RUPTURA ESTRUTURAL NA ECONOMIA REGIONAL PARANAENSE

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Transcrição:

1 RUPTURA ESTRUTURAL NA ECONOMIA REGIONAL PARANAENSE Jandir Ferrera de Lima - Unioeste/Campus Toledo; Lucir Reinaldo Alves - Unioeste/Campus Toledo; Moacir Piffer - Unioeste/Campus Toledo; Ricardo Rippel - Unioeste/Campus Toledo Resumo: Esse artigo analisa a tendência de ruptura estrutural na economia regional do Estado do Paraná a partir de dois indicadores: A localização do emprego e o perfil da localização da população urbana e rural nas regiões paranaenses. Como o processo de modernização das atividades agropecuárias e a industrialização no Paraná ocorreram a partir dos anos 1970, foram comparadas as informações de dois períodos, 1996 e 2007. Ambos os períodos marcam a consolidação da estabilização da economia (1994), uma nova fase na industrialização paranaense, principalmente em ramos de maior complexidade tecnológica e o crescimento da economia brasileira ocorrida após 2003. Palavras chave: Economia regional; população; economia paranaense. Abstract: This paper analyzes the trend of structural break in the regional economy of Parana State from two indicators: The labor localization and the profile of the localization of urban and rural population in the regions of Parana State. As the process of modernization and industrialization of agricultural activities occurred in Paraná State in the years 1970, we compared the information from two periods, 1996 and 2007. Both periods mark the consolidation of economic stabilization (1994), a new phase in the industrialization of Parana, especially in areas of greater technological complexity and growth of the Brazilian economy that occurred after 2003. Key-words: Regional economy; population; Paraná State economy Introdução No Estado do Paraná o esgotamento da fronteira agrícola se deu na década de 1970. Paralelo a ocupação definitiva das terras produtivas, ocorreu também a modernização das atividades agropecuárias, com a adoção de novas técnicas de produção, de equipamentos e insumos modernos. Esses dois processos conduziram a um novo perfil de ocupação da população, que de hegemonicamente rural passou a ficar cada vez mais urbanizada. Assim, os anos 1970 marcaram o início de rupturas no perfil da população e na estrutura da economia regional. No caso da ruptura estrutural da economia regional, ela marca o avanço das atividades urbanas em relação às atividades rurais na composição do Produto Interno Bruto (PIB) e da ocupação laboral da força de trabalho. Ao longo do processo de formação e consolidação das economias regionais, o setor primário é o mais significativo no momento da ocupação inicial dos territórios. Na seqüência, formam-se atividades urbanas de suporte as atividades agropecuárias e à população regional. Isso forma um continuum urbano-rural, em que as atividades rurais dinamizam as atividades urbanas. Porém, ao longo do amadurecimento da economia, em algumas regiões a evolução das atividades urbanas se torna mais significativa que as atividades rurais. Nessa evolução, o setor secundário e o terciário tornam-se cada vez mais hegemônicos na composição da riqueza, fazendo com que a economia passe de um continuum urbano-rural para urbano-industrial. Dessa forma, a economia regional vislumbra uma mudança estrutural na divisão social do trabalho e na

2 distribuição do emprego na sua economia. O setor que ganha é o terciário, que se aproxima em importância econômica do setor secundário e, em alguns casos, consegue superá-lo. Para analisar a tendência de ruptura estrutural na economia do Estado do Paraná, esse artigo estuda o comportamento de dois indicadores: A localização do emprego e o perfil da localização da população urbana e rural nas regiões paranaenses. Como o processo de modernização das atividades agropecuárias e a industrialização no Paraná ocorreram a partir dos anos 1970, foram comparadas as informações de dois períodos, 1996 e 2007. Ambos os períodos marcam a consolidação da estabilização da economia após o plano real (1994), uma nova fase na industrialização paranaense, principalmente em ramos de maior complexidade tecnológica, e, a dinamização da economia brasileira ocorrida após 2003. 