COMPOSIÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL EM PERÍODOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

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Transcrição:

Revista Brasileira de Meteorologia, v.19, n.1, 89-98, 2004 COMPOSIÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL EM PERÍODOS DE EL NIÑO E LA NIÑA NELSON J. FERREIRA 1, MARCOS SANCHES 1 E MARIA A. F. SILVA DIAS 2 1 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Av. dos Astronautas, 1758, Jardim da Granja, São José dos Campos - SP, 12.227-010 2 Universidade de São Paulo, São Paulo, Departamento de Ciências Atmosféricas Rua do Matão, 1226, São Paulo - SP, 05508-9000 E-mail: nelson@ltid.inpe.br, msanches@cptec.inpe.br, mafdsdia@model.iag.usp.br Recebido Abril 2003 - Aceito Março 2004 RESUMO Este trabalho analisa os padrões atmosféricos dominantes em situações de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) durante anos de El Niño (EN) e La Niña (LN) a partir de uma técnica de composição. O estudo foi realizado utilizando-se as reanálises do National Centers for Environmental Prediction-National Center for Atmospheric Research (NCEP-NCAR) para os meses de verão no período de 1980 a 2000, bem como dados diários de Radiação de Onda Longa Emergente. Os resultados obtidos evidenciam as seguintes carcterísticas: 1) Maior variabilidade de ocorrência de episódios de ZCAS em anos de La Niña e uma tendência de ocorrer 3 episódios em anos de El Niño; 2) Maior intensificação da convecção sobre o oceano Atlântico Sudoeste para anos de El Niño e maior sobre o continente em anos de La Niña; 3) A circulação de grande escala em altos níveis não evidencia a presença da ZCAS; 4) Em altos níveis, em anos de EN o campo de anomalias de geopotencial mostra um prolongamento para o oceano da ZCAS e uma extensa área de anomalias negativas de vorticidade relativa ao norte desta. Além disso, em anos de LN, observa-se que anomalias negativas de vorticidade ao sul da ZCAS estendem-se para o continente, modulando a atividade convectiva tanto na parte oceânica quanto sobre o continente. Palavras-chave: ZCAS, atividade convectiva, convergência, radiação de onda longa. ABSTRACT: COMPOSITE ANALYSIS OF THE SOUTH ATLANTIC CONVERGENCE ZONE DURING EL NIÑO AND LA NIÑA PERIODS This paper analyzes the prevailing atmospheric circulation pattern associated with the South Atlantic Convergence Zone (SACZ) during El Niño and La Niña years using a composite technique. Two primary data sets were used: gridded National Centers for Environmental Prediction-National Center for Atmospheric Research (NCEP-NCAR) reanalysis at standard pressure levels and outgoing longwave radiation (OLR). The study focuses on the austral summer during the 1980-2000 period. The obtained composites results show the following features: 1) Increased variability of SACZ in La Niña years, and a trend of three events per EL Niño year; 2) Enhanced convective activity in El Niño years over oceanic areas, and enhanced convection in La Niña years over land; 3) The large scale circulation at the upper levels does not show evidences of SACZ; 4) At upper tropospheric levels, during El Niño years the distribution of geopotential anomalies shows an alongation of the SACZ towards oceanic areas and a broad area of negative anomaly of relative vorticity to the north of that convergence zone. Also south of SACZ, negative vorticity anomalies extend over Brazil, favoring the convective activity over oceanic areas as well as over land during La Niña years. Key words: SACZ, convective activity, convergence, outgoing longwave radiation. 1. INTRODUÇÃO A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é um fenômeno típico de verão na América do Sul. Sua principal característica é a persistência de uma faixa de nebulosidade orientada no sentido noroeste-sudeste (NW-SE), cuja área de atuação engloba o centro sul da Amazônia, regiões Centro- Oeste e Sudeste, centro sul da Bahia, norte do Estado do Paraná e prolonga-se até o Oceano Atlântico sudoeste. A ZCAS exerce um papel preponderante no regime de chuvas na região onde atua, acarretando altos índices pluviométricos. Nos anos 1970, Taljaard (1972), Streten (1973) e Yassunary (1977) realizaram os primeiros estudos destacando a persistência de uma banda de nebulosidade de natureza convectiva na América do Sul, atualmente conhecida como Zcas. Krishnamurty et al. (1973), através de estudo sobre uma onda quasi-estacionária na América do Sul, mostrou a importância dessa banda no transporte de momentum, calor e

