A principal alteração à obrigação de declaração de rendimentos ocorre com o aditamento do artigo 151.º-A, que dispõe que os trabalhadores

Documentos relacionados
DEPARTAMENTO DE PRESTAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES SETOR DE ANÁLISE E GESTÃO DO CONHECIMENTO. Nota Informativa

Alterações ao regime contributivo dos trabalhadores independentes Lei n.º 2/2018, de 9 de janeiro

BTOC P O R T U G A L

c9c235694b744b9fb e0e5f

TRABALHADORES INDEPENDENTES

Altera o regime contributivo dos trabalhadores independentes. Decreto-Lei n.º 2/ Diário da República n.º 6/2018, Série I de

Getting to the point Tax News Flash n.º3/2018

RECIBOS VERDES O QUE VAI MUDAR EM 2019

BOLETIM INFORMATIVO NOVO REGIME SIMPLIFICADO DE I.R.S NOVO REGIME PARA A SEGURANÇA SOCIAL TRABALHADORES INDEPENDENTES 2019

TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA SOCIAL

Perguntas Frequentes

Guia da Segurança Social: Como vão funcionar os descontos para quem tem recibos verdes

Trabalhadores Independentes

Novo Regime dos Trabalhadores Independentes. Instituto da Segurança Social, I.P.

Lei n.º 83-C/2013, de 31 de dezembro

Grupo Parlamentar PROPOSTA DE ALTERAÇÃO PROPOSTA DE LEI 42/XI ORÇAMENTO DO ESTADO PARA Artigo 66.º

Código Contributivo Regime dos Trabalhadores Independentes

REGIME DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

Trabalhadores Independentes Atualizado em:

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

DECRETO N.º 38/XIII. Regime de apoio à agricultura familiar nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira

OE 2011 Alterações ao Código Contributivo

Novo modelo contributivo dos Trabalhadores Independentes na Segurança Social Segurança Social

CÓDIGO DOS REGIMES CONTRIBUTIVOS DO SISTEMA PREVIDENCIAL DE SEGURANÇA SOCIAL LEI N.º 110/2009, DE

1 Declarações para efeito do cálculo do rendimento relevante

O pagamento das contribuições deve ser efetuado de 1 a 20 do mês seguinte àquele a que respeitam.

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Trabalhadores Independentes

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

REGIME DE SEGURANÇA SOCIAL DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES DECRETO-LEI N.º 328/93, DE 25 DE SETEMBRO

IRC PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DECORRENTES DO OE 2013

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Trabalhadores Independentes

Lei n.º 55-A/2010, de 31 de dezembro. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Obrigações Fiscais e a relação com o Estado

REPÚBLICA DE ANGOLA CONSELHO DE MINISTROS. Decreto n.º 42/08. de 3 de Julho

ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2011

CÓDIGO CONTRIBUTIVO. Novo regime dos independentes

Simulador da Segurança Social

Fiscal, 38.ª Edição Col. Legislação

PROPOSTA DE ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2011 CÓDIGO DOS REGIMES CONTRIBUTIVOS DO SISTEMA PREVIDENCIAL DE SEGURANÇA SOCIAL

16/10/2018. ACMeetings. ACMeetings BBB BBB. BIC mínima de 1,5 IAS 643,35 X 0,214 = 137,67

PROPOSTA DE LEI N.º 270/X. Aprova o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de segurança Social. Proposta de emenda ao Código

GUIA PRÁTICO ENTIDADES CONTRATANTES INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I.P

DESCONTOS PARA A SEGURANÇA SOCIAL NOVIDADES EM 2019 QUAL O IMPACTO NOS MÉDICOS?

