Adesivos Dentários na Odontopediatria: Revisão da Literatura 1



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Transcrição:

REVISÃO DA LITERATURA Adesivos Dentários na Odontopediatria: Revisão da Literatura 1 Dentin Adhesives in Pedodontics: Literature Review Elizângela PIMENTEL* Kátia DIAS** Larissa Perales BITTENCOURT*** PIMENTEL, E.; DIAS, K.; BITTENCOURT, L.P. Adesivos dentários na Odontopediatria: revisão da literatura. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v.6, n.30, p.170-174, mar./abr. 2003. A evolução dos adesivos dentinários é responsável por uma vasta literatura a respeito do comportamento in vitro destes novos materiais frente aos dentes permanentes. Entretanto, não se pode dizer o mesmo com relação aos dentes decíduos. Há peculiaridades estruturais nos dentes decíduos que não permitem que os resultados obtidos em dentes permanentes sejam transportados para os primeiros. Este trabalho procurou realizar a revisão da literatura sobre o comportamento dos adesivos dentinários em dentes decíduos, comparando-os aos permanentes, além de enfocar alguns achados mais recentes em relação a novos materiais lançados no mercado. PALAVRAS-CHAVE: Adesivos dentinários; Dente decíduo; Odontopediatria. 1 Parte da Tese de Mestrado * Professora auxiliar de Odontopediatria/Universidade Estácio de Sá UNESA; Especialista e Mestre em Odontopediatria UFRJ/UERJ; Rua Apesar de os sistemas adesivos representarem um dos assuntos mais estudados na literatura, pouco se sabe a respeito de sua utilização em dentes decíduos. Quando se compara a força de adesão dentinária entre dentes decíduos e permanentes, dentes permanentes era significativamente maior há diferentes opiniões e resultados. O presente do que a dos dentes decíduos, em dentina intermediária e profunda. O fato de os autores terem trabalho procurou, a partir da revisão da literatura sobre adesivos dentinários, discutir os achados encontrado menor densidade (número de túbulos por mais recentes sobre o comportamento de dentes área) e menor diâmetro dos túbulos dentinários em decíduos frente a estes materiais. dentes decíduos pode ter contribuído para a menor O padrão de mineralização (velocidade e permeabilidade dos mesmos. quantidade) do dente decíduo é cerca de 1/5 menor Mazzeo et al. (1995) determinaram a força de do que o de um dente permanente. Em média, a adesão de três sistemas adesivos (Scotchbond Multi-Purpose, Optibond Multi-Use e Prisma Universal formação e a mineralização da coroa de um dente decíduo duram no mínimo 6 meses, e no máximo Bond 3 Multi-Purpose) na superfície dentinária de 14 meses, enquanto a média para um dente permanente é de 3 a 4 anos (ARAÚJO et al., 1995). estabelecer se o primer interfere na força de ade- dentes decíduos. Os autores também procuraram Um estudo utilizando espectrometria de raios são. Após o teste de cisa lhamento, os resultados X dispersivos sugeriu que as concentrações de foram: Scotchbond, 7,3MPa; Optibond, 20,5MPa; cálcio e de fósforo, tanto em dentina peritubular quanto intertubular, são menores em dentes te entre o Scotchbond e o Prisma; entretanto, o Prisma, 9,1MPa. Não houve diferença significan- decíduos, quando comparados aos permanentes Optibond mostrou-se estatisticamente superior (HIRAYAMA, 1990). aos outros. A utilização do primer foi efetiva para Koutsi et al. (1994) analisaram a micromorfologia dentinária e também observaram resultados quando não utilizado o primer foram os sistemas Scotchbond e Optibond, já que os diferenças entre molares decíduos e pré-molares estatisticamente inferiores. permanentes. Após a remoção da lama dentinária, Verificando os excelentes resultados do sistema os autores observaram que a permeabilidade dos adesivo Optibond, Jumlongras & White (1997) resol- Itaguai, 70/201, Santa Rosa CEP 24240-130, Niterói, RJ; e-mail: casanamata@ig.com.br ** Professora-adjunta de Dentística UFRJ; Professora Titular de Dentística UERJ *** Especialista e Mestre em Odontopediatria UERJ/UFRJ INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