2. População e a Economia Paranaense até 1960 O primeiro grande ciclo econômico do Paraná foi o da erva mate. O setor ervateiro teve um comportamento bastante hegemônico, no período que iniciou na década de 1840. Esse setor atingiu seu pico, para em seguida entrar em permanente estagnação, decorrente da perda de seu mercado, que consistia basicamente na Argentina. A economia ervateira começa a perder importância a partir de 1914, cedendo espaço de exploração e áreas produtivas para o café. Enquanto o setor ervateiro entrava em estagnação, os setores madeireiro e cafeeiro se fortaleciam, absorvendo toda a mão-de-obra excedente da produção do mate. De certa forma, as atividades madeireira e a cafeicultura compensaram as perdas de emprego e renda do mate, fortalecendo as economias regionais do Paraná e fixando a população no interior do Estado (PADIS, 1981; WACHOWICZ, 1987). A consolidação do setor madeireiro deu-se de forma lenta, porém 78% das indústrias paranaenses surgidas na década de 1920 estavam ligadas à madeira. Em 1930 a madeira já ocupava o 1º lugar nas vendas paranaenses, principalmente para o exterior (Europa). Apesar dos problemas gerados com a II guerra mundial (1935-1945), o mercado interno cresceu compensando as perdas com a interrupção das exportações à Europa. O ápice da economia madeireira foi até 1964 (PALUDO e BARROS, 1995) Em função deste cenário, e dessa fase da indústria madeireira, a população do Estado cresceu consideravelmente. Essa expansão demográfica deve-se não somente devido à indústria madeireira, mas também pela expansão da cafeicultura, que a partir de 1945, passou a se direcionar para a região Norte do Paraná. Essa região tornou-se atrativa em virtude de suas terras férteis, baratas e propícias ao plantio. Por isso, em pouco mais de uma década os cafezais se estenderam por toda a região do Norte e Centro-Ocidental do Estado. Os rebatimentos da pujança econômica da exploração madeireira e cafeeira foram patentes no crescimento demográfico. No período que vai de 1920 a 1940, a população paranaense atingiu 1.236.276 habitantes, perfazendo 3% da população brasileira e o 10º Estado no ranking demográfico. Esse aumento favoreceu em muito a economia interna, principalmente a produção de gêneros alimentícios. Assim, esse estímulo às atividades primárias e artesanais integrou a economia colonial local com a produção semi industrial. A partir de 1940, o crescimento populacional do Paraná acelerou-se de forma mais intensa, a Tabela 1 confirma esse crescimento demográfico antes de 1970.

3 Tabela 1 População total e taxa de crescimento do Brasil e do Paraná, 1872-1960. Ano Total da população (1.000 habitantes) Taxa de crescimento decenal (%) Brasil Paraná Brasil Paraná 1872 9.930 127 - - 1890 14.334 249 44,34 96,88 1900 17.438 327 21,66 31,12 1910 23.409 512 34,24 56,44 1920 30.625 686 30,82 33,99 1940 41.169 1.236 34,43 80,29 1950 51.941 2.116 26,16 71,12 1960 70.625 4.279 35,97 102,27 Fonte: IPEADATA (2011) A população paranaense cresceu significativamente entre os períodos de 1920 a 1960, superando de forma evidente o crescimento da população brasileira no período. Enquanto o país crescia em média 32,52% por década, o Estado do Paraná crescia em média decenal 67,44%. Contudo, a simples indicação do crescimento decenal média da população total de uma determinada região não é elemento suficiente para identificar como o processo se deu, pois se faz necessário comparar coma evolução da População Economicamente Ativa (PEA). A PEA da indústria paranaense, no período de 1940/50 cresceu na média 8,16% ao ano. Já a PEA total do Estado do Paraná apenas na média de 5,08% ao ano. Isso é explicado pela expansão do setor madeireiro e cafeeiro estadual. Nesse período, o Paraná viveu um processo de ocupação intensiva. Porém, após o término da década de 1950, ocorreu um forte declínio desse crescimento explicado pela consolidação da indústria madeireira e moveleira e pela crise da economia cafeeira nacional. Nesse contexto, a taxa anual de crescimento da PEA do Paraná ficou em 7,42% e da indústria em 1,82%. Aqui cumpre destacar que o setor madeireiro estadual atingiu seu apogeu em 1964, não tendo mais reservas de extração para sustentar sua expansão (STAMM, 2003; IPARDES, 1993; IBGE, 2011). Devido a essas dificuldades, no começo da década de 1960, o desenvolvimento paranaense passou pela solução do problema agrário, ou seja, reativar o ciclo do café seria encontrar a solução para outros problemas socioeconômicos que agitavam a vida paranaense, tendo em vista que as atividades econômicas do estado estavam condicionadas, fortemente, à produção e comercialização desse produto (LINHARES, 2001; IPARDES, 1983). 3. População e Economia Paranaense Após 1960: Rupturas estruturais e consolidação da indústria. No período dos anos 1970 ocorreram dois processos de ordenamento na economia paranaense: O primeiro, o esgotamento da fronteira agrícola, no momento que a agricultura paranaense vislumbrava uma mudança tecnológica e a utilização de insumos modernos. Por outro lado, essa mudança tecnológica proporcionou a reestruturação das tradicionais áreas de cultivo, ocasionando uma forte migração rural para os grandes centros urbanos (ROLIM, 1995; DINIZ e LEMOS, 1990).

