NR-29 ENQUANTO FONTE LEGAL GERADORA DE DIREITO AO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE AO TRABALHADOR PORTUÁRIO



Documentos relacionados
O Adicional de Periculosidade

Recentemente a Presidente da República sancionou a Lei nº , de 8 de dezembro de 2012, que dispõe:

Ainda a mesma legislação prevê no artigo 34, as atribuições dos Conselhos Regionais de Engenharia, entre outras:

Parecer Consultoria Tributária de Segmentos Adicional de Periculosidade sobre horas extras e férias

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

NORMAS REGULAMENTADORAS

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E CIDADANIA

LEI Nº /14 ADICIONAL DE PERICULOSIDADE EMPREGADOS QUE UTILIZAM MOTOCICLETA PARA TRABALHAR PASSAM A TER DIREITO AO ADICIONAL.

LEI Nº 8.234, DE 17 DE SETEMBRO DE 1991

Novidades Trabalhistas

SÚMULA DAS NORMAS REGULAMENTADORAS NR S. Objetivo: Instruir quanto ao campo de aplicação das NR s e direitos e obrigações das partes.

ATIVIDADES E OPERAÇÕES PERIGOSAS Norma Regulamentadora nº 16

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2014 (Do Sr. Moreira Mendes e outros)

Neste comentário analisaremos as regras acerca do adicional de insalubridade, dispostas no art. 189 e seguintes da CLT.

NORMAS REGULAMENTADORAS

CAPITULO I DISPOSIÇOES GERAIS

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. PARECER COREN-SP 004/2012 CT PRCI nº /2012 Ticket

ESTADO DO PIAUÍ PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE PAULISTANA

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

Regulamentação da Periculosidade dos Motociclistas

A IMPLANTAÇÃO DE CONSELHO CONSULTIVO EM SOCIEDADES LIMITADAS COMO FORMA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

AS MUDANÇAS NO ESTATUTO JURÍDICO DOS DOMÉSTICOS EC 72/13 Gáudio R. de Paula e José Gervásio Meireles

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

CONSULTA Nº /2012

Segurança Operacional em Máquinas e Equipamentos

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO

ÂMBITO E FINALIDADE SERVIÇO DE EMPRÉSTIMO DE VALORES MOBILIÁRIOS

ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

Assunto: Considerações da Petrobras para a Consulta Pública ANEEL 11/2014

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 4.481, DE 2012 VOTO EM SEPARADO DO DEPUTADO ROBERTO SANTIAGO

AULA 02 ROTEIRO CONSTITUIÇÃO FEDERAL ART. 5º; 37-41; ; LEI DE 13/07/1990 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E C A PARTE 02

DECRETO N , DE 05 DE JUNHO DE 2006

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE Art. 2.º Para os efeitos desta lei, considera-se:

CURSO ONLINE NR-7 PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL (PCMSO)

DECLARAÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA 2015 DETALHES A OBSERVAR

A atividade contábil e o ISS

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Controle de Ponto do Trabalhador terceirizado

PORTARIA N , 08 DE JUNHO DE 1978

Parecer Consultoria Tributária Segmentos Férias, 13º Salário, Média e Horas Extras Pagar sobre Salário ou Remuneração

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 43, DE 2015

REGRAS DE APOSENTADORIA DO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL - RPPS

São Paulo, 04 de Maio de 2015 Ofício SINOG 022/2015

Política de Exercício de Direito de Voto em Assembleias Gerais

PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

ADVOGADOS EXMA. SRA. DESEMBARGADORA MONICA SARDAS 21ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

REGULAMENTO DE FUNCIONAMENTO DO CONSELHO NACIONAL PARA A ECONOMIA SOCIAL

TRECHOS DE LEIS E PROJETOS DE LEIS ESTADUAIS

Política Nacional de Resíduos Sólidos

RESSEGURO: OS NOVOS RESSEGURADORES LEGAIS

DA REMUNERAÇÃO DO APRENDIZ

POLÍTICA CORPORATIVA BACOR CCVM. Página: 1 Título: Exercício de Direito de Voto em Assembleia

Lição 13. Direito Coletivo do Trabalho

Agência Nacional de Transportes Terrestres REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE TERRESTRE DE PRODUTOS PERIGOSOS. Painel Setorial Inmetro - Produtos Perigosos

