Autor: Fabiana Carsoni Alves F. da Silva MEDIDA PROVISÓRIA N. 303, DE 30.6.2006 - PARCELAMENTO DE DÉBITOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS Após vetar o projeto que convertia a Medida Provisória n. 280-B/06 em lei responsável por disciplinar a reabertura do prazo para adesão ao Programa de Recuperação Fiscal REFIS, instituído pela Lei n. 9964, de 10.4.2000 -, o Presidente da República fez publicar, no dia 30.6.2006, a Medida Provisória n. 303, que dispõe, dentre outros assuntos, sobre o parcelamento de débitos junto à Secretaria da Receita Federal SRF, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional - PGFN e ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. Menos benéfico que programas como o PAES (Parcelamento Especial), por exemplo, o novo programa de parcelamento, apelidado de REFIS 3, não permite que dele se beneficiem as pessoas físicas, mas apenas as pessoas jurídicas cujos débitos estejam constituídos ou não, inscritos ou não em Dívida Ativa da União ou do INSS, ainda que pendentes de discussão judicial em ação proposta pelo sujeito passivo ou, então, em execução fiscal. A Medida Provisória n. 303/06 também estabelece que os débitos, ainda não quitados, objeto de parcelamentos anteriores, como o REFIS, o PAES, ou aqueles de que tratam as Leis n. 10522, de 19.7.2002, e n. 10925, de 23.7.2004, e a Medida Provisória n. 75, de 24.10.2002, podem ser parcelados consoante as regras do novo programa, inclusive na hipótese em que a pessoa jurídica tenha sido excluída de parcelamento anteriormente concedido por falta de pagamento. Embora não seja obrigatória a transferência, para o REFIS 3, de débitos objeto de outros parcelamentos, caso o faça, a pessoa jurídica não poderá cumular os benefícios dos outros programas - tais como redução de multa e juros - com os da Medida Provisória n. 303/06, devendo prevalecer os últimos, mesmo que os primeiros sejam mais benéficos. 1
Além disso, o REFIS 3 pode ser utilizado pela pessoa jurídica que apure seus débitos com base no Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte SIMPLES, mesmo que os débitos sejam administrados por outras entidades ou órgãos federais, ou quando sejam arrecadados mediante convênios. A Medida Provisória n. 303/06 traz três regimes de parcelamento, que variam conforme a data de vencimento do débito, como seja: os débitos vencidos até 28.2.2003 podem ser parcelados de duas formas, enquanto os débitos com vencimento entre 1.3.2003 e 31.12.2005 podem ser parcelados de uma única forma, distinta das demais. A diferença fundamental entre cada um destes regimes reside nos benefícios concedidos pela Medida Provisória no tocante ao número de parcelas para pagamento do débito e à redução da multa ou dos juros devidos. É importante notar que, independentemente da espécie de parcelamento, a pessoa jurídica tem até o dia 15.9.2006 para apresentar o correspondente pedido ao órgão competente, pedido que importará confissão de dívida. Cabe ainda acrescentar que algumas disposições contidas na Medida Provisória n. 303/06 ostentam conteúdo duvidoso. No caso, por exemplo, dos débitos com vencimento até 28.2.2003, os dispositivos da Medida Provisória n. 303/06 dão margem ao entendimento de que, para aderir ao REFIS 3, a pessoa jurídica deve incluir no programa a totalidade de seus débitos com vencimento na citada data, inclusive aqueles cuja exigibilidade esteja suspensa. Exceção é feita quando a causa suspensiva da exigibilidade versar sobre a pendência de reclamações ou recursos apresentados em processo administrativo fiscal, ou sobre a concessão de medida liminar em ações judiciais (incisos III a V, do artigo 151, do Código Tributário Nacional), únicas hipóteses, ao que a Medida Provisória n. 303/06 parece indicar, em que o sujeito passivo tem a faculdade de incluir os débitos no programa, ou de continuar a discussão administrativa ou judicial. 2
De toda forma, as regras dispostas na Medida Provisória n. 303/06 ainda serão objeto de regulamentação pela SRF, pela PGFN, pela Secretaria da Receita Previdenciária SRP, bem assim pelo Comitê Gestor do REFIS, o que pode ajudar a esclarecer eventuais dúvidas de interpretação, mas também gerar novas controvérsias. Ressalte-se, por fim, que, muito embora o REFIS 3 esteja previsto em medida provisória ainda não convertida em lei, a pessoa jurídica que aderir ao programa não perderá o direito ao parcelamento, ainda que aquele instrumento seja rejeitado ou perca sua eficácia em momento posterior à adesão, situação ressalvada apenas na hipótese de o Congresso Nacional vir a editar decreto legislativo em sentido contrário, na forma do artigo 62, parágrafos 3º e 11, da Constituição Federal 1. Feitas essas observações, analisaremos, a seguir, as principais regras relativas ao REFIS 3 consolidadas na Medida Provisória n. 303/06. 1. Débitos com vencimento até 28.2.2003 A adesão ao REFIS 3 fica condicionada à inclusão, no programa, da totalidade dos débitos da pessoa jurídica com vencimento até 28.2.2003. Tais débitos poderão ser parcelados em até 130 (cento e trinta) prestações mensais e sucessivas, no valor mínimo, cada uma delas, de R$ 200,00, 1 Art. 60: Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional: (...) 3º: As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos 11 e 12 perderão a eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. (...) 11: Não editado o decreto legislativo a que se refere o 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas. (...) 3
