Exma. Sra. Ministra Miriam Belchior Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão Brasília, DF REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO (Assunto: Auxílio-alimentação. Reajuste valor.) CONFEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL CONDSEF, entidade sindical de grau superior inscrita no CNPJ sob n. 26.474.510/0001-94 e no 2º Ofício de Registro Cível de Pessoas Jurídicas do Distrito Federal, arquivo 2040, com sede no SCS, Quadra 2, Bloco C, n. 164, Edifício Wady Cecílio II, Brasília/DF, por seu Secretário Geral abaixo firmados, em representação à categoria que congrega, vem dizer e requerer o que segue: 1. Da legislação pertinente à concessão do auxílio-alimentação Cumpre observar, inicialmente, que a Constituição Federal faculta à CONDSEF agir, na condição de substituto processual, na defesa dos interesses individuais ou coletivos dos integrantes da categoria que congrega, tanto na esfera administrativa quanto na judicial (art. 8º, III da CF). Reforçando tal prerrogativa, a Lei n 8.073/90 dispõe expressamente que as entidades sindicais podem atuar como substitutos processuais dos integrantes da categoria (art. 3º). Os substituídos pela entidade requerente são servidores públicos civis da Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional, regidos pela Lei 8.112/90, e recebem mensalmente a vantagem pecuniária denominada auxílioalimentação. Instituído através da Lei 8.460/92 e regulamentado nos termos do Decreto 3.887/01, o auxílio-alimentação possui a finalidade de indenizar as despesas dos servidores com a alimentação nos dias de trabalho, proporcionando melhores condições físicas e, consequentemente, a manutenção da produtividade. A Lei 8.460/92 dispõe nos seguintes termos: 1
Art. 22. O Poder Executivo disporá sobre a concessão mensal do auxílio-alimentação por dia trabalhado, aos servidores públicos federais civis ativos da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional. 1º A concessão do auxílio-alimentação será feita em pecúnia e terá caráter indenizatório. 2º O servidor que acumule cargo ou emprego na forma da Constituição fará jus a percepção de um único auxílio-alimentação, mediante opção. 3º O auxílio-alimentação não será: a) incorporado ao vencimento, remuneração, provento ou pensão; b) configurado como rendimento tributável e nem sofrerá incidência de contribuição para o Plano de Seguridade Social do servidor público; c) caracterizado como salário-utilidade ou prestação salarial in natura. 4º O auxílio-alimentação será custeado com recursos do órgão ou entidade em que o servidor estiver em exercício, ressalvado o direito de opção pelo órgão ou entidade de origem. 5º O auxílio-alimentação é inacumulável com outros de espécie semelhante, tais como auxílio para a cesta básica ou vantagem pessoal originária de qualquer forma de auxílio ou benefício alimentação. 6º Considerar-se-á para o desconto do auxílio-alimentação, por dia não trabalhado, a proporcionalidade de 22 dias. 7º Para os efeitos deste artigo, considera-se como dia trabalhado a participação do servidor em programa de treinamento regularmente instituído, conferências, congressos, treinamentos, ou outros eventos similares, sem deslocamento da sede. 8º As diárias sofrerão desconto correspondente ao auxílioalimentação a que fizer jus o servidor, exceto aquelas eventualmente pagas em finais de semana e feriados, observada a proporcionalidade prevista no 6º. auxílio-alimentação: O Decreto 3.887/01, por sua vez, regulamenta a concessão do Art. 1º O auxílio-alimentação será concedido a todos os servidores civis ativos da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, independentemente da jornada de trabalho, desde que efetivamente em exercício nas atividades do cargo. 1º O auxílio-alimentação destina-se a subsidiar as despesas com a refeição do servidor, sendo-lhe pago diretamente. 2º O servidor fará jus ao auxílio-alimentação na proporção dos dias trabalhados, salvo na hipótese de afastamento a serviço com percepção de diárias. 2
Art. 2º O auxílio-alimentação será concedido em pecúnia e terá caráter indenizatório. Art. 3º Ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão caberá fixar o valor mensal do auxílio-alimentação, observadas as diferenças de custo por unidade da federação. [...] Art. 5º O auxílio-alimentação será custeado com recursos dos órgãos ou das entidades a que pertença o servidor, os quais deverão incluir na proposta orçamentária anual os recursos necessários à manutenção do auxílio. [...] Da legislação supracitada, exsurgem duas importantes características, a saber, a natureza indenizatória do auxílio-alimentação e o dever do Poder Executivo especificamente, do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão, desde 2001 de fixar o valor mensal do benefício, consoante a expressa determinação legal. 