Registro: 2017.0000794002 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292, da Comarca de Jacareí, em que é apelante SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA, é apelada ANA MARIA FERNANDES (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 12ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento parcial ao recurso, nos termos que constarão do acórdão. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JACOB VALENTE (Presidente sem voto), SANDRA GALHARDO ESTEVES E CASTRO FIGLIOLIA. São Paulo, 19 de outubro de 2017. Tasso Duarte de Melo Relator Assinatura Eletrônica
APELAÇÃO Nº 1001323-30.2017.8.26.0292 COMARCA: JACAREÍ 1ª VARA CÍVEL APELANTE: SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA. APELADA: ANA MARIA FERNANDES (JG) V O T O Nº 25260 AÇÃO DECLARATÓRIA C.C. REPARAÇÃO DE DANOS. Serviço de telecomunicação ( SKY Pré-pago ). Cancelamento do serviço antes mesmo da instalação dos aparelhos. Cobrança indevida e triplicada dos valores nas faturas de cartão de crédito. Descaso frente ao consumidor e ao Poder Judiciário, inclusive descumprimento tutela provisória de urgência que determinou a suspensão da cobrança. Dano moral configurado. Quantum reparatório excessivo no caso concreto. Redução para R$ 5.000,00. Sentença parcialmente reformada. Recurso parcialmente provido. Trata-se de recurso de apelação (fls. 127/139) interposto por SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA. nos autos da ação declaratória de inexigibilidade de débito c.c. reparação de danos materiais e morais ajuizada por ANA MARIA FERNANDES, contra a r. sentença (fls. 117/119) proferida pelo MM. Juiz de Direito da 1ª Vara da Cível da Comarca de Jacareí, Dr. Paulo Alexandre Ayres de Camargo, que julgou procedentes os pedidos para: i) reconhecendo a inexistência de relação contratual, declarar a inexigibilidade do débito representado nos descontos das faturas de cartão de crédito (12 parcelas de R$ 18,90, por três vezes), ii) condenar a requerida a restituir à autora, em dobro, todas as parcelas que chegaram a ser cobradas através do seu cartão de crédito, corrigidas pela tabela do TJ desde a data de cada desembolso e acrescidas de juros moratórios de 1% ao mês, e iii) condenar a requerida a pagar à autora, pelos danos morais, a quantia de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), corrigida pela tabela do TJ a partir da data desta sentença e acrescida de juros moratórios de 1% ao mês, contados da citação deste processo. Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 2
Sustenta a Apelante, em suma, que teria sido localizado no seu sistema uma proposta de assinatura do serviço Sky Pré-pago, porém, tal proposta teria sido cancelada a pedido da Apelada; que o cliente adquire o equipamento através de pagamento parcelado em cartão de crédito e o serviço funciona tal qual um telefone pré-pago, em que são necessárias recargas para a prestação do serviço ; que, quando realizado o pagamento através de cartão de crédito, embora a parte autora parcele a quantia, a empresa SKY BRASIL SERVIÇOS LTDA recebe mencionada quantia de modo integral desde a primeira parcela ; que, por tal razão, a Apelante SKY estaria impossibilidade de suspender os descontos do cartão de crédito, pois tal obrigação recairia exclusivamente sobre a administradora do cartão de crédito; que a Apelante teria tentado estornar os valores, porém, não teria obtido êxito em razão da inconsistência dos dados fornecidos pela Apelada; que a Apelante prestaria serviços de forma diligente, inexistindo prova de que atuou de má-fé, razão pela qual deveriam ser afastados os danos morais ou, ao menos, reduzidos; que não teria havido negativação, nem outra ofensa à honra da Apelada a justificar a reparação de danos morais; que o dano moral não seria presumido na espécie; que o mero descumprimento contratual ou de dever legal, por si só, não configuraria dano moral; que não estariam presentes os pressupostos da responsabilidade civil; que o valor excessivo da condenação configuraria enriquecimento sem causa. Pede a reforma da r. sentença para que o pedido de reparação de danos morais seja julgado procedente ou, subsidiariamente, seja reduzido o valor da condenação. Contrarrazões pela manutenção da r. sentença (fls. 146/149). Sem oposição ao julgamento virtual. É o relatório. O recurso deve ser parcialmente provido, para acolher o pedido subsidiário de redução dos danos morais. Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 3
Cuida-se de ação declaratória de inexigibilidade de débito c.c. reparação de danos materiais e morais em razão da má-qualidade e/ou defeito na prestação de serviço de TV digital SKY Pré-pago, eis que a Apelante SKY, mesmo depois de cancelada a assinatura pela Apelada, teria continuado a debitar no cartão de crédito os valores contratados, de forma triplicada. Conforme bem decidido pelo juízo a quo, restou inequívoco o cancelamento do contrato, conforme admitido pela própria Apelante SKY, razão pelas quais inexigíveis os débitos cobrados, assim declarados pela sentença. Correta também a condenação à devolução em dobro dos valores cobrados no cartão de crédito, eis que ausente hipótese de engano justificável, já que constava do próprio sistema da Apelante o cancelamento do contrato, conforme admitiu nas razões recursais. Tais matérias não foram objeto de devolução a este Tribunal, razão pela qual se encontram preclusas. Discute-se, tão somente, se os fatos configuraram danos morais e o respectivo quantum reparatório. Passa-se ao julgamento. Restou demonstrado nos autos, conforme