Adesivos Dentários na Odontopediatria - Revisão de Literatura veram compará-lo com dois cimentos ionoméricos reforçados com resina (compômeros), quanto à força de cisalhamento em molares decíduos e permanentes. Os resultados não foram semelhantes: Optibond nos decíduos, 6,07 + 2,63MPa e Optibond nos permanentes, 17,61 + 4,34MPa. Como a força de adesão foi bastante inferior àquela esperada, os autores testaram novamente o Optibond em dentes decíduos, comparando-o com dois outros sistemas adesivos: One Step e o Amalgambond. O Amalgambond apresentou o melhor resultado (17,96 + 5,77MPa), seguido do material One Step (11,79 + 4,73MPa). Os autores concluíram que foi possível obter para dentes decíduos a força de cisalhamento ideal, que é de 17,6MPa, para eliminar o gap na margem de uma restauração de 3-4mm. Em um estudo bastante controlado, procurando simular as condições clínicas, Nor et al. (1996) compararam a espessura da camada híbrida formada, utilizando dois sistemas adesivos diferentes, em dentes decíduos e permanentes. Os autores aplicaram diferentes tempos de ataque ácido para cada material: o preconizado, de 15s, e um tempo inferior, de 7s. Não houve diferença estatisticamente significante entre os dois materiais, porém o tempo de 15 segundos de condicionamento ácido produziu uma camada híbrida mais espessa, tanto em dentes decíduos quanto em permanentes. Os dentes decíduos apresentaram a camada híbrida mais espessa com os dois tempos de ataque ácido utilizados, indicando maior reatividade. Após análise em MEV, os autores verificaram que o primer e o adesivo, aplicados aos dentes decíduos, não conseguiam penetrar em toda a extensão da superfície dentinária desmineralizada, não dando suporte às fibras colágenas, o que poderia facilitar a microinfiltração. No ano seguinte, os mesmos autores estudaram a micromorfologia da camada híbrida formada a partir de diferentes tempos de ataque ácido na dentina decídua e permanente (NOR et al., 1997). Concluíram, mais uma vez, ser necessária a diminuição do tempo de condicionamento ácido da dentina decídua, pois o padrão de desmineralização para o dente decíduo, com o tempo de 7s, foi semelhante àquele padrão desejado para a dentina de dentes permanentes, submetidos a 15s de ataque ácido. Olmez et al. (1998) compararam a interface entre a resina e a dentina de dentes permanentes e decíduos, utilizando os sistemas adesivos Syntac e Syntac Single Component, encontrando os mesmos resultados de Nor et al. (1996, 1997). Fritz et al. (1997) avaliaram a força de cisalhamento e o mecanismo de adesão do sistema adesivo Gluma CPS, aplicado à dentina e ao esmalte de dentes decíduos. Em cada grupo realizou-se a termociclagem (2000 ciclos entre 5 e 55 0 C) em metade da amostra, e o restante foi colocado em água destilada. Os resultados do teste de cisalhamento (em MPa) estão demonstrados na Tabela 1. Os autores concluíram que a ter mociclagem não afetou a força de adesão ao esmalte e à dentina. Houve diferença significante entre os valores obtidos em esmalte e dentina, sendo o esmalte superior. Hosoya et al. (1997) compararam a força de adesão de dois sistemas adesivos (All Bond 2/AB2 e Superbond D Liner/SDL) à dentina de dentes bovinos permanentes e decíduos. O tipo de fratura, se adesiva ou coesiva, foi analisado em MEV. Os resultados, em MPa, encontram-se na Tabela 2. Comparando a força de TABELA 1: Avaliação da força de cisalhamento (Mpa) do sistema adesivo Gluma CPS, aplicado à dentina e ao esmalte de dentes decíduos. Dois grupos: termociclado e armazenado em água destilada (FRITZ et al., 1997). 24 h/água Ciclos térmicos Esmalte 18,7 + 1,8 18,8 + 1,5 Dentina 14,9 + 2,6 13,7 + 1,2 adesão entre dentes decíduos e permanentes, os primeiros apresentaram resultados estatisticamente superiores para os dois sistemas adesivos testados, exceto o grupo SDL com ciclagem térmica. Apenas o Grupo AB2, de dentes permanentes, mostrou-se sensível à termociclagem. Quanto ao desempenho dos dois materiais testados, apenas os grupos de dentes permanentes submetidos à termociclagem apresentaram diferença estatisticamente significante, ficando o SDL com resultado superior. Araújo et al. (1997) avaliaram a força de cisalhamento e a presença ou não da camada híbrida, utilizando três adesivos dentinários em molares decíduos: All-Bond 2, Scotchbond Multi-Purpose e Amalgambond Plus. O estudo procurou, também, verificar se a secagem ou não da dentina, após o condicionamento ácido, influenciaria na força de TABELA 2: Comparação da força de adesão (Mpa) de dois sistemas adesivos (All Bond 2/AB2 e Superbond D Liner/SDL) à dentina de dentes bovinos permanentes e decíduos (HO- SOYA et al., 1997). Grupo Ciclo Média Decíduos AB2 0 35,46 10000 30,77 SDL 0 30,67 10000 25,99 Permanentes AB2 0 19,61 10000 13,85 SDL 0 18,32 10000 24,53 171