90 Nelson J. Ferreira et al. Volume 19(1) umidade dos trópicos. Posteriormente, os estudos sobre ZCAS se concentraram em três principais vertentes: Caracterização física buscando um entendimento e diagnostótico da atmosfera circundante (Calheiros e Silva Dias, 1988; Satyamurti e Rao, 1988; Nobre, 1988; Figueroa e Nobre, 1990; Silva Dias et al., 1991; Kodama, 1992 e 1993; Quadro, 1994); Possíveis influências remotas analisando-se fenômenos meteorológicos ou oceânicos (Quadro, 1994; Nogués-Paegle and Mo, 1997; Liebmann et al., 1999; Marton, 2000; Jones and Horel, 1990), e Simulações físicas (Silva Dias et al., 1987; Figueroa, 1997, e Grimm and Silva Dias, 1995a,. Kodama (1992) realizou uma minuciosa descrição comparativa entre a Zona de Convergência do Pacífico Sul, a ZCAS e a Zona Frontal Baiu, esta última atuante na costa leste do continente asiático. A partir de uma técnica de composição, ele diagnosticou diversas características da ZCAS sobre o oceano; dentre elas pode-se citar o transporte de umidade em baixos níveis, a manutenção da convecção pela convergência de umidade na baixa e na média troposfera, e o alto contraste de umidade. Sanches e Silva Dias (1996) adaptaram a técnica de composição proposta por Kodama para analisar padrões atmosféricos numa situação de ZCAS, e a variação diurna no Planalto Central do Brasil. Entretanto, o período analisado era relativamente curto, restringindo desta forma a validade dos resultados obtidos. Sanches (2002), utilizando-se as reanálises do National Centers for Environmental Prediction-National Center for Atmospheric Research (NCEP-NCAR) para os meses de verão no período de 1980 a 2000, realizaram um amplo estudo sobre composição de todos os casos de ZCAS. Os resultados mostram que a atividade convectiva na parte continental da ZCAS é mais profunda que na região oceânica. Eles observaram em baixos níveis, sobre o norte da Bolívia, um núcleo com velocidade de ventos relativamente alta. Além disso, os autores sugerem que a parte oceânica da ZCAS tem um suporte dinâmico baroclínico. Por outro lado, no continente eles sugerem a existência de outros fatores favoráveis, tais como a Alta da Bolívia, topografia e a alta umidade. No que se refere ao ciclo diurno, Sanches et al indicam a presença de uma oscilação da convecção na região da ZCAS: à tarde e noite a convecção concentra-se sobre o continente e durante o final da madrugada e período da manhã ela acentua-se sobre o oceano. Apesar dos inúmeros estudos sobre a ZCAS, a compreenção do comportamento da circulação troposférica associada em períodos atípicos ainda não foi suficientemente explorada. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo caracterizar a circulação atmosférica e a atividade convectiva ao longo dessa zona de convergência em anos de El Niño (EN) e La Niña (LN), utilizando-se uma técnica de composição. A grande vantagem dessa metodologia é a possibilidade de se ressaltar os padrões atmosféricos dominantes em situações específicas. 2. DADOS E METODOLOGIA Apresenta-se a seguir uma descrição dos dados que foram utilizados na análise, os passos utilizados para aplicação da técnica de composição nos casos de ZCAS e considerações sobre o teste de significância estatística (tipo T de Student) que foi aplicado nas análises das composições em anos de EN e LN. Para realizar a análise dos casos de ZCAS e aplicar a técnica de composição foram utilizados: Dados de reanálise do National Centers for Environmental Prediction-National Center for Atmospheric Research (NCEP-NCAR) (Kalnay et al., 1996), dispostos em pontos de grade com espaçamento de 2.5 o de longitude e latitude, nos níveis-padrão isobáricos e nos horários 00, 06, 12 e 18 (UTC). As variáveis utilizadas foram altura geopotencial, temperatura do ar, componentes zonal e meridional do vento, umidade específica, além de variáveis derivadas e Dados de radiação de onda longa emergente (ROLE) fornecidos pelo NOAA-CIRES do Climate Diagnostics Center, Boulder, Colorado. O período de abrangência do estudo compreende os meses de Dezembro, Janeiro, e Fevereiro, de 