Rebobine 1 Rosinete de Jesus Silva FERREIRA 2 Gustavo Henrique SAMPAIO 3 Nadia Cristina Biondo COSTA 4 Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA RESUMO O programa voltado para a internet, intitulado Rebobine, demonstra, em uma exposição híbrida de jornalismo e linguagem virtual, um espaço sobre o mercado de trabalho onde as diversas funções do profissional de comunicação são contadas a partir da visão de um recém-formado e a linguagem, por trás das experiências e das informações acerca da profissão citada, jornalística, contada por meio de imagens, recortes e textos. A ideia surgiu dentro de uma disciplina chamada Produção de Programas de Televisão, como forma de expor formas de aconselhamento profissional aos iniciantes do âmbito acadêmico comunicacional e, também, aos que ainda não se decidiram sobre a área. A atividade laboratorial proporcionou a criação das características das ideias de bastidores, ponto este que sinaliza o caráter experimental do projeto. PALAVRAS-CHAVE: bastidores; vídeo; comunicação; profissão. 1 INTRODUÇÃO Como nos lembra Dubois (2004, p.23), (...) o vídeo não é um objeto (algo em si, um corpo próprio), mas um estado. Um estado da imagem (em geral). Um estado-imagem, uma forma que pensa. O vídeo pensa (ou permite pensar) o que as imagens são (ou fazem). A combinação das imagens e a correlação entre elas mostra a mensagem que o vídeo pretende exibir. A aparência estética que o vídeo propõe ao expor algum produto objetiva um diálogo que meneia entre semelhanças e dessemelhanças visuais mesmo que seja em diferentes formatos e linguagens, do padrão jornalístico ao cinematográfico. O equilíbrio, portanto, está no que implica a determinada produção. 1 Trabalho submetido ao XXI Prêmio Expocom 2014, na Categoria Cinema e Audiovisual modalidade Filme de animação. 2 Orientador doa trabalho. Prof. Drª do Curso de Comunicação Social, email: roseferreira@uol.com.br. 3 Estudante do 6º Semestre do Curso de Comunicação Social, Habilitação Rádio e TV, email: gustavohsm1@hotmail.com. 4 Aluna líder do grupo e estudante do 8º. Semestre do Curso de Comunicação Social, Habilitação Rádio e TV, email: ncbiondocosta@gmail.com. 1
O Rebobine é um projeto jornalístico aos moldes de uma reportagem de um telejornal, mas com uma linguagem diferenciada em comparação com a linguagem telejornalística padrão. Essa escolha tem relação com um alcance e visão de público, focados no âmbito virtual. Assim, faz-se necessário a busca pelo o equilíbrio de ter múltiplas linguagens e associações de recursos como componentes, capaz de criar uma nova identidade ao gênero que, aparentemente, existem em formatos distintos. Em Rebobine, o formato consiste na seguinte lógica: dois apresentadores, onde um exerce apenas esta função, enquanto o outro cumpre o objetivo da reportagem. O repórter sai a campo para entrevistar e acompanhar a rotina de trabalho do entrevistado da seguinte edição. Ao retornar para o estúdio, o repórter cumpre uma lógica de linguagem visual e, também, jovial. Ao proporcionar essa quebra que permite o telespectador observar que a atividade desempenhada e mostrada pelo programa diferencia-se do padrão do qual é influenciado. De acordo com Dubois (2004, p.100): O que eu me digo um pouco hoje em dia é que para pensarmos o vídeo, talvez devamos parar de vê-lo como uma imagem e de remetê-lo à classe das (outras) imagens. Talvez não devamos vê-lo, mas concebê-lo, recebê-lo ou percebê-lo. (...) Ou seja, considerá-lo como um pensamento, um modo de pensar. Um estado, não um objeto. O vídeo como estado-imagem, como forma que pensa (e que pensa não tanto o mundo quanto as imagens do mundo e os dispositivos que as acompanham). Pensado como um programa para influenciar jovens em sua conclusão do ensino médio e ingressantes no ensino superior como forma de orientação profissional, acadêmica e, também, comunicacional, Rebobine projeta um personagem central, no entrevistado. Por meio deste objeto, será mostrada, de acordo a vida acadêmica exposta e, inclusive, pensamentos e percepções que vieram antes dela, por meio de imagens e efeitos, toda a lógica de se compreender uma lógica discente na Comunicação Social e, posteriormente, se encaixar no mercado de trabalho. Ao sobrepujar as imagens do personagem central em campo, assim como mostrar os detalhes mais técnicos e específicos do profissional de comunicação (nesta edição piloto, por exemplo, a apuração dos dados, a checagem de pauta, o contato com os entrevistados, a adequação à posição em relação a câmera, etc., pela repórter Jessica Melo, da TV Mirante, 2