Trabalhador Independente Atualizado em:

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES FAQ s Regime Geral de Segurança Social dos Trabalhadores Independentes

PROJECTO DE LEI N.º 546/XI/2.ª

Calendário das Obrigações Fiscais e Parafiscais para o mês de MAIO DE 2015

Subsídios e outros apoios das entidades publicas Operacionalização

SEMINÁRIO SOBRE PROPOSTAS DE MEDIDAS DE APERFEIÇOAMENTO DA PROTECÇÃO SOCIAL OBRIGATÓRIA

05/2011 Janeiro 2011 CÓDIGO CONTRIBUTIVO SEGURANÇA SOCIAL TRABALHADORES INDEPENDENTES 1/5

Regime de transparência fiscal sociedades de profissionais. Enquadramento em sede de segurança social

N.º5 PORTUGAL IGUALDADE SALARIAL ENTRE GÉNEROS GANHOU UMA NOVA LEI ANGOLA WORKSHOP SOBRE O IVA E A SUA INTRODUÇÃO M A G A Z I N E

Legislação Citada. Divisão de Informação Legislativa e Parlamentar

Fórum Jurídico. JULHO 2018 Direito do Trabalho. 1/6

Implicações do Código dos Regimes Contributivos REGIMES APLICÁVEIS A TRABALHADORES INTEGRADOS EM CATEGORIAS OU SITUAÇÕES ESPECÍFICAS

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial

ANEXO B DECLARAÇÃO MODELO 22

DECLARAÇÃO ANUAL DO VALOR DA ATIVIDADE DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

Direito do Trabalho e Segurança Social

Orçamento Rectificativo para 2012: propostas fiscais

Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Direito do Trabalho e Segurança Social

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Pagamento Voluntário de Contribuições

Novo enquadramento dos trabalhadores independentes no âmbito do Código Contributivo

LEI 42/2016 DE 28 DE DEZEMBRO O.E Artigo 190.º do OE Alteração ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

Lei n.º 4/2009 de 29 de Janeiro. Define a protecção social dos trabalhadores que exercem funções públicas

SEGUROS DE VIDA IRS 2018

Orçamento do Estado 2018 IRS Ana Duarte

PROPOSTA DE LEI N.º 323/XII INSTITUI UM REGIME DE APOIO À AGRICULTURA FAMILIAR NA REGIÃO AUTÓNOMA DOS AÇORES

Tributação dos advogados , delegação de Viana do Castelo

CIRCULAR N.º 2-II / 2011

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. Pagamento Voluntário de Contribuições

CÓDIGO CONTRIBUTIVO Principais Implicações para as Empresas. João Santos

DIPLOMA/ACTO: Portaria nº 1514/2002

Orçamento do Estado 2013 Medidas que fazem diferença

GUIA PRÁTICO NOVO REGIME DOS TRABALHADORES INDEPENDENTES

17/01/2018 BBB FIM DO REGIME DO PAGAMENTO DE METADE DOS SUBSÍDIOS DE FÉRIAS E DE NATAL EM DUODÉCIMOS

PERGUNTAS FREQUENTES. A Seg&'()ça S,c.a/ 01.s 34óxi81 9: si!

Diário da República, 1.ª série N.º 47 7 de março de Portaria n.º 98/2017

SEGUROS DE VIDA IRS 2017

Lei n.º 42/2016, de 28/12 Lei do Orçamento do Estado para 2017 / LOE2017. Alterações para Código Impostos sobre Património

O Novo Código Contributivo alguns comentários sobre o seu impacto nas empresas

Diário da República, 1.ª série N.º de julho de Artigo 10.º. Artigo 8.º

ORA newsletter. Resumo Fiscal/Legal Janeiro de Alguns Aspectos do novo Código Contributivo 2 Revisores e Auditores 11

Lei n.º 20/2012, de 14 de maio. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea g) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Apresentação Siglas utilizadas Lista de perguntas Questões iniciais Segurança Social Impostos IRS Impostos IVA Faturação/Comunicações Ato Isolado

252 Diário da República, 1.ª série N.º de janeiro de 2019

Algumas Orientações da Administração Fiscal:

Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social

Lei n.º 3/2009, de 13 de Janeiro. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

IRS (Lei n.º 66-B/2012 de 31 de Dezembro) SEGUROS DE VIDA

Novos Prazos: Declaração de Remunerações à Segurança Social Pagamento das Contribuições e Quotizações à Segurança Social

f164db183a6a483c8e91371e2e57edd7

MINISTÉRIOS DAS FINANÇAS E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL

Diário da República, 1.ª série N.º de julho de Decreto Regulamentar n.º 6/2018

Diário da República, 1.ª série N.º de janeiro de

Transcrição:

