Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano: Aspectos Macroeconômicos

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ANEXO C: ESTRUTURA GERAL DO BEN

Transcrição:

12ª SEMANA DE TECNOLOGIA METROFERROVIÁRIA - FÓRUM TÉCNICO Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano: Aspectos Macroeconômicos Fernando Bittencourt e Bianca K. Ribeiro

O transporte coletivo, como atividade sócioeconômica, considera 3 características para o processo produtivo: Insumo complementar do processo produtivo Oferta de serviço e a infra-estrutura viária e de apoio Bem social nas cidades

Os modos de transporte modernos não poderiam existir sem uma fonte de energia para movimentar os veículos de maneira eficiente e eficaz. A energia é um insumo complementar ao transporte e uma demanda derivada dos veículos que a consomem. A característica de demanda derivada da energia implica que seu uso eficiente depende basicamente da tecnologia dos equipamentos que a utilizam como força motriz.

BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL ID E N T IF IC A Ç Ã O CONSUMO FINAL CONSUMO FINAL NÃO ENERGÉTICO CONSUMO FINAL ENERGÉTICO SETOR ENERGÉTICO RESIDENCIAL COMERCIAL PÚBLICO AGROPECUÁRIO TRANSPORTES TOTAL RO D O V IÁ R IO F E R R O V IÁ RIO AÉ R E O HIDROVIÁRIO INDUSTRIAL TOTAL 2004 100,0 6,8 93,2 8,6 11,2 2,7 1,7 4,3 26,9 24,8 0,3 1,3 0,5 37,8 (Ministério Minas e Energia, 2005)

Consumo de energia no setor de transporte - rodoviário no Brasil IDENTIFICAÇÃO 2002 2003 2004 % 2004 GÁS NATURAL 862 1169 1390 2,9% ÓLEO DIESEL 25086 24252 25939 54,8% GASOLINA AUTOMOTIVA 12426 13115 13596 28,7% ÁLCOOL ETÍLICO ANIDRO 3871 3875 3979 8,4% ÁLCOOL ETÍLICO HIDRATADO 2214 1919 2466 5,2% TOTAL 44459 44329 47370 100,0 *tep = tonelada de equivalente petróleo Óleo diesel - 55% Gasolina - 29% Álcool - 13,6% Gás natural - 2,9% * 1000 tep Os derivados de petróleo e o gás natural representam metade das fontes de energia consumidas no país.

Brasil 2003 Transporte urbano nos municípios com mais de 60 mil habitantes Em 2003, foram realizados 147 milhões de viagens urbanas no país. (ANTP, 2003)

O desenvolvimento da economia brasileira tem sido baseado no consumo energético de petróleo e no segmento de transporte rodoviário, que é responsável pela maior parte da circulação de mercadorias e de pessoas.

O sistema metroferroviário se apresenta como o modo coletivo mais eficiente para o desenvolvimento urbano, em termos de carregamento de passageiros e de consumo de energia, demandando eletricidade ao invés de petróleo, reduzindo a emissão de poluentes.

Países que utilizam o sistema metroferroviário de forma mais intensiva possuem um desempenho mais eficiente do consumo de energia no transporte público. Canadá - transporte público consome 3 vezes menos energia por passageiro transportado que o transporte individual. Europa - transporte público consome 3,7 vezes menos energia por passageiro transportado que o transporte individual. Japão - transporte público consome 10 vezes menos energia por passageiro transportado que o transporte individual. (UITP, 2001)

Com um sistema de transporte público bem dimensionado e organizado, o aumento do adensamento urbano, faz com que o consumo de energia per capita caia. CURITIBA Frota de automóveis por habitante do mesmo nível dos outros grandes centros urbanos brasileiros Consumo per capita 25% abaixo da média nacional (Junqueira, 2003)

Uso eficiente de energia Menos de 20% a 30% da energia consumida pelos automóveis a gasolina chegam de fato às rodas. Nos congestionamentos dos centros urbanos esse indicador de eficiência cai para cerca de 4% Ônibus a diesel, operando com velocidades comerciais baixas, o indicador é de 7% (Junqueira, 2003). Os ônibus em velocidade econômica alcançam entre 34% e 40% de rendimento (Mello, 1989).