1980 a 2000. A visualização e a manipulação dos dados foram feitas utilizando-se o pacote Grid Analysis and Display System (GRADS), fornecido pelo Center for Ocean-Land-Atmosphere-Interactions (COLA). Para o desenvolvimento deste trabalho foram analisados casos de ZCAS identificados anteriormente por Quadro (1994), Kodama (1992), Sanches e Silva Dias (1996) e pela revista Climanálise (1982-2000). Com base nesses estudos, foram definidas as seguintes características para identificar os casos de ZCAS: Permanência de uma banda de nebulosidade por no mínimo 4 dias estendendose do sul da Amazônia até o Oceano Atlântico sudoeste; Convergência de umidade na baixa troposfera, Penetração de ar frio ao sul da banda de nebulosidade; d) Presença de um cavado a leste da Cordilheira dos Andes, associado a movimentos ascendentes orientado na direção noroestesudeste em 500 hpa; e) Presença da Alta da Bolívia em altos níveis e um cavado sobre a Região Nordeste do Brasil ou em determinadas situações um vórtice ciclônico e f) Uma faixa de vorticidade anticiclônica em altos níveis. Uma vez determinados todos os períodos de ZCAS no período de 1980 a 2000, utilizou-se os seguintes passos para obtenção dos campos compostos: Identificação do domínio espacial que tem como referência os pontos (latitude, longitude) onde os casos de ZCAS cruzam a costa leste do Brasil; Recorte de dados: 60 e 80 de longitude, respectivamente a leste e a oeste dos pontos de referência. Em latitude, o recorte estendeu 40 tanto para norte quanto para sul a partir dos pontos de referência; Determinação da média aritmética desses pontos para a obtenção da posição média da ZCAS; d) Transladação dos dados obtidos no passo b para uma nova grade (12.5 N a 55.0 S, e 0 a 90 W) cujo ponto central é a média obtida no passo c ; e) Determinação de médias em campos mensais para análise do comportamento em anos de atividade dos fenômenos EN ou LN. Na análise comparativa entre compostos de ZCAS

Junho 2004 Revista Brasileira de Meteorologia 91 para anos cujos fenômenos EN e LN estavam em atividade, torna-se necessário a aplicação de um teste de significância estatística tipo T de Student (WILKS, 1995). Esse teste teve como principal objetivo ressaltar as possíveis diferenças estatisticamente significativas entre os campos compostos de ZCAS. Foi suposto que as duas composições tenham tamanhos n1 e n2 extraídos de populações normais (ou aproximadamente normais) com desvios padrões iguais, isto é, σ1=σ2. Supôsse ainda que essas duas amostras tenham médias e desvios padrões dados por e respectivamente. Para testar a hipótese de que ambos campos são iguais, isto é, μ1=μ2, utilizou-se a seguinte formulação: em Trenberth (1997). Analisando-se essa tabela, verifica-se que foram encontrados 23 casos de ZCAS em 8 períodos de EN, 16 em 5 períodos de LN e 28 casos em 8 períodos de anos normais. A Tabela 1 foi sumarizada na Figura 1, em forma de um histograma de freqüência de episódios de ZCAS em relação à situação do Oceano Pacífico, ou seja, quantos episódios de ZCAS ocorreram, por verão, numa dada situação de Oceano Pacífico. Observa-se que em anos EN não foi registrado nenhum verão com mais de 3 eventos ZCAS. Por outro lado, anos normais e de LN apresentam verões com mais de 3 ocorrências de ZCAS. Além disso, existe uma tendência de ocorrência de 3 eventos ZCAS em anos normais, porém menos evidente do que em anos EN. (1) em que: T = distribuição de Student e = valores médios das amostras, n 1 e n 2 são os número de casos de ZCAS para anos de EN ou LN ou meses para o cálculo da climatologia. σ é o desvio padrão dado por: (2) S 1 e S 2 são as variâncias das amostras. O número de graus de liberdade ν, é dado por: O parâmetro T foi computado para cada ponto de grade e foram plotadas as regiões que não foram rejeitadas para o nível de confiança de 90%. (3) 3. RESULTADOS Nesta seção são apresentados os resultados da aplicação da técnica de composição em casos de ZCAS durante períodos nos quais os fenômenos EN ou LN estavam em atividade. Testes de significância estatística entre a climatologia e as composições de ZCAS são discutidas com o intuito de se avaliar a representatividade dos resultados. Na Tabela 1, são apresentados os anos de atividade dos fenômenos EN e LN, bem como anos nos quais ambos não estavam em atividade. Foi