JULIO BENTIVOGLIO VERÓNICA TOZZI D O PASSADO HISTÓRICO AO PASSADO PRÁTICO 40 ANOS DE META-HISTÓRIA Editora Milfontes
Do Passado Histórico Ao Passado Prático
Copyright 2017, Julio Bentivoglio. Copyright 2017, Editora Milfontes. Rua Santa Catarina, 282, Serra - ES, 29160-104. http://editoramilfontes.com.br editor@editoramilfontes.com.br Brasil Editor Chefe: Bruno César Nascimento Conselho Editorial Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU) Prof. Dr. Arthur Lima de Ávila (UFRGS) Cilmar Franceschetto (Arquivo Público do Estado do Espírito Santo) Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG) Prof. Dr. Hans Ulrich Gumbrecht (Stanford University) Prof. Dr. Josemar Machado de Oliveira (UFES) Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES) Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP) Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ) Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ) Prof. Dr. Ueber José de Oliveira (UFES) Prof. Dr. Valdei Lopes de Araújo (UFOP) Profª. Drª. Verónica Tozzi (Universidad de Buenos Aires) Laboratório de Estudos em Teoria da História e História da Historiografia CCHN/UFES - Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras CEP 29075-910 - Vitória - ES - Brasil Proyeto de Investigación en Nuevas Filosofias de la História Facultad de Filosofia y Letras - UBA Puan, 480, 1420 CABA, Buenos Aires - Argentina
Julio Bentivoglio Verónica Tozzi Do Passado Histórico Ao Passado Prático: 40 anos de Meta-História Editora Milfontes
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora. Revisão Bruna Breda Bigossi Julio Bentivoglio Rozimery B. Fontana Nascimento Coordenação Técnica: Rozimery Baptista F. Nascimento Projeto Gráfico e Editoração Bruno César Nascimento Julio Bentivoglio CTP, Impressão e Acabamento GM Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Catalográfica elaborada pelo autor Do passado histórico ao passado prático: 40 anos de Meta-história / Julio Bentivoglio, Verónica Tozzi (organizadores). Serra, ES: Milfontes, 2017. 396p.; 20 cm Vários autores Bibliografia ISBN: 978-85-94353-00-9 1. Teoria da História 2. Historiografia 3. Hayden White 4. Meta-história 5. Filosofia da História. I. BENTIVOGLIO, Julio Cesar. II. TOZZI, Maria Verónica. BEN476p CDD-901 Índices para catálogo sistemático: 1. Teoria da História 901
Sumário Apresentação...7 Como eu não escrevi Meta-história...11 Hayden White Um avião, uma bomba, um evento modernista: a controvérsia sobre o Enola Gay no Museu Nacional do Ar e do Espaço nos Estados Unidos (1993-1995)...23 Arthur Lima de Avila É preciso três para dançar um tango: estabelecendo uma linha entre os passados prático e histórico...43 Chris Lorenz Figurando Hayden White na modernidade...73 Claudio Fogu Constituição do ancestral retroativo, novo animismo e modernidades alternativas...97 Ewa Domanska Ler Hayden White como leitor...123 Hans Kellner A imaginação histórica brasileira no século 20: um exercício meta-histórico em Caio Prado Júnior...143 Julio Bentivoglio O eterno retorno da realidade: a respeito do construtivismo e dos desejos históricos atuais...165 Kalle Pihlainen A narrativa em disputa, ou o desejo de Hayden White de uma historiografia progressista refigurado através da teoria da performatividade de Judith Butler...187 María Inés La Greca
Espectros de Frye: Muthos, ideologia e anatomia crítica (historiográfica)...209 Nicolás Lavagnino O uso da figuração modernista na representação do passado recente argentino...231 Omar Murad Meta-história e a ética da historiografia...245 Robert Doran Figuralismo Cotidiano e Confusão Narrativa: o estilo em Kafka...263 Ruth Gross Hayden White e o pluralismo conversacional...277 Verónica Tozzi Nos Limites do Realismo Histórico: Narração, Argumentação, e Ética na Historiografia Sintética do Holocausto...297 Wulf Kansteiner Mr. White chega aos trópicos: notas sobre Metahistória e a recepção de Hayden White no Brasil...329 Fábio Franzini A proposta por uma Global History e os seus desdobramentos teóricos na historiografia contemporânea: as obras de Dipesh Chakrabarty e Jack Goody em perspectiva...345 Marcelo Durão Rodrigues da Cunha Leonardo Grão Velloso Damato Oliveira Quando as histórias ainda não eram faladas: o primeiro cinema e as narrativas visuais do passado...369 Clóvis Gruner Os Autores...391