Uso eficiente do transporte coletivo Uso de ônibus e trem é cerca de 5 vezes mais eficiente do que o de automóvel por passageiros/km (UITP). 1litro de combustível transporta um passageiro a 48km de distância por metrô 39,5 km de distância por ônibus 18,6 km por transporte individual

Transporte e poluição da atmosfera A poluição da atmosfera é uma das principais externalidades associadas ao uso intensivo de derivados de petróleo no transporte e à baixa eficiência observada no uso destes combustíveis. A crescente poluição do ar vem afetando a saúde dos habitantes das cidades, com destaque para as doenças do aparelho respiratório associadas principalmente à emissão de monóxido de carbono (CO), que é resultante da combustão incompleta dos derivados de petróleo.

Transporte e poluição da atmosfera Nos últimos 150 anos, a temperatura média da superfície da Terra tem aumentado em ritmo maior do que o esperado, como resultado do desmatamento e da queima dos combustíveis fósseis pela indústria e pelo transporte. O processo vem se intensificando em função da dependência tecnológica crescente da economia mundial e, particularmente, do setor de transporte ao uso de derivados de petróleo.

A UITP aponta o setor de transporte como o maior responsável pela emissão de poluentes (CO2, metano e vapor de água), sendo o transporte individual responsável pela metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.

Emissão de CO para ônibus

Emissão de CO para automóveis

Oportunidades no Brasil O Brasil deu passos positivos no sentido de reduzir a poluição do ar ao estabelecer o PROÁLCOOL. A aditivação da gasolina com etanol anidro permite economizar gasolina e reduzir, via adoção de catalisador, a emissão de compostos de chumbo, enquanto que frota a álcool emite 30% menos CO.

Oportunidades no Brasil A assinatura do Protocolo de Kyoto e a criação de instrumentos, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL, ampliam-se as perspectivas de capitação de recursos para os setores públicos e privados, incluindo aí o segmento metroferroviário. O setor metroferroviário ocupa posição privilegiada para o desenvolvimento de projetos MDL, pois utiliza tração elétrica, que no Brasil é majoritariamente gerada em usinas hidrelétricas.

Conclusão Existem alguns paradoxos que devem ser considerados no desenvolvimento futuro dos centros urbanos: As máquinas inventadas para melhorar a mobilidade estão imobilizando os centros urbanos através de congestionamentos diários. Estes congestionamentos fazem com que os veículos circulem em velocidade entre 8 e 15km/h. Apesar do petróleo ser escasso e não ser renovável, privilegia-se o transporte individual em detrimento do transporte coletivo, que consome, comparativamente, menos combustível. Mesmo sabendo que os sistemas metroferroviários são os modos de transporte coletivo mais eficientes, em termos de consumo de energia, demandando eletricidade ao invés de petróleo, privilegia-se o modo ônibus com a justificativa de menor custo de implantação e operação.

Como o transporte é um insumo complementar, pode-se concluir que o desenvolvimento das economias modernas e das cidades dependem de um sistema de transporte adequado que permita a circulação dos insumos, produtos e pessoas necessários para sustentar e expandir as atividades socioeconômicas locais e regionais. Como a energia é uma demanda derivada dos veículos e equipamentos que a consomem, o seu uso eficiente pode ser um primeiro passo para minimizar os efeitos das externalidades associadas à utilização intensiva de derivados de petróleo pelo setor de transporte e economizar esta fonte não renovável para outros fins. Há correlação direta entre transporte e energia e seu impacto no desenvolvimento urbano.

É imperativo: modificar a matriz de transporte atual priorizar o transporte coletivo integrar os diversos modos de forma racional distribuir adequadamente os modos Resultados: Melhoria na acessibilidade e a mobilidade nos centros urbanos Eficiência energética. Menos poluição nas cidades Melhoria da qualidade de vida Amenizar o efeito estufa e suas conseqüências

Transporte, Energia e Desenvolvimento Urbano: Aspectos Macroeconômicos Fernando Bittencourt fbittencourt@cbtu.gov.br Bianca K. Ribeiro bkribeiro@cbtu.gov.br