acrescido também o número de casos de ZCAS observados dentro do período de estudo. Para o período de 1997 a 2000, a definição de eventos de EN e LN foi baseada na revista Climanálise, e nos demais períodos Tabela 1: Número de casos de ZCAS ao longo do período de 1980 a 2000, associado a situações de El Niño, La Niña ou normal. Fonte: Trenberth (1997) e revista Climanálise. Na Figura 2, apresenta-se a composição de ROLE para anos de EN. Note-se que, na evolução dos meses, não se observa uma ocorrência simultânea entre a ZCIT e a banda de convecção da ZCAS. Jones e Horel (1990) propuseram que o EN possivelmente contribua para que a Alta da Bolívia e a atividade convectiva se desloquem para oeste em relação às suas posições médias. Comparando-se com a composição total (Figura 3), observa-se que a atividade convectiva sobre o continente sofre um ligeiro deslocamento para oeste e é menos intensa, exceto pelos núcleos mais ativos. Quadro (1994),

92 Nelson J. Ferreira et al. Volume 19(1) também sugere que em anos de EN, há uma desintensificação da convecção ao longo da banda de nebulosidade. Figura 1: Histograma de freqüência de episódios de ZCAS no trimestre dezembro, janeiro e fevereiro, em anos El Niño, La Niña e Normal. Sobre o oceano, nos meses de dezembro, janeiro e na média trimestral, verifica-se um núcleo menos intenso de ROLE em torno 35 S e 25 W. Aparentemente, essa característica está relacionada com a maior freqüência de sistemas frontais na região. Além disto, esse padrão também estaria associado à circulação modulada pelo EN, que determina a trajetória de transientes no sentido oesteleste em latitudes médias. Esse fato inibe a passagem de sistemas frontais para a faixa tropical, o que determina a desintensificação da convecção sobre o continente. Analisando a composição de ROLE para anos de LN (Figura 4), nota-se a ocorrência simultânea de ZCIT e da ZCAS de forma mais evidente, além da intensificação da convecção com núcleos inferiores a 190 Wm -2, tanto em relação à composição de todos os anos, quanto em relação a anos de EN (Figura 2). Outro fato observado na média trimestral da Figura 4 é a uniformidade da banda de convecção desde o oeste da América do Sul até o Oceano Atlântico Sul, não sendo verificado núcleos mais intensos na banda de convecção sobre o oceano, como no caso da composição em anos de EN. Apesar das diferenças destacadas anteriormente, uma questão emerge: Essas diferenças são significativas?. Para responder tal questionamento foram realizados testes de d) Figura 2: Campo de composição mensal de ROLE (Wm -2 ) em anos de El Niño para o período de 1980 a 2000: dezembro, janeiro, fevereiro, e d) média trimestral.

Junho 2004 Revista Brasileira de Meteorologia 93 significância estatística, tipo T de Student, nas composições e na climatologia do período de estudo, cuja hipótese nula referese à igualdade entre os campos. O parâmetro T foi computado para cada ponto de grade e plotado o campo de perturbação sobre as regiões, que não foram rejeitadas para o nível de confiança abaixo de 90%. 3.1. Teste tipo T de Student na composição para El Niño e La Niña Figura 3: Campo da média trimestral da composição total de ROLE (Wm -2 ), para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, período de 1980 a 2000. No teste estatístico entre EN e a climatologia, Figura 5a, nota-se que as perturbações de ROLE não possuem significância estatística em toda a extensão da ZCAS. Sobre a região da ZCIT são verificados desvios positivos indicando a influência do EN sobre o posicionamento da ZCIT. Analisando o resultado entre a composição em anos de LN e a climatologia (Figura 5, notam-se anomalias negativas sobre o oeste do Mato Grosso indicando que a ZCAS, em anos de LN, possui uma atividade convectiva mais pronunciada do que a climatologia. Ao sul da ZCAS, são verificadas anomalias positivas associadas, possivelmente, à inibição da convecção devido à circulações da ZCAS e da LN sobre essa região. Na diferença EN - LN (Figura 5, fica evidente a atuação do EN no posicionamento da ZCIT, bem como que a atividade convectiva em anos de LN sobre a região da ZCAS é mais efetiva que em anos de EN. Na faixa ao sul da posição média da ZCAS, anomalias positivas indicam que a circulação d) Figura 4: Como na Figura 2, mas para anos de La Niña.