Júlio Bentivoglio & Verónica Tozzi Apresentação Entre os dias 8 e 11 de outubro de 2013 realizou-se em Vitória, na Universidade Federal do Espírito Santo um seminário internacional para pensar os 40 anos de existência de Meta-história, obra seminal de Hayden White publicada em 1973. Evento notável, o seminário teve o privilégio de contar, desde sua idealização em meados de agosto de 2012, com o entusiasmo e a participação direta do próprio Hayden White. E sua concretização só foi possível graças aos esforços de Verónica Tozzi. Embora a recepção de Meta-história não tenha sido lisonjeira ou calorosa de início, quando de seu lançamento em 1990 pela Edusp no Brasil, o interesse por sua leitura foi crescendo e, desde meados dos anos 2000 ela se tornou uma das obras mais polêmicas e debatidas nos cursos de graduação e pós-graduação brasileiros e, ao que parece, tem alcançado recentemente um público bem mais receptivo e versado nos problemas que coloca. Boa parte da polêmica gerada em torno da obra se deveu a leituras apressadas e enviesadas ideologicamente, responsáveis por uma reação inicialmente tímida e negativa ou por compreensões limitadas da proposta inovadora de Hayden White no tocante à imaginação historiográfica e ao estatuto ficcional presente em qualquer narrativa histórica. Corriam os anos 1990, durante o apogeu da crise das esquerdas, de modo que Meta-história foi visto como um ataque pós-moderno que colocava em questão o estatuto científico da história, mantendo as discussões restritas a pequenos círculos acadêmicos, sobretudo, na USP com Nicolau Sevcenko, na PUC-Rio com Luiz Costa Lima e na UNESP-Franca com Nelson Schapochnik, que procuraram empenhar-se na disseminação daquele estudo profundamente original. Nestas iniciativas isoladas, mas decisivas, buscava-se reconduzir os leitores aos desafios propostos em Meta- 7
Do passado histórico ao passado prático história, que representaram o surgimento de uma nova filosofia da história e a superação das incompreensões existentes de obra tão iconoclasta. Estas últimas fruto de avaliações pautadas mais por uma crítica ideológica que a associava ao pós-modernismo entendido naquela altura no Brasil como uma ameaça aos estudos históricos que por um reconhecimento de seu escopo analítico complexo, que dialogava com novíssimos estudos e teóricos da linguagem anglosaxães e franceses e possuía uma arquitetura elegante e formalista que destacava nessa moldura formal um conteúdo epistemológico inovador, responsável por inaugurar uma reflexão fundadora no campo da filosofia da história e da história da historiografia. Apesar daquela primeira recepção marcada pela resistência de muitos historiadores em adotarem Meta-história nos cursos de graduação e pós-graduação brasileiros, o interesse foi crescendo e o livro passou a ser cada vez mais lido e discutido, provocando a tradução e a publicação de outra obra decisiva de Hayden White: Trópicos do discurso. Assim, nos anos subsequentes, a nova filosofia da história de White e suas reflexões sobre a escrita da história começaram a ganhar leitores devotados. Esse processo foi se ampliando ainda mais graças à multiplicação de estudos influenciados direta ou indiretamente pelo pensamento de Hayden White; tais como os trabalhos de Frank Ankersmit, Dominick Lacapra, Ewa Domanska, Herman Paul, Alun Munslow e Keith Jenkins, entre outros que, ao longo do final do século 20 e nesse início do século 21, tem consolidado a atenção e atraído novos olhares em torno da obra de Hayden White no Brasil. Apesar dessa ampliação do interesse pela tropologia de White e seus estudos mais recentes em torno da relação entre o passado histórico e o passado prático, a tradução de outros textos do eminente teórico da história norte-americano foi interrompida entre nós, pois, nenhum de seus trabalhos posteriores veio a ser publicado no Brasil. Indício poderoso de que a obra de White ainda está à espera de novas traduções e de maior divulgação no Brasil. Nesse sentido, nada mais alvissareiro que retornar a sua 8