admitido pela própria Apelante, que o serviço cobrado sequer foi prestado, decorrência do cancelamento pela consumidora Apelada. Também é dos autos que o valor cobrado indevidamente equivalia a 03 vezes o valor supostamente contratado, ou seja, por mês foi cobrado da Apelada a quantia de R$ 18,90 vezes 03. Não bastasse, a Apelante descumpriu de forma injustificada a tutela provisória de urgência que determinou a suspensão de cobrança, o que revela descaso não só com o consumidor que sofre com a má-qualidade do serviço prestado, mas também com as decisões emanadas do Poder Judiciário. Ressalta-se que mesmo a fixação de multa cominatória não coagiu a Apelante a cumprir a decisão judicial. Não é verossímil a alegação de que nada poderia fazer frente à administradora do cartão de crédito, como se os sistemas de tais Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 4
instituições financeiras fossem intocáveis ou invioláveis, a ponto de não autorizaram qualquer suspensão de cobrança. Mesmo que não conseguisse a suspensão da cobrança em contato com a administradora do cartão, o mínimo que deveria ter feito é ter reembolsado diretamente a Apelada pelas parcelas vencidas e vincendas, já que admitiu ter recebido integralmente o valor da administradora do cartão, numa única parcela, o que evidenciou o seu enriquecimento sem causa, já que o serviço não foi prestado. Anotam-se, ainda, os transtornos sofridos pela Apelada na tentativa de resolução administrativa da controvérsia, com inequívoca perda do seu tempo, além da necessidade de ajuizar ação judicial para resolução de problema singelo, decorrência, repita-se, do descaso da Apelante e da sua falta de presteza. Respeitadas as vozes em sentido contrário, ainda deve ser levada em consideração a função punitivo-pedagógica do dano moral, de forma a inibir que a Apelante incorra em condutas análogas, bem como reveja seus procedimentos internos para melhor atender aos consumidores. Sendo assim, correta a procedência do pedido de reparação de danos morais, incorporando-se os fundamentos da r. sentença: Relativamente aos danos morais, a autora comprovou que houve os descontos em seu cartão de crédito (pp. 23 e 93/94) e o descumprimento da ordem judicial. O dano moral se caracteriza, no caso concreto, pela extenuante condição imposta ao consumidor para que suas reclamações sejam atendidas: são ligações telefônicas que nada resolvem; o inconformismo com a cobrança mensal de serviço que nunca foi instalado em sua residência e, ainda por cima, em triplo, e a necessidade de fazer reclamações, ajuizar ação, com perda de tempo e dinheiro e, ainda deparar-se com o descumprimento da tutela antecipada para sobrestar as cobranças. Enfim, não há como negar: situações vividas pela autora, infelizmente muito comuns, deveriam ser solucionadas com um telefonema e, no máximo, uma visita técnica. Mas as empresas prestadoras de serviços, especialmente de telecomunicações, são useiras e vezeiras em dificultar ao máximo Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 5
aparentemente, às vezes, até de forma proposital a resolução dos problemas e dúvidas de seus clientes, o que se pode atribuir, não raro, ou péssimo preparo dado aos funcionários que atendem diretamente o consumidor. (destacamos) Por fim, no que se refere ao quantum reparatório, o recurso da Apelante deve ser provido. Com efeito, o valor de R$ 18.000,00, fixado pelo juízo a quo, mostra-se excessivo no caso concreto. Embora tenham sido muitos os transtornos em razão da indevida cobrança, sendo a Apelada obrigada a entrar em contato com a Apelante por várias vezes sem qualquer êxito, sem falar nos transtornos e angústias gerados pela reiterativa cobrança indevida e de forma triplicada, não há provas de danos extrapatrimoniais extraordinários a justificar tão alta reparação. O valor fixado pelo juízo a quo encontra-se bem acima dos parâmetros adotados por esta C. Câmara em casos de falha de prestação de serviço de telecomunicação, sobretudo a considerar, repita-se, a ausência de provas de danos extraordinários. A Apelada também não demonstrou que os valores que foram acrescidos mensalmente no seu cartão de crédito dificultaram-se a subsistência, nem houve a negativação do seu nome. Por ser assim, consideradas as peculiaridades do caso concreto e a capacidade econômica das partes, reduz-se o valor da condenação para R$ 5.000,00 (cinco mil reais), suficientes para compensar os danos morais causados, evitando-se o enriquecimento sem causa. Os termos iniciais da correção monetária e dos juros de mora permanecem como fixados pela r. sentença. Os honorários advocatícios devidos ao advogado da Apelada ficam mantidos em 15% sobre o valor da condenação, bem como mantida a condenação da Apelante ao pagamento das custas e despesas processuais. Tendo em vista o provimento parcial do recurso, condena-se a Apelada ao pagamento de honorários advocatícios à advogada do Apelante, Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 6
fixados em 10% sobre o proveito econômico obtido, qual seja a redução da condenação em R$ 13.000,00, nos termos do art. 85, 11, do NCPC, ressalvado o benefício da justiça gratuita. Diante do exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, com a reforma parcial da r. sentença, para reduzir o valor da condenação em danos morais para R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Correção monetária e juros de mora conforme fixados na sentença. Honorários advocatícios na forma acima. TASSO DUARTE DE MELO Relator Apelação nº 1001323-30.2017.8.26.0292 -Voto nº 25260 7