VARIAÇÃO DO CRESCIMENTO VEGETATIVO E PRODUTIVO DE ALGUNS GENÓTIPOS DE MAMONA EM DIFERENTES POPULAÇÕES DE CULTIVO Gilvan Barbosa Ferreira 1, Rodolfo Velásquez Mendoza 2, Sérgio Pinto da Silva 2, Patrícia Cronembold 2, Moisés Mourão Jr. 1 1 Embrapa Roraima, gilvan@cpafrr.embrapa.br; mmourao@cpafrr.embrapa.br; 2 Castor en Sud América SRD, s.pinto.s@hotmail.com; pat-cesa@cotas.com.bo RESUMO - O plantio na configuração correta é uma boa prática agrícola que resulta em ganhos de produtividade e redução de custos com controle de doenças e pragas. Os genótipos variam amplamente na sua necessidade de área para se nutrir corretamente. Esse experimento testou várias configurações de plantio para seis genótipos de mamona de porte anã, visando determinar os mais indicados para cada um deles nas condições de Pailón, Santa Cruz, Bolívia. O ensaio foi montado como um fatorial 6 x 4 (genótipos x populações), em blocos casualizados, com duas repetições, usando parcelas de 144 m 2. Testes adicionais com parcelas de mais dois genótipos foram efetuados. Conclui-se que a mamona responde ao aumento da população de plantio pela redução forte no número de ramos e cachos, com pouca influência sobre a altura da planta, em condição de estresse hídrico. Os híbridos Biogene-03 e Biogene-33 tiveram ganhos de produtividade pelo aumento da população de plantio; a Al Guarani teve perdas; e as demais ficaram indiferentes. Houve tendência de melhor produtividade, na Biogene-66, GCH-4 nos espaçamentos mais alargados e população menor que 10.000 plantas/ha. Todos os genótipos tem suscetilibilidade ao mofo cinzento, sendo recomendável, sempre que possível, o uso de espaçamento mais aberto. INTRODUÇÃO A cultura da mamona (Ricinus communis L.) é feita nas mais diversas configurações de plantio, em cultivos solteiros ou consorciados. Trata-se de uma planta de grande plasticidade fenotípica, respondendo fortemente às condições edafoclimáticas e de cultivo. Azevedo et al. (1997, 2001) destacam que a configuração de plantio deve variar conforme o porte da planta (médio/alto e anã), a necessidade de mecanização da lavoura, a existência de culturas em consórcio e, principalmente, a fertilidade do solo. Solos muito férteis ou fortemente adubados tendem a provocar crescimento exuberante nas plantas, retardam o florescimento, provocam o acamamento das plantas, reduzem a eficiência ou impedem a mecanização da lavoura, podendo reduzir a produtividade final. Plantas muito adensadas, em condições de maior umidade relativa, têm menor ventilação interna na copa e favorecem o ataque de mofo cinzento. Savy Filho (2005) aconselha não se ultrapassar a população de 15.000 plantas/há (espaçamento entre linhas de 0,80 a 1,35m e a distância de plantio da semente na linha de 0,70 a 0,80m). Alguns híbridos e variedades anãs podem ser cultivados em populações tão elevadas quanto
50.000 plantas/ha, desde que se tenha o controle do fornecimento da água. Configurações de plantio de 0,70m a 1,0m por 0,35 a 0,90m são usadas com esse tipo de mamoneira. Em condição irrigada, os híbridos americanos podem ser cultivados no espaçamento de 0,70m x 0,20m, com 70.000 plantas/ha e alcançam 4.800 kg/ha em colheita mecanizada nas condições do Texas/EUA. Alguns técnicos têm verificado produtividades de 900 a 1800 kg/ha no plantio de híbridos, no cerrado do Mato Grosso, no espaçamento de 0,90 a 1,00m entre linhas e 0,35 m entre plantas (RANGEL et al., 2003). Neste Estado, as produtividades variam com a época de plantio, indo de 900 a 1800 kg/ha para plantios feitos até 18 de fevereiro até 360 a 600 kg/ha, para plantios feitos em 24 de março. O plantio adensado pode induzir ao crescimento excessivo das plantas em altura que podem superar os 2,0m, mesmo com variedades anãs e híbridos. Isto ocorre em solos férteis ou bem fertilizados, se for usado doses excessivas de nitrogênio e houver precipitações elevadas. O adensamento também aumenta a competição por água, reduzindo o crescimento da planta. Se por um lado isto pode promover a produção de um ou dois cachos em mamona de porte médio, fazendo-a se comportar produtivamente como uma variedade de porte anã, esse estresse hídrico pode matar as plantas de genótipos com porte anão, reduzindo drasticamente a produtividade. Se a área for propícia ao desenvolvimento de Macrophomina, esse estresse hídrico poderá dizimar as plantas da área. Na Bolívia é comum o uso do espaçamento 0,90m x 0,45m, 0,70m x 0,70m, para os híbridos Savana, Lyra e Íris todos de porte anão, e 2,00m x 1,00m, para a Mirante-10. Novos híbridos trazidos da Índia têm mostrado potencial produtivo considerável e não há informações locais a respeito do comportamento desses materiais em diferentes populações de plantio. Este trabalho tem por objetivo testar diferentes populações e configurações de plantio para o cultivo dos híbridos indianos nas condições de Santa Cruz, Bolívia. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram montados em janeiro de 2005, na fazenda Archipelagro, ao sul de Pailón, distrito de Santa Cruz, Bolívia. Foi Utilizado um fatorial 6 x 4, em blocos ao acaso, sendo seis variedades (Al Guarani, Biogene 03, Biogene 23, Biogene 33, Mirante-10 e Silvestre) e 4 populações de plantio (6.667, 10.000, 11.111 e 13.333 plantas/ha); utilizou-se duas repetições. Cada parcela tinha 12m x 12m, sendo colhida todas as linhas internas, com exceção das linhas laterais e de um metro em cada extremidade. Neste trabalho apenas o efeito das populações serão discutidos. Dois híbridos (Biogene-66 e GCH-4) foram cultivados apenas em parcelões e seu desempenho será mostrado na discussão.