4 O segundo foi o processo de desconcentração industrial, a partir do Sudeste brasileiro, para novas regiões em ascensão no Sul do Brasil, beneficiando o Paraná. Nesse período fortaleceram-se as mudanças qualitativas na atividade agrícola do Centro-Sul do Brasil. Dessas mudanças, pode-se citar a introdução da mecanização, a disponibilidade de financiamentos, a expansão das commodities e a integração entre a agropecuária e a indústria, formando os complexos agroindustriais (ROLIM, 1995; PIFFER et al, 2002). O resultado desses dois processos foi a expansão da transformação dos produtos primários e de industrialização de soja, milho, trigo, carne, que cresceram aceleradamente a partir de 1980, e a ampliação do comércio interestadual e de exportação dos excedentes de produtos primários do Paraná. Na medida em que crescia a mercantilização desses excedentes, o Paraná foi estabelecendo condições próprias de alargamento da sua base econômica de exportação, principalmente quando esse processo também se viu apoiado na melhoria dos meios de comunicação e transporte (estradas, rodovias, ferrovias, correios, emissoras de rádio, energia elétrica, telefone, etc.) com os grandes centros urbanos do País. Grande parte do crescimento da economia agroindustrial do Estado deu-se focada na demanda de produtos primários transformados (basicamente alimentos), por parte dos grandes mercados consumidores do País, São Paulo e Rio de Janeiro. Esses produtos que passaram a serem transformados no Estado impactaram no crescimento do complexo agroindustrial do mesmo, que no período puxou a economia estadual para cima via surgimento de um novo ciclo econômico interno. Segundo dados do IPARDES (1997), Stamm (2003) e IBGE (2011), este cenário foi paralelo com um movimento de crescimento da população do Estado a partir da década de 1980. Mesmo assim, o Brasil passou a superar o Paraná em termos de crescimento populacional decenal, pois ambos cresceram 22,27% e 11,34%, respectivamente. Esses dados demonstram que houve uma diminuição no ritmo de crescimento da população paranaense, apesar dos movimentos emigratórios muito intensos. Esse declínio é parcialmente explicado pela modernização do setor agrícola e industrial do Estado, que redundou no êxodo rural, e pela inserção de commodities agrícolas que exigiam grandes volumes de crédito rural e áreas maiores. Para Staduto et al (2004; 2008), a modernização do espaço rural, além de aumentar a produção, causar fragilidade social e mudanças na mobilidade populacional, criou oportunidades para as atividades econômicas tradicionais ligadas ao espaço urbano. A força de trabalho antes exclusiva do espaço rural é absorvida parcialmente nas atividades urbano-industrial. Ou seja, há uma mudança na divisão social do trabalho nas regiões do Paraná que oferecem matéria-prima e mão-de-obra barata para as atividades mais intensivas em trabalho, nesse caso as agroindústrias. Neste contexto, a Figura mostra o comportamento da população rural e urbana para o Brasil e o Paraná.

5 Figura 1 População total, urbana e rural, Paraná e Brasil 1940/2010 Brasil Paraná 200.000.000 11.000.000 180.000.000 10.000.000 160.000.000 9.000.000 140.000.000 120.000.000 100.000.000 80.000.000 60.000.000 40.000.000 8.000.000 7.000.000 6.000.000 5.000.000 4.000.000 3.000.000 2.000.000 20.000.000 1.000.000 0 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 0 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Urbana Rural Total Urbana Rural Total Fonte: IPEADATA (2011) a partir de IBGE. Como mostra a Figura 1 os reflexos da modernização da agricultura foram visualizados no aumento considerável da população urbana em relação a população rural. No Paraná a população urbana passou em quantidade a população durante o período de 1970 e 1980. A partir desse período o crescimento visualizado na população total foi em decorrência do aumento da população urbana. O mesmo ocorreu quando se analisa o Brasil como um todo, com a diferença de que a população urbana passou a população rural no período anterior entre 1960 e 1970. Além das mudanças no setor primário e o do cenário positivo na industrialização do Estado do Paraná, vê-se que na década de 1980 houve um decréscimo de 5%, na variação do crescimento da PEA do setor industrial do Estado do Paraná, o que é explicado pela grande recessão em que o País se encontrava no período, ou seja, a chamada década perdida, marcada por um processo inflacionário crescente e o baixo ritmo de crescimento da economia (STAMM, 2003). Ao final dos anos 1980, a economia do Estado atingiu um patamar relativamente distinto das demais regiões do Brasil, tendo pré-condições de abertura para um bom desempenho nos anos 1990. Em termos de relações de troca, cresceu significativamente seu grau de inserção na economia brasileira e na economia internacional. Em décadas mais recentes, o Estado do Paraná dinamizou sua base produtiva e deixou de ser uma região voltada apenas à produção agrícola, diversificando o setor industrial e aumentando assim sua base de exportação 1 (PIFFER et al., 2002). O Estado do Paraná atraiu grandes investimentos para o setor industrial. Até o final dos anos 1990 o Paraná atraiu R$ 14 bilhões de novos investimentos, consolidando seu parque industrial, cuja arrancada deu-se nos anos 1970. De uma economia exclusivamente agrária, a estrutura produtiva industrial avançou para o metal-mecânica, mecatrônica, a agroindustrialização, a transformação da celulose, dentre outras. Apesar da importância de 1 Base de exportação, aqui considerada, são todos aqueles produtos produzidos não apenas para o consumo local e sim com destino a outras regiões. Para mais detalhes ver North (1977) e Piffer (1977).