94 Nelson J. Ferreira et al. Volume 19(1) de grande escala devida à presença do EN, que dimunui a subsidência imposta pela circulação da ZCAS, é mais efetiva que a circulação em anos de LN, que favorece o aumento da subsidência imposta pela banda de nebulosidade. No campo de perturbação de vorticidade relativa em 850 hpa (Figuras 6a-, verifica-se uma faixa com desvios negativos a oeste do Brasil Central e cobrindo grande parte da Região Sudeste. Essa faixa, em anos de EN, é mais restrita em comparação a anos de LN, indicando que há menor vorticidade ciclônica em anos de EN, propiciando menor convecção como mostrado na Figura 6a. Em anos de LN a extensão da ZCAS está melhor configurada, cobrindo grande parte do oeste brasileiro e estendendo-se para o oceano. Ao sul da região acima referida, tanto em anos de EN quanto em anos de LN verifica-se uma faixa com anomalias positivas, possivelmente relacionada a problemas nas análises devido à presença dos Andes. Sobre o centro-sul da Região Sul do Brasil, notam-se desvios positivos que podem estar relacionados à subsidência imposta pela circulação da ZCAS, como proposto por Casarim e Kousky (1986) e Nogués-Paegle and Mo (1997). Salienta-se que no composto para anos de EN, há um núcleo mais intenso, possivelmente associado à circulação imposta pela extensão da ZCAS no oceano, que é mais intensa em anos de EN que em LN. Verificam-se ainda nas Figuras 6a-b, setores ao norte da região de atuação da ZCAS com anomalias positivas, ou seja regiões com menor vorticidade ciclônia em relação à climatologia. Nota-se que em anos de LN, essa região é melhor configurada que em anos de EN. De acordo com Gandu e Silva Dias (1998), a maior subsidência ao norte da ZCAS ocorre quando a atuação da ZCIT é mais efetiva sobre o continente. Isso intensifica a circulação de Walker que, agregada à circulação da ZCAS, propicia maior subsidência ao norte da faixa de nebulosidade. Analisando a diferença entre os extremos (Figura 6, observa-se um núcleo positivo sobre o sul de Goiás e outro no Atlântico em torno de ponto 27 S e 30 W. Essas regiões sugerem que a vorticidade sobre a região da ZCAS tende a ser mais ciclônica em anos de LN. Em torno de 37 S e 40 W, o um núcleo negativo possivelmente está relacionado a maior passagem de sistemas transientes nessa região em anos de EN. Figura 5: Campo de anomalia de ROLE (Wm -2 ): (El Niño Climatologia 1980 a 2000); La Niña Climatologia 1980 a 2000; e El Niño La Niñ. Regiões sem significância estatística estão em branco.

Junho 2004 Revista Brasileira de Meteorologia 95 Em anos de LN, essa região estende-se para o continente, possivelmente devido à intensificação da convecção em toda a extensão da ZCAS, como verificado no campo de anomalia de vorticidade relativa (Figura 6. Figura 6: Como na Figura 4., mas para anomalia de vorticidade relativa (10-5 * s-1 ) em 850 hpa. Na alta troposfera (Figuras 7a-, o campo de geopotencial mostra que na faixa equatorial e em grande parte do Brasil Central, ocorrem anomalias positivas e negativas no composto para EN e LN, respectivamente. Isso mostra que a circulação de grande escala modulada por esses fenômenos é dominante sobre a da ZCAS. Ressalta-se na Figura 7a que a região da ZCAS possui extensão para o oceano com anomalias positivas. Por outro lado, na composição em anos de LN, essa extensão não é evidente. A principio, esse prolongamento pode estar associado ao domínio de eventos transientes, como observado em baixos níveis no campo de perturbações da vorticidade relativa. Por outro lado, na diferença entre os extremos (Figura 7, aparentemente há um predomínio da circulação de grande escala imposta pelo EN em quase todo o Brasil e faixa oeste da América do Sul. Tanto no teste de significância estatística em situações EN quanto em LN (Figuras 7a-, torna evidente uma região com anomalias negativas ao sul da ZCAS. Esse setor atua como uma resposta da circulação imposta pela ZCAS. O que difere é o posicionamento, ou seja, em anos de EN essa região está mais bem configurada sobre o oceano devido à intensificação da convecção em baixos níveis pelos sistemas transientes. Figura 7: Como na Figura 4., mas para anomalia de altura geopotencial (mgp) em 200 hpa.

