PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ 4ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901 Autos nº. 0012364-56.2018.8.16.0000 Recurso: 0012364-56.2018.8.16.0000 Classe Processual: Agravo de Instrumento Assunto Principal: Dívida Ativa Agravante(s): CELSO SAMIS DA SILVA Agravado(s): Fazenda Pública do Município de Foz do Iguaçu Vistos estes autos de Agravo de Instrumento nº 0012364-56.2018.8.16.0000 em que é Agravante Celso Samis da Silva e Agravado Município de Foz do Iguaçu. I. RELATÓRIO Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento com pedido de concessão de efeito suspensivo manejado por Celso Samis da Silva em face da decisão interlocutória de evento 104.1/sistema Projudi proferida nos autos de Execução Fiscal nº 0029418-18.2013.8.16.0030, a qual concedeu o pedido do Recorrido determinando bloqueio de 30% (trinta por cento) dos valores recebidos pelo Recorrente a título de salário. Em suas razões recursais, o Agravante aduz ser ilegal a decisão proferida pelo Juízo singular, pois viola frontalmente o princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado pela garantia do mínimo existencial e a impenhorabilidade dos proventos salariais insculpida no artigo 833, IV do Código de Processo Civil. Requer, assim, seja concedido efeito suspensivo ao presente Agravo de Instrumento e, ao final, seu conhecimento e provimento para reformar a decisão do Juízo a quo (evento 01.1/TJ). É o relatório. II. FUNDAMENTAÇÃO Verificando-se que a decisão interlocutória guerreada versa sobre as hipóteses previstas no artigo 1.015 do CPC, conhece-se do recurso [1]. Celso Samis da Silva interpôs recurso de Agravo de Instrumento contra decisão que concedeu a
constrição de 30% (trinta por cento) dos valores recebidos por ele a título de salário, proferida nos autos de Execução Fiscal nº 0029418-18.2013.8.16.0030. Em análise dos autos, nesta fase de cognição sumária, não merecem guarida as razões do Recorrente quando pretende a concessão do efeito suspensivo ao recurso de Agravo de Instrumento. O Município de Foz do Iguaçu propôs Execução Fiscal contra Celso Samis da Silva com base em Certidões de Dívida Ativa oriundas do acórdão nº 840/2011 do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE). A decretação de bloqueio dos bens do Agravante mostra-se necessária, não podendo ser retirada ou restrita nos termos pleiteado, ao menos nesse momento de conhecimento sumário do feito, pois, como bem salientado pelo Magistrado singular há circunstâncias excepcionais presentes no caso em tela, as quais evidenciam a necessidade de relativização da regra de impenhorabilidade prevista no artigo 833, IV do CPC (evento 104.1/folhas 01-02/sistema Projudi): No Brasil, onde a renda média não ultrapassa 02 (dois) salários mínimos, e, somente em casos excepcionalíssimos há aqueles que percebam mais de 50 (cinquenta) salários mínimos mensais ( cerca de quarenta e quatro mil reais), vê-se necessário interpretar o dispositivo de maneira extensiva. Caso contrário, ele se torna inaplicável. A norma nova se estabeleceu com o intuito de evitar o constante inadimplemento por parte daqueles que percebiam mensalmente montante em limiar significativo, maior que o do cidadão comum, cuja subsistência não se encontraria prejudicada com a retirada de determinado montante. Este é o sentido que se verifica da exposição de motivos do anteprojeto do atual código[1]: (...) Não se olvida que o custo de vida de uma pessoa tende a se adequar aos seus rendimentos, pois todos buscam maior qualidade de vida. No entanto, se do volume dos vencimentos há destinação parcial a voluptuosidades, a constrição de parte dela pouco refletirá na subsistência. Evidente que os prazeres e luxos da vida permitem a vivencia com melhor qualidade (e maior dignidade, por mais insensível que seja reconhecer). Porém, não é razoável esperar que parcela nenhuma de tal montante seja destinada ao cumprimento de obrigações e à manutenção do próprio patrimônio, salvo se em comprovado momento de crise financeira pessoal. Nesse sentido é o entendimento jurisprudencial do colendo Tribunal Superior de Justiça (STJ): PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. RELATIVIZAÇÃO DA REGRA DA IMPENHORABILIDADE. 1. Ação de cobrança, em fase de cumprimento de sentença, de que foi extraído o presente recurso especial, interposto em 12/12/2012 e concluso ao Gabinete em 25/08/2016.
