Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro 487 Apelante1: Nicolas ZVI Andrade Arteaga e Irma Brito dos Santos de Andrade Apelante2: MRV MRL Novolar 1 Incoporações SPE Ltda e MRL Engenharia e Empreendimentos S.A Relatora: Des. Maria Luiza de Freitas Carvalho ACÓRDÃO APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇAO DE FAZER C/C INDENIZATÓRIA. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL OBJETO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO, NOS TERMOS DO ART. 356 DO CPC, EM RELAÇÃO AOS PEDIDOS NÃO AFETADOS PELO SOBRESTAMENTO DETERMINADO PELO STJ EM RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. EM RAZÃO DE OPÇÃO LEGISLATIVA, A DECISÃO DE JULGAMENTO IMEDIATO PARCIAL DO MÉRITO TEM NATUREZA INTERLOCUTÓRIA, IMPUGNÁVEL POR AGRAVO DE INSTRUMENTO ANTE A PREVISÃO LEGAL EXPRESSA NO ART. 356, 5º E ART. 1.015, II E XIII, DO CPC. MANIFESTA INADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS DE APELAÇÃO, CONFIGURANDO ERRO GROSSEIRO A SUA INTERPOSIÇAO. RECURSOS NÃO CONHECIDOS. Vistos, relatados e discutidos, nestes autos da apelação cível nº 0208640-44.2016.8.19.0001, em que figuram como Apelante1 Nicolas ZVI Andrade Arteaga e Irma Brito dos Santos de Andrade e Apelante2 MRV MRL Novolar 1 Incoporações SPE Ltda e MRL Engenharia e Empreendimentos S.A. ACORDAM os Desembargadores da VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por UNANIMIDADE, em não conhecer dos recursos, nos termos do voto da relatora. Cuida-se de recursos de apelação contra a decisão que, nos autos da ação de obrigação de fazer proposta por Nicolas ZVI Andrade Arteaga e Irma Brito dos Santos de Andrade em face de MRV MRL Novolar 1 Incoporações SPE Ltda e MRL Engenharia e Empreendimentos S.A., acolheu a prescrição trienal da pretensão relacionada à taxa de administração do contrato, taxa de serviço de assessoria e comissão de corretagem e, com fundamento no art. 356 do CPC, julgou parcialmente o mérito ressalvando que a análise da cumulação da cláusula penal com os lucros cessantes e da possibilidade de inversão da cláusula penal em favor do 1
488 S e c r e t a r i a Beco da Música, 175, 3º andar Sala 321 Lâmina IV Centro Rio de Janeiro/RJ CEP 20010-010 d a MARIA LUIZA DE FREITAS CARVALHO:16078 Assinado em 08/03/2018 18:33:58 Local: GAB. DES(A) MARIA LUIZA DE FREITAS CARVALHO
489 consumidor se encontra suspensa, por decisão de afetação dos REsp 1614721/DF e REsp 1635428/SC: Ante o exposto, nos termos do art. 487, I do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE O MÉRITO DO FEITO E PROCEDENTE, EM PARTE, o pedido para condenar as demandadas a: a) pagarem a cada autor, a título de danos morais, a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), corrigida monetariamente a partir da publicação desta sentença, e acrescida de juros de mora, de 1% ao mês, a partir da citação; b) restituírem, de forma simples, aos demandantes as quantias comprovadamente despendidas a título de taxa de evolução da obra em favor da CEF, durante o período de 06/02/2015 a 14/09/2015, corrigidos monetariamente a contar de cada desembolso e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação. Com relação aos pedidos de devolução em dobro da comissão de corretagem, da taxa de serviço de assessoria e da taxa de administração do contrato, JULGO-OS EXTINTOS, com resolução do mérito, na forma do artigo 487, III, 'a' do CPC/15, por encontraremse fulminados pela prescrição. Quanto ao pleito para pagamento de cláusula penal cumulada com lucros cessantes e/ou inversão da cláusula penal em favor do consumidor, SUSPENDO O CURSO DA AÇÃO, por afetação do tema nos autos dos REsp 1614721/DF e REsp 1635428/SC, em decisão prolatada em 26/04/2017. Com relação ao pedido para suspender a cobrança da taxa de evolução de obra, nos termos do art. 487, I do Código de Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTE. Diante da sucumbência recíproca e parcial, considerando que o autor formulou 08 pedidos, 02 estão suspensos e 06 foram julgados, tendo sucumbido em 03 deles, observados os requisitos do artigo 85, 2º do CPC/2015, condeno a parte autora ao pagamento de 50% dos ônus sucumbenciais e a parte ré ao pagamento de 50% dos ônus sucumbenciais, fixados os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da condenação. Certificados o trânsito em julgado, a inexistência de custas pendentes e a inércia das partes, dê-se baixa e remeta-se à Central de Arquivamento do 1º NUR. P.R.I. Secretaria da 2
490 O apelante-autor assevera que a as rés entregaram as chaves sem a averbação do habite-se, totalizando atraso de aproximadamente 35 meses entre o Secretaria da 2