2. Da necessária vinculação do valor do auxílio-alimentação com o valor que visa a compensar em razão de sua natureza jurídica Em que pese a determinação legal de que o auxílio-alimentação deve indenizar as despesas do servidor com a alimentação, é notório que o quantum pago aos servidores do Poder Executivo mostra-se completamente incompatível com os custos que deve compensar. Observa-se que afirmar o caráter indenizatório do benefício implica, necessariamente, em observar a vinculação do seu valor às despesas que visa a compensar 1. Entender de modo contrário implicaria, inevitavelmente, na perpetração de danos aos servidores durante todo o período em que o auxílio-alimentação deixa de cumprir com a sua finalidade. Ocorre que há tempos que o valor pago a título de auxílioalimentação não corresponde ao custo da alimentação. Note-se que, hodiernamente, o valor pago aos servidores do Poder Executivo corresponde a R$ 304,00 (trezentos e quatro reais) fixados nos termos da Portaria nº 42, de 09 de fevereiro de 2010. Ora, é intuitivo que o valor diário, inferior a quatorze reais, não se presta a indenizar os custos com a alimentação durante um dia de trabalho. Considerando que o auxílio-alimentação possui natureza indenizatória, se o valor do benefício não for suficiente para cobrir as despesas das 1 Com efeito, indenizar significa tornar indene (do latim, indemnis, indemne), isto é, sem dano ou prejuízo. Assim, a própria natureza da indenização exige que esta corresponda ao valor total do dano para que cumpra sua finalidade. 3
refeições dos servidores, a estes é infligido um dano, que somente pode ser elidido mediante a elevação do valor em questão. 3. Da necessidade de observância ao princípio da isonomia quando da fixação do auxílio-alimentação Conforme exposto, está-se a tratar de respeito, por parte da Administração Pública, ao direito social consubstanciado no art. 7º, inciso IV da CF 2 (estendido aos servidores públicos pelo art. 39, 3º da CF 3 ), de que os servidores sejam remunerados de modo a atender as suas necessidades vitais e às de sua família moradia, alimentação, saúde, etc. À medida que o auxílio-alimentação, insculpido entre os direitos sociais presentes na Constituição Federal, destina-se a indenizar os gastos do trabalhador com a sua alimentação, imperioso concluir que se está a tratar da observância à dignidade da pessoa enquanto princípio fundamental, presente no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal. Assim, se os valores pagos a título de auxílio-alimentação não se revelam suficientes para indenizar os custos da alimentação nos dias de trabalho, não há como afastar a conclusão de que se está impondo aos servidores uma condição de alimentação deficiente ou, alternativamente, o comprometimento do orçamento destinado a necessidades vitais diversas, tais como moradia, saúde e educação, a fim de se manter a ingestão adequada de nutrientes. Não bastasse a afronta à legislação que regulamenta o auxílioalimentação, tem-se, ademais, a violação ao princípio da isonomia, previsto nos termos do art. 5º, caput, da Constituição Federal: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] Isso porque, analisada a estrutura remuneratória de servidores dos outros Poderes da República, resta manifesta a ausência de isonomia no 2 Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; [...] 3 Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas. [...] 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. [...] 4
tratamento dispensado pelo Poder Executivo aos seus servidores. Observa-se, exemplificativamente, que os servidores do Tribunal de Contas da União percebem, a título de auxílio-alimentação 4, o valor mensal de R$ 740,96 (setecentos e quarenta reais, noventa e seis centavos). É intuitivo que o valor diário, mais de trinta e três reais, denota maior coerência entre a norma instituidora do auxílio-alimentação e a finalidade para a qual o benefício foi instituído. Considerando a natureza alimentícia e a necessidade de manutenção do poder aquisitivo do auxílio-alimentação, a Portaria-TCU nº 145, de 26/05/2010 5 determinou, ainda, que o valor do benefício deve ser corrigido anualmente através da aplicação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, política implementada com sucesso desde o início da sua vigência. A ausência de isonomia é igualmente perceptível quando observado o valor do auxílio-alimentação pago a outros servidores da União como, por exemplo, os servidores do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Superior Tribunal Militar, fixado em R$ 710,00 (setecentos e dez reais), e do Conselho Nacional de Justiça, correspondente a R$ 710,00 (setecentos e dez reais), regulamentado nos termos da Instrução Normativa nº 17, de 23 de abril de 2009 6. Tais exemplos dão mostras da discriminação imposta aos servidores do Poder Executivo. Se o Estado Democrático de Direito em que vivemos veda a dispensa de tratamento diferenciado àqueles que se encontram em idêntica situação, não se vislumbra o motivo pelo qual o auxílio-alimentação, que não é vantagem de natureza individual ou inerente ao local de trabalho, seja concedido a indivíduos pertencentes ao mesmo regime legal Lei 8.112/90 em valores exacerbadamente díspares. Nesse sentido, inclusive, é o teor do art. 41, 4º, da Lei 8.112/90: Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. [...] 4 o É assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre 4 Nos termos da Portaria SEGEDAM º 24, de 04 de fevereiro de 2011. 5 Art. 1º. O art. 9º da Portaria-TCU nº 82, de 13 de fevereiro de 1997, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 9º Ato do Secretário-Geral de Administração reajustará anualmente, no mês de janeiro, o valor do auxílioalimentação com base na variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) Grupo Alimentação e Bebidas Item Alimentação Fora do Domicílio no Brasil divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parágrafo único. Em 2010, o reajuste anual a que se refere o caput deste artigo será realizado no mês de maio. 6 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/instrucoes-normativas/11189-instrucao-normativa-no-17-de-23-de-abril-de- 2009>. Acesso em 09.11.2011. 5
servidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. A inexistência de previsão orçamentária para a concessão do devido reajuste no valor do auxílio-alimentação, por sua vez, não tem o condão de sobrepor-se aos princípios constitucionais e legais, violando-os, sobretudo em razão de tratar-se de verba de natureza essencialmente alimentar. Nesse ponto, necessário destacar que é responsabilidade exclusiva da Administração, quando da dotação orçamentária, prever o dispêndio com o auxílio-alimentação em compasso com o que determina a Constituição Federal e a legislação. Note-se que, em decisão proferida no RE 428.991-1, o Supremo Tribunal Federal deixou clara a natureza alimentar do benefício, enfatizando a impossibilidade de que o direito seja esvaziado pela inércia do Estado: A Lei Estadual n. 10.002, de 6.12.93, instituiu o vale-refeição aos servidores estaduais e em seu artigo 2º fixou em 22 o número de dias trabalhados mensalmente para os efeitos da lei, a exceção dos servidores militares e policiais civis, para os quais se fixou em 30 e, no que tange ao reajuste, o artigo 3º prevê que o valor unitário do benefício será fixado e revisto mensalmente por decreto do Poder Executivo. Mesmo assim, placitou a Corte de origem, a partir de interpretação emprestada ao artigo 169, 1º, inciso I, da Constituição Federal, o congelamento da parcela, olvidando em si, a natureza alimentar do benefício e, mais do que isso, a norma que respaldou a reposição do poder aquisitivo. Fez-se integrado ao patrimônio dos servidores, à relação jurídica mantida, certo direito, e este não pode ser esvaziado pela inércia do Estado, ante os nefastos efeitos da inflação. (STF, 1ª Turma, RE 428991, Relator Min. Marco Aurélio, DJe de 30/10/2008) No caso concreto, a concessão do benefício aos servidores do Poder Executivo em valor incompatível com os gastos que visa a compensar, ou seja, em valor insuficiente para prover a alimentação de um dia de trabalho, acaba por frustrar o intuito do auxílio-alimentação. Tal situação deve ser corrigida, fixando-se o valor do auxílioalimentação de forma compatível com o concedido pelos demais Poderes, procedimento que garantirá a suficiência do benefício para indenizar as despesas efetuadas pelos servidores com alimentação. 4. Da afronta aos princípios da razoabilidade e finalidade 6
A ausência de isonomia na concessão do reajuste do auxílioalimentação afronta, por outro lado, os princípios da razoabilidade e finalidade, inscritos na Lei 9.784/99: Art. 2 o. A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Bandeira de Mello: Ambos os preceitos estão ligados, como ensina Celso Antônio É óbvio que uma providência administrativa desarrazoada, incapaz de passar com sucesso pelo crivo da razoabilidade, não pode estar conforme à finalidade da lei. Donde, se padecer deste defeito, será, necessariamente, violadora do princípio da finalidade. Isso equivale a dizer que será ilegítima, conforme visto, pois a finalidade integra a própria lei. Em conseqüência será anulável pelo Poder Judiciário, a instâncias do interessado. 7 Conforme restou exaustivo exposto, é evidente que os valores hodiernamente percebidos pelos servidores do Poder Executivo não se coadunam com a finalidade da legislação instituidora e nem se assemelham ao quantum pago por outros segmentos da Administração Pública. Se há previsão legal de que um benefício deve ser concedido em pecúnia para indenizar os custos dos servidores com a sua alimentação nos dias de trabalho e que o valor concedido corresponde, em média, a R$ 700,00 (setecentos reais), periodicamente reajustados para manutenção do poder aquisitivo, não há como se vislumbrar a razoabilidade na determinação de pagamento de ínfimos R$ 304,00 (trezentos e quatro reais) apenas a parcela dos servidores públicos. Imperioso concluir, portanto, que a supressão da afronta aos princípios em questão apenas será atingida quando concedido aos substituídos o reajuste adequado, assegurada a isonomia de tratamento, bem como a sua regular atualização frente à inflação acumulada. Do Pedido Considerando a natureza alimentícia e indenizatória do auxílioalimentação, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal CONDSEF requer: a) seja fixado o valor do auxílio-alimentação a ser pago aos substituídos, servidores do Poder Executivo, de forma equiparada ao que atualmente é 7 MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 92. 7
pago aos servidores do Tribunal de Contas da União - TCU, assegurando assim sua finalidade de compensar os gastos com alimentação em um dia de trabalho, em estrita observância à legislação federal e aos princípios constitucionais da isonomia, razoabilidade e finalidade; b) seja instituída a periodicidade com que se procederá com a revisão do valor pago a título de auxílio-alimentação, nos termos do pedido a, em estrita observância ao teor do artigo 22, caput e 1º, da Lei 8.460/92 e no artigo 3º do Decreto 3.887/01, bem como a taxa de correção a ser utilizada, no caso, aquela que melhor reflita a perda do poder aquisitivo frente à inflação do setor alimentício. Nesses termos, Pede deferimento. Brasília, 05 de dezembro de 2011. Josemilton Maurício da Costa Secretário-Geral CONDSEF 8