A BIÓPSIA DE PELE COMO AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO DAS LESÕES CUTÂNEAS DE CÃES E GATOS



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Transcrição:

A biópsia de pele como DIVULGAÇÃO auxílio no diagnóstico TÉCNICA das lesões cutâneas de cães e gatos. 1 A BIÓPSIA DE PELE COMO AUXÍLIO NO DIAGNÓSTICO DAS LESÕES CUTÂNEAS DE CÃES E GATOS C. Del Fava, N.V. Scattone*, L.C. de Oliveira*, B.G.A. Carneiro**, T. Brombilla*** Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, Av. Cons. Rodrigues Alves 1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: delfava@biologico.sp.gov.br RESUMO Os problemas de pele de cão e gato representam a maior casuística dos casos atendidos em clínicas veterinárias. Coceira, queda de pelo e massas cutâneas são os principais sinais observados pelos proprietários. A identificação da causa deve considerar agentes parasitários, bacterianos, fúngicos, alérgicos, auto-imunes, neoplásicos, hormonais, entre outros. O diagnóstico da causa pode ter importância em saúde pública, visto que algumas das enfermidades cutâneas podem ser zoonoses, como sarnas e micoses e infectarem os seres humanos. O diagnóstico diferencial dermatológico realizado pelo médico veterinário deve considerar histórico clínico, exame físico e exames laboratoriais complementares, entre os quais ressaltamos a biópsia de pele. PALAVRAS-CHAVE: Canis familiaris, Felis catus, histopatologia, dermatopatia, oncologia, dermatologia. ABSTRACT SKIN BIOPSY SUPPORTING THE DIAGNOSIS OF CUTANEOUS LESIONS IN DOGS AND CATS. Skin problems in cats and dogs represent the largest series of cases seen in veterinary clinics. Itching, drop pelage and cutaneous masses are the main signs observed by the proprietary. The identification of the cause should consider parasitic, bacterial, fungal, allergic, autoimmune, neoplastic, hormonal agents, among others. The diagnosis of the cause may have public health significance, since some of the skin diseases can be zoonoses, such as scabies and fungal infections and can infected humans. Dermatological differential diagnosis made by the veterinarian should consider clinical history, physical examination and laboratory tests, among which we highlight the skin biopsy. KEY WORDS:Canis familiaris, Felis catus, histopathology, dermatopaty, oncology, dermatology. Ter em casa um animal sadio é sinônimo de saúde para a família (Fig.1). O proprietário, pelo fato de estar em convívio próximo com seu animal de estimação na residência, observa-o frequentemente, pega no colo, dorme com o mesmo, o acaricia, sente seu cheiro, e é neste momento que pode ser descoberto algum nódulo ou ferida na pele do cão ou gato. Os seres humanos frequentemente manifestam asco e repulsa aos animais de companhia com lesões dermatológicas, e os proprietários são geralmente os primeiros a perceberem as alterações cutâneas em seus animais, por este motivo, as afecções de pele configuram a maior casuística dos casos atendidos em clínicas veterinárias. Cabe ao médico veterinário diagnosticar o mais rápido possível a causa da lesão, se é contagiosa ou não aos seres humanos (zoonose), se a lesão é neoplásica (benigna ou maligna) ou não, a fim de instituir um prognóstico e tratamento. Lesões crônicas são mais difíceis de tratar, por este motivo é importante verificar logo no início qual o problema e efetuar tratamento. Alguns tipos de tumores cutâneos, se não tratados, são irreversíveis e fatais. Fig. 1 Ter em casa um animal sadio é sinônimo de saúde para a família. A maioria das queixas dos proprietários relacionadas à pele de seus cães e gatos referem-se a problemas como: coceira, queda de pelo, mau odor,

