Academia Nacional de Medicina de Portugal



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Transcrição:

Academia Nacional de Medicina de Portugal Apontamentos e recordações João Ribeiro da Silva* 1 Em 1991 a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, a que nessa data eu presidia e da qual era secretário geral o Dr. José Manuel Mendes de Almeida, recebeu um convite para participar nas celebrações do sesquicentenário da Academia Real de medicina da Bélgica. O convite era-nos dirigido pelo Secretário perpétuo dessa Academia, o Professor barão de Scoville, titular da Universidade de Bruxelas, cirurgião notável e uma das figuras mais representativas da medicina belga do seu tempo. A comemoração dos cento e cinquenta anos que iria realizar-se em Bruxelas, no Palácio das Academias da Bélgica, possuía muito especial importância, dado que o primeiro centenário, ocorrido em 1941, não tinha podido celebrar-se, estando a Bélgica ocupada, em plena Guerra Mundial, pelas forças militares alemãs. Tanto o Dr. José Manuel Mendes de Almeida como eu próprio, levámos à direcção da Sociedade das Ciências Médicas, esse convite que considerámos muito honroso, ficando decidido, em reunião directiva, que o Presidente da Sociedade estaria presente em Bruxelas, onde, em consequência do convite recebido, iria representar Portugal. Verificou-se então, na primeira reunião ocorrida no Palácio das Academias, que a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa possuía grande antiguidade, o que, desde logo, conferia à nossa representação um natural interesse, por todos reconhecido. Nesse encontro de Bruxelas, houve um momento que considero importantíssimo, no decorrer do qual, se esboçou o projecto do que viria a ser e veio a ser a Federação das Academias de Medicina da Comunidade Económica Europeia. * Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa e Primeiro Presidente da Academia Portuguesa de Medicina 1

A proposta foi feita pelo Professor André Sicard, antigo presidente da Academia Nacional de Medicina de França, logo apoiada pela Bélgica, por Portugal, pela Espanha, pela Áustria, pela Holanda e pelo Luxemburgo. Com o maior entusiasmo, concordei com essa iniciativa, que só mais tarde viria a incluir o Reino Unido, a Itália, a Suécia e muito depois, a Alemanha, nessa altura ainda dividida e possuindo diferentes Academias, embora nenhuma representativa, a título nacional. A partir desse momento, com as alterações estatutárias da Sociedade das Ciências Médicas que se impunham, para que se pudesse fundar uma Academia, os primeiros académicos foram designados por convite, abrindo-se depois o caminho para as eleições para membros titulares e correspondentes. Entretanto, a Federação das Academias de Medicina da Comunidade Europeia, e depois, da União Europeia, foi seguindo a sua trajectória, iniciada em Bruxelas em 1991, realizando reuniões anuais nos vários países europeus representados na federação e trazendo, pouco a pouco, para o grupo académico e federativo inicial, a maior parte dos países da União Europeia. Recordo-me de tomar parte como presidente da Academia Portuguesa de Medicina, nos vários países europeus, colaborando na elaboração dos seus estatutos e tendo sido, desde o início, membro da sua direcção, como tesoureiro das academias de medicina e, posteriormente, eleito vice-presidente e presidente, cargo que ocupei durante dois anos, a título pessoal, embora, por mim, fosse entendida essa presidência como uma honra que à Academia Portuguesa de Medicina pertencia. Entre nós, admitiu-se, desde o início da Academia Portuguesa de Medicina, que ela deveria ter indiscutivelmente, uma representação nacional, centrando-se essa representação em Lisboa, no Porto e em Coimbra, as três cidades universitárias de mais antiguidade, dizendo respeito a toda a medicina portuguesa, aos seus valores científicos e clínicos, universitários, hospitalares, institucionais ou independentes. 2