Contratos de trabalho por tempo determinado, previstos na CLT

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

POLÍTICA DE EXERCÍCIO DE DIREITO DE VOTO EM ASSEMBLÉIAS GERAIS. CAPÍTULO I Definição e Finalidade

O REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE TAQUARITINGA

P REFEIT URA DO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador WALDEMIR MOKA I RELATÓRIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ PROJUDI REFORMULAÇÃO DE CUMPRIMENTOS - MANDADOS

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 5.339, DE 2013

Marco Civil da Internet

Instrumento que cria uma Rede de Cooperação Jurídica e Judiciária Internacional dos Países de Língua Portuguesa

MARPOL 73/78 ANEXO III REGRAS PARA A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO POR SUBSTÂNCIAS DANOSAS TRANSPORTADAS POR MAR SOB A FORMA DE EMBALAGENS

SENADO FEDERAL PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 493, DE 2009

MARPOL 73/78 ANEXO III REGRAS PARA A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO POR SUBSTÂNCIAS DANOSAS TRANSPORTADAS POR MAR SOB A FORMA DE EMBALAGENS

CRIAÇãO DE GABINETE SOCIAL DE APOIO JURíDICO A UTENTES CARENCIADOS

Efeitos da sucessão no Direito Tributário. Os efeitos da sucessão estão regulados no art. 133 do CTN nos seguintes termos:

30/03/2011. Matéria: Legislações e Normas Técnicas. Professor: Gustavo Fonseca. Assunto: Consolidação das Leis Trabalhistas e Normas Regulamentadoras

EB-5 GREEN CARD PARA INVESTIDORES

COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO

DOCUMENTOS E AVISOS DE AFIXAÇÃO OBRIGATÓRIA PELOS EMPREGADORES

Aula Toque de Mestre

COMISSÃO DE SEGURIDADE SOCIAL E FAMÍLIA PROJETO DE LEI Nº 3995 DE 2012 Apensados PL Nº 7.159, DE 2010 e PL Nº 3.184, DE 2012

RESOLVEU: I - probidade na condução das atividades no melhor interesse de seus clientes e na integridade do mercado;

*** PROJETO DE RECOMENDAÇÃO

APOSENTADORIA ESPECIAL PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE E RECONHECIMENTO DO DIREITO AOS SERVIDORES PÚBLICOS

circular ifdr Noção de Organismo de Direito Público para efeitos do cálculo de despesa pública SÍNTESE: ÍNDICE

marcelo ávila a d v o g a d o s

FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NAS VIAS DE TRÂNSITO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PRODUTOS PERIGOSOS

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 391-A, DE 2014

AULA 04 - TABELA DE TEMPORALIDADE

CÂMARA DOS DEPUTADOS

PARECER COREN-SP 028 /2013 CT. PRCI n e Ticket:

LEI Nº /2011 (MP 540/2011) ORIENTAÇÕES PRÁTICAS - DESONERAÇÃO FOLHA DE PAGAMENTO TI/TIC

Guarda Moveis e Armazenagem Self Storage em São Paulo Depósitos privativos de diversos tamanhos

MÓDULO II PISO SALARIAL PROFISSIONAL NACIONAL

RESOLUÇÃO Nº 66/2010. O PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO, no uso de suas atribuições regimentais,

Ref: ADICIONAL DE PERICULOSIDADE DA CATEGORIA DOS PROFISSIONAIS DE VIGILÂNCIA LEI /2012

O CÁLCULO DO VALOR DO SALÁRIO DE BENEFÍCIO DAS APOSENTADORIAS POR INVALIDEZ DE ACORDO COM O INCISO II DO ART. 29 DA LEI N. 8.