do Sistema Mirante de Comunicação, no Maranhão), temos uma evidente lógica de pensar toda o processo da comunicação, ao invés de retratar, apenas, o trabalho de um profissional. Diferencia-se, também, por buscar: explorar os bastidores desta profissão; e perceber a essência da profissão, que pode ser despertada no telespectador, tal qual fora despertada no personagem central. 2 OBJETIVOS O projeto experimental Rebobine tem por objetivo geral expor as diferentes formações da área de comunicação e do mercado de trabalho. Para se alcançar tal objetivo, foi necessário primeiro buscar entre as diferentes áreas da comunicação quais seriam as atuações possíveis. Por exemplo, no jornalismo: apresentador, editor, pauteiro, repórter, diretor, cinegrafista, etc. A segunda tarefa necessária, após pontuar as diferentes áreas de atuação, foi a de buscar exemplos práticos de recém-formados atuando profissionalmente. Com os dois objetivos específicos alcançados e estabelecidos, foi possível elaborar o roteiro a partir dos personagens escolhidos, estabelecer a lógica de diálogo do programa, linguagem, estética e duração. 3 JUSTIFICATIVA Os bastidores do meio televisivo é alvo de muito misticismo, desperta a curiosidade dos espectadores graças a sua aura de caixa mágica. Um espaço onde, a partir do vídeo, o impossível e possível podem se tornar verossímeis ou reais. Hoje em dia, se passa muito tempo assistindo televisão, não somente a TV, em seus moldes tradicionais, mas em seu conteúdo, o vídeo incorporado em diferentes plataformas. Assistimos, também, a constante popularização não somente do vídeo realizado, mas, também, a popularização dos meios de se fazer um vídeo. A própria plataforma YouTube proposta como repositório para a peça Rebobine, disponibiliza dentre suas ferramentas a de gravação de vídeo, edição e exibição, utilizando do recurso da internet e do aparelho, seja tablet, celular, computador ou notebook. A internet, junto com o surgimento de inúmeros aplicativos, vem desenvolvendo muitas ferramentas vinculadas com a produção de informação ou conteúdo, de forma 3
prática e acessível, principalmente, para os jovens. Tanta exposição e possibilidade acabam por desenvolver habilidades voltadas para o campo da comunicação, mas a questão que fica é: mas, afinal, qual é o trabalho de um profissional de comunicação? Escrever? Fotografar? Dirigir? Quais são as reais possibilidades de atuação no mercado de trabalho e como todo o conhecimento dessas tecnologias que o jovem vem dominando pode interferir? A peça experimental Rebobine visa preencher essa lacuna de dúvidas com um produto básico, de linguagem simplificada, aproximada aos jovens e ao espaço virtual, revelando o passo a passo da concepção de um conteúdo criado pelo profissional recémformado. Ao prestar o vestibular, encontram-se disponíveis poucas informações sobre o campo de atuação que, futuramente, o estudante possa adentrar, apenas em revistas específicas, com informações estritamente técnicas e por tópicos ligeiramente aprofundados. O Rebobine busca partir de um discurso desde a escolha da área comunicação até a área de atuação que o personagem escolhido trabalha. O nome Rebobine nasce com a perspectiva de direcionar esse olhar para os bastidores, utilizando um nome da área do vídeo: rebobinar, ato de voltar o rolo de fita das saudosas fitas VHS, para o começo da narrativa. Rebobinar o dia a dia da concepção do conteúdo. Visando sanar ou expor um caminho pouco conhecido ou discutido tanto na época de escolha do curso quanto nos primeiros semestres de faculdade. Muitas vezes, o campo profissional que o estudante escolhe posteriormente tem mais relação com o espaço que ele teve para estagiar do que com o conhecimento