adesão. Os resultados não mostraram diferença estatisticamente significante entre os grupos, apesar de haver uma evidente tendência a maiores valores para a dentina úmida. A camada híbrida esteve presente em todas as amostras. El Kalla & Garcia-Godoy (1998) compararam materiais que apresentavam seu primer e adesivo em frascos separados (Scotchbond Multi-Purpose e EBS) e aqueles mais recentes, em que o primer e o adesivo encontravam-se em um único frasco (Prime & Bond 2.1 e One Step). O objetivo do estudo foi comparar a força de cisalhamento dos quatro adesivos testados em dentes decíduos e permanentes, e analisar a micromorfologia da interface adesivo-dentina, procurando esclarecer se há diferença entre este tecido em dentes permanentes e em dentes decíduos (Tabela 3). Observando os resultados da Tabela 3 percebe-se que houve uma tendência a menores valores para os dentes decíduos. Comparando decíduos e permanentes, houve diferença significante no grupo que utilizou o sistema One Step. Na análise em MEV, observou-se que a camada híbrida nos dentes decíduos apresentouse mais fina. Os autores concluíram que a força TABELA 3: Comparação da força de cisalhamento (Mpa) de quatro adesivos em dentes decíduos e permanentes (EL KALLA & GARCIA-GODOY, 1998). de adesão depende de diferentes fatores, como: propriedades mecânicas do material e da trama de colágeno e capacidade de molha mento do adesivo, produzindo uma união íntima entre adesivo e dentina. Apesar da fina camada híbrida observada nos materiais de único frasco, os mesmos apresentaram resultados bastante satisfatórios. DISCUSSÃO A partir da revisão da literatura do presente trabalho, não fica difícil visualizar tamanha variação nos resultados. Para um único sistema adesivo, Scotchbond Multi-Purpose (3M), pôde-se encontrar valores tão diferentes, em MPa, para o mesmo teste de cisalhamento, em dentina de dentes decíduos (MAZZEO et al., 1995, EL KALLA 172 Adesivos Dentários na Odontopediatria - Revisão de Literatura Material Dentes decíduos Dentes permanentes Média + DP Variação Média + DP Variação SMP 19,4 + 4,0 15,2 25,0 18,9 + 4,8 14,2 29,6 One Step 30,6 + 3,6 24,8 37,0 35,6 + 1,9 32,8 39,0 P&B 2.1 28,3 + 4,8 24,0 38,0 31,8 + 4,0 26,2 39,8 EBS 31,5 + 4,6 25,0 37,0 33,6 + 4,8 25,6 39,0 Obs.: As tabelas foram confeccionadas a partir da leitura dos artigos citados, porém não foram copiadas em sua íntegra, sendo da autoria do autor do presente artigo a adaptação para melhor entendimento e visualização dos resultados. & GARCIA-GODOY, 1998). Obviamente, as metodologias utilizadas apresentaram variações. A solução de estocagem e o ciclo térmico não foram iguais. O tempo de armazenamento dos dentes, até seu uso, não foi mencionado. A máquina de ensaios mecânicos foi a mesma e a velocidade aplicada também. Resta saber o que levou a uma variação tão grande nos resultados (7,3MPa e 19,4MPa, respectivamente). Além de todas as dificuldades inerentes à padronização das metodologias dos estudos labo ratoriais no que diz respeito, principalmente, ao tempo e à solução de armazenamento das amostras, devemse acrescentar as peculiaridades dos dentes decíduos. Sabemos da dificuldade no manuseio desses dentes, isto porque a maioria dos dentes testados são coletados a partir de sua esfoliação natural, época em que o dente decíduo já se encontra mais friável, sendo comum a fratura do mesmo durante sua manipulação. Quando analisamos os resultados da força de adesão à dentina decídua dentro de um mesmo grupo, verificamos que o desvio padrão en contrase geralmente alto (HALLET et al. 1994; ARAÚJO et al., 1997; HOSOYA et al., 1997). Inúmeras variáveis podem contribuir para tais resultados. Sabe-se que a dentina intertubular é a principal responsável pela formação da camada híbrida (NOR et al., 1996; NOR et al., 1997; JU- MLONGRAS & WHITE, 1997; PRATI et al., 1998). Quanto mais próximo da polpa, menor será a quantidade de dentina intertubular, pois o diâmetro e a densidade dos túbulos são maiores nessa região (PERDIGÃO, 1993; KOUTSI et al., 1994; SWIFT Jr. et al., 1995). A profundidade da dentina influencia significativamente na força de adesão (MITCHEM & GRONAS, 1986), portanto a profundidade da dentina testada deveria ser sempre mencionada. Sabe-se também que o conteúdo mineral do dente sofre variação no decorrer do seu ciclo vital (ARAÚJO et al., 1995). A espessura da dentina peritubular aumenta com a idade e os canalículos dentinários tornam-se obstruídos por depósitos cristalinos, o que torna o substrato dentinário mais resistente às soluções ácidas (SWIFT Jr. et al., 1995; ARAÚJO et al., 1995; EL KALLA & GAR- CIA-GODOY, 1998). Geralmente não se menciona a idade do dente testado. Ruschel & Chevitarese (1999) relataram diferenças significativas entre 1 os e 2 os molares decídu-

