fls. 510 DECISÃO Processo Digital nº: 1018516-18.2018.8.26.0100 Classe - Assunto Execução de Título Extrajudicial - Mútuo Exeqüente: Giuliano Pacheco Bertolucci Executado: Santos Futebol Clube Juiz de Direito: Dr. Alexandre Bucci Vistos. Páginas 453/455 e Páginas 491/493: Manifestou-se, inicialmente, o executado indicando bens imóveis à penhora, com a indicação de seu valor no mercado, para garantia da execução do valor que reconhece do débito (R$ 2.140.918,90), requerendo a concessão de efeito suspensivo aos Embargos do Devedor distribuídos. Em contraditório, manifestou-se o exequente pela rejeição dos bens indicados, por inobservância da ordem de bens a serem submetidos à execução, indicados no artigo 835 do diploma processual civil; além do fato de serem insuficientes para garantia do crédito exequendo. Por fim, reitera pedido de penhora do debitor debitoris, assim como a penhora da renda de bilheteria de partida de futebol, pelo torneio Copa Libertadores, partida esta marcada para o dia 28.08.2018, envolvendo a equipe de futebol do clube executado.
fls. 511 É o relatório do necessário. Fundamento e decido. Quanto aos bens ofertados, não assiste razão ao exequente quanto à necessidade de se observar, sempre, sem exceções, rigorosa ordem, em relação ao rol constante, no artigo 835 do diploma processual civil. É necessário lembrar que, desde o início da vigência da Lei no. 11.382/06, houve alguma relativização da ordem contida no antigo artigo 655 da Lei no. 5.869/73, o que, como é sabido vinha sendo aplicado pelo STJ, que em 03.03.2010, por meio de sua Corte Especial editou a Súmula 417: "Na execução civil, a penhora de dinheiro na ordem de nomeação de bens não tem caráter absoluto." A ordem a ser observada deve permitir, no caso concreto, que seja garantida a execução da forma menos gravosa ao executado e, em tempo razoável, de modo que os reclamos de ambas as partes sejam atendidos, com a compatibilização de princípios e garantias constitucionais e legais. O executado informa, v.g., que a penhora por meio do sistema conveniado ao Banco Central do Brasil o impossibilitou de realizar inúmeras obrigações, dentre as quais destacando-se aquelas que são oriundas de relação de trabalho.
fls. 512 Tal informação, em regra, pode ser o vetor para a escolha de bens do patrimônio do executado que não seja dinheiro, ainda que excepcionalmente. Note-se que caso dos autos, o executado, certamente, no time de futebol que mantém, possui jogadores com elevados salários de modo que, em princípio, é curioso o fato de a constrição pelo sistema eletrônico ter atingido valor tão aquém do perseguido pelo exequente. De toda sorte, como não é possível se saber, ao certo, da situação econômica do executado, sem que haja colaboração com o Juízo torna-se difícil a busca por uma forma menos onerosa de execução, com a exclusão da penhora de dinheiro. Assim sendo, por ora, acolho a indicação dos bens imóveis matriculados sob o nº 22.649, no 1º CRI de Santos e sob o nº 31.272, no 1º CRI de São Bernardo do Campo, sem a suspensão da execução e determino ao serventuário que lavre os termos de penhora, dando oportunidade, por meio de ato meramente ordinatório, ao exequente para que se manifeste sobre o valor de avaliação indicado. Em relação à penhora de créditos do debitor debitoris, como já mencionado, é duvidosa a eficácia do ato, na situação em que o crédito ingressa no patrimônio do executado (artigo 855, II CPC), uma vez que, caso disponha dos valores; contra tal ato, a mera sanção por meio de multa, não afastará a situação de inadimplemento, caso não haja patrimônio a ser executado.
fls. 513 Obviamente, a intimação do devedor do executado é meio mais garantido, inclusive, pela ineficácia de eventual pagamento que aquele faça ao executado, como deixa claro o artigo 312 da Lei no. 10.406/02, uma vez ineficaz o pagamento, o devedor do executado terá seu patrimônio adstrito à execução. Registro, por fim, que deferi o requerimento, sendo que naquela oportunidade determinei a expedição de ofício, o que, em razão da celeridade, não deverá ser realizado, servindo esta decisão como ofício, a ser encaminhado pelo exequente, para o cumprimento, nos termos a seguir: Fica o Santos Futebol Clube, na pessoa de seu presidente, intimado da penhora que recaiu sobre os valores a que tem direito em razão da transferência do atleta Felipe Anderson ao clube inglês West Ham, até o limite do débito exequendo (R$ 9.580.633,33 - atualizados até julho 2018), ficando advertido que, a partir da ciência desta determinação, não poderá dispor dos valores em questão. Defiro, mais, a penhora a atingir 30% da renda líquida da partida a ser realizada no próximo dia 28.08.2018 entre a equipe do Santos Futebol Clube e o Independiente (ARG), expedindo-se Mandado para cumprimento por meio de Oficial de Justiça, com ciência da constrição e de que os valores deverão ser depositados em conta judicial a ser aberta para essa finalidade, no Banco do Brasil, agência 5905-6 em até 48 horas após a ciência do ato.
fls. 514 Expeça-se, portanto, mandado de penhora, para cumprimento em regime de plantão, por Oficial de Justiça, a ser realizado "na boca do caixa" do Estádio do Pacaembu (Pça. Charles Miller - CEP 01234-010), no dia 28.08.2018, às 19h30. Para o cumprimento do ato, com a urgência requerida, deverá o exequente colaborar com o Juízo e comprovar o recolhimento da diligência, nos autos o quanto antes. Intime-se. Cumpra-se. São Paulo, 24 de agosto de 2018. Alexandre Bucci Juiz de Direito