6 Curitiba no cenário estadual, formaram-se outros centros importantes no interior do território, dentre eles destacava-se Londrina, que tinha um parque industrial com 1,7 mil indústrias, que nesse período oferecia mais de sete mil empregos diretos (JESUS e FERRERA DE LIMA, 2001). O resultado desse processo foi a expansão mais significativa do Produto Interno Bruto (PIB) paranaense no final do século XX. Segundo Rolim (1995), a taxa média de crescimento do PIB estadual no final dos anos 1990 foi de 4,9% ao ano no Paraná e 2,3% no Brasil. Na primeira metade do decênio 2000, a taxa ficou na média de crescimento do PIB paranaense foi de 6% e do PIB brasileiro de 5% ao ano. Em suma, a população ocupada (PO) no Estado do Paraná cresceu 78,14% em termos absolutos no período de 1970 a 2000, passando de 2.276.754 para 4.055.737 de habitantes, respectivamente. No período, o processo de modernização do setor primário foi responsável pela redução de -45,40% de PO no mesmo período. O setor primário perdeu também participação relativa no total de pessoas ocupadas no Paraná, passando de 63,20% em 1970 para 19,37% em 2000. Apesar dessa redução, internamente, no setor primário, as atividades da pecuária e das outras atividades apresentaram crescimentos em duas ordens: primeiro, o crescimento do total de pessoas ocupadas em termos relativos foi de 305,66% para a pecuária e de 24,18% para as outras atividades primárias; e, segundo, na participação dessas duas atividades no total do setor primário: a pecuária passou de uma participação de 2,66% em 1970 para 19,79% em 2000, e as outras atividades, de 2,85% para 6,49% no mesmo período, refletindo um arranjo produtivo interno no setor primário que influenciou na redistribuição dos postos de trabalho no final do século XX. A transferência de emprego do setor primário para os setores secundário e terciário não refletem, necessariamente, uma mudança da dependência da agricultura para a dependência das atividades urbanas (NORTH, 1977). Nesse caso, há regiões que se dinamizam em função de um continuum urbano-rural do que de um urbano-industrial, pois as suas matérias-primas são extremamente importantes para a continuidade do processo de transformação. Por isso, em função da necessidade de insumos por parte das indústrias e o perfil fundiário das regiões, as atividades primárias auferem altas rendas que impactam nas atividades não-básicas de forma mais significativa. Por isso, no final do século XX ocorreu uma nova fase que marcou a economia paranaense no início do século XXI. Essa fase tem como elemento norteador seis vetores: a transformação metal-mecânica; o agronegócio capitaneado pelo movimento cooperativo; a expansão do ramo das indústrias não-tradicionais 2 e dinâmicas 3, em especial de celulose e papel; a inserção definitiva do Paraná no mercado internacional, através da expansão da sua base de exportação; o desenvolvimento e a diversificação de novas atividades produtivas nas microrregiões não-metropolitanas; e, por fim, a ampliação da infra-estrutura (transportes, comunicações e telecomunicações) ( ALVES, 2006 et al; LOURENÇO, 2002). 4. População e Tendências da Economia Paranaense no Início do Século XXI. Entre 1985 e 1998 a indústria do Paraná cresceu mais intensamente do que a nacional, porém no cenário interno a tendência foi a forte concentração do parque industrial. 2 A Indústria Não-Tradicional já é um meio-termo, pois são mais intensivas em capital que a Indústria Tradicional e tiverem sua origem mais recente no processo de industrialização. Na Indústria Não-Tradicional são classificadas a indústria de fumo, a indústria sucro álcooleira, a indústria editorial e gráfica. 3 A classificação Indústria Dinâmica agrupa as produções de bens intermediários da etapa mais avançada da industrialização e os ramos produtores de bens de capital. São classificadas nessa área a indústria metalúrgica, mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transporte, minerais não metálicos, borracha, papel e papelão, matérias plásticos, produtos derivados do petróleo e carvão, produtos farmacêuticos e medicinais, química.