os. Após análise em microscopia eletrônica, os autores verificaram maior densidade e diâmetro dos túbulos dentinários no terço médio da dentina dos 2 os molares decíduos. Na maioria dos trabalhos não se relata que tipo de dente decíduo foi utilizado, testando-se 1 os e 2 os molares indistintamente. Grande parte dos trabalhos encontraram menores valores para a força de adesão em dentes decíduos (JUMLONGRAS & WHITE, 1997; EL KALLA & GARCIA GODOY, 1998), o que poderia ser explicado pelos achados de Nor et al. (1996, 1997) e Olmez et al. (1998), quando sustentam a tese de que os dentes decíduos são mais reagentes ao ataque ácido, o que facilita o colapso das fibras colágenas e a formação de uma camada híbrida mais frágil, pois o primer não consegue impregnar toda a extensão da camada de dentina desmineralizada. Entretanto, alguns autores encontraram resultados que contradizem os estudos citados anteriormente. Hosoya et al. (1997), quando compararam a força de adesão em dentes decíduos e permanentes, verificaram maiores valores para os primeiros. Koutsi et al. (1994) encontraram menor permeabilidade em dentes decíduos, o que iria de encontro aos achados de Nor et al. (1996, 1997). O que levaria a dentina decídua a reagir de forma mais intensa ao ataque ácido (NOR et al., 1997-1998), se sua permeabilidade é menor em relação ao dente permanente (KOUTSI et al., 1994)? Nakabayashi (1994) já falava que o melhor Adesivos Dentários na Odontopediatria - Revisão de Literatura adesivo seria aquele que não necessitasse da remoção total da lama dentinária, minimizando o tempo de trabalho e tentando eliminar certos problemas, com relação ao colapso das fibras colágenas após o condicionamento ácido. Começaram a surgir os sistemas adesivos chamados auto-condicionantes, os quais uniram o ácido, o primer e o adesivo em um único frasco. A questão é se esses adesivos são capazes de produzir uma força de adesão satisfatória aos dentes decíduos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os trabalhos reforçam a necessidade de estudos direcionados para dentição decídua. Não se devem transportar conclusões adquiridas em testes com dentes permanentes para a clínica odontopediátrica. É necessário maior esclarecimento quanto à micromorfologia dos dentes decíduos, para melhor compreensão dos resultados obtidos sobre adesão dentinária. PIMENTEL, E.; DIAS, K.; BITTENCOURT, L.P. Dentin adhesives in pedodontics: literature review. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v.6, n.30, p.170-174, mar./abr. 2003. The development of dentin adhesives is responsible for many in vitro studies about the behavior of these materials on permanent teeth. However, the same is not true for primary teeth. Primary teeth have specific structural properties. Therefore, we cannot consider that results obtained from studies using adhesive systems in permanent teeth are the same in primary teeth. This literature review showed the behavior of dentin adhesives in primary teeth in comparison to permanent teeth and related some recent findings on new adhesive materials. KEYWORDS: Dentin-bonding agents; Deciduous tooth; Pediatric dentistry. REFERÊNCIAS ARAÚJO, F.B.; GARCIA-GODOY, F.; ISSÁO, M. A comparison of three resin bonding agents to primary tooth dentin. Pediatr Dent, Chicago, v.19, n.4, p.253-257, May/June 1997. ARAÚJO, F.B.; MORAES, F.F.; FOSSATI, A.C.M. A estrutura da dentina do dente decíduo e sua importância clínica. Rev Bras Odontol, Rio de Janeiro, v.52, n.3, p.37-43, maio/jun. 1995. BRANSTROM, M.; VOJINOVIC, O. Response of the dental pulp to invasion of bacteria around three fi lling materials. J Dent Child, Chicago, v.43, n.2, p.83-89, Mar./ Apr. 1976. BUONOCORE, M.G. 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