96 Nelson J. Ferreira et al. Volume 19(1) Os campos das perturbação de vorticidade relativa (Figuras 8a-, mostram anomalias positivas associadas com a crista em 200 hpa na região da ZCAS, cobrindo o setor centroleste do Brasil, estendendo-se para oceano. É possível notar que em anos de EN, essa extensão abrange uma área maior no oceano. Esta característica possivelmente está associada tanto a efeitos da alta atividade convectiva da ZCAS, a qual gera em altos níveis circulação anticiclônica, quanto também a ocorrência dos sistemas transientes em latitudes médias. Por outro lado, em anos de LN (Figura 8, observa-se uma estreita faixa com anomalias positivas sobre o continente. Isto denota que a atividade convectiva em anos de LN é mais intensa, como pode ser verificado na Figura 4b. Verifica-se, ao sul da região média da ZCAS, áreas com anomalias negativas, tanto em períodos de EN quanto de LN. Assim, como no campo de geopotencial, essas áreas são representativas da circulação imposta pela ZCAS, que gera subsidência ao sul. Note-se que o comportamento é bem semelhante entre os campos de perturbação de vorticidade relativa e geopotencial. Ao norte da ZCAS, também são verificadas áreas com desvios negativos. Salienta-se que em anos de EN as anomalias negativas são mais intensas e extensas, possivelmente relacionadas a fatores de grande escala associados ao fenômeno. Há também o papel da circulação local da ZCAS que poderia contribuir na subsidência sobre essa região. Em anos de LN (Figura 8, a região ao norte da ZCAS é mais restrita, levando a crer que a circulação de grande escala imposta pela LN inibe a subsidência provocada pela ZCAS naquela região. No que se refere às diferenças de extremos (Figura 8, não há significâncias estatísticas relevantes em quase toda a extensão da ZCAS, a menos de um pequeno setor sobre o oceano, entre os paralelos 30 o W e 10 o W, onde possivelmente os distúrbios transientes em anos de EN, determinam a anomalia positiva. Ao norte dessa região verificase uma área com anomalias negativas, possivelmente associada à circulação de grande escala imposta pelo EN. Figura 8: Como na Figura 4., mas para anomalia de vorticidade relativa (10-5.s -1 ) em 200 hpa. 4. CONCLUSÕES Utilizando-se uma técnica de composição foram realizados estudos de padrões atmosféricos dos eventos ZCAS para os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, no período de 1980 a 2000, em situações nas quais os fenômenos EN e LN estavam em atividade. Foram contabilizados 23 eventos de ZCAS em 8 períodos de EN, 16 em 5 períodos de LN e 28 eventos em 8 períodos de anos normais. Além disso, observou-se que anos normais e de LN apresentam verões com mais de 3 ocorrências de ZCAS e que existe uma tendência de ocorrência de 3 eventos ZCAS em anos normais. Com relação ao composto em anos de EN, verificouse os seguintes comportamentos: 1) A interação entre a ZCAS e a ZCIT é menos efetiva ao longo do verão; 2) A atividade convectiva sobre o continente é menos intensa que a do composto de todos os anos e deslocada ligeiramente para oeste; 3) Sobre o oceano na região da ZCAS, observou-se um setor cuja atividade convectiva é mais intensa, possivelmente associada a passagem de transientes que são modulados pela

Junho 2004 Revista Brasileira de Meteorologia 97 circulação do EN; 4) Em altos níveis, o campo de anomalia de geopotencial, mostrou um prolongamento para o oceano, na região da ZCAS, possivelmente associado tanto a resposta da atividade convectiva, que é mais intensa sobre o oceano em anos de EN, quanto aos distúrbios transientes em latitudes médias; 5) Ainda em altos níveis ao norte da ZCAS, ocorre uma extensa área de anomalias negativas de vorticidade relativa, que estaria associada tanto a circulação da ZCAS. quanto à circulação de grande escala. Em relação aos anos de LN: 1) A ocorrência simultânea é mais efetiva entre a ZCIT e ZCAS em relação ao composto de todos os anos; 2) A atividade convectiva, em comparação a anos de EN ou a todos os anos, é mais intensa sobre que o continente; 3) Em altos níveis a subsidência ao norte da ZCAS é inibida pela circulação de grande escala; ao sul da ZCAS verificou-se que a circulação ciclônica estende-se para o continente modulando a convecção tanto na parte oceânica quanto sobre o continente. 