitação foi exposta às condições climáticas de um dia típico de verão da cidade de Manaus AM (Zona Bioclimática 8), como descrito na Tabela 2. Foram analisados os dados obtidos para o ambiente do ático e do Dormitório, indicados nos gráficos como D. Esse recinto (D) foi selecionado para ilustrar os resultados por apresentar valores mais críticos em comparação com os outros ambientes da habitação. Foram verificadas situações nas quais o recinto atende ao nível mínimo de desempenho térmico, segundo a norma NBR (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 20), ou seja, quando a temperatura máxima do ar interior é menor ou igual à temperatura máxima do ar exterior. Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208 8

Figura Projeto da habitação (unidade em m) Casa térrea isolada 2 dormitórios 2,90,00,00 A A 0,60,00 4,9,09 Planta Dormitório,00 Sala / cozinha Dormitório 2 2,00 Sanit. 0,60 0,60,00 2,0,00 Dormitório 2 Sala / cozinha,00 Corte A Fonte: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (99) 9 Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208

Tabela Condições de isolação térmica e de taxas de ventilação da cobertura Item 2 4 6 Componente Sem forro Forro de drywall com,2 cm de espessura Lã de rocha sobre o forro (cm) 2, 0 Taxa de renovação do ar na cobertura (Ren/h) 0 Fonte: elaborado pelos autores Tabela 2 Dados climáticos de um dia típico de verão da cidade de Manaus Dia do ano Temperatura do solo ( o C) Temperatura Máxima de Bulbo Seco ( o C) Amplitude diária da temperatura do ar ( o C) Temperatura de Bulbo Úmido ( o C) Radiação solar global incidente no plano horizontal (kw/m²) /set 26, 4,9 9, 26,4,8 Fonte: elaborado pelos autores Tabela Características dos materiais Material Condutividade térmica (W/m. K) Massa específica (kg/m³) Calor específico (kj/m. K) Absortância da superfície externa Concreto, 2400 000 0, Cerâmica 0,8 800 840 0, Drywall 0, 20 840 Lã de rocha 0,0 00 0 Fonte: norma NBR 220 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2008) Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208 0

Resultados e discussão A Figura 2 apresenta os valores da temperatura horária do ar no interior do ambiente do ático e a Figura apresenta os mesmos parâmetros para o dormitório, incluindo a situação sem forro na cobertura. Figura 2 Temperatura do ar no ático para cobertura com forro em drywall: 2a) sem isolante e várias taxas de ventilação; 2b) sem ventilação ( Ren/h) com diferentes espessuras de isolante; 2c) comparação entre sem ventilação ( Ren/h) com isolante (2, cm) e sem isolante com ventilação de 0 Ren/h Temp. do ar no ático cob. vent. (2a) Temp. do ar no ático cob. isol. (2b) Temp. do ar no ático cob. vent. e com isol. (2c) Temperatura do ar ( o C) 0 4 40 0 2 0 4 40 0 2 0 4 40 0 2 20 9 9 2 2 20 9 9 2 2 20 9 9 2 2 Forro drywall Cob. Ren/h Forro drywall Isolante 2, cm Cob. Ren/h Forro drywall Isolante 2, cm Cob. Ren/h Forro drywall Cob. Ren/h Forro drywall Cob. 0 Ren/h Forro drywall Isolante cm Cob. Ren/h Forro drywall Isolante 0 cm Cob. Ren/h Forro drywall Cob. 0 Ren/h Fonte: elaborado pelos autores Verificouse que nas situações com forro de drywall e ático ventilado, a temperatura máxima do ar desse ambiente é, significativamente, menor com a taxa de ventilação de 0 Ren/h (4 o C), enquanto na situação com menor ventilação ( Ren/h), a temperatura máxima do ar é de 46, o C. Com o acréscimo de material isolante térmico sobre o forro e taxa de ventilação de Ren/h, o valor máximo da temperatura do ar no ático é da ordem de 0 o C, independente da espessura do material isolante (2, cm a 0 cm). Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208