O solo do local é muito fértil, dispensado qualquer adubação. Caíram 403 mm de chuva sobre o bloco um e 271 mm sobre o outro bloco cultivado, devido a uma diferença de 20 dias na data de plantio. O plantio direto foi manual, logo após a dessecação das ervas daninhas com glifosato. As ervas que cresceram após o plantio foram controladas manualmente com três capinas em toda área. Foram efetuados controle químico de pragas (lagartas, principalmente) e doenças (Cercóspora e mofo cinzento). As variáveis estudadas foram submetidas a Análise de variância e regressão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os genótipos tiveram comportamento diferenciado com o aumento da população de plantio. A Biogene-03 e a Biogene-33 tenderam a aumentar a produtividade (PDF) linearmente com o aumento da população empregado (Tab. 1 e Fig. 1e). Por outro lado, a GCH-4, a biogene-66 e a Al Guarani tenderam a diminuir a produtividade e as demais se mantiveram indiferentes. O número de ramos por planta (NURAPL), assim como o número de cachos por planta (NCCH), tiveram clara tendência de queda com o aumento da população, mostrando forte mudança na morfologia da planta com reflexo em sua capacidade produtiva (Tab. 1 e Figs. 1c, 1f). Apesar disso, a altura da planta, assim como a altura do segundo cacho, foram indiferentes (Fig. 1a e Tab. 1), tendo a GCH-4 a mais forte tendência de redução da altura (Fig. 1a). A altura do primeiro cacho foi afetada na Biogene-23, tendo tendência de crescimento; nos demais foi indiferente (Tab. 1 e Fig. 1b). Uma característica importante é o número de plantas acamadas por parcela, pois leva a perda na colheita mecanizada. Observa-se que os híbridos mais produtivos (Biogene-23 e Biogene-03) tiveram tendência de aumento do acamamento com o aumento da população, indicando que a produção formada não se sustenta em áreas com mais de 10.000 plantas/ha. Para o GCH-4 e o Biogene-66, a população de plantio de 5556 plantas/ha foi a mais promissora. Neste ponto, a Al Guarany mostrou tendência contrária. Tendo dois cachos por planta, em média, e um estrutura mais forte de caule, a Guarani até reduziu o acamamento. Ela não respondeu em produtividade ao crescimento da população. Assim, a produção formada foi dividida por maior número de plantas, com menor carga unitária. CONCLUSÕES
As mamoneiras respondem ao aumento da população, com a redução no número de ramos e cachos/planta. Mudanças na altura são menos freqüentes. Os híbridos mais produtivos tendem a aumentar o número de plantas acamadas. Os híbridos Biogene-03 e 33, podem ser cultivados em maiores populações do que os demais; o Biogene-66 e o GCH-4 devem ser cultivados em menores que 10.000 plantas/ha. Os demais híbridos e a Al Guarany são indiferentes a variação da população de plantio. Todos genótipos testados são suscetíveis ao mofo cinzento. Assim, os espaçamentos mais largos devem ser preferidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, D.M. de; NÓBREGA, L.B. da; LIMA, E.F.; BATISTA, F.A.S.; BELTRÃO, N.E. de M. Manejo Cultural. In: AZEVEDO, D.M.P. de.; LIMA, E.F. (Eds.). O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p.121-160. AZEVEDO, D.M.P. de; LIMA, E.F.; BATISTA, F.A.S.; LIMA, E.F.V. Recomendações técnicas para o cultivo da mamona (Ricinus communis L.) no Brasil. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1997. 52p. (Embrapa-CNPA. Circular Técnica, 25). RANGEL, L.E.P.; FERREIRA, L.G.; ALMEIDA, V.M. de; MENEZES, V.L. Mamona: situação atual e perspectiva no Mato Grosso. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2003. 16p. (Embrapa Algodão. Documentos, 106). SAVY FILHO, A. Mamona: tecnologia de produção. Campinas: EMOPI, 2005. 105p. Tabela 1. Parâmetros da equação linear das variáveis de produção (Produção de frutos, PDF, em kg/ha; número de cachos/planta, NCCH) e de crescimento (altura da planta, ALT, em cm; altura do 1 o e do 2 o cacho/planta, ALT1C e ALT2C, em cm; n. de ramos/planta, NURAPL; e n. de plantas acamadas, PLACAM) em seis genótipos de mamoneira anã. Pailón, Santa Cruz, Bolívia, safra 2004/2005 Variedades β 0 β 1 R² p Variedades β 0 β 1 R² p PDF Al. Guarany 1008,52-1,89E-02 0,80 0,107 ALT Al. Guarany 1,66-1,38E-06 0,00 0,938 Biogene 03 1296,99 4,78E-02 0,78 0,117 Biogene 03 1,46 2,09E-05 0,13 0,646 Biogene 23 1590,83 1,36E-02 0,10 0,680 Biogene 23 1,58 1,19E-05 0,17 0,583 Biogene 33 922,02 4,50E-02 0,72 0,151 Biogene 33 1,63-6,92E-07 0,02 0,873 Biogene 66 2692,07-1,04E-01 0,54 0,157 Biogene 66 1,78-1,90E-05 0,37 0,277 GCH-4 2699,59-1,28E-01 0,62 0,114 GCH-4 1,91-3,09E-05 0,58 0,137 Mirante 10 1644,57-3,30E-02 0,55 0,260 Mirante 10 1,48 7,27E-06 0,10 0,678 Silvestre 918,84-4,64E-03 0,04 0,800 Silvestre 1,64-1,04E-06 0,00 0,965 NCCH Al. Guarany 2,83-9,52E-05 0,93 0,035 ALT1C Al. Guarany 1,05 1,18E-05 0,15 0,614 Biogene 03 9,14-3,89E-04 0,87 0,070 Biogene 03 0,59 3,51E-05 0,25 0,499 Biogene 23 9,27-5,02E-04 0,85 0,077 Biogene 23 0,63 4,83E-05 0,78 0,118 Biogene 33 9,96-5,02E-04 0,82 0,097 Biogene 33 1,16-5,37E-06 0,02 0,852 Biogene 66 10,40-4,28E-04 0,92 0,010 Biogene 66 0,72-4,34E-06 0,10 0,611 GCH-4 9,49-3,96E-04 0,73 0,065 GCH-4 1,04-2,11E-05 0,20 0,451
Mirante 10 5,32-1,38E-04 0,67 0,183 Mirante 10 0,62 2,22E-05 0,46 0,323 Silvestre 7,63-2,51E-04 0,98 0,010 Silvestre 0,94 5,31E-21 0,00 1,000 PLACAM Al. Guarany 0,82-6,92E-05 0,82 0,094 ALT2C Al. Guarany 1,34 3,29E-06 0,01 0,911 Biogene 03-0,77 7,27E-04 0,65 0,192 Biogene 03 0,90 3,98E-05 0,31 0,441 Biogene 23 1,46 5,54E-04 0,86 0,075 Biogene 23 1,12 2,61E-05 0,50 0,291 Biogene 33 9,83-4,33E-04 0,63 0,205 Biogene 33 1,16 1,85E-05 0,32 0,436 Biogene 66 0,33 2,22E-04 0,22 0,425 Biogene 66 1,23-2,71E-06 0,01 0,890 GCH-4-1,29 3,52E-04 0,32 0,322 GCH-4 1,50-2,17E-05 0,19 0,459 Mirante 10-0,06 1,56E-04 0,31 0,442 Mirante 10 1,04 1,87E-05 0,61 0,221 Silvestre -0,39 5,19E-05 0,46 0,321 Silvestre 1,30-6,92E-07 0,00 0,981 NURAPL Al. Guarany 2,32-1,38E-04 0,77 0,121 NURAPL Biogene 66 7,34-3,36E-04 0,87 0,020 Biogene 03 5,07-2,51E-04 0,83 0,086 GCH-4 6,36-2,74E-04 0,93 0,008 Biogene 23 5,60-3,29E-04 0,71 0,160 Mirante 10 4,90-2,34E-04 0,86 0,075 Biogene 33 6,86-3,98E-04 0,81 0,102 Silvestre 5,85-2,60E-04 0,82 0,092 Onde: β i coeficentes do modelo de regressão linear; PDF produção de frutos; NCCH número de cachos; PLACAM número de plantas acamadas; NURAPL número de ramos; ALT altura da planta; ALT1C altura do primeiro cacho; ALT2C altura do segundo cacho (a) (b) (c) (d)
(e) (f) Figura 1. Gráficos das relações lineares entre (a) altura da planta (ALT, cm), altura do primeiro cacho ((b) ALT1C); número de cachos/planta, (c) NCCH; n o de plantas acamadas ((d) PLACAM); peso de frutos, (e) PDF e número de ramos/planta, (f) NURAPL nos genótipos G1 Al. Guarany, G2 Biogene 03, G3 Biogene 23, G4 - Biogene 33, G5 - Mirante 10, G6 Silvestre, G7 Biogene 66 e G8 GCH-4. Linhas grossas contínuas, denotam significância até 15% de probabilidade; linhas pontilhadas, efeito não signifcativo pelo teste F. Pailón, Santa Cruz, Bolívia, safra 2004/2005.