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Transcrição:

HCEP Aula 23 O Estado Providência desde 1974 1. Constituição de 1976 (2-4-1976) A CRP estabeleceu um sistema de pesos e contrapesos. Institui uma pluralista, consagrando todas as garantias do Estado de Direito, que subordinava a governação às orientações programáticas próprias dos partidos vencedores dos actos eleitorais, com algumas limitações que as revisões posteriores vieram remover. Por um lado, adoptou um sistema semi-presidencial mitigado, criando um obstáculo institucional ao presidencialismo do primeiro-ministro. Por outro lado, consagra o sistema eleitoral proporcional pela média mais alta de Hondt, tornando difíceis as maiorias monopartidárias, favorecendo a formação de governos de coligação, sob pena de risco de instabilidade politica. A Revisão Constitucional de 1982 terminou com a tutela militar (extinção do Conselho da Revolução), reduz os poderes presidenciais (na demissão do governo, p.ex.). Na organização económico-social, é travada a tentativa de consagrar uma substancial redução dos direitos dos trabalhadores, que não impede a eliminação de toda uma retórica colectivizante. A Revisão de 1989 coloca fim às nacionalizações, favorecendo a privatização do Sector Público Empresarial. Mas a CRP de 1976, sobretudo, lançou as bases para a construção (e em alguns aspectos, como na Educação e Segurança Social, continuação) de um Estado Providência, ou Estado Social, assumidamente redistributivo do rendimento (através da fiscalidade progressiva e das prestações sociais não contributivas, por exemplo) sobre o qual assenta o próprio entendimento do carácter democrático do regime de Abril. 1

2. Administração Pública 1968 1979 1983 Administração Central 155.213 313.820 442.000 Administração Local 41.542 58.266 72.500 Total 196.755 372.086 514.000 (fonte Barreto, 1984) Efectivos da Administração Pública 1935-2005 Fonte MFAP, 2005 2

3. SAÚDE A esperança média de vida passou de 68 anos em 1970-75 para 77,2 anos em 2000-05. Entre 1974 e 2002, a esperança média de vida das mulheres aumentou 9,2 anos, enquanto a dos homens aumentou 8,9. Para ambos os sexos, aumentou em média 9 anos. A mortalidade infantil (/mil nascimentos) passou de 52 em 1970 para 4 em 2004. A taxa de mortalidade infantil < 5 anos passou de 62/mil em 1970 para 5/mil em 2004. Em 1970, cerca de 2/3 dos 176.000 partos foram realizados em domicílio. Em 2002, 99,9% dos partos ocorreram em estabelecimentos de saúde com internamento. 3

1974 2002 Médicos 116 324 (+) Enfermeiros 69 402 (+) Dentistas 5 46 (+) (por 100.000 habitantes) 4. EDUCAÇÃO A taxa de analfabetismo caiu de 25,7% em 1970 para 9% em 2001 (= média europeia desde final 80) Alunos matriculados (grau de ensino) 1960 1970 2001 Pré-escolar 7.000 17.000 236.000 (+) Básico 995.000 1.259.000 1.223.000(-) Secundário 113.000 163.000 414.000 (+) Superior 28.000 60.000 401.000 (+, diminui depois) Depois de 1970: pré-escolar 14x; alunos no primário diminuiu (25% entre 1980 e 2000). No secundário aumentou para mais do triplo. No ensino superior, o número multiplicou-se por quase 8x. A percentagem de mulheres no cômputo dos alunos do ensino secundário e universitário foi subindo sempre, de 48 para 51,5% no secundário e de 44 para 56,5% no superior. População com graus de ensino (%) 1970 2001 Sem qualificação 60,6 26,4 (-) Ensino secundário completo 2,3 11 (+) Superior completo 0,6 6,5 (+) Despesa pública com educação passou de 3% do PIB em 1974 para 7% em 2001; em termos de despesas do Estado, passa de 10% em 1973 para 15% em 1977 (pico histórico), para um valor médio de 14% depois de 1990. O ensino pré-escolar, praticamente inexistente antes do 25 de Abril, aumentou 14 vezes o número de alunos entre 1970 e 2002. 4

Mas o fenómeno do abandono escolar é particularmente preocupante, em anos recentes. O abandono da população escolar entre os 18 e os 24 anos anda em Portugal pelos 40% (em 2004), quando em Espanha está nos 30%, um valor que já é superior à média da União Europeia. 5. PROTECÇÃO SOCIAL Só a partir da década de 1970 se registou um crescimento significativo do sistema de protecção social em Portugal, aproximando-se da universalização nos anos 80, a qual é atingida efectivamente nos finais dos anos 90. Os beneficiários activos do regime da Segurança Social, que eram cerca de 3 milhões em 1974, atingem mais de 4,2 milhões em 2001. Estes beneficiários representavam em 1970, cerca de 75% da população activa e, em 1981, já superavam largamente 90% desta população. Os pensionistas do regime da Segurança Social tiveram também uma evolução crescente, passando de cerca de 1,8 milhões, em 1983, para mais de 2,5 milhões, em 2001. No regime da Função Pública, embora a série disponível seja apenas para os anos posteriores a 1994, verifica-se também um acréscimo, quer dos beneficiários activos, quer dos pensionistas. A importância das «prestações de velhice» aumentou nos últimos trinta anos, representando, ao longo desse período, um valor quase equivalente ao total das restantes prestações consideradas, vindo mesmo a superá-lo, a partir do ano de 1997, traduzindo o envelhecimento populacional ocorrido nesse período, com implicação no correspondente aumento do número de pensionistas. 5