O curriculum de cada um e o mérito que a esse curriculum pertencia eram a única base de escolha para todos os académicos, sempre escolhidos pelos votos dos seus pares. Foi muito importante para o desenvolvimento da Academia Portuguesa de Medicina todo o entusiasmo encontrado entre os Colegas de Lisboa, do Porto e de Coimbra, na participação que, para o desenvolvimento da Academia, foram dando. Tivemos reuniões com a regularidade possível, tendo encontrado um verdadeiro sentimento académico, desenvolvendo e progressivamente aperfeiçoando o que em 1991 fora uma ideia e que, pela vontade conjunta, se tornara uma realidade. Devo realçar, uma vez mais, o apoio que sempre tive dos dois secretários gerais, José Manuel Mendes de Almeida e Jorge Soares. Com Jorge Soares iniciou-se um ciclo de grande actividade académica, aperfeiçoando-se a organização das reuniões, desenvolvendo-se e instituindo-se, em belíssima insígnia, o símbolo da Academia, nele se guardando as palavras da divisa da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa Pro incolumitate civium. Por esta altura reuniram-se em dois volumes, as conferências académicas, um primeiro volume, em 1998, que incluiu os trabalhos apresentados à Academia no decorrer de cinco anos e um segundo volume, datado de 2001, que juntou os restantes trabalhos apresentados até essa data. No primeiro volume encontram-se trabalhos de Daniel Serrão, João Ribeiro da Silva, Borges de Almeida, Madalena Botelho, Linhares Furtado, Nuno Grande, Sousa Pinto, Armando Porto, Jacinto Simões, Palma Carlos, Carlos Ramalhão, Vilaça Ramos, Henrique Miguel de Oliveira. No segundo volume guardam-se os trabalhos apresentados por João Ribeiro da Silva, João Lobo Antunes, Jacinto Simões, Hipólito Reis, Hugo Gil Ferreira, Agostinho de Almeida Santos, Manuel Antunes, José Manuel Caldeira da Silva, Luís Gonçalves Sobrinho, Ramos de Almeida, Alexandre Castro Caldas, António Coutinho, Joaquim Pinto Machado. 3

Foram constantes e sucessivas as primeiras reuniões realizadas, quer na sede da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, quer em Coimbra e no Porto, em locais escolhidos pelos académicos das respectivas universidades ou serviços hospitalares. A Maior parte das primeiras reuniões ocorreram em Lisboa, tendo-se procurado e conseguido propor, analisar e discutir projectos dos estatutos iniciais, os quais viriam a ser aprovados. Procurou-se levar o conhecimento da Academia, da sua existência, das suas intenções e dos seus projectos às entidades oficiais, tendo a Academia sido recebida pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares, em audiência no Palácio de Belém. As sessões académicas passaram a desenvolver-se com alguma regularidade, organizando-se esses encontros, quer em Lisboa, quer no Porto, quer em Coimbra, encontros que discutiam projectos académicos, ouvindo-se com regularidade os discursos inaugurais dos académicos titulares ou de número, como se foram designando, discursos inaugurais que assim sucessivamente iam marcando a chegada dos académicos eleitos. Embora todas as reuniões académicas fossem iguais no seu valor científico, recordo como paradigma de uma academia que se foi impondo, algumas sessões académicas. Foi notável a sessão académica que teve lugar na sala dos actos da Faculdade das Ciências Médicas de Lisboa, com a presença do secretário geral da Federação das Academias de medicina da União Europeia, Professor Albert de Scoville, sob a presidência do Chefe de Estado, Dr. Jorge Sampaio que honrou a sessão com as palavras que proferiu. Nesse encontro académico foi recordada a vida e a obra de Egas Moniz pela palavra do académico titular João Lobo Antunes. Recordo também a sessão académica ocorrida na Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, sessão organizada pelos académicos de Coimbra e orientada por Agostinho Almeida Santos. Também no Porto, Sousa Pinto organizou na Biblioteca Almeida Garrett um encontro académico igualmente notável. Coube-me a honra de falar, nessa altura, 4

