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Transcrição:

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PROVA ESCRITA DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL I - TURMA A REGENTE: PROF. DOUTOR MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA 03-0-207 DURAÇÃO DA PROVA: 2H00 I. António, português domiciliado no Porto, comprou às Linhas aéreas São Tomenses SA, sociedade comercial de direito são tomense, um bilhete de ida e volta entre Lisboa e São Tomé (São Tomé e Príncipe). A primeira viagem deveria realizar-se dia de janeiro de 207, ao final do dia. Ao que consta, um dos tripulantes foi afetado por uma súbita moléstia que o impediu de pilotar o aparelho. Por esse ou por outro motivo, certo é que o voo não se realizou senão na manhã seguinte. Sem outra alternativa, António pernoitou num hotel nas proximidades do aeroporto, pagando, do seu bolso, perto de 250. Não sendo grande entusiasta de televisão, António aproveitou as horas mortas para fazer uma pesquisa online sobre os direitos dos passageiros e descortinar de que forma poderia reaver as despesas que tinha suportado. No decurso das suas leituras vem a perceber que o contrato de transporte não permite o recurso aos critérios específicos em matéria de contratos de consumo previstos no art. 7.º do Reg. 25/202. Porém, descobriu, com agrado, a seguinte passagem num acórdão do Tribunal de Justiça: (...) quer o lugar de partida quer o lugar de chegada do avião devem ser considerados, ao mesmo título, os lugares da prestação principal dos serviços que são objecto de um contrato de transporte aéreo (C 204/08, Peter Rehder/Air Baltic Corporation, para. 43).. Tendo em conta os dados enunciados, poderia António intentar uma ação de indemnização no Juízo local cível (correspondente à anteriormente designada instância local) do Tribunal de comarca do Porto? nota: os alunos podem, sem qualquer penalização, responder a esta pergunta utilizando a terminologia em vigor até de janeiro de 207 (6 v.) 2. A companhia aérea está disposta a oferecer 0.000 milhas a António caso este aceite resolver a disputa nos tribunais de São Tomé e Príncipe. Em que circunstâncias este acordo alteraria a resposta à questão anterior? (3 v.) 3. António está decidido a intentar a referida ação judicial em Portugal. a. Pode demandar a agência portuguesa das Linhas aéreas São Tomenses? Se assim for, quem deveria assinar a petição inicial? (2 v.) b. E quem deveria assinar a contestação? O que sucederia caso esta peça fosse apresentada pelo funcionário a quem António comprou o bilhete? (2 v.) CONTINUA NO VERSO

II. No voo de regresso António senta-se ao lado de Bernardo, português domiciliado em Lisboa. Conversa puxa conversa, Bernardo revela que vai passar uns dias ao Porto e pergunta se António recomenda algum sítio onde se hospedar. António, que tinha herdado 2 apartamentos modestos no centro da cidade, coloca um deles à disposição de Bernardo a troco de 250, pensando que assim recuperava o prejuízo que a viagem a São Tomé lhe causara. 4. Sabendo Bernardo nunca pagou os 250 acordados e que António está casado em regime de comunhão de bens, por quem deve ser intentada a ação de cumprimento? (3 v.) 5. Uma vez demandado, Bernardo alega que nunca fora interpelado para pagar a dívida e que nenhum prazo tinha sido estipulado. Provando-se estes factos, deve o juiz absolver o réu da instância? (2 v.) 6. No decurso da ação, António cede o seu crédito a uma instituição financeira. Alegado este facto no processo deve o juiz absolver o réu da instância? (2 v.) FIM. Tendo em conta os dados enunciados, poderia António intentar uma ação de indemnização no Juízo local cível (correspondente à anteriormente designada instância local) do Tribunal de comarca do Porto? nota: os alunos podem, sem qualquer penalização, responder a esta pergunta utilizando a terminologia em vigor até de janeiro de 207 (6 v.) - Caracterização do conflito como plurilocalizado, identificando a necessidade de verificar a admissibilidade da propositura da ação em Portugal, ou seja, saber se os tribunais portugueses são internacionalmente competentes. - Invocação do primado do Direito da União Europeia (art. 8.º CRP) para justificar a necessidade de verificar a aplicação dos regulamentos comunitários no caso concreto, o Regulamento 25/202. - Verificar, justificando, o preenchimento dos âmbitos material e temporal do Regulamento. - Verificar, justificando, o não preenchimento do âmbito espacial do Regulamento (o réu não tem domicílio num Estado-Membro (art. 63.º, pois é uma pessoa coletiva) e não se trata de um caso previsto nos arts. 8.º/, 2.º/2, 24.º ou 25.º).,5 nota : - é um erro muito grave aplicar o art. 7.º, visto que o art. 6.º não está preenchido. - a inaplicabilidade do art. 8.º resulta do próprio enunciado, quando se afirma que não se trata de matéria de contratos de consumo (cfr. art. 7.º/3, que expressamente exclui a aplicação aos contratos de transporte). - Explicar a aplicabilidade do CPC.,5