para optantes do SIMPLES, e R$ 2.000,00, para as demais pessoas jurídicas, atualizadas monetariamente pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), com redução de 50% (cinquenta por cento) do valor das multas de mora ou de ofício, e independentemente da apresentação de garantia ou arrolamento de bens, ficando, contudo, mantidos aqueles decorrentes de débitos transferidos de outras modalidades de parcelamentos ou de execuções fiscais. A pessoa jurídica não poderá se utilizar do parcelamento aqui referido para débitos relativos (i) a impostos e contribuições retidos na fonte ou descontados de terceiros e não recolhidos à Fazenda Nacional ou ao INSS; (ii) a valores recebidos pelos agentes arrecadadores não recolhidos aos cofres públicos; e (iii) ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana ITR. Por fim, são hipóteses de rescisão do parcelamento ora descrito (i) a inadimplência do sujeito passivo por 2 (dois) meses, consecutivos ou alternados, relativamente às prestações mensais ou a quaisquer dos impostos, contribuições ou exações de competência da SRF, da PGFN e do INSS, inclusive os com vencimento posterior a 28.2.2003, (ii) a existência de débitos mantidos, pelo sujeito passivo, sob discussão administrativa ou judicial, ressalvadas as hipóteses elencadas nos incisos III a V, do artigo 151, do Código Tributário Nacional, (iii) o não pagamento, no prazo de 30 (trinta) dias, dos débitos cuja inclusão nesta espécie de parcelamento é vedada, conforme indicado no parágrafo anterior, e (iv) a existência de débitos do sujeito passivo para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS inscritos em Dívida Ativa da União. 2. Débitos com vencimento até 28.2.2003 pagos à vista ou em até 6 (seis) prestações sucessivas e mensais Na hipótese de a pessoa jurídica optar pelo pagamento à vista ou em até 6 (seis) prestações mensais e sucessivas da totalidade de seus débitos com vencimento até 28.2.2003, ela será beneficiada com a redução de 30% (trinta por cento) dos juros de mora incorridos até o mês do pagamento integral ou da primeira parcela, bem assim com a redução de 80% (oitenta por cento) das multas de mora ou de ofício. 4
Se a pessoa jurídica parcelar o débito, as prestações mensais serão acrescidas da taxa SELIC. Segundo a Medida Provisória n. 303/06, em se tratando de débitos inscritos em Dívida Ativa da União, a concessão do parcelamento fica condicionada à apresentação, pela pessoa jurídica, de garantia real ou fidejussória no montante do débito, salvo quando se tratar de microempresas ou empresas de pequeno porte optantes pelo SIMPLES 2. Ademais, no que diz respeito a débitos contraídos junto à SRF e à PGFN, o parcelamento será rescindido quando houver falta do pagamento de 2 (duas) prestações, ficando, ainda, vedada sua concessão no tocante a valores relativos a (i) tributos retidos na fonte ou descontados de terceiros e não recolhidos, (ii) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro e sobre Operações relativas a Títulos e Valores Mobiliários IOF retido e não recolhido; e (iii) valores recebidos pelos agentes arrecadadores também não recolhidos 3. Por sua vez, no caso de débitos contraídos junto ao INSS, é vedada a concessão de parcelamento das contribuições descontadas dos empregados, inclusive dos domésticos, dos trabalhadores avulsos, das decorrentes de subrogação, bem como das importâncias retidas pela empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mão-de-obra 4. Ainda com relação aos débitos relativos ao INSS, configuram hipóteses de rescisão do parcelamento a falta de pagamento de qualquer prestação nos termos acordados, a insolvência ou falência do devedor, bem como o descumprimento de qualquer outra cláusula do acordo de parcelamento 5. 2 Artigo 9º, parágrafo 3º, inciso II, a, da Medida Provisória n. 303/06, c/c artigo 11, parágrafo 1º, da Lei n. 10522/02. 3 Artigo 9º, parágrafo 3º, inciso II, a, da Medida Provisória n. 303/06, c/c artigos 13, parágrafo 1º, e 14, incisos I a III, da Lei n. 10522/06. 4 Artigo 9º, parágrafo 3º, inciso II, b, da Medida Provisória n. 303/06, c/c artigo 38, parágrafo 1º, da Lei n. 8212, de 24.7.1991. 5 Artigo 9º, parágrafo 3º, inciso II, b, da Medida Provisória n. 303/06, c/c artigo 38, caput, da Lei n. 8212/91 e artigo 700, da Instrução Normativa n. 3, de, 14.7.2005, da SRP. 5
3. Débitos com vencimento entre 1.3.2003 e 31.12.2005 A pessoa jurídica poderá parcelar o débito em até 120 (cento e vinte) prestações mensais e sucessivas, atualizadas monetariamente pela Taxa Selic, porém sem qualquer redução de multa. Aplicam-se ao parcelamento aqui referido as demais regras descritas no item 2 supra, que não aquelas relativas ao número de parcelas para pagamento do débito e à redução de multa e juros. 6