desenvolvendo algumas Reflexões académicas no bicentenários de Almeida Garrett e no meio século do Nobel Português da Medicina. Faço referência a esta minha intervenção, feita a convite de Sousa Pinto, pelo interesse histórico de um projecto académico, nascido na Sociedade das Ciências Médicas, no reinado de D. Maria II e largamente apoiado por Almeida Garrett, e também ao facto de Egas Moniz ter considerado em artigo que publicou, a importância que haveria na criação, em Portugal, de uma Academia de Medicina. Para além destes momentos que foram acontecendo na caminhada da Academia de Medicina, muitos outros bem importantes se poderiam recordar. Foi e continua, certamente, a ser indispensável a presença portuguesa nas reuniões da Federação das Academias de Medicina da União Europeia. Houve ocasiões em que a nossa voz foi ouvida, recordo a presença, sempre notável, de Borges de Almeida, em Bruxelas, a intervenção de Sousa Pinto em Roma, a comunicação levada a Bruxelas por Jacinto Simões, a intervenção de Jorge Soares na Real Academia de Medicina de Madrid onde a Federação Europeia organizou um dos seus encontros. Também eu próprio, como presidente da Federação das Academias de Medicina da União Europeia, procurei cumprir o meu dever académico nos encontros de Paris, de Bruxelas, do Luxemburgo, de Cambridge, de Madrid e de Roma. A história da Academia de Medicina, Academia Nacional de Medicina de Portugal, não se esgota aqui. São estas algumas das minhas recordações, mas as recordações dos outros académicos, de certo, poderão valorizar, muito mais, tudo que eu disse. Outros vieram depois de mim. Existe já na Academia tempo histórico que a outros pertence, tempo esse em que a Academia cresceu e prosperou. Na presidência da Academia sucedeu-me Sousa Pinto, o qual terá sentido as dificuldades de uma academia em franco crescimento, procurando o seu futuro. Sucedeu a Sousa Pinto, João Lobo Antunes, tendo como secretário geral José Manuel Fernandes e Fernandes. Foi notável o encontro de Lisboa, organizado no edifício Egas Moniz da Faculdade de Medicina de Lisboa com a presença da Federação das 5

Academias de Medicina da União Europeia, nessa altura ainda secretariada pelo Professor André Govaerts. Nessa fase da Academia e sob essa direcção houve progressos notáveis, passando a Academia a possuir um estatuto mais adequado e um regulamento mais consentâneo com todos as actuais regras jurídicas. Nessa fase da vida académica, a Academia Portuguesa de Medicina, igualando-se a todas as outras Academias Médicas da Europa, passou a designar-se por Academia Nacional de Medicina, continuando a trajectória nacional e internacional, sob a qual só aos dirigentes dessa altura competirá falar. Sublinho, porém, a importância que, certamente, teve a presença académica portuguesa no Rio de Janeiro, comemorando com a Academia Brasileira de Medicina, ainda por muitos chamada Imperial, nas comemorações do bicentenário da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Também os académicos brasileiros anteriormente, nos visitaram, tendo vindo até nós, nos quinhentos anos da descoberta do Brasil, larga representação académica, não só do Rio de Janeiro, mas de todos os Estados do Brasil. Fui ainda eu e Jorge Soares que tivemos a honra de os receber na Sala do Conselho da Faculdade de Medicina de Lisboa. Se estas reflexões foram marcando um caminho que já tem história, é agora, para o futuro que temos que olhar. Esse futuro está hoje nas mãos do Professor Manuel Antunes e, em minha opinião, não pode haver melhor timoneiro para a travessia académica dos tempos que vivemos. A Academia de Medicina reunindo a inteligência médica portuguesa do nosso tempo, olhará o homem para o entender cada vez melhor e para tentar as soluções relativamente às dúvidas que a vida desperta, o que, ao longo dos tempos, foi sempre o objectivo e a preocupação do pensamento médico, na própria definição da Medicina. 6