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Transcrição:

Procuradora adventista não quer trabalhar ao sábado Diário de Noticias, 16-01-2012 Magistrada do MP pretende seguir à risca a doutrina da igreja protestante. Porém, Conselho Superior e Supremo recusaram pedido Enquanto para os católicos o domingo é o dia de descanso semanal, os adventistas do sétimo dia preferem descansar ao sábado. É o seu dia sagrado. E foi com base neste último argumento que a procuradora do Ministério Público Vera Ganhão, que professa essa crença, pediu dispensa de fazer turnos a este dia da semana. Porém, o Conselho Superior do Ministério Público negou- lhe tal pretensão, tendo a decisão sodo confirmada pelo Supremo Tribunal Administrativo. Invocando a Lei da Liberdade Religiosa, a magistrada do Ministério Público explicou que a observância do sábado ( crença 20) como dia de descanso, adoração ( o culto principal ocorre ao sábado) e ministério deve começar a partir do pôr do Sol de sexta- feira até ao pôr do Sol de sábado. E que os adventistas, para respeitar o dia de descanso, devem abster- se de todo o trabalho secular. Segundo a doutrina desta igreja, o sábado é mais do que descansar de um trabalho, implica a restauração completa, a renovação de energias, a recriação total do ser humano em todos os seus aspetos, inclusive o aspeto espiritual. Um dos objetivos do sábado como dia de descanso é orientar o ser humano para Deus, através de um período de tempo específico onde o 1

homem possa, longe dos constrangimentos dos horários de trabalho e da corrida do dia a dia, estar disponível para meditar, refletir, louvar e reconhecer a importância da presença de Deus na sua vida, ainda de acordo com a doutrina adventista. Por isso, Vera Ganhão, procuradora na comarca de Celorico da Beira, até sugeriu substituir o turno de sábado por outro dia da semana. Propondo essa alteração com uma compensação horária integral noutros dias de turno que não coincidam com o dia de sábado, quer sejam de serviço urgente ou em períodos de férias judiciais que não coincidam com as suas férias pessoais. É que, durante os fins de semana, os procuradores e juízes trabalham por turnos de forma a assegurar o serviço urgente nos tribunais. O caso foi analisado pelo seu superior hierárquico, que indeferiu a pretensão, uma posição subscrita pelo procurador distrital de Coimbra. O pedido seguiu para o Conselho Superior do Ministério Público ( órgão máximo desta magistratura), que confirmou a decisão do procurador distrital de Coimbra. Perante nova recusa, só restava o Supremo Tribunal Administrativo, onde a procuradora apresentou uma providência cautelar para intimar o Conselho Superior do Ministério Público a reconhecer- lhe o direito, por força da religião que professa, a descansar ao sábado. Porém, em acórdão de 14 de dezembro de 2011, os juízes- conselheiros, além de várias considerações de ordem formal sobre o processo avançado pela magistrada, decidiram reconfirmar a recusa, dizendo que no caso de conflituosidade de dois interesses fundamentais, um de natureza pública e outro privado, por princípio deve prevalecer o interesse público, ou seja, a procuradora deve 2

assegurar o turno de sábado. Conclusão: terá de avançar com novo processo. Contactada pelo DN, Vera Ganhão recusou fazer qualquer comentário às decisões, dizendo que o acórdão do Supremo ainda não transitou em julgado. Lei estabelece uma liberdade limitada para a vivência da fé A lei da Liberdade Religiosa ( Lei n. º 16/ 2001, de 22 de j unho) considerada uma das boas leis da União Europeia no regulamento das confissões religiosas, prevê, no artigo 14. º, que os funcionários e agentes do Estado e demais entidades públicas, bem como os trabalhadores em regime de contrato de trabalho, têm o direito de, a seu pedido, suspender o trabalho no dia de descanso semanal, nos dias das festividades e nos períodos horários que lhes sejam prescritos pela confissão que professam. A lei é respeitada? A lei poderá ser respeitada, mas é muito restritiva. Na alínea a) do artigo 14. º apresenta as condições para que o trabalhador possa usufruir desse direito. Uma das condições é trabalhar em regime de flexibilidade de horário. Ora, um polícia católico, por exemplo, está impedido de descansar sempre ao domingo. Assim como um polícia judeu estará impedido descansar sempre entre o pôr-do-sol de sexta-feira e o pôr-dosol de sábado. 3

Existe alguma entidade que fiscalize a aplicação da lei? Sim, existe a Comissão da Liberdade Religiosa, a que presidiu Mário Soares, mas que entretanto renunciou. DIREITO Um trabalhador que professe a religião católica, ou qualquer outra que estabeleça o domingo como dia de descanso e de prática religiosa, não se pode furtar a prestar trabalho ao domingo, com fundamento no artigo 14. º da Lei da Liberdade Religiosa, se estiver em regime de turnos, ou se tiver um horário que contemple o domingo como dia de trabalho. A conclusão é da advogada Maria da Glória Leitão, sócia da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. Em declarações ao DN, a especialista em Direito do Trabalho lembra que a benesse referida no artigo 14. º está limitada ao preenchimento das condições indicadas nas alíneas a), b) e c) do n. º 2 do mesmo artigo, a saber: que exista flexibilidade de horário, os referidos períodos festivos estarem declarados em registo próprio, e haver compensação integral do respetivo período de trabalho. Ora, observa a advogada, a não verificação destas condições existirá, porventura, na maioria das situações. E lembra que as limitações da lei abrangem todas as confissões religiosas, mesmo a maioritária em Portugal que é a religião católica. O presidente em exercício da Comissão da Liberdade Religiosa, Fernando Loja, reconhece que a Lei da Liberdade Religiosa portuguesa é uma das mais avançadas do mundo, mas com restrições. É a norma possível, adiantou. Neste sentido, considera que os tribunais 4

superiores deveriam fazer uma interpretação mais flexível da legislação no sentido de permitir aos cidadãos o seu pleno direito de vivenciarem a fé. Deveria de haver um esforço interpretativo por parte dos tribunais para garantir mais liberdade religiosa. Para os crentes da religião muçulmana, o dia para a prática d s actos de culto é a sexta-feira, para os judeus é o sábado e para os católicos o domingo. A lei reconhece, mas impõe limites, restringindo a liberdade. 5