2 C. Del Fava et al. bicheira, infecção purulenta e massas cutâneas. A identificação da causa deve considerar agentes parasitários (Figs. 2 e 3), bacterianos, iatrogênica (injeções medicamentosas causando nódulos) (Fig. 4), disfunções hormonais (Fig. 5), neoplásicos (Figs. 6 e 7), fúngicos (Fig. 8), alérgicos, auto-imunes, entre outros. Fig. 2 Cão com sarna demodécica (demodicose), distribuída por todo o corpo do animal. Muitas vezes a coceira e queda de pelos podem estar associadas a sarna sarcóptica e micose (Microsporum canis), que são zoonoses e podem infectar o animal e o homem, neste caso, o diagnóstico do agente etiológico passa a ter importância em saúde pública. É importante lembrar que a pele sadia depende da integridade funcional de todos os outros sistemas corporais, e as lesões cutâneas podem ser secundárias a alguma afecção sistêmica básica, como por exemplo, as que envolvem o sistema endócrino, como hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing) - que afeta a adrenal, e hipotireoidismo - que afeta a tireóide (Fig.2) (Lyman, 1985; Scott et al., 1996). A abordagem clínica do paciente canino e felino deve ser realizada de forma sistemática. A progressão das lesões e doenças de pele quase sempre podem ser determinadas com um bom histórico, que se inicia com a anamnese, onde a idade, a raça e o sexo dos animais, a evolução, (natureza crônica ou recidivante), tratamentos anteriores, alimentação, histórico familiar, seres humanos acometidos, podem direcionar o médico veterinário na provável causa e nos métodos diagnósticos adequados. Com relação à idade do animal, a demodicose (Figs. 2 e 3) é uma sarna comum em cães muito jovens, enquanto que as neoplasias são mais frequentes em animais idosos (Figs. 6 e 7). A hiperpigmentação cutânea quando afeta indivíduos do sexo masculino, pode estar associada ao criptorquidismo (testículo presente na cavidade abdominal e não na bolsa escrotal) e ao tumor de células de Sertoli.A predileção por determinada raça determina a ocorrência de alguns tipos de distúrbios de pele. As alergias podem ser de origem alimentar ou até mesmo genética (casos que se repetem em uma mesma família do animal). Seres humanos e seus animais de companhia com prurido podem estar infestados com sarna sarcóptica (zoonose) ou fungos. A dermatite alérgica por inalação é quase sempre estacional, ou seja, ocorre numa mesma época do ano (Lyman, 1985; Scott et al., 1996).Outra doença de caráter zoonótico de extrema importância é a Leishmaniose, tanto o cão quanto o ser humano podem ser acometidos e desenvolverem as formas cutânea e visceral. O exame físico do animal revela as lesões patológicas macroscópicas que estão presentes, por visualização direta, devendo ser observada a morfologia, localização e distribuição das lesões, presença de sujidades de pulgas ou fragmentos de cestoides aderidos à cauda do cão, vermelhidão cutânea associada à coceira, entre outros (Lyman, 1985; Scott et al., 1996). Um diagnóstico considerado rápido e satisfatório é o raspado de pele, que pode ser realizado durante o atendimento clínico do animal. É um teste muito utilizado na rotina do consultório, para investigar parasitas como ácaro sarcóptico ou demodécico, bem como a presença de fungos, entre outros (Lyman, 1985; Scott et al., 1996). Os materiais para exame citológico podem ser coletados por uma variedade de técnicas (esfregaço direto ou por impressão, raspado, esfregaço com suabe, aspirados com agulha fina), o material é espalhado sobre lâmina de vidro de microscopia, deixa-se secar, cora-se lâmina e observa-se ao microscópio a morfologia das células (normal, neoplásica), presença de células inflamatórias (mononucleares e polimorfonucleares), estruturas fúngicas, parasitos (Lyman, 1985; Scott et al., 1996). Os materiais cutâneos (fragmentos de pele, pelo, unha, raspado cutâneo, crostas e pus) podem ser coletados com suabe, agulha ou raspado e serem encaminhados para identificação parasitológica, fúngica, bacteriana eviral, que são sempre auxiliares no diagnóstico dermatológico (Lyman, 1985; Scott et al., 1996). BIÓPSIA CUTÂNEA Quanto aos tumores de pele em cães e gatos, há uma casuística significativa entre as dermopatologias diagnosticadas na clínica de pequenos animais. Tanto nos casos de doença tumoral quanto dermatites e dermatoses, a biópsia cutânea é um teste essencial, sendo comumente utilizadas duas técnicas para colheita do material (Scott et al., 1996). Total excisão cirúrgica do tumor com margem de segurança serve tanto para o diagnóstico como tratamento terapêutico. Punch - uma pequena porção da lesão é retirada para exame, com o auxílio deste dispositivo, sendo utilizada em afecções mais extensas. O ideal é obter amostras de lesões em diferentes estágios de desenvolvimento e, se possível colher material da periferia de uma lesão e incluir o tecido de aparência normal.