Júlio Bentivoglio & Verónica Tozzi obra inaugural, que completou 40 anos, para reavaliar criticamente seu lugar na história da historiografia e sua proposta ainda atual e vigorosa, para recolocar em debate o ambicioso projeto daquele teórico norteamericano, cuja repercussão e interesse no mundo anglo-saxão vinha sendo, até hoje, inversamente proporcional ao despertado na comunidade de língua portuguesa. Não obstante, o crescente interesse pelos textos de Hayden White indica a expansão de seus leitores brasileiros e devem estimular a produção de novas traduções de sua obra no Brasil. A isso se destinou a realização do congresso 40th Metahystory que resultou na confecção deste livro, que apresenta o conjunto de conferências apresentadas no intuito de revelar a atualidade da nova filosofia da história inaugurada por White. A partir da iniciativa do Laboratório de Estudos de Teoria da História e História da Historiografia (LETHIS), que juntou seus esforços à ANPUH-ES (Associação Nacional de História Seção Regional do Espírito Santo) e ao Grupo Metahistórias coordenado por Verónica Tozzi e mediante o apoio financeiro imprescindível do Centro de Ciências Humanas e Naturais, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFES, e da CAPES, foi possível realizar este congresso internacional que celebrou a atualidade de Metahistory na teoria da história contemporânea. Ao colocar no centro das atenções a narrativa e a representação do passado na obra dos historiadores, Hayden White impôs à comunidade historiográfica a reflexão obrigatória acerca da dimensão textual da história, problematizando o realismo e a representação históricos, sedimentando o entendimento de que o trabalho do historiador não se reduz apenas à crítica das fontes, à aplicação de métodos e à interpretação, indicando que todo o trabalho de pesquisa é, obrigatoriamente, convertido em um artefato literário, que apresenta a exposição dos resultados obtidos sob a égide de protocolos linguísticos e estilísticos mobilizados muitas vezes sem o controle ou o reconhecimento dos historiadores. Os textos aqui reunidos têm o mérido de sintetizar o pensamento de White, conferindo a esta obra um valor inestimável para conhecer a gênese, os desafios lançados, as críticas e a contribuição de suas 9
Do passado histórico ao passado prático principais idéias, realizados por seus estudiosos mais refinados. Foi com grande ansiedade que os organizadores aguardaram no saguão de desembarque do aeroporto de Vitória, na manhã e na tarde do dia 7 de outubro, um domingo, a chegada dos ilustres convidados, vindo de vôos alternados de Guarulhos ou do Galeão. Naquele mesmo dia realizou-se um grande almoço às margens da baía de Vitória, que se prolongou até o entardecer. Sentiase no ar a alegria de todos, pois, nunca antes os principais discípulos de Hayden White haviam se reunido todos juntos e ao mesmo tempo, num só evento. O mérito dessa proeza deveu-se, sobretudo, aos esforços de Verónica Tozzi, responsável por juntar o mestre e seus principais discípulos e intérpretes, e, evidentemente a Hayden White que, com sua generosidade, permitiu a consecução desse feito, brindando-nos com sua inteligência, alegria e vivacidade nos debates, conferências e bate-papos; durante as apresentações, mas também nos momentos de descontração, em muitos almoços e jantares, quando todos animadamente conversavam e se descontraíam. Essa atmosfera acolhedora produziu diálogos e debates concorridos nos quais se afiançava a o lugar destacado ocupado pela obra fundadora de Hayden White na teoria da história contemporânea. O resultado desse encontro singular e único poderá ser conferido nas páginas seguintes, nas quais os organizadores têm a satisfação de apresentar o conjunto dos textos e comunicações proferidas no 40th Metahistory Anniversary que tecem uma cartografia crítica e ao mesmo tempo afetiva de um dos maiores teóricos da história de todos os tempos. Antes desta versão em português o conjunto das conferências foi publicado anteriormente em dossiê organizado por Kale Pihlainen e Claudio Fogu na revista Storia della Storiografia em 2014 e também pela editora Prometeo de Buenos Aires em 2016. Agradeço a Pihlainen, Fogu, Tozzi, a Edoardo Tortarolo e, em especial, a Hayden White a gentileza e o apoio para que o livro finalmente fosse publicado no Brasil. Julio Bentivoglio 10