REGULAMENTO. 1)Definições

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Modelo esquemático de ação direta de inconstitucionalidade genérica EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Transcrição:

NR-29 ENQUANTO FONTE LEGAL GERADORA DE DIREITO AO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE AO TRABALHADOR PORTUÁRIO Leandro de Azevedo Bemvenuti Advogado Trabalhista 1 Publicado na Revista Justiça do Trabalho nº 256, Editora HS, abril/2005, p. 40-44. 1. Considerações Iniciais; 2. Da aplicabilidade da NR-29 aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em terra; 3. Da NR-29 enquanto fonte legal geradora de direito ao adicional de periculosidade; 4. Considerações Finais. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Ferrenha é hoje a discussão instaurada na orla portuária de Rio Grande, no que se refere à aplicabilidade ou não aos trabalhadores portuários do que dispõe a Norma Regulamentadora nº 29, regulamentada pela portaria nº 3.214-78 do Ministério do Trabalho, que aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Dois são os pontos centrais da discussão. O primeiro, que precede ao segundo, refere-se à aplicabilidade ou não da NR-29 como fonte legal e de direito aos trabalhadores portuários. O segundo, diz respeito ao adicional de periculosidade, isto é, se aplicada a NR- 29, esta seria capaz de gerar o direito ao adicional de periculosidade pelo que dispõe, mesmo que tais disposições não estejam enquadradas na NR-16, que originariamente disciplinou as atividades e operações perigosas. 1 Advogado (OAB/RS 59.893), sócio do escritório Lindenmeyer Advocacia & Associados S/C (OAB/RS 819)

1. DA APLICABILIDADE DA NR-29 AOS TRABALHADORES PORTUÁRIOS EM OPERAÇÕES TANTO A BORDO COMO EM TERRA A Norma Regulamentadora nº 29 veio ao ordenamento jurídico com o objetivo de regular a proteção obrigatória contra acidentes e doenças profissionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados e alcançar as melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. A sua aplicabilidade restou estabelecida no item 29.1.2 da NR-29 que assim tipifica, in verbis: 29.1.2. Aplicabilidade: As disposições contidas nesta NR aplicam-se aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em terra, assim como aos demais trabalhadores que exerçam atividades nos portos organizados e instalações portuárias de uso privativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora da área do porto organizado. A norma é muito clara ao estabelecer que as suas disposições serão aplicadas aos trabalhadores portuários em operações tanto a bordo como em terra, em portos organizados e instalações portuárias de uso privativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora da área do porto organizado. Ressalte-se ainda que, nos termos da NR-1, item 1.1, as Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Portanto, não restam dúvidas de que a NR-29 deve ser aplicada às relações de trabalho e emprego em que estão inseridos os trabalhadores portuários do Porto de Rio Grande ou de qualquer outro porto de nosso país, sendo de observância obrigatória a sua aplicação, sobretudo quando realizadas periciais técnicas ou médicas por determinação judicial em face de ação judicial movimentada por trabalhador portuário celetista. 2 DA NR-29 ENQUANTO FONTE LEGAL GERADORA DE DIREITO AO ADICIONAL DE PERICULOSIDADE

O segundo ponto de discórdia entre advogados, peritos e juízes trabalhistas a respeito da matéria, cinge-se a pergunta: Está a NR-29 apta a garantir ao trabalhador portuário a percepção de adicional de periculosidade, quando os agentes perigosos somente estiverem nela previstos, isto é, não tenham previsão legal na NR-16? Antes de respondermos este questionamento, é preciso verificar no ordenamento jurídico trabalhista qual é a norma legal que garante o direito do trabalhador ao recebimento do adicional de periculosidade. A Constituição Federal de 1988 (art. 7º, inciso XXIII) elevou a status constitucional o direito do trabalhador a percepção de um adicional de remuneração pelo labor em atividades penosas, insalubres ou periculosas. Contudo, e por ser esta norma constitucional de eficácia limitada, tem-se entendido que esta apresenta aplicabilidade indireta mediata e reduzida, somente estando apta a produzir efeitos após regulamentação que lhe desenvolva a aplicabilidade. Esta regulamentação no caso específico do adicional de periculosidade já estava em vigor a época da promulgação da Constituição Federal de 1988 (art. 193 da CLT), tendo sido recepcionada pela Carta Constitucional. Portanto, é a Consolidação das Leis do Trabalho por seu art. 193, em especial seu parágrafo primeiro, que garante ao trabalhador, se preenchidas determinadas condições, o direito ao adicional de periculosidade, se não vejamos: Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. (Redação dada ao caput pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) 1º O trabalho em condições de periculosidade assegura ao empregado um adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) Do texto legal, extrai-se primeiro que, a norma legal apta a garantir o direito ao adicional de periculosidade é o parágrafo primeiro do art. 193 da CLT, desde que preenchidas as especificidades apontadas pelo caput deste mesmo artigo, que remete a sua regulamentação para as chamadas Normas Regulamentadoras aprovadas pelo Ministério do