Foi publicado, no dia 9 de Janeiro, o Decreto-Lei n.º 2/2018, que procede à alteração do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social. A profunda alteração incide sobre o regime dos profissionais independentes, tendo como objectivo, segundo o preâmbulo do diploma, a preservação da dignidade do trabalho e o aumento da protecção social dos trabalhadores independentes. É aditada a exclusão no âmbito pessoal do regime dos trabalhadores independentes, dos profissionais que tenham rendimentos de categoria B exclusivamente resultantes da produção de eletricidade para autoconsumo ou de unidades de pequena produção a partir de energias renováveis, e de contratos de arrendamento e de arrendamento urbano para alojamento local em moradia ou apartamento. Enquanto a primeira representa uma redução do âmbito das situações excluídas do regime dos trabalhadores independentes relacionadas com a produção de electricidade, a segunda, como o próprio preâmbulo reconhece, tem como objectivo não prejudicar os sujeitos passivos de IRS, pelo facto do regime jurídico aplicável enquadar os rendimentos decorrentes destas actividades na categoria B, num esforço de combate à economia paralela.

Uma das principais alterações ocorreu no artigo 140.º, que prevê o pagamento de contribuições por parte das entidades contratantes. Para uma entidade ser considerada uma entidade contratante, esta terá que beneficiar de uma grande percentagem do valor total da actividade do trabalhador independente. O limite, anteriormente fixado em 80%, foi agora reduzido para mais de 50% do valor total da actividade de trabalhador independente. Além desta redução, a taxa contributiva para as entidades contratantes presente no n.º 7 do artigo 168.º é alterada, passando a ser de 10% nas situações em que a dependência é superior a 80% e de 7% nas restantes situações, a incidir sobre o valor total dos serviços que lhe foram prestados por trabalhador independente no ano civil a que respeitam. A obrigação contributiva quer dos trabalhadores independentes, quer das entidades contratantes, está definida no artigo 151.º do Código dos Regimes Contributivos. Para os primeiros compreende o pagamento de contribuições e a declaração, que deixou de ser anual, dos valores correspondentes à actividade exercida. Para os segundos envolve apenas o pagamento das respectivas contribuições. Houve, igualmente, uma mudança de paradigma na definição da obrigação contributiva, principalmente para os profissionais independentes. O início da produção de efeitos do primeiro enquadramento, a partir da qual se torna efetiva a obrigação de pagamento de contribuições, deixou de ter como parâmetro o montante de rendimentos relevantes do trabalhador independente, passando a verificar-se automaticamente no 1.º dia do 12.º mês posterior ao do início de atividade. Com efeito, antes desta alteração, a obrigação contributiva era considerada com base na declaração anual de rendimentos, e consequente imputação do valor apurado nessa declaração como parâmetro de contribuições para o ano seguinte, sendo o duodécimo desse valor que se considerava para efeitos de cálculo da base de incidência. Este pressuposto foi alterado. Também a obrigação contributiva, quer de declaração quer de pagamento das contribuições, sofreu uma modificação, passando a estar sujeita a uma periodicidade trimestral.

A principal alteração à obrigação de declaração de rendimentos ocorre com o aditamento do artigo 151.º-A, que dispõe que os trabalhadores independentes, quando sujeitos ao cumprimento da obrigação contributiva, são obrigados a declarar trimestralmente o valor total dos rendimentos associados à produção e venda de bens ou de prestação de serviços. A declaração é efectuada até ao último dia dos meses de Abril, Julho, Outubro e Janeiro, relativamente aos rendimentos obtidos nos três meses imediatamente anteriores, devendo declarar ou confirmar, no mês de Janeiro, os valores dos rendimentos relativos ao ano civil anterior. A obrigação de pagamento das contribuições também sofre profundas alterações. Em primeiro lugar, o pagamento das contribuições mensais deverá passar a ser realizado entre o dia 10 e o dia 20 do mês seguinte àquele a que respeita. Através da alteração à isenção da obrigação de contribuir para os trabalhadores independentes quando acumulem actividade independente com actividade profissional por conta de outrem, prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 157.º, passa a haver sujeição a contribuições na parte relativa ao rendimento relevante mensal médio apurado trimestralmente de montante inferior a 4 vezes o IAS. Ou seja, por outras palavras, está sujeito a contribuições o rendimento que exceder 5146,80 por trimestre. Porém, estas contribuições, de acordo com o aditado artigo 283.º-A, apenas relevam para determinação da remuneração de referências nas eventualidades de invalidez, velhice e morte. Também a determinação do rendimento relevante, no caso de profissionais não abrangidos pelo regime de contabilidade organizada, é agora determinado com base não no rendimento anual, mas antes com base nos rendimentos obtidos nos três meses imediatamente anteriores ao mês da declaração trimestral, na percentagem de 70% do valor total de prestação de serviços, e 20% dos rendimentos associados à produção e venda de bens. O valor do rendimento é apurado pela instituição de segurança social competente, tendo por base não só os valores declarados pelo trabalhador, mas também os valores que forem declarados para efeitos fiscais, através de comunicação electrónica oficiosa da administração fiscal. O cálculo da base de incidência contributiva também foi sujeito a uma profunda alteração, tendo sido abandonado o cálculo da base de incidência com divisão em escalões determinados por referência ao duodécimo do rendimento relevante. No caso de profissionais não sujeitos a contabilidade organizada, este corresponde a 1/3 do rendimento relevante apurado em cada período declarativo, produzindo efeitos no próprio mês e nos dois meses seguintes.