A biópsia de pele como auxílio no diagnóstico das lesões cutâneas de cães e gatos. Fig. 3 Pele de cão biópsia ácaros Demodex causadores da demodicose canina (coloração HE, aumento 200x). Fig. 4 Pele de cão biópsia - nódulo subcutâneo causado por injeção medicamentosa (coloração HE, aumento 25x). Fig. 5 Pele de cão biópsia hipotireoidismo (disfunção hormonal) ausência de folículos pilosos na derme (coloração HE, aumento 100x). Fig. 6 Pele de cão biópsia carcinoma epidermoide de células escamosas inúmeras pérolas córneas na derme (coloração HE, aumento 100x). Fig. 7 Pele de cão biópsia melanoma (coloração HE, aumento 200x). Fig. 8 Pele de cão biópsia dermatofitose hifas de fungosdermatófitos na epiderme (coloração GrocottGomori, aumento 1000x). 3

4 C. Del Fava et al. As biópsias são fixadas em formol 10% e encaminhadas para processamento histopatológico, onde são emblocadas em parafina, cortadas em micrótomo e montadas lâminas histopatológicas coradas pela hematoxilina e eosina (HE), que serão analisadas pelo médico veterinário patologista. Este profissional observará ao microscópio óptico comum os bordos cirúrgicos e a lesão como um todo, procurando identificar o tipo morfológico das células inflamatórias (mononuclear, polimorfonuclear), sua distribuição, alterações nas células teciduais (degeneração, necrose, tumoral), além de permitir apontar o tipo de causa, dentre as quais tumoral, infecciosa (bacteriana, fúngica, viral), parasitária, alérgica, auto-imune, nutricional e hormonal, entre outras (Goldschmidt; Hendrick, 2002; Ginn et al., 2007; Gross et al., 2009; Hargis; Ginn, 2009). Isso mostra a importância da histopatologia como método laboratorial para realizar o diagnóstico diferencial, a fim de determinar a causa da doença e orientar o clínico de pequenos animais no prognóstico e no tratamento do paciente. Colorações diferenciais nas lâminas histopatológicas podem ser adicionalmente realizadas, por exemplo, Azul de Toluidina para diferenciar mastocitoma, coloração de Grocott-Gomori ou ácido periódico de Schiff (PAS) para visualizar fungos, Gram em tecidos para demonstrar a morfologia bacteriana e afinidade tintorial (bactérias gram-positivas ou negativas), entre outras (Carson; Hladik, 2009). A imuno-histoquímica pode ser empregada na detecção de marcadores tumorais a fim de identificar certos tipos histológicos de tumores, o que direciona o tratamento, e entre outras, pode confirmar o agente etiológico, como em casos de leishmaniose cutânea. Muitos são os fatores que podem interferir na qualidade e na confiabilidade do diagnóstico histopatológico, os mais comuns são o emprego de equipamentos e técnicas incorretas, informações clínicas incompletas, má utilização de medicamentos e inadequada experiência do patologista. Quando todos esses aspectos são corrigidos e há uma boa relação entre o clínico e o patologista, a biópsia de pele pode refletir corretamente o diagnóstico em mais de 90% dos casos. Contudo, o exame histopatológico pode não ser conclusivo em algumas circunstâncias, como nas dermatites crônicas inespecíficas, especialmente nas dermatopatias auto-imunes e nas neoplasias pouco diferenciadas, o que requer exames complementares mais específicos como imuno-histoquímica,e outras avaliações de patologia clínica. ATIVIDADES REALIZADAS PELO LABORA- TÓRIO DE ANATOMIA PATOLÓGICA VISANDO DIAGNÓSTICO DE DERMATOPATIAS Atendimento de rotina O Laboratório de Anatomia Patológica do Instituto Biológico realiza em sua rotina diagnóstica a histopatologia de biópsia de pele de diversas espécies animais, entre as quais cães e gatos, encaminhadas por médicos veterinários que solicitam o diagnóstico diferencial de