7 Isso acarretou um ritmo de crescimento econômico diferenciando entre as mesorregiões do Estado do Paraná. Viana (2009), analisando o perfil de crescimento econômico das mesorregiões do Paraná, confirma que a região ganhadora em termos de dinamismo produtivo foi a mesorregião Metropolitana de Curitiba. A partir da Tabela 02, observa-se que essa mesorregião aumentou sua representatividade junto ao PIB do Estado passando de 39,58% para 45,19% do PIB, entre 1999 e 2006. Tabela 02 PIB das mesorregiões do Paraná, participação na composição do PIB Estadual no ano de 1999 e 2006 e Taxa Geométrica de Crescimento (TGC) 4 de 1999 a 2006 Mesorregião PIB em (%) Ranking 2006 (*) PR king anual PIB em (%) Ran- TGC (%) 1999 (*) PR Paraná Total 65.536.844,79 - - 81.142.009,84 - - 3,85 Metropolitana de Curitiba 25.942.163,32 39,58 1º 36.665.867,85 45,19 1º 5,65 Norte Central Paranaense 11.235.614,09 17,14 2º 13.368.140,74 16,48 2º 3,50 Oeste Paranaense 9.536.733,77 14,55 3º 9.814.907,20 12,10 3º 0,90 Centro Oriental Paranaense 4.249.903,85 6,48 4º 5.565.626,43 6,86 4º 4,13 Noroeste Paranaense 2.959.043,51 4,52 6º 3.391.415,95 4,18 5º 2,72 Centro-Sul Paranaense 2.978.265,14 4,54 5º 3.015.240,37 3,71 6º 1,71 Sudoeste Paranaense 2.545.262,17 3,88 8º 2.660.553,08 3,28 7º 1,36 Norte Pioneiro Paranaense 2.558.193,50 3,91 7º 2.614.028,10 3,22 8º 1,80 Centro Ocidental Paranaense 1.874.236,46 2,86 9º 2.064.227,67 2,54 9º 3,46 Sudeste Paranaense 1.657.428,98 2,54 10º 1.982.002,45 2,44 10º 3,48 Fonte: Viana (2009) a partir de dados do IPEA (2009) (*) Valores em R$ 1.000,00, do ano de 2000 Observando a participação do PIB das mesorregiões em relação ao montante do Estado do Paraná, nota-se que no inicio do primeiro decênio do século XXI, essa participação ficou quase inalterada. Quanto ao crescimento geométrico anual do PIB paranaense, houve um crescimento médio anual de 3,85%, porém somente duas mesorregiões obtiveram um crescimento acima da média: a mesorregião Metropolitana de Curitiba, com 5,65%; e, a Centro Oriental, com 4,13%. Assim, o final do século XX marcou a consolidação da mesorregião Metropolitana de Curitiba como grande pólo estadual, tanto em população (34,62% do contingente populacional paranaense) quanto na participação no PIB (45,19%), mesmo detendo apenas 11,45% do território estadual. Porém, ao se comparar a taxa geométrica de crescimento do PIB e PIB per capita mesorregional, percebe-se uma redução de proporção em termos de taxa entre as mesmas mesorregiões paranaenses. A mesorregião Metropolitana de Curitiba teve um crescimento geométrico anual do PIB de 5,65% e do PIB per capita de 2,79%. Como que o fluxo populacional se direciona às mesorregiões com maior taxa de crescimento econômico, pois nessas mesorregiões ocorre as maiores possibilidades de oportunidades de emprego e renda, o que ameniza a proporção de discrepância de crescimento apresentada pelo PIB e PIB per capita regional. Outra característica que se observa, a partir do crescimento do PIB per capita, é que o crescimento em algumas mesorregiões ocorreu em função de uma redução no crescimento geométrico da população, mascarando o real crescimento do seu produto (VIANA, 2009). Outro dado que contribui para demonstrar o perfil da economia paranaense no inicio do século XXI é o perfil da localização 5 espacial da sua população por domicilio (urbano e rural). 4 A estimativa da taxa geométrica de crescimento, calculada para todo o período, está de acordo com o método dos mínimos quadrados.