Quando o trabalhador independente estiver abrangido pelo regime de contabilizada, previsto no Código do Rendimento de Pessoas Singulares, por norma, o seu rendimento relevante corresponde ao valor do lucro tributável apurado, no ano civil imediatamente anterior. Já a base de incidência contributiva correspondera ao duodécimo do lucro tributável, com limite mínimo de 1,5 vezes o valor do IAS, ou seja, 643,35, sendo fixada em outubro para produzir efeitos no ano civil seguinte. O artigo 164.º, que passa a ter a epígrafe Direito de opção, possibilita ao trabalhador independente, no momento da declaração trimestral, optar pela fixação de um rendimento superior ou inferior até 25% daquele que resultar dos valores declarados trimestralmente, sem prejuízo dos limites do artigo 163.º, sendo a opção efectuada em intervalos de 5%. Os trabalhadores independentes abrangidos pelo regime de contabilidade organizada, quando notificados da base de incidência contributiva que lhe for aplicável, podem requerer, no prazo que for fixado na notificação, que lhes seja aplicado o regime de apuramento trimestral do relevante, ao invés do anual, ficando sujeitos à obrigação declarativa trimestral a partir de Janeiro. Como o direito de opção previsto no artigo 164.º poderia levar a uma diminuição das contribuições até 25%, foi aditado o artigo 164.º-A, dispondo que os serviços da segurança social procedem, anualmente, à revisão das declarações relativas ao ano anterior com base na comunicação de rendimentos efectuada à administração fiscal. O n.º 2 do artigo 164.º-A refere que o pagamento de contribuições resultante da revisão é considerado, para todos os efeitos, como efectuado fora do prazo, o que abre portas para a cobrança de juros de mora. Resta saber se, caso o contribuinte tenha optado pela fixação de valor superior, se também serão também devidos juros de mora ao contribuinte. Por último, a taxa contributiva a cargo dos trabalhadores independentes passa de 29,6% para 21,4%, sendo que a taxa contributiva a cargo dos empresários em nome individual e dos titulares de estabelecimento individual de responsabilidade limitada e respectivos cônjuges é reduzida de 34,75% para 25,2%. Foi ainda eliminada taxa contributiva de 28,3% anteriormente aplicável aos produtores agrícolas com rendimentos exclusivos da atividade agrícola.

Apesar de a entrada em vigor do Decreto-lei n.º 2/2018 ter ocorrido no dia seguinte ao da sua publicação, certo é que a sua produção de efeitos apenas ocorre a 1 de Janeiro de 2019, com excepção do regime transitório. Este dispõe que, em Outubro de 2018, os trabalhadores independentes, abrangidos pelo regime de contabilidade organizada, são notificados da base de incidência contributiva apurada com base no lucro tributável declarado para efeitos fiscais no ano de 2018, para o exercício do direito de opção de aplicação do regime de apuramento trimestral do rendimento relevante, ficando sujeito à obrigação declarativa trimestral a partir de Janeiro de 2019. Também a declaração trimestral a efectuar em Janeiro de 2019 terá por referência os rendimentos auferidos no trimestre imediatamente anterior. Marcos Tavares Pinho Advogado