total das possibilidades do profissional que está se formando. O meio internet se mostra como melhor opção para submeter a veiculação do produto por alguns fatores cruciais à linguagem escolhida para o mesmo, mas outro fator que facilita é o fato de proporcionar uma independência financeira e ser um meio de custo baixíssimo para qualquer produção audiovisual ser veiculada. A independência financeira gera uma independência de conteúdo também, não amarrando o programa à comerciais ou instituições específicas. Criando-se uma conta no YouTube, o arquivo torna-se possível, também, ser associado ou compartilhado em outras rede sociais de troca de conteúdo, como o Twitter ou o Facebook, redes estritamente ligada à quantidade de informação e o tempo que se leva para acessá-las ou consumi-las. 4
A proposta de vídeo, com apenas cinco minutos de duração, vem no sentido de não ser contrária a essa lógica das redes, acostumada com 140 caracteres como no Twitter na rede social Twitter só pode ser compartilhado textos com o máximo de 140 caracteres digitados - ou com os mais recentes memes do Facebook figuras com mensagens, feita de maneira bem simples, sem muito recurso de edição ou montagem, em sua maioria irônica, sarcástica e de comédia. A ideia é informar ou entreter em pouco tempo. O que nos leva à baixa qualidade do vídeo: em tempos que até o celular tem recurso para gravar com qualidade Full HD (alta qualidade de imagem), optar por uma resolução razoável com um tamanho compacto se justifica com a necessidade de poder ser assistido transmissão de dados - em qualquer plataforma e com um sinal baixo de rede. 4 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS Com uma ideia bem elaborada, foi decidido que o trabalho seria levado ao Expocom. Com a definição da equipe e da categoria que pretendíamos participar, partimos para uma pesquisa mais aprofundada do produto que criaríamos: um programa jornalístico que, a partir de uma linguagem adequada, pudesse atrair ao público da internet. Também foi necessário um levantamento sobre recém-formados no curso de comunicação e sobre suas áreas de atuação, disponibilidade e interesse no projeto. Assim, chegamos à repórter Jéssica Melo, recém-formada em Jornalismo e que já havia começado a trabalhar no canal Mirante antes de ser efetivada como repórter, podendo assim, contar sua trajetória compatível com a proposta do Rebobine. O aprofundamento do tema passou por pesquisas conceituais sobre os diversos tipos de programas que são exibidos na TV aberta e fechada e que contemplasse uma linguagem mais jovem, aliada a ideia de retratar e, também, relatar o passo a passo no âmbito comunicacional. Sendo assim, programas como Profissão Repórter e Globo Repórter, da TV Globo, A Liga, da TV Bandeirantes e De Lá Pra Cá, da TV Cultura foram analisados e, inclusive, serviram de inspiração para o formato desejado neste experimento. Após o aprofundamento sobre programas de proposta equivalente e, também, sobre o personagem a ser entrevistado, partimos para a concepção do roteiro. A construção do roteiro ocorreu de forma paralela à captação de imagens. Como parte das imagens utilizadas no programa são feitas na externa, acompanhando o profissional, pouco soubemos sobre 5
quais imagens pegaremos, quais condições de luz ou áudio estarão disponíveis. Para evitar muito problemas técnicos, o vídeo mesmo adota uma estética de vídeo diário, assim podendo ter interferência de luz e de ruídos durante a gravação externa. Uma captação que funciona bem similar à captação feita em uma reportagem jornalística de campo. Foram estabelecidas anteriormente à captação apenas as chamadas feitas pelo repórter Gustavo Sampaio, terminado a entrevista e a gravação externa foi possível a construção do roteiro, com os offs do narrador, passagens, texto do apresentador, trilha sonoras e imagens a serem adicionadas. De acordo com Machado (2007, p. 194) ao analisar o que compõe um cenário, E, do mesmo modo que a composição do quadro tem de ser a mais despojada possível, os cenários não podem parecer excessivamente realistas nem ostentar preenchimentos minuciosos. Sendo assim, tudo foi pensado para