8 Figura 01: Padrão de Localização da População Urbana nas Microrregiões do Estado do Paraná 1996 e 2007. Fonte: Resultados da pesquisa a partir de contagem da população do IBGE (2011). Pela Figura 01 nota-se que a população urbana concentrou-se nas microrregiões que compõem a mesorregião Metropolitana de Curitiba, na microrregião de Cascavel e no norte do Estado do Paraná. Ou seja, o padrão locacional da população acompanhou a expansão e fortalecimento das atividades produtivas em microrregiões e mesorregiões que auferiram ganhos na base produtiva nos últimos anos. Isso se percebe ao comparar o perfil locacional do emprego com o perfil locacional do domicilio da população. 5 O perfil de localização ( ) é estimado da seguinte maneira: Considere E ij a população no domicilio i da região j. O padrão de concentração da população regional pode ser estimado a partir de θ ij = i E E ij ij / / j i E j ij E ij, em que 1 indica uma forte localização da população domiciliar. A partir desse resultado pode-se generalizar a localização para média (0,50 0,99) ou fraca ( <0,50). (FERRERA DE LIMA, 2006).

9 Figura 02: Padrão de localização do emprego formal nas atividades com Quociente de Localização (QL) superior a unidade nas microrregiões do Estado do Paraná -2007. FONTE: Elaboração da Pesquisa a partir de dados da RAIS/MTE (2007). No ano de 2007, as microrregiões concentravam as seguintes quantidades de ramos com localização significativa e forte especialização regional: 10,3% concentravam dois ramos; 35,9% tinham três ramos; 46,2% concentravam quatro ramos e; 12,8% tinham cinco ramos como básicos. Percebe-se que do ano de 1994 para 2003, o percentual de microrregiões que concentravam dois ramos diminuiu em 23%, mantendo os percentuais das que concentravam três e cinco ramos, aumentando em 25,7% o percentual das microrregiões que

10 concentravam quatro ramos. Assim, no inicio do século XXI, apesar do processo de concentração do Produto na economia paranaense, as regiões do interior avançaram na diversificação da base produtiva. Porém, esse avanço não foi suficiente para marcar o fortalecimento das populações urbanas.u seja, o domicilio da população paranaense em grande parte do seu espaço territorial continuou sendo a área rural. Segundo Piffer et all, (2002), o avanço na produção de excedentes agropecuários e o fortalecimento da agroindústria fez com que a economia paranaense atingisse um patamar favorável para a diversificação industrial no inicio do Século XXI. Em termos de relações de troca, cresceu significativamente seu grau de inserção na economia brasileira e na economia internacional. Já os produtos mais modernos em detrimento dos tradicionais ganharam certa importância nas economias regionais do Paraná. O Estado do Paraná dinamizou sua base produtiva e deixou de ser um Estado voltado apenas à produção agrícola, diversificando e difundindo as Indústrias Não-Tradicionais e aumentando a dinâmica da sua base de exportação. Para North (1961, 1977), no processo de desenvolvimento regional, as atividades de base devem estimular outros setores; se diversificar o longo do tempo; e se difundir para outras atividades regionais. Com os investimentos, a economia se dinamiza cada vez mais em função do efeito multiplicador do consumo e do investimento, na diversificação da base de exportação. Essa diversificação estimula o fim da dependência da estrutura agrária e faz a economia regional avançar para uma estrutura produtiva cada vez mais alicerçada nos setores secundário e terciário,ou seja, nu continuum urbano industrial. No caso do Paraná, as indústrias tradicionais se fortaleceram na mesorregiões Noroeste, Norte Central, Norte Pioneiro, Sudoeste, Centro Oriental e Oeste do Paraná, nas quais mais se difundiram internamente e se associaram com a base produtiva agrária. Essas mesorregiões fortaleceram internamente o fluxo de emprego de forma significativa nos ramos de atividades ligados à indústria tradicional. Nas outras mesorregiões, essa expansão foi menos significativa em termos de número de microrregiões ligadas à transformação agroindustrial. Ao contrário da Indústria Tradicional, o resultado do processo de difusão das atividades de base no Paraná no final do século XX, conduziu a uma dispersão concentrada das Indústrias Dinâmicas e Não-Tradicionais. Ou seja, sua dispersão se dá num eixo na direção noroeste-leste do Paraná, atingindo parcialmente as mesorregiões Noroeste e o Norte Pioneiro (Cornélio Procópio e Jacarezinho), e de forma mais dispersa no interior das mesorregiões Norte Central, Centro-Oriental e entorno da Região Metropolitana de Curitiba. Diferente das Indústrias Tradicionais, que se espraiam ao longo do território paranaense, as Indústrias Dinâmicas e Não-Tradicionais buscam microrregiões específicas do Estado do Paraná para se aglomerar (PIFFER et all, 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo do tempo, o processo de desenvolvimento regional que estimula as rupturas estruturais nas economias regionais, exigirá a ampliação e a diversificação das atividades produtivas. Esse processo faz com que as atividades básicas, que são as atividades motoras na economia regional, impulsionem outras atividades não-básicas. Porém, nem todas as regiões conseguem fazer essa transição. Algumas regiões ao longo tempo permanecerão dependentes da geração de excedentes ligados a base econômica do setor primário, mantendo um continuum exclusivamente urbano-rural.