Trabalho. Portanto, estas NRs somente apontarão os requisitos e condições a percepção do referido adicional. Em segundo lugar, extrai-se do supra transcrito texto legal que serão as (no plural) Normas Regulamentadoras aprovadas pelo Ministério do Trabalho que irão regulamentar o que se deve considerar por atividades ou operações perigosas. Neste cenário, é correto dizer que toda a norma regulamentadora aprovada pelo Ministério do Trabalho que vier a regulamentar o que são estas atividades ou operações perigosas, especificando os requisitos e condições aptos a que se faça incidir a regra legal tipificada no art. 193 da CLT, será fonte geradora de direito ao adicional de periculosidade. Esta afirmativa nos leva a uma outra afirmativa, qual seja a de que não será somente a NR-16 que disciplina as atividades e operações perigosas, a fonte única e exclusiva apta a fazer incidir o direito ao adicional de periculosidade se preenchidos os requisitos e condições nela especificados, mas sim TODAS as NRs que por ventura vierem a disciplinar as atividades e operações perigosas. Aí está a discórdia que ora se pretende dirimir. O caput do art. 193 determina que as atividades ou operações perigosas serão consideradas na forma das regulamentações aprovadas pelo Ministério do Trabalho, o que não quer dizer que somente a NR-16 é que determinará qual são as atividades ou operações perigosas. A NR-29, posterior a NR-16, também veio a classificar as atividades e operações perigosas, sem qualquer prejuízo do que já dispunha a NR-16. A exigência legal dada pelo art. 193 que implica no direito do trabalhador a percepção do adicional de periculosidade está no fato de ser a sua atividade uma daquelas a serem determinadas pelas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho que devem seguir ao único requisito estipulado pelo caput do art. 193 da CLT, ou seja, as atividades ou operações perigosas devem implicar em contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. Cumprindo com esta exigência legal (que as atividades ou operações perigosas impliquem em contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado) é papel das NRs classificar o que são e quais são estas atividades ou operações perigosas. Serão, portanto, as normas regulamentadoras editadas pelo Ministério do Trabalho que classificarão quais a atividades ou operações perigosas que implicam num contato

permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. E é neste sentido que se afirma que não é só a NR-16 que veio a fazer isto, mas também a NR-29. Por outro lado, é importante ressaltar que não é a NR-16 que garante a percepção do adicional de periculosidade de 30% ao trabalhador que mantiver contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado. A garantia deste direito está consolidada no parágrafo primeiro do art. 193 da CLT acima transcrito. Mas o que é então este chamado trabalho em condições de periculosidade? Será aquele que, pelas normas reguladoras expedidas pelo Ministério do Trabalho, for classificado como tal. Toda esta construção é feita por um único e simples motivo. A NR-29 regulamenta como atividades ou operações perigosas alguns agentes que não são regulados pela NR-16, isto é, poderia o trabalhador auferir o adicional de periculosidade com fundamento no art. 193 da CLT, cumulado com a regulamentação a ele dada pela NR-29, sem sequer a necessidade de fazermos menção a NR-16. A NR-29, em seu item 29.6, seguindo a determinação do caput do art. 193 da CLT, fixa para os trabalhadores portuários, o que seja este trabalho em condições de periculosidade, se não vejamos: 29.6 - OPERAÇÕES COM CARGAS PERIGOSAS 29.6.1 - Cargas perigosas são quaisquer cargas que, por serem explosivas, gases comprimidos ou liquefeitos, inflamáveis, oxidantes, venenosas, infecciosas, radioativas, corrosivas ou poluentes, possam representar riscos aos trabalhadores e ao ambiente. 29.6.1.1 O termo cargas perigosas inclui quaisquer receptáculos, tais como tanques portáteis, embalagens, contentores intermediários para granéis (IBC) e contêineres-tanques que tenham anteriormente contido cargas perigosas e estejam sem a devida limpeza e descontaminação que anulem os seus efeitos prejudiciais. 29.6.1.2 - As cargas perigosas embaladas ou a granel serão abrangidas, conforme o caso, por uma das convenções ou códigos internacionais publicados da OMI, constantes do Anexo IV. 29.6.2 - As cargas perigosas se classificam de acordo com tabela de