- Excluir a aplicação do art. 63.º e do art. 94.º. - Aplicar o art. 62.º/a) em conjunto com o art. 7.º/, concluindo que, pela primeira parte, os tribunais portugueses não seriam competentes (réu tem domicílio no estrangeiro art. 8.º/2), mas pela segunda parte são, visto que o réu é uma pessoa coletiva e a obrigação deveria ser cumprida em Portugal. Em alternativa, também era possível aplicar o art. 62.º/b), desde que se justificasse adequadamente que factos integram a causa de pedir (nomeadamente, o incumprimento do contrato) e onde os mesmos ocorreram. nota : de uma leitura atenta do enunciado resulta que nada é dito sobre o local onde foi comprado o bilhete, pelo que este dado não poderia ser inventado. - Concluir, justificando e invocando a base legal adequada, que: i) a ordem jurisdicional competente é a dos tribunais judiciais; ii) os tribunais de primeira instância são os hierarquicamente competentes; iii) os tribunais de comarca são os materialmente competentes e, dentro destes, é competente o juízo local cível (antiga secção de competência genérica da instância local), na medida em que o valor da causa é de 250 (art. 297.º) iv) o tribunal territorialmente competente é o de Lisboa (art. 7.º//2.ª parte) - Concluir que se António propusesse a ação no juízo local cível do Porto haveria uma incompetência relativa (em razão do território art. 02.º), que é uma exceção dilatória. No entanto, esta não seria de conhecimento oficioso (art. 04.º//a) a contrario), pelo que se o réu não a alegasse, o juiz não poderia conhecê-la. Nesse sentido, António poderia propor a ação neste tribunal, esperando que o réu não invocasse a exceção de incompetência. Caso o réu o fizesse até à contestação, a consequência seria a remessa do processo para o juízo local cível de Lisboa (art. 05.º/3).,5,5 2. A companhia aérea está disposta a oferecer 0.000 milhas a António caso este aceite resolver a disputa nos tribunais de São Tomé e Príncipe. Em que circunstâncias este acordo alteraria a resposta à questão anterior? (3 v.) - Explicar, justificando, que o âmbito espacial do Regulamento continuaria a não se preencher (embora haja um pacto de jurisdição, este não preenche os requisitos do art. 25.º, pois não foi escolhido o Tribunal de um Estado-membro). - Conclui que se continuaria a aplicar o CPC. nota : partir diretamente para a análise do art. 94.º do CPC sem tentar primeiro aplicar o art. 25.º, está errado, porque a existência de um pacto de jurisdição obriga a ponderar a aplicação do Regulamento, por via do art. 6.º. - Enquadrar este pacto no art. 94.º, pois, caso se preenchessem todos os requisitos, o pacto excluiria a competência dos tribunais portugueses (pois nada é dito em contrário - n.º 2),

alterando a resposta à pergunta anterior. nota : é um erro grave enquadrar este pacto no art. 95.º. Logo à partida, este pacto não é de competência, pois é apenas escolhido um país. Ainda que fosse escolhida uma cidade são tomense, o art. 95.º não se aplicaria, porque só se aplica à escolha de concretos tribunais portugueses. Mas o motivo essencial para a não aplicabilidade do art. 95.º é o facto de este ser uma norma sobre competência interna portuguesa, que só se pode aplicar depois de se concluir que os tribunais portugueses seriam internacionalmente competentes, o que não ocorreria caso o pacto fosse eficaz. Em suma, o art. 95.º só se aplica quando: ) as Partes escolhem, em concreto, um tribunal que seja português; 2) já se analisou a competência internacional e se concluiu que a ação pode ser proposta em Portugal. - Analisar os requisitos do art. 94.º. - Concluir pela falta de preenchimento do requisito formal. nota : como o caso nada diz, o aluno deveria abrir as duas hipóteses, analisando também os restantes requisitos. 3. António está decidido a intentar a referida ação judicial em Portugal. a. Pode demandar a agência portuguesa das Linhas aéreas São Tomenses? Se assim for, quem deveria assinar a petição inicial? (2 v.) - Enquadrar esta pergunta dentro do pressuposto processual relativo à personalidade judiciária das partes. - Afastar a aplicação do art..º/2 por as agências não terem personalidade jurídica. - Compreender que, ainda que sem personalidade jurídica, é possível ter personalidade judiciária se se preencher ou o art. 2.º ou o art. 3.º. - Afastar a aplicação do art. 2.º e do art. 3.º/, pois a viagem não foi comprada à sucursal. - Analisar os requisitos do art. 3.º/2, concluindo pelo seu preenchimento. - Analisar os pressupostos da capacidade e do patrocínio judiciário, concluindo que a petição inicial poderia ser assinada pelo próprio António, não obstante a possibilidade de este constituir advogado (ainda o patrocínio judiciário seja facultativo) b. E quem deveria assinar a contestação? O que sucederia caso esta peça fosse apresentada pelo funcionário a quem António comprou o bilhete? (2 v.) - Indicar que a contestação deveria ser assinada pelo representante da sociedade, nos termos do art. 26.º. - Tal como na resposta anterior, a sociedade poderia também optar por constituir advogado, caso em que deveria ser este a assinar a contestação.