491 prazo final de 23 meses no quadro de resumo de compra e venda, qual seja, 05/11/2013, até a mencionada averbação em 17/10/2016. Alega que o prazo de tolerância de 180 dias é abusivo, pois a incorporadora obteve a licença da obra 11 meses antes da aquisição do imóvel, tempo suficiente para sanar qualquer fortuito interno. Aduz que a demora na averbação do habite-se acarretou na cobrança a maior da taxa de evolução de obra, a qual não é amortizada do financiamento. Sustenta que houve propaganda enganosa, tendo em visto o anúncio de 1 vaga por apartamento, quando, na verdade, foram 331 vagas para 500 unidades. Pede a anulação do prazo de tolerância a fim de considerar o termo final para entrega do imóvel a data de 05.11.13 ou reconhecer a mora até a averbação do habite-se, a devolução em dobro da taxa de obra, a restituição de 10% do valor do imóvel referente à publicidade enganosa da vaga de garagem, e a majoração dos honorários advocatícios (fls. 383/392). As apelantes-rés suscitam ilegitimidade passiva em relação aos pedidos de devolução de comissão de corretagem e de taxa de evolução de obra e, no mérito, afirmam que tinham até 18.01.15 para concluir a obra do empreendimento, uma vez que o prazo de entrega era de 24 meses contados da assinatura do contrato de financiamento, estipulando-se ainda prazo de tolerância de 180 dias corridos, ou por tempo indeterminado na superveniência de caso fortuito ou força maior. Ressaltam que os autores, mesmo tendo ciência da ausência do habite-se optaram por receber o imóvel nessas condições em 14.09.15. Alegam que a Taxa de Obra é cobrada pela Caixa Econômica Federal. Negam a existência de danos morais indenizáveis e salientam que a quantia indenizatória foi fixada em patamar excessivo (fls. 394/409). Contrarrazões às fls. 411/420 e 437/446. É O RELATÓRIO. Cuida-se de ação de obrigação de fazer nos autos da ação de obrigação de fazer c/c indenizatória por danos materiais e morais fundada no atraso na entrega de unidade de empreendimento imobiliário objetivando, em tutela antecipada, a suspensão da cobrança da taxa de evolução de obra e abstenção de negativação do nome dos autores e, no mérito, indenização por danos materiais, consistentes no pagamento em dobro da taxa de evolução da obra, da comissão de corretagem, taxa de serviços de assessoria e taxa de administração do contrato, lucros cessantes de 1% do valor do imóvel por mês de atraso, multa moratória e compensação por danos morais. A decisão ora impugnada julgou parcialmente o mérito, com fundamento no art. 356 do CPC, para condenar a rés à restituição simples das quantias comprovadamente despendidas a título de taxa de evolução da obra durante o Secretaria da 3
492 período de 06/02/2015 a 14/09/2015, bem como ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 10.000,00 para cada autor. Quanto aos demais pedidos deduzidos na inicial, ressaltou o julgador que a análise da cumulação da cláusula penal com os lucros cessantes e da possibilidade de inversão da cláusula penal em favor do consumidor se encontra suspensa, por decisão de afetação dos REsp 1614721/DF e REsp 1635428/SC. Com efeito, o art. 203, 1º, do CPC define sentença como o pronunciamento judicial que, resolvendo ou não o mérito (art. 485 e 487), coloca fim à fase de conhecimento ou extingue a execução. Observa-se, assim, que para se considerar o ato judicial como sentença, torna-se necessário verificar: a) o seu conteúdo (art.485 ou 487); b) o momento em que foi proferido, pois somente será considerado sentença aquele que colocar fim à fase ou ao processo. Uma das inovações do CPC diz respeito ao julgamento antecipado de mérito e a previsão expressa de que ele pode ser parcial. A norma do art. 356 autoriza que o juiz decida parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles mostrar-se incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. Em outras palavras, o art. 356 possibilita que os pedidos sejam apreciados em momentos distintos, criando-se, assim, o fracionamento ou fatiamento do julgamento do mérito da causa, desde que preenchidos os requisitos legais. A doutrina reconhece que a referida inovação modificou a natureza jurídica dessa espécie de julgamento, tornando o que anteriormente era espécie diferenciada de tutela antecipada em julgamento antecipado parcial do mérito, com cognição exauriente. Assim, com esta alteração, o capítulo decidido, ao transitar em julgado, produzirá coisa julgada material, não sendo possível o juiz posteriormente modificar a decisão ao resolver a parcela do mérito que demandou a continuidade, ainda que parcial, do processo. Em razão de opção do legislador, a decisão de julgamento imediato parcial do mérito, por não encerrar a fase de conhecimento, tem natureza interlocutória, impugnável por agravo de instrumento ante a previsão legal expressa no art. 356, 5º e art. 1.015, II e XIII, do CPC: Secretaria da 4
493 Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. 3o Na hipótese do 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas provisórias; II - mérito do processo; III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica; V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação; VI - exibição ou posse de documento ou coisa; Secretaria da 5
494 VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros; X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução; XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, 1o; XII - (VETADO); XIII - outros casos expressamente referidos em lei. Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. No caso, levando-se em consideração que houve julgamento antecipado parcial do mérito, nos termos do art. 356 do CPC, e que a fase de conhecimento não foi encerrada, tem-se que os recursos de apelação são manifestamente inadmissíveis, configurando erro grosseiro a sua interposição em face da expressa indicação legal do cabimento do agravo de instrumento. Por essa razão, direciono o meu VOTO no sentido de NÃO CONHECER DOS RECURSOS, MAJORANDO-SE OS HONORÁRIOS ANTERIORMENTE FIXADOS A 12% DO VALOR DA CONDENAÇÃO, NOS TERMOS DO ART. 85, 11, DO CPC. Rio de Janeiro, 07 de março de 2018. Desembargadora MARIA LUIZA DE FREITAS CARVALHO Relatora Secretaria da 6