classificação contida no Anexo V desta NR. 29.6.2.1 - Deve ser instalado um quadro obrigatório contendo a identificação das classes e tipos de produtos perigosos, em locais estratégicos, de acordo com os símbolos padronizados pela OMI, conforme Anexo VI. A NR-29 veio ao ordenamento jurídico para regular a proteção obrigatória contra acidentes e doenças profissionais, facilitar os primeiros socorros a acidentados e alcançar as melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. Para cumprir com este objetivo, delimitou o seu alcance de aplicação (trabalhador portuário), criando mecanismos aptos a viabilizar, no caso em apreço, as melhores condições possíveis de segurança e saúde aos trabalhadores portuários. Seguindo esta lógica, regulou uma série de particularidades inerentes à atividade portuária e retroportuária cotidianamente desenvolvida nos portos brasileiros. Assim, ao tratar da segurança e saúde do trabalho, impôs aos órgãos competentes, operadores portuários e trabalhadores portuários, uma série de exigências a serem cumpridas. Dentre estas estão em especial os cuidados a serem tomados nas operações de containeres, carga e descarga e ova e desova destes. Neste ponto é que a NR-29 amplia o que a NR-16 considerava como atividades e operações perigosas, incluindo neste conceito também os gases comprimidos ou liquefeitos, inflamáveis, oxidantes, venenosas, infecciosas, radioativas, corrosivas ou poluentes, que possam representar riscos aos trabalhadores e ao ambiente de trabalho, incluindo também neste conceito de cargas perigosas quaisquer receptáculos, tais como tanques portáteis, embalagens, contentores intermediários para granéis (IBC) e containeres-tanques que armazenem tais cargas. Verifica-se, portanto, que a NR-29 vai além do que já vinha disposto na NR-16, adicionando ao conceito de atividades e operações perigosas, não só o contato com explosivos e inflamáveis, mas também o contato com as chamadas cargas tóxicas, especificadas e enumeradas no item 29.6 da NR-29. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Tribunal Regional do Trabalho da 4 a Região vem reiteradamente sustentando que a NR-29 serve apenas para classificar os cuidados que devem ser tomados em relação ao

manuseio com os containeres, não podendo ser utilizada para efeito de caracterização do risco de periculosidade, visto que esta é pertinente aos anexos 1 e 2 da NR-16. Por este entendimento, o TRT4 tem reformado as decisões proferidas pelos juízes de primeira instância da comarca de Rio Grande que vem reconhecendo o direito ao adicional de periculosidade pelo contato ao menos intermitente com containeres contendo cargas tóxicas. Ressalte-se que o entendimento construído pelos juízes da comarca de Rio Grande, que detidamente tem analisado a matéria, fundamenta-se inclusive em duas inspeções judiciais já realizadas nos terminais portuários, bem como fundamenta-se em longas discussões periciais em que foram produzidas provas e contra-provas e impugnações e mais impugnações de laudos. Os peritos não adotam a NR-29, e muitos deles demonstram até um total desconhecimento da mesma. Os juízes num primeiro momento vinham pura e simplesmente acatando estes laudos periciais, embora reiteradamente impugnados. O tempo foi forçando a todos uma melhor análise do caso, o que gerou a mudança de posição de alguns juízes da comarca de Rio Grande que por aqui passaram. Todavia, a rotatividade de magistrados nas instâncias inferiores, sobretudo nas comarcas do interior, é relativamente grande, o que neste caso milita contra todo este esforço (com lógicos respingos no trabalhador portuário), eis que o magistrado que aqui chega não participou de toda esta construção dialética de teses e antíteses. É como se começasse do zero toda a discussão que pelo acúmulo já estava num patamar favorável aos trabalhadores portuários. Entretanto, não nos cabe aqui esmorecer, mas sim continuar o debate e sustentar a importância e a aplicabilidade da NR-29 nas relações de trabalho e emprego que vigoram nos Portos Brasileiros. Resta-nos novamente iniciar o debate e manter as posições até aqui defendidas, de modo que o tempo possa neste caso militar em nosso favor, e se possível, possa ainda fazer alguma diferença em prol dos destinatários últimos da tutela da proteção os operários de nosso país.