2. O propósito recursal é decidir sobre a possibilidade de penhora de 30% (trinta por cento) de verba recebida a título de aposentadoria para o pagamento de dívida de natureza não alimentar. 3. Quanto à interpretação do art. 649, IV, do CPC/73, tem-se que a regra da impenhorabilidade pode ser relativizada quando a hipótese concreta dos autos permitir que se bloqueie parte da verba remuneratória, preservando-se o suficiente para garantir a subsistência digna do devedor e de sua família. Precedentes. 4. Ausência no acórdão recorrido de elementos concretos suficientes que permitam afastar, neste momento, a impenhorabilidade de parte dos proventos de aposentadoria do recorrente. 5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp 1394985/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/06/2017, DJe 22/06/2017) Posicionamento semelhante também é albergado pela jurisprudência do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PENHORA DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA. IMPENHORABILIDADE DOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA. Argumentação rejeitada. Cabimento do ato de afetação. Interpreta-se, em sede de juízo de ponderação de interesses, que a ordem de bloqueio posa recair sobre parte da remuneração, que também é benefício que será utilizado para o pagamento de dívidas. Interpreta-se que será possível afastar a blindagem legal proporcionada pela regra da impenhorabilidade, albergada pelo artigo 833, inciso IV, do Código de Processo Civil, para determinar a prevalência do significativo interesse público que se extrai do título judicial, formado em sede de ação de improbidade administrativa, o que permite, excepcionalmente, o ato de indisponibilidade de parte dos proventos do agente considerado ímprobo. Manutenção do bloqueio de 30% dos proventos de aposentadoria. Inexistência de tese firmada em julgamento de recursos repetitivos. Ausência de vinculação do Tribunal. Decisão mantida. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJSP; Agravo de Instrumento 2022221-50.2017.8.26.0000; Relator (a): José Maria Câmara Junior; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Público; Foro de Registro - 2ª. Vara Judicial; Data do Julgamento: 24/05/2017; Data de Registro: 29/05/2017) Isso porque, a proporcionalidade implica um juízo de adequação entre os fins almejados e os meios empregados, de tal modo que a verificação do atendimento ao referido princípio deve ser casuística. Dessa forma, não se pode valorar a proporcionalidade de uma medida em abstrato, apenas em relação a um paradigma. Nesse sentido, não basta para infirmar esse entendimento a circunstância de se tratar de restrição a direito fundamental, pois visa a resguardar a efetividade de ressarcimento de valores indevidamente retirados do erário, o que é, por si só, uma garantia constitucional a direitos fundamentais difusos, como a moralidade e probidade administrativa.
Assim, em sede de cognição sumária e pelos motivos acima explicitados, indefiro o pedido de efeito suspensivo, mantendo a decisão singular por seus próprios fundamentos. suspensivo. III. DECISÃO Diante do acima exposto, em sede de cognição sumária, Anote-se minha vinculação a esses autos. indefiro a concessão do efeito Intime-se o Agravado, por meio de seu representante legal, para que, no prazo de 15 dias, responda ao presente recurso (CPC, artigo 1019, II [2]). Intime-se o Agravante da presente decisão. Após, à Douta Procuradoria Geral de Justiça, nos termos do inciso III do citado artigo [3]. Cumprido todos os itens acima, tornem conclusos para julgamento. Para o célere cumprimento dos atos, autorizo a (o) Chefe de Seção da 4ª Câmara Cível a subscrever os expedientes necessários. [1] Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, 1o;
XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. [2] II - ordenará a intimação do agravado pessoalmente, por carta com aviso de recebimento, quando não tiver procurador constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por carta com aviso de recebimento dirigida ao seu advogado, para que responda no prazo de 15 (quinze) dias, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária ao julgamento do recurso; [3] III - determinará a intimação do Ministério Público, preferencialmente por meio eletrônico, quando for o caso de sua intervenção, para que se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias. Curitiba, 12 de Abril de 2018. Juiz Subst. 2ºGrau Hamilton Rafael Marins Schwartz Magistrado