11 Essa tendência reforça as conclusões de Perroux (1977) de que o desenvolvimento não ocorre em todos os lugares e ao mesmo tempo na mesma magnitude e importância. As regiões que migram do continuum urbano rural para o continuum urbano-industrial fortalecem suas atividades de base tanto no setor secundário quanto terciário. Isso não significa a perda de importância do setor primário, mas a produção de excedentes não ocorrerá exclusivamente nesse setor. Nesse caso, o carro-chefe da economia regional passa a ser cada vez mais as atividades urbanas. O fortalecimento do continuum urbano industrial seria o estagio final na transição das economias exclusivamente rurais para urbanas. Para Schultz (1953, p. 147) (...) o desenvolvimento econômico ocorre em uma matriz de localização específica (...) essas matrizes locacionais são, primeiramente, de composição urbano-industrial (...). Frente a essa afirmação e aos dados apresentados nas seções anteriores pode-se contatar que a estrutura que estimula avanços no crescimento econômico é cada vez mais de base urbana, tendo as atividades primárias como suporte no processo de desenvolvimento urbano-industrial nas economias regionais. Nessa mesma linha, Santos (2003) afirma que a polarização se dá através dos serviços urbanos que a cidade é capaz de oferecer, nesse caso, serviços e manufaturas. Dessa forma, a regiões que disponibilizam serviços e atividades comerciais diversificadas ampliam sua área de mercado e se tornam mais atrativas para os investimentos. No caso paranaense, a transição de uma economia exclusivamente primário exportadora para a manufatura demonstra que algumas regiões tornam-se também centros nodais atrativos. Nesses lugares, se desenvolveram meios especiais para implementar a estrutura de produção e distribuição dos bens e serviços ligados as atividades básicas. Tanto que o continuum urbano-industrial encontra-se diferenciado regionalmente e no conjunto das mesorregiões. Ao se tomar as regiões que possuem um perfil de localização do emprego formal com Quociente de Localização superior a unidade, nota-se que a mesorregião Metropolitana de Curitiba (RMC) e a Norte Central foram as que mais conseguiram avançar na formação de um continuum urbano industrial, o que as classifica em conjunto com 62% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Paraná. Piffer et all (2010) demonstrou que das 36 Áreas Mínimas Comparáveis 6 (AMCs) do Paraná, com um continuum urbano-industrial, 26 apresentaram atividades produtivas diversificadas. Assim, o fortalecimento das atividades de base no continuum urbano-industrial não implica numa maior especialização das economias regionais, mas a diversificação. Nesse sentido,as rupturas estruturais nas economias regionais so produzem avanços significativos de desenvolvimento quando as áreas de mercado dessas economias se ampliam e suas atividades de base se diversificam. A evolução da economia regional do Paraná confirma essa tendência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, L. R.; FERRERA DE LIMA, J.; PIFFER, M.; PIACENTI, C. A. Análise regional das mesorregiões do Estado do Paraná no final do Século XX. Análise Econômica, Porto Alegre, nº. 46, p. 7-25, 2006. DINIZ, C. C. ; LEMOS, M. B. A dinâmica regional e sua perspectiva de 90: propriedades e perspectivas de políticas públicas. v. 3, Brasília: IPEA/IPLAN, 1990. 6 Como a regiões brasileiras sofreram modificações político administrativas na distribuição dos seus municípios em função das emancipações, foi necessário compatibilizar as áreas municipais a fim de gerar as Áreas Mínimas Comparáveis. O recorte territorial das AMCs reduziu 399 municípios, para uma escala de 277 Áreas Mínimas Comparáveis (AMCs). A Área Mínima Comparável tem um código, em geral, do município mais antigo e populoso.

