Linhas de transmissão de energia Terreno, torres, isoladores e cabos são os principais elementos da vistoria técnica desses equipamentos. Saiba quais procedimentos podem garantir uma adequada manutenção Por Jorge Henrique Cordeiro Benefícios de uma fiscalização rigorosa Obra na linha de transmissão de Foz do Iguaçu, no Paraná O governo brasileiro tem investido pesado na construção de linhas de transmissão, encarregadas de levar a energia produzida para as cinco regiões brasileiras. Até 2014, estão previstos investimentos de R$ 31 bilhões em quase 23 mil km de linhas, incluindo a conclusão da interligação dos Sistemas Isolados ao Sistema Interligado Nacional (SIN). As obras garantirão escoamento da energia produzida por grandes projetos hidrelétricos como Belo Monte, Tapajós e Teles Pires. Em andamento, há atualmente 23 obras de linhas de transmissão, totalizando 9.819 km de extensão e 27 subestações transformadoras de energia.
O aumento expressivo dos investimentos no setor eleva também a responsabilidade pela manutenção e fiscalização dessas redes, seja daquelas em construção, seja das linhas já instaladas e que hoje somam 94,7 mil km. Esses serviços são realizados pelas concessionárias, que, por sua vez, são fiscalizadas pela Superintendência de Fiscalização de Eletricidade (SFE) da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Cabe à empresa vencedora do leilão de transmissão, após a construção do empreendimento, fiscalizar e manter a linha, obedecendo as recomendações dos procedimentos de rede estabelecidas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), sob fiscalização da Aneel. "Internamente, as empresas estabelecem normativas de manutenção que são realizadas com equipes próprias ou terceirizadas. Os procedimentos de manutenção se iniciam com o plano interno de inspeção", explica Roberval Luna da Silva, engenheiro que atua no setor elétrico há mais de 30 anos, boa parte desse tempo na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Manutenção de linhas de transmissão No tereno: Evita a interferência da vegetação local na instalação de transmissão de energia e deixa os acessos à torre em condições para o trânsito de veículos. Essa manutenção segue normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com relação à altura máxima da vegetação abaixo das linhas. Na torre: Deve ser feita para conservar a estrutura, contemplando aperto ou troca de parafusos, troca de isoladores, substituição de peças corroídas e retencionamento dos tirantes de aço que sustentam torres estaiadas. Nos isoladores e cabos condutores: Contemplam-se os isoladores e seus acessórios, os cabos para-raios e o correto funcionamento dos cabos condutores. Assim, corrigem-se os defeitos nos isoladores, espaçadores-amortecedores, cabos condutores e demais componentes da linha. Fonte: ONS.
Patologias Os aspectos mais críticos em uma linha de transmissão e que podem resultar em desligamentos do sistema são sobretensões devido a descargas atmosféricas e a manobras, eletrocorrosão, poluição de isoladores, atos de vandalismo, queimadas, condições climáticas extremas (como ventanias, furacões e geadas) e crescimento exagerado de árvores que podem atingir as linhas. Segundo Cesar de Barros Pinto, diretor-executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), é comum Obras da subestação Ibicoara, na Bahia a ocorrência de curtoscircuitos dos cabos devido à vegetação na faixa de servidão das linhas. "Outro problema recorrente são as queimadas embaixo da linha, provocando o seu desligamento", diz. "Têm ocorrido ainda atrasos na limpeza das faixas em função da demora na concessão de licença ambiental das linhas, o que aumenta o risco de desligamentos", alerta. Roberval Luna da Silva acrescenta que "nas subestações, há uma extensa gama de fatores que provocam desligamentos. Entre eles, destacam-se as falhas em equipamentos elétricos, cujos parâmetros técnicos de controle devem ser acompanhados periodicamente, conforme plano de manutenção recomendado pelos fabricantes", afirma. Sistemas de proteção também podem ajudar para a integridade física das linhas de transmissão. São eles: cabos para-raios; para-raios supressores de surto; para-raios de linha e proteção catódica. Somados a eles, recomendam-se atenção a procedimentos coordenados de manobra e aterramento adequado. O acompanhamento das atividades mínimas de manutenção deve ser sistemático para equipamentos e linhas de transmissão classificados como
estratégicos. Já para os classificados como não estratégicos, o ONS recomenda acompanhamento sob demanda, quando uma análise localizada ou sistêmica indicar a necessidade. - Segurança melhorada: instalações bem mantidas apresentam menores índices de desvio do comportamento previsto e proporcionam menores riscos às pessoas; - Confiabilidade aumentada: menos tempo perdido com consertos e menores gastos com possíveis interrupções da produção de energia; - Maior qualidade: melhor desempenho dos equipamentos, não comprometendo a qualidade do serviço; - Aumento do tempo de vida do equipamento: reduz problemas de operação, desgastes, deterioração e outros que podem reduzir o tempo de vida útil das instalações; - Custos mais baixos: instalações que recebem manutenção regular funcionam de forma mais eficiente.