5. AGRADECIMENTOS Os comentários e sugestões dos revisores anônimos contribuíram significativamente para a versão final deste artigo. Este estudo foi parcialmente apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, e pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALHEIROS, R. V.; SILVA DIAS, P. L. Como prever melhor. Climanálise, v. 3, p. 31-32, fev. 1988. CASARIN, D. P.; KOUSKY, V. E. Anomalias de precipitação no sul do Brasil e variações na circulação atmosférica. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 1, p. 83-90, 1986. CLIMANÁLISE. São José dos Campos: CPTEC-INPE, v. 1-14, n. 1, 2, 12, jan., fev. e dez., 1986-2000. FIGUEROA, S. N.; NOBRE, C. Prepitation distribution over central and western tropical South America. Climanálise, v. 5, p. 36-45, jun. 1990. FIGUEROA, S. N. Estudo dos sistemas de circulação de verão sobre a América do Sul e suas simulações com modelos numéricos. 1997. 181 f. Tese (Doutorado em Meteorologi - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 1999. (INPE-7121 - TDI/672). GANDU, A. W.; SILVA DIAS, P. L. Impact of tropical heat sources on the South American tropospheric upper circulation and subsidence. Journal of Geophysical Research, v. 103, n. D6, p. 6001-6015, Mar. 1998. GRIMM, A. M.; SILVA DIAS, P. L. Analysis of tropical extratropical interacions with influence functions of a barotropic model. Journal of the Atmospheric Sciences, v. 52, n. 20, p. 3538-3555, Oct. 1995. GRIMM, A. M.; SILVA DIAS, P. L. Use of barotropic models on the study of the extropical response to tropical heat source. Journal of the Meteorological Society of Japan, v. 73, n. 4, p. 765-780, Aug. 1995. JONES, C.; HOREL, J. D. A circulação da Alta da Bolívia e a atividade convectiva sobre a América do Sul. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 5, p. 379-387, jun. 1990. KALNAY, E.; KANAMITSU, M.; KISTLER, R.; COLLINS, W.; DEAVEN, D.; GADIN, L.; IREDELL, M.; SAHA, S.; WHITE, G.; WOOLLEN, J.; ZHU, Y.; CHELLIAH, M.; EBISUZAKI, W.; HIGGINS, W.; JONAWIAK, J.; MO, K. C.; ROPELEWISK, C.; WANG, J.; LEETMAA, A.; REYNOLD, R.; JENNE, R.; JOSEPH, D. The NCEP/NCAR 40-Year Reanalysis Project. Bulletin of the American Meteorological Society, v. 77, p. 437-471, Mar. 1996. KODAMA, Y. Large-scale common features of Sub-tropical Precipitation Zones (the Baiu Frontal Zone, the SPCZ, and the SACZ). Part I: characteristics of Subtropical Frontal Zones. Journal of Meteorological Society of Japan, v. 70, n. 4, p. 813-835, Aug. 1992. KODAMA, Y. Large-scale common features of Sub-tropical Convergence Zones (The Baiu Frontal Zone, The SPCZ, and the SACZ). Part II: condictions of the circulation for generating the STCZs. Journal of Meteorological Society of Japan, v. 71, n. 5, p. 581-610, Oct. 1993. KRISHNAMURTI, T. N.; KANAMITSU, M.; KOSS, W. J.; LEE, J. D. Tropical east-west circulation during the Northern Winter. Journal of the Atmospheric Sciences, v. 30, p. 780-787, July 1973. LIEBMANN, B.; KILADIS, G. N.; MARENGO, J. A.; AMBRIZZI, T.; GLICK, J. D. Submonthly convective variability over South America and the South Atlantic Convergence Zone. Journal of Climate, v. 12, p. 1877-1891, July 1999. MARTON, E. Oscilações intrasazonais associadas a Zona de Convergência do Atlântico Sul no Sudeste Brasileiro. 2000. 203 f. Tese (Doutorado em Meteorologi Instituto Astronômico e Geofísico, Universidade de São Paulo, São Paulo.

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