EFEITO DA FERTILIZAÇÃO NITROGENADA FRACIONADA NA QUALIDADE DA FIBRA DO ALGODOEIRO IRRIGADO, CV. BRS 201 1 José Renato Cortez Bezerra (Embrapa Algodão/ renato@cnpa.embrapa.br), José Wellington dos Santos (Embrapa Algodão), Maria José da Silva e Luz (Embrapa Algodão), José Marcelo Dias (Embrapa Algodão), José Rodrigues Pereira (Embrapa Algodão) RESUMO - Objetivando avaliar a qualidade da fibra do algodoeiro, cv. BRS 201, adubado com diferentes doses de nitrogênio, o experimento de campo em regime de irrigação foi conduzido, no município de Barbalha, CE, no ano agrícola 2006/2007. A cultivar utilizada foi a BRS 201. Os tratamentos utilizados, constituídos por seis doses de uréia (0, 60, 120, 180, 240, 300 kg.ha -1 ), foram distribuídos em blocos ao acaso com quatro repetições. Para a aplicação da quantidade de água em cada evento de irrigação, foi utilizado o sistema de aspersão em linha. Pelos resultados obtidos, observa-se que as doses de uréia só tiveram efeito sobre a reflectância e o grau de amarelamento. Palavras-chave: Gossypium hirsutum, uréia, características tecnológicas da fibra. INTRODUÇÃO Em função das grandes quantidades envolvidas, a ineficiência no uso de fertilizantes representa uma perda econômica significativa. Por exemplo, considerando que, aproximadamente 80 milhões de toneladas de N foram utilizadas na agricultura mundial em 1996, uma perda de 20% com um preço por atacado nos E.U.A., de US$0,66 por kg de N na forma de uréia, representaria US$ 10,6 bilhões. Perdas excessivas de nitrogênio e fosfato para corpos d águas e de nitrogênio para a atmosfera também apresentam grande risco ambiental (IFA/UNEP, 2007). Matson et al. (1998), trabalhando com trigo em uma região de agricultura intensiva no México, observaram que um sistema de manejo melhorado reduziu as perdas gasosas de N de aproximadamente 14 kg N/ha para virtualmente zero. O nitrogênio é o elemento exigido pelas culturas, em geral, em maior quantidade que qualquer outro macronutriente. Por exemplo, para a produção de 750 kg de fibra de algodão são necessários 90 kg de N/ha (NUTRI-FATOS, 1996). A qualidade da fibra do algodoeiro, de acordo com estudos realizados por Pereira et al. (2003), não sofre variações com o uso do nitrogênio, que observarem que as características tecnológicas da fibra não foram afetadas pelo uso de doses crescente de nitrogênio. Mondino e Galizzi (2001), Lamas e Staut (2001), Laca-Buendia et al. (2003) e Brito (2005) também não encontraram diferença para as características tecnológicas da fibra ao aplicarem doses diferentes de nitrogênio. Já Silva (2001) reporta que o comprimento, a uniformidade de comprimento, a maturidade e o micronaire da fibra desta malvácea são favorecidos pela aplicação deste nutriente. Vieira et al. (2003) observaram efeito linear do nitrogênio sobre a finura da cultivar de algodoeiro CNPA 7H. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade da fibra do algodoeiro, cultivar BRS 201, adubado com diferentes doses de uréia em regime de irrigação.
MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na safra agrícola 2006/2007, em solo classificado como francoargiloso, no campo experimental da Embrapa, no município de Barbalha-CE. As coordenadas geográficas do local foram: latitude 07º19 S, longitude: 30º18`W e altitude: 415,74 m ao nível do mar. Os resultados da análise do solo foram: a) física: 308,2 g.kg -1 de areia, 386,7 g.kg -1 de silte e 305,1 g.kg -1 de argila; capacidade de campo (CC)= 0,2738 kg.kg -1, ponto de murcha permanente (PMP) = 0,1411 kg.kg -1, densidade do solo (Ds) = 0,0129 kg.dm -3, densidade das partículas (Dp)= 0,0265 kg.dm -3 e porosidade total (Po)= 0,5132 m 3.m -3 ; b) química: ph = 6,8; Ca +2 + Mg +2 = 126,0 mmolc.dm -3 ; Na + = 2,7 mmolc.dm -3 ; K + = 6,3 mmolc.dm -3 ; Al +3 = 0 mmolc.dm -3 ; P = 9,2 mg.dm -3 e matéria orgânica = 20,5 g.kg -1. A classificação climática de Barbalha, segundo Thornthwaite & Mather (1955) é do tipo C1S2A a ), clima seco sub-úmido, com pequeno excesso hídrico no inverno, megatérmico, com vegetação o ano todo. Utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso com quatro repetições e seis tratamentos, constituídos por seis doses de nitrogênio: T1 0 kg de N.ha -1 ; T2 60 kg de N.ha -1 ; T3 120 kg de N.ha -1 ; T4-180 kg de N.ha -1 ; T5 240 kg de N.ha -1 ; T6-300 kg de N.ha -1. A fonte de nitrogênio utilizada foi a uréia. Para cada evento de irrigação a quantidade de água a ser aplicada foi determinada a partir da evapotranspiração de referência (Eto) calculada diariamente a partir do método de Penmam Monteith, descrito por Allen et al (1998). Aplicou-se a irrigação através de sistema de irrigação por aspersão convencional em linha. Antes do plantio foi efetuada uma irrigação capaz de levar o solo à capacidade de campo a uma profundidade de 0,60 m. Após o plantio, nos primeiros 20 dias, a área foi irrigada com freqüência de 4 dias, para estabelecimento da cultura; quando as irrigações passaram a ser aplicadas com freqüência de 7 dias, com base na evapotranspiração de referência. A adubação com fósforo e potássio da cultura foi efetuada de acordo com a análise de fertilidade do solo. A adubação nitrogenada em fundação foi aplicada por ocasião do plantio, com um quinto do adubo recomendado. A adubação em cobertura foi fracionada em três aplicações, via fertirrigação, aos 30, 40 e 50 dias após a emergência. Os tratos culturais foram realizados conforme a recomendação da Embrapa Algodão (1994). A cultivar utilizada foi a BRS 201, plantada manualmente, com espaçamento configurado em fileiras duplas (1,40 m x 0,40 m x 0,10 m) e densidades de plantio e de plantas de 10-12 sementes.m -1 e 111.000 plantas.ha 1, respectivamente. Amostras padrão, constituídas por 20 capulhos cada, coletadas em cada parcela antes da colheita, foram encaminhadas ao Laboratório de Tecnologia de Fibras e Fios da Embrapa Algodão (LTFF da Embrapa Algodão), para análise da fibra. Todos os ensaios físicos foram conduzidos no LTFF da Embrapa Algodão, com auxílio do instrumento HVI. As amostras-padrão foram descaroçadas em máquina de rolo. As variáveis computadas foram submetidas à análise de regressão polinomial, conforme descrita em Gomes (1985) para tratamentos de natureza quantitativa, considerando-se o nível de 5% de probabilidade pelo teste F. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 estão apresentados valores médios das doses de uréia para as variáveis relacionadas com as características tecnológicas da fibra do algodão herbáceo, cultivar BRS 201, verificou-se que estas não foram influenciadas pela aplicação de doses crescente de N, exceto o grau de reflectância (Rd) e o grau de amarelamento (Tab. 1) que após análise de regressão polinomial verificou-se comportamentos linear decrescente e quadrático respectivamente, conforme Figuras 1 e 2. Pela observação dos dados, verificou-se que à medida em que se aumentam as doses de N, houve
diminuição do rd e para a variável +b, obteve-se uma maximização do +b (9,8809) para a dose máxima de N (260 kg de N ha - 1 ). 81 80.5 Grau de Reflectância (%) 80 79.5 79 Y = 80,82-0,0058X r 2 = 0,78 78.5 78 0 60 120 180 240 300 Doses de Nitrogênio (kg.ha -1 ) Figura 1. Grau de reflectância do algodoeiro BRS 201, em função da dose de nitrogênio. 10 9.8 Grau de Amarelecimento (+b) 9.6 9.4 9.2 Y = 9,18 + 0,0054X - 0,0000104X 2 r 2 = 0,74 9 8.8 0 60 120 180 240 300 Doses de Nitrogênio (kg.ha -1 ) Figura 2. Grau de amarelo do algodoeiro BRS 201, em função da dose de nitrogênio. Os coeficientes de determinação associados aos modelos de regressão, tanto linear quanto quadrático, foram considerados bons, o que significa dizer que as variáveis rd e +b podem ser representadas pelos modelos encontrados.