12 FERRERA DE LIMA, J. Méthode d analyse régionale: Indicateurs de localisation, de structuration et de changement spatial. Collection notes et rapports de recherche. Saguenay : GRIR, 2006. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2003. Disponível em: <http://www2.ibge.gov.br/pub/censos/censo_demografico_1991/populacao_residente_urb ana_rural/> Acesso em: 20 fev., 2011. IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Paraná: características demográficas e projeção da população, por microrregião, até 1990. Curitiba, 1983.. Séries retrospectivas do Paraná: dados históricos da indústria 1940-80. Curitiba, 1993.. Dinâmica demográfica da região Sul: anos 70 e 80. Convênio MEC/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e NESUR Núcleo de Estudos Urbanos IE Unicamp, Curitiba, PR, 1997. IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil: redes urbanas regionais. Sul/IPEA, IBGE, UNICAMP/IE/NESUR, IPARDES. Brasília: IPEA, 2000. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Dados de PIB. Disponível em: <http:www.ipeadata.gov.br> Acesso em: 05 out. 2009. JESUS, G. E.; FERRERA DE LIMA, J. A indústria paranaense no Mercosul. In: PIACENTI, C. A.; FERRERA DE LIMA, J. F.; PIFFER, M. (Orgs.) O Prata e as controvérsias da integração Sul-Americana. Cascavel: Edunioeste, 2001. LINHARES, T. Paraná vivo: Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná (Primeira Reimpressão do Original de 1953), 2001. LOURENÇO, G. Cenários de compreensão da dinâmica econômica paranaense. In: CARIO, S.; PEREIRA, L.; BROLLO, M. (org.) Economia Paranaense: Estudos de setores selecionados. Florianópolis: UFSC, p.19-36, 2002. NORTH, D. A agricultura no crescimento econômico. In: SCHWARTZMAN, J. (org.). Economia regional: textos escolhidos. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, p. 333-343, 1977 NORTH, D. Alguns problemas teóricos a respeito do crescimento econômico regional. Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, nº 03, p. 25-38, 1961. PADIS, P. C. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. São Paulo: Editora Hucitec, 1981. PALUDO, G. B.; BARROS, D. A. Síntese da história do Paraná. Cascavel: Assoeste (Associação Educacional do Oeste do Paraná), 1995.

13 PERROUX, F. O conceito de pólos de crescimento. In.: SCHWARTZMAN, J. (org.) Economia Regional: textos escolhidos. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, p. 145-156, 1977. PIFFER, M.; ALVES, L. R.; AREND, S. C.; FERRERA DE LIMA, J. O perfil locacional e a especialização produtiva nas AMCs do Estado do Paraná entre 1970 a 2000. In: ENCONTRO NACIONAL ENABER ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS REGIONAIS E URBANOS, 8, 2010, Anais..., Juiz de Fora, 2010. PIFFER, M.; STAMM, C.; PIACENTI, C. A.; FERRERA DE LIMA, J. A base de exportação e a reestruturação das atividades produtivas no Paraná. In: CUNHA, M. S.; SHIKIDA, P. F. A.; ROCHA JÚNIOR, W. F. (Orgs.) Agronegócio Paranaense: potencialidades e desafios. Cascavel: Edunioeste, 2002. RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS (RAIS). Base de dados estatísticos. Brasília. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/>. Acesso em: 01 de março 2011. ROLIM, C. F. C. O Paraná urbano e o Paraná do agrobusiness: as dificuldades para a formulação de um projeto político. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, p. 31-55, 1995. SANTOS, M. Economia espacial. 2º ed. São Paulo: Edusp, 2003. SCHULTZ, T. The economic organization of agriculture. New York: McGraw-Hill, 1953. STADUTO, J. A. R.; FERRERA DE LIMA, J. ; MALDANER, I. S. ; STAMM, C. Análise Locacional das Ocupações nas Regiões Metropolitana e Não Metropolitana do Estado do Paraná. Revista de Economia. Curitiba, v. 34, p. 117-139, 2008. STADUTO, J. A. R.; TREVISOL, L. S; JONER, P. R. Sistema público de emprego do Paraná; uma análise regionalizada da intermediação da mão-de-obra. Revista Paranaense de Desenvolvimento. Curitiba, n o 106,, 2004. STAMM, C. Análise dos fatores que influenciaram a localização das indústrias no Estado do Paraná. (Monografia de Graduação) Unioeste/Campus de Toledo, 2003. VIANA, G. Capital humano e crescimento econômico: O caso da economia paranaense no inicio do século XXI. (Dissertação de mestrado). Unioeste/Campus de Toledo, 2009. WACHOWICZ, R. C. Norte velho, Norte Pioneiro: Curitiba, Vicentina, 1987.