Notase que, nas situações com material isolante térmico, o valor da temperatura máxima do ar no ático é significativamente maior em comparação com as situações com o ático ventilado, com uma diferença de 4 o C a o C, dependendo da taxa de ventilação considerada. Figura Temperatura do ar no dormitório, para cobertura com forro em drywall: a) sem isolante e várias taxas de ventilação da cobertura; b) sem ventilação da cobertura ( Ren/h) com diferentes espessuras de isolante; c) comparação entre sem ventilação ( Ren/h) com isolante (2, cm) e sem isolante com ventilação de 0 Ren/h Temperatura do ar ( o C) 29 2 2 Temp. do ar D cob. vent. (a) 9 9 2 2 29 2 2 Temp. do ar D cob. isol. (b) 9 9 2 2 29 2 2 Temp. do ar D cob. vent. e com isol. (c) 9 9 2 2 Sem forro Forro drywall Cob. Ren/h Forro drywall Cob. Ren/h Forro drywall Cob. 0 Ren/h Sem forro Forro drywall Isolante 2, cm Cob. Ren/h Forro drywall Isolante cm Cob. Ren/h Forro drywall Isolante 0 cm Cob. Ren/h Sem forro Forro drywall Isolante 2, cm Cob. Ren/h Forro drywall Cob. 0 Ren/h Fonte: elaborado pelos autores No dormitório, na condição sem forro, a temperatura máxima do ar interior é de 6, o C, enquanto que nas situações com forro de drywall e ventilação de até 0 Ren/h no ático, a temperatura máxima é da ordem de, o C. Em ambos os casos não é atendido o nível mínimo de desempenho térmico, conforme a norma NBR (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 20). Com o acréscimo de, pelo menos, 2, cm de material isolante térmico sobre o forro, a temperatura máxima do ar interior é da ordem de 4,6 o C, atendendo ao critério referente ao nível mínimo de desempenho térmico, além de proporcionar uma redução de 2 o C, em comparação com a temperatura máxima do ar interior no recinto sem forro. Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208 2

4 Conclusões De modo geral, notase que, embora no ático o efeito da ventilação da cobertura seja significativo para reduzir a temperatura máxima do ar nesse ambiente, não é suficiente para proporcionar desempenho térmico adequado à habitação, por não afetar as trocas térmicas decorrentes da radiação. Ventilar o ático pode ser uma opção adequada em comparação com uma situação sem forro. Porém, somente com o uso de elementos isolantes térmicos na cobertura há uma melhora significativa nas condições térmicas da habitação, proporcionando o atendimento ao nível mínimo de desempenho térmico. Os resultados deste estudo indicam que isolante térmico do tipo resistivo, com espessura de pelo menos 2, cm, colocado sobre o forro da cobertura é suficiente para atender ao critério do nível de desempenho térmico mínimo. Vale ressaltar que isso é válido para ambientes habitacionais nos moldes dos analisados, com fontes internas de calor pouco significativas. Para outros modelos de edificação, ou ambientes com fontes internas de calor significativas, é necessário realizar estudos específicos para verificar a adequação de se utilizar materiais isolantes térmicos em componentes construtivos. É necessário revisar o critério do método simplificado para coberturas, indicado na norma NBR (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 20), especialmente, quanto ao isolamento térmico da cobertura em função da ventilação do recinto, visto que ventilar a cobertura nem sempre compensará o uso de componentes com baixa isolação térmica ou sem forro. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR : Desempenho Parte : Requisitos para sistemas de cobertura. Rio de Janeiro: ABNT, 20. BRITO, A. C.; AKUTSU, M. Contribuição da cor da cobertura na melhoria do desempenho térmico de habitação no período de verão. In: ENCONTRO NACIONAL,., / ENCONTRO LATINOAMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 9., 20, Campinas. Anais... Porto Alegre: Antac, 20. COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Caderno de Tipologias. São Paulo: CDHU, 99. FERREIRA, C. C.; SOUZA, H. A.; ASSIS, E. S. de. Discussão dos limites das propriedades térmicas dos fechamentos opacos segundo as normas de desempenho térmico brasileiras. Ambiente Construído, Porto Alegre, v., n., p. 8 200, jan./mar. 20. ISSN 68862. Revista IPT Tecnologia e Inovação v.2, n.9, dez., 208