- Explicar, justificando e indicando a base legal, que, caso a contestação não fosse assinada por quem agisse como diretor, gerente ou administrador, mas sim por um funcionário, haveria uma irregularidade de representação, que é uma exceção dilatória de conhecimento oficioso. nota: o enunciado não deixava claro se o funcionário agia como diretor, gerente ou administrador, pelo que o aluno deveria abrir as duas hipóteses. - Descrever o procedimento de sanação previsto nos arts. 27.º e 28.º, sublinhando que, do lado passivo, a exceção dilatória ficaria sanada assim que o representante fosse citado, pelo que caso este não ratificasse nem repetisse a contestação, esta não produziria efeitos (falta de pressuposto deste ato processual), ficando o réu em revelia. nota : é um erro grave aplicar o regime do art. 2.º 4. Sabendo Bernardo nunca pagou os 250 acordados e que António está casado em regime de comunhão de bens, por quem deve ser intentada a ação de cumprimento? (3 v.) - Analisar o art. 34.º, n.º, onde se regula litisconsórcio necessário legal ativo entre cônjuges. Só quando o regime substantivo o imponha, sob pena de ilegitimidade, será exigível que a ação seja proposta por ambos os cônjuges. - A ação não tem por objeto, direta ou indiretamente, a casa de morada de família - Caracterizar a ação de cumprimento como uma ação patrimonial de administração (por oposição às ações de disposição), pelo que a ação não pode implicar a perda de qualquer bem, mas apenas a perda do direito de crédito. nota: é um erro grave resolver esta questão como se a ação implicasse a perda do imóvel. Repare-se que o que está em causa é apenas uma ação de cumprimento. António apenas pretende o cumprimento de uma prestação contratual. Se a ação proposta por António improceder, isso significa que o direito que o autor entendia ter é perdido, pois o Tribunal decidiu pela sua inexistência. A improcedência da ação apenas implica a perda do direito de crédito e nunca do direito de propriedade sobre o imóvel. Não está também em causa a perda de qualquer direito de arrendamento (expressão lida em alguns exames, associada ao art. 682.º-A, que não se pode aplicar a este caso). - Identificar o imóvel como um bem comum administrado apenas por António (arts. 732.º e 678.º, n.º 2 al. c) CC). - Sabendo que os efeitos possíveis da ação não colocam em risco a titularidade do direito sobre o imóvel, e que não se preenche a 2.ª parte do art. 34.º/, pois a lei não impõe que o direito de crédito seja exigido por todos (art. 678.º, n.º 3 CC), concluir que a ação pode ser proposta apenas por António, não existindo litisconsórcio necessário. 5. Uma vez demandado, Bernardo alega que nunca fora interpelado para pagar a dívida e que nenhum

prazo tinha sido estipulado. Provando-se estes factos, deve o juiz absolver o réu da instância? (2 v.) - Quando António pede a condenação de Bernardo no pagamento de uma obrigação pura, a obrigação do réu só se vence com a citação. - Sabendo que o direito de acesso aos tribunais (art. 20.º CRP) depende da inexistência de qualquer outro meio, processual ou extraprocessual, de exercício e tutela da situação subjetiva e da necessidade de obter a tutela jurisdicional requerida, está em causa a análise do interesse processual (ou interesse em agir). Só existirá interesse se a tutela jurídica se revelar necessária. - Caracterização do pressuposto interesse processual (art. 30.º, n.º 2). - A falta de interesse conduz, em regra, à absolvição do réu da instância. - Examinar as relações com o art. 535.º, n.º 2; atendendo ao regime que este artigo estabelece para as ações inúteis (entre os casos previstos conta-se o pedido de condenação numa obrigação sem prazo. Cf. al. b)) alguma doutrina nega que o interesse seja um pressuposto processual. - Reconhecer que nem todas as hipóteses previstas correspondem à falta de interesse (as als. a) e b), referem-se a situações em que, apesar de o réu não ter dado causa à ação, há que reconhecer, apesar disso, interesse processual ao autor. - Observar que, qualquer que fosse o entendimento perfilhado e a interpretação do enunciado, a verificação de qualquer uma das hipóteses a que se refere o art. 535.º, n.º 2 nunca conduz à absolvição da instância, mesmo quando falta o interesse processual. 0,2 0,8 6. No decurso da ação, António cede o seu crédito a uma instituição financeira. Alegado este facto no processo deve o juiz absolver o réu da instância? (2 v.) - Identificar que, com a alegação da cessão do crédito, António, por ter deixado de ser credor, já não tem qualquer posição jurídica relevante na relação material controvertida. - António continuaria, no entanto, a ser parte legítima na ação, nos termos do art. 263.º, a título de substituto processual da instituição financeira (substituição processual representativa e própria). - Não se verifica, assim, qualquer exceção dilatória, tendo António legitimidade singular para continuar como autor desta ação. - Explicar o disposto no art. 263.º/3. - Concluir que a substituição de António pela instituição financeira deveria operar por meio de habilitação (art. 356.º), exceto se se verificasse a situação prevista do art. 263.º/2.,3 0,7