enfermidades cutâneas. Isso mostra o compromisso no atendimento aos clientes, implantando técnicas laboratoriais que auxiliem no diagnóstico de enfermidades que acometem os animais de companhia, permitindo diferenciar as patologias quanto à sua causa e risco em saúde pública (zoonoses). Pesquisa científica Um estudo da casuística de tumores de pele de cães encaminhados para diagnóstico diferencial histopatológico pelo Laboratório de Anatomia Patológica do Instituto Biológico no período de 16,5 anos (janeiro de 1996 a junho de 2013) foi recentemente realizado (Scattone et al., 2013). Os animais mais velhos foram os que apresentaram maior número de neoplasias de pele, onde 64,7% tinham idade acima de 6 anos. Das 72 formações neoplásicas computadas, 47,2% foram proliferações benignas e 52,8% malignas. Os tipos tumorais mais frequentes foram lipossarcoma, melanoma, carcinoma de células basais, mastocitoma, tumor venéreo transmissível, adenoma perianal, lipoma e carcinoma de células escamosas. Os menos frequentes foram papiloma, fibroma, hemangiossarcoma, fibrossarcoma e histiocitoma. Dos 72 tumores cutâneos computados, as formações não neoplásicas foram cisto dermóide e cistos foliculares. Este estudo demonstrou que os casos de biópsias de tumores avaliados no Instituto Biológico apresentam tipos semelhantes aos diagnosticados em populações caninas estudadas por outros pesquisadores no Rio Grande do Sul (Souza et al., 2006) e Rio de Janeiro (Silva et al., 2011), sendo importante realizar e publicar os resultados destes estudos, que pode direcionar tratamentos, profilaxia destas doenças e investimentos em saúde pública. Referências Carson, R.; Hladik, C. Histotechnology: a self-instructional text. 3.ed. Hong Kong: American Society for Clinical Pathology Press, 2009. Goldschmidt, M.H.; Hendrick, M.J. Tumors of the skin and soft tissues. In: Meuten, D.J. (Ed.). Tumors in domestic animals. 4.ed. Ames: Iowa State Press, 2002. p.45-118. Gross, T.L.; Ihrke, P.J.; Walder, E.J.; Affolter, V.K. Doenças de pele do cão e do gato. Diagnóstico clínico e histopatológico. 2.ed. São Paulo: ROCA, 2009. 889p.

A biópsia de pele como auxílio no diagnóstico das lesões cutâneas de cães e gatos. 5 Ginn, P.E.; Mansell, J.E.K.L.; Rakich, P.M. Skin and appendges. In: Jubb, K.V.F.; Kennedy, P.C.; Palmers, N.C. (Eds.). Pathology of domestic animals. 5.ed. Philadelphia: Elsevier, 2007. v.1. p.553-781. Hargis, A.M.; Ginn, P.E. O tegumento. In: McGavin, M.D.; Zachary, J.F. (Eds.). Bases da patologia em veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. p.1107-1261. Lyman, R. Dermatopatias. In: Fenner, W.R. Manual de prática clínica veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1985. p.64-88. Scattone, N.V.; Dias, A.; Azevedo, B.G.; Justino, D.M.; Del Fava, C. Casuística de tumores cutâneos em cães diagnosticados pelo Laboratório de Anatomia Patológica do Instituto Biológico. Biológico, São Paulo, v.75, n.2, p.26, 2013. Trabalho apresentado na CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS, BIOLÓGICAS E AMBIENTAIS, 11., São Paulo. Resumo 012. Scott, D.W.; Miller, W.H.; Griffin, C.E. Dermatologia de pequenos animais. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. 1130p. Silva, T.R.; França, T.N.; Cunha, B.R.M.; Prado, J.S.; Brito, M.F. Neoplasias cutâneas de cães diagnosticadas no Laboratório de Histopatologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro de 1995 a 2005. Revista Ciência da Vida, v.31, n.1, p.93-102, 2011. Souza, T.M.; Fighera, R.A.; Irigoyen, L.F.; Barros, C.L.S. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Ciência Rural, v.36, n.2, p.555-560, 2006. Recebido em 15/4/14 Aceito em 10/6/14