que, de certa maneira, todo o objetivo pensado para o programa pudesse constar de uma forma sintética. Cientes dos conceitos e processos, criamos o nosso próprio projeto, a partir, também, de definições como figurino (também, baseada em uma linguagem mais jovial), além da locação (o estúdio para os apresentadores e a utilização do ambiente de trabalho do personagem para realizar a gravação) e dos elementos utilizados em cena (neste caso, elementos de um estúdio de TV, como câmeras, microfones e o próprio cenário, inclusive, serviram de pano de fundo para intensificar e explorar a ideia de bastidores). Segundo Bruce Block (2010, p.3): Você pode escolher não usar os componentes visuais na sua produção? Não, se você ignorar os componentes visuais, eles não vão sumir. A cor pode ser eliminada ao se filmar em preto e branco, mas é impossível eliminar qualquer outro componente visual, pois eles existem em tudo que há na tela. (...) Como os componentes visuais estão sempre na tela, entendê-los, controlá-los e usá-los é fundamental para criar ótimas imagens. No estúdio, foi possível o controle da intensidade das luzes no ambiente. Desta forma, conseguiu-se criar um ambiente um pouco mais escuro, mas iluminado em pontos que reforçassem uma das ideias citadas acima: o caráter experimental e laboratorial do produto. Sendo assim, foram utilizados refletores, aliados a uma máquina fotográfica Canon T3i Rebel e um boom Yoga que conseguiram a captação esperada dos objetos focados no vídeo. A edição foi feita no programa Sony Vegas. 6
5 DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO Todo o trabalho de composição do programa durou entre duas e três semanas. Para a captação das imagens, foram necessários dois dias. O programa busca retratar, de uma forma linear (estúdio, passagem, off, volta para o estúdio, passagem, off, etc.), uma produção jornalística aos moldes das reportagens de televisão, mas com um intuito de mostrá-la ao público da internet (e, no processo acadêmico). As gravações puderam ser feitas em duas tardes: em uma, foram coletadas as imagens de apoio para a matéria, os áudios, a entrevista e as chamadas; no segundo, foram feitas as gravações da apresentação no estúdio, necessárias, principalmente, para a abertura e encerramento do vídeo. Buscamos dividir entre os 5 minutos de programa, três partes: uma primeira parte introdutória, apresentação do entrevistado e sua área de atuação; a segunda parte já fica mais voltada para o discurso do entrevistado, sua trajetória e conselhos; na terceira parte, conclusiva, relacionamos a atuação do atual entrevistado com o próximo, fazendo uma breve chamada para a próxima edição e também explicitando a aproximação entre a áreas de atuação, nesse caso, na área do telejornalismo. O vídeo, que tem duração de 5 minutos e seis segundos, está disponível no canal do programa Rebobine, em seu perfil homônimo do YouTube. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O programa Rebobine contempla a ideia de que a escolha por um campo específico da comunicação deva ser, e, também, possa ser traçado em fases iniciais, como na saída do ensino médio e na entrada no ensino superior. Desta forma, expor como foi o processo de recém-formado possibilita, de certa forma, um auxílio tanto na escolha da comunicação social como profissão, assim como em qual especificidade da carreira escolhida o espectador pode se encaixar. O programa, entretanto, mesmo com a intenção de mostrar as inúmeras possibilidades e, também, as variáveis formas de se alcançá-las, não escapa, porém, da dualidade que os discentes enfrentam em optar por uma carreira profissional. O papel do Rebobine, portanto, se faz necessário na orientação e, principalmente, mostrar, de uma forma indireta, profissionais de comunicação retratando a si próprios. Em outras palavras, explicar a comunicação por ela própria. 7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOCK, Bruce A. A narrativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais São Paulo: Elsevier, 2010. DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004. MACHADO, Arlindo. Pré-Cinema e Pós-Cinema. São Paulo: Papirus, 2007. 8