Procedimentos de vistoria A atividade de manutenção em linhas de transmissão é regulamentada pelo ONS, que estabeleceu procedimentos de rede para padronizar a operação e oferecer serviço de fornecimento de energia elétrica nos níveis e padrões de qualidade e confiabilidade requeridos pelos consumidores. Segundo o órgão, o terreno onde está instalada a torre de transmissão, a torre de transmissão em si e os isoladores e cabos condutores são os três componentes principais a serem vistoriados em uma linha de transmissão. São inspecionadas as fundações das torres (corrosão e desbarramentos das fundações), peças faltantes na estrutura (vandalismo), situação da Cabos subterrâneos da linha de transmissão de Porto Alegre vegetação na faixa de servidão da linha (proximidade dos cabos), situação das cadeias de isoladores (isoladores quebrados) e integridade dos cabos. Há três formas básicas de se fazer a manutenção dos componentes principais indicados pelo ONS: a corretiva, a preventiva e a preditiva. Na corretiva, como o próprio nome já indica, a manutenção procura consertar algum componente da linha que sofreu algum dano. É o tipo de manutenção que deve ser evitado ao máximo, porque pode causar problemas de fornecimento de energia no centro consumidor. Acontece, em geral, devido a fenômenos naturais, como vendavais e tempestades. A manutenção preventiva prevê a substituição de componentes da linha que necessitam de troca em intervalos de tempo regulares e predeterminados. É mais utilizada para definir a manutenção anual que deve ocorrer nas linhas. O terceiro tipo de manutenção, a preditiva, é o mais comum, consistindo na verificação visual ou por intermédio de equipamentos especiais, da necessidade de manutenção em determinados componentes. Incluem-se nesses serviços: aperto, troca ou regulagem de parafusos, medições de ruído elétrico e de resistência do aterramento, bem como medições de campo elétrico que podem resultar na troca de diversos componentes como cabos para-raios, isoladores, conversores e outros.
A manutenção da vegetação por meio da poda de árvores também se encaixa na manutenção preditiva. As inspeções periódicas são feitas de forma terrestre e aérea. Na terrestre, o inspetor da concessionária (ou da empresa contratada para tal fim) vai até a torre e verifica a situação, tanto da estrutura como também da cadeia de isoladores e dos cabos dos vãos (espaço entre duas torres) adjacentes. Na inspeção aérea, feita com helicóptero, verifica- se principalmente a situação dos cabos e da cadeia de isoladores. Em caso de constatação de algum problema, as equipes de manutenção são acionadas para a solução, antes que ocorra falha no sistema. Outro fator que deve ser levado em consideração em relação à manutenção de linhas de transmissão é a sua realização em linhas vivas (energizadas). Não é necessária a interrupção do fornecimento de energia elétrica, mas as equipes que fazem esse tipo de manutenção devem ser bem treinadas e seguir procedimentos de segurança rígidos. Alguns acessórios são fundamentais, como roupa metálica especial condutiva, bota condutiva, bastões e escadas feitos de fibra de vidro e resina epóxi. A roupa metálica do eletricista é equipotencializada com a tensão da linha e se transforma numa gaiola de Faraday, garantindo o campo elétrico zero em seu interior, onde se encontra o técnico. "Em linhas gerais, para garantir a integridade de uma linha de transmissão, é preciso possuir um bom plano de inspeção e manutenção e uma equipe (seja ela própria ou contratada) periodicamente treinada sob os aspectos de habilidade e segurança do trabalho, conforme as características de cada subsistema elétrico", afirma Silva.