Tabela 1. Resultados médios de comprimento de fibras (Comp), uniformidade de fibras (UNF), índice de fibras curtas (SFI), resistência (STR), alongamento à ruptura (ELG), índice Micronaire, maturidade, reflectância (RD), grau de amarelo (+b) e índice de fiabilidade do algodoeiro, cultivar BRS 201, submetida a diferentes doses de nitrogênio. Barbalha, CE, 2006. Variáveis Comp. UNF SFI STR ELG. MIC. MAT RD +b CSP Trat. (mm) (%) (%) (gf/tex) (%) (%) (%) 0 30,4 84,9 6,1 30,4 7,1 4,6 87,7 80,7 9,3 148,2 60 31,2 85,0 6,8 33,0 6,9 4,7 88,2 81,0 9,3 157,0 120 31,0 84,3 6,9 29,2 7,1 4,8 88,0 79,7 9,7 140,0 180 31,3 85,5 6,0 30,7 7,2 4,2 86,7 79,7 10,0 156,0 240 32,0 85,1 6,2 31,0 7,0 4,5 87,7 79,3 9,7 153,7 300 30,9 84,4 6,4 29,5 7,2 4,6 87,7 79,3 9,9 142,7 CV (%) 3,4 1,1 17,0 4,9 3,8 3,9 0,9 0,9 2,1 4,3 Os coeficientes de variação foram considerados bons, o que significa uma razoável precisão experimental. Os resultados obtidos com a condução deste ensaio concordam com os reportados por Pereira et al. (2003), Mondino e Galizzi (2001), Lamas e Staut (2001) e Laca-Buendia et al. (2003) e discordam dos obtidos por Staut & Kurihara (2001) e Vieira (2003) Embora não tenha havido efeito das doses de N sobre a maioria das características da fibra, verifica-se que para todos os tratamentos elas estão dentro do padrão exigido pela indústria têxtil nacional (FONSECA, 2002). CONCLUSÕES As características da fibra da cultivar de algodoeiro BRS 201 em condições irrigadas, não foram afetadas pela adubação nitrogenada, exceto o grau de reflectância e o grau de amarelamento da fibra da cultivar de algodoeiro A fibra produzida, independentemente da dose de uréia, foi de elevada qualidade, com base nas exigências da indústria têxtil. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO A aplicação de nitrogênio no algodoeiro irrigado em doses acima de 60 kg ha -1 garante a obtenção de fibra com boa aceitação pela indústria têxtil nacional, revertendo em rentabilidade para o produtor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, G.R.; PEREIRA,L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evaporation: guidelines for computing crop water requirements. Roma: FAO, 1998. 300p. (FAO Irrigation and Drainage Paper, 56). BELTRÃO, N.E.de M. et al. Recomendações técnicas para o cultivo do algodoeiro herbáceo de sequeiro e irrigado nas regiões Nordeste e Norte do Brasil. 2. ed. Campina Grande: Embrapa Algodão, 1994. 73p. (EMBRAPA Algodão. Circular Técnica, 17). BRITO, D.R.. Crescimento e desenvolvimento do algodoeiro herbáceo, cultivar BRS 201, em
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