PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA DE CEDRO - Cedrela fissilis Vell.

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Transcrição:

PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA DE CEDRO - Cedrela fissilis Vell. Zaíra M. S. H. MENDOZA 1, Pedro H. M. BORGES 1, João Ubaldo B. R. SOUZA 1, Érica P. P. SILVA 1 1 Faculdade de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. RESUMO: A madeira de Cedro atualmente está sendo muito utilizada no mercado devido às suas propriedades físico-mecânicas. Esse trabalho teve como objetivo analisar algumas propriedades físicas da madeira de Cedro (Cedrela fissilis), visando futuramente a substituição dos usos dessa espécie por outras que apresentem o mesmo nível tecnológico apresentado por ela. O material utilizado para a realização desse trabalho foram quatro árvores nativas de cedro, de aproximadamente 35 anos, com 7 metros de altura e 30 cm de dap. As árvores foram transformadas em toretes e estes em pranchas diametrais que foram posteriormente utilizadas para retirada dos corpos de prova para os ensaios de umidade, densidade e estabilidade dimensional. A metodologia empregada teve como base a norma NBR 7190 (ABNT 1997) e os ensaios propostos por Logsdon (2008). A média para o teor de umidade saturada e densidade foram respectivamente 44,05% e 0,52 g/cm³, para a retração volumétrica foi de 12,11% sendo o coeficiente de anisotropia médio de 1,39. De acordo com o coeficiente de anisotropia, a madeira foi classificada como de qualidade excelente. Palavras-chave: umidade, densidade, estabilidade dimensional. ABSTRACT: Wood Cedar is currently widely used in the market due to its physical and mechanical properties. This study aimed to analyze some physical properties of wood cedar (Cedrela fissilis) in the future with a view to replacing the use of this species by others presenting the same technological level presented by it. The material used to conduct this study were four native cedar trees, approximately 35 years, with 7 meters high and 30 cm dbh. The trees were transformed into short logs and these in diametrical planks that were later used for removal of specimens for testing moisture, density and dimensional stability. The methodology used NBR7190 (ABNT 1997) and proposed trials Logsdon (2008). Average for the saturated moisture content and density were respectively 44.05% and 0.52 g / cm³, for the volumetric shrinkage was 12.11% and the anisotropy coefficient of 1.39. According to the anisotropy coefficient, the timber was rated as excellent quality. Key Words: moisture, density, dimensional stability. 1. INTRODUÇÃO As florestas nativas vêm sendo exploradas de forma desordenada e de forma bastante maciça em cima somente de algumas espécies. O manejo destas florestas seria uma boa opção para a obtenção de madeira de alta qualidade, porém, para que isso ocorra, são necessários

estudos sobre as espécies nativas, no intuito de ampliar o leque de utilizações dessa matériaprima, tão consumida nos tempos atuais, mas tão desprotegidas em termos de exploração. Dentre as muitas espécies nativas exploradas predatoriamente, o Cedro vem chamando bastante a atenção, pois além de não haver planos de manejo, a espécie está praticamente em risco de extinção. De acordo com Angeli et al. (2005), o Cedro pertence à família das Meliaceae, que comporta outras árvores das quais são extraídas madeiras de ótima qualidade. Atualmente, esta espécie é encontrada em ambientes com diferentes graus de fragmentação que varia desde árvores plantadas, até árvores presentes em parques e florestas urbanas de diferentes tamanhos. Carvalho (1994) menciona que o Cedro (Cedrela fissilis, Vell) é uma espécie rara que ocorre em florestas brasileiras e praticamente em toda América Tropical. Essa árvore frondosa possui uma madeira bastante apreciada pelo comércio, tanto brasileiro quanto internacional, entre as madeiras leves, é uma das que possibilita o uso mais diversificado. Conforme Pinazzo (1992), a madeira de cedro por ser de boa qualidade fez com que houvesse uma intensa e desordenada exploração fazendo com que diminuísse sua variabilidade genética. De acordo com Rodrigues (2001), a madeira de Cedro varia de leve a moderadamente densa, é particularmente indicada para construção civil, como venezianas, rodapés, guarnições, forros e janelas; em construção naval é usado em acabamentos internos e casco de embarcações leves; utilizada também em molduras de quadros, móveis, instrumentos musicais e esculturas. De acordo com a maioria de entalhadores o cedro seria a madeira nativa ideal para essa técnica porque é mais macia. Conforme Jankowsky et al. (1990), essa madeira possui massa específica aparente entre 0,47 e 0,61g/cm³, e a 15% de umidade, a densidade básica é de 0,44 g/cm³. Tratando-se, portanto, de uma madeira leve a moderadamente densa. Segundo Lorenzi (1992), o alburno dessa espécie apresenta coloração branca a rosada e o cerne varia entre bege-rosado a castanho avermelhado. A superfície da madeira é lustrosa e com reflexos dourados, a textura é grosseira e a grã é direita ou pouco ondulada. A madeira pode ser de leve à moderadamente pesada, macia ao corte e notavelmente durável em ambientes secos. No estudo de madeiras a densidade (massa específica) é o principal ponto de partida, visto que ela se relaciona com todas as outras propriedades tecnológicas, que ditam as diversas formas de utilização das espécies arbóreas. A densidade é considerada umas das mais importantes propriedades físicas da madeira, sendo importante para os geneticista e tecnólogos da madeira, pois agrega grandes relações com outras propriedades e com o uso da madeira (CHIMELO, 1980). Kollmann et al. (1968), afirmam que as variações na densidade da madeira ocorrem devido as diferenças genéticas que ocorrem entre as espécies, o que ocasiona mudança em sua estrutura anatômica e química. Para Albino et al. (1995), várias análises na madeira servem para definir os seus usos, porém, a densidade é uma das mais satisfatórias. O índice de densidade básica vem sendo bastante utilizado por pesquisadores e melhoristas florestais, para direcionar a linha de pesquisa em melhoramento, qualidade e rendimento da madeira. De acordo com Kollmann et al. (1968), a densidade é uma das propriedades físicas mais importantes na caracterização tecnológica da madeira, pois sua variação indica a resistência mecânica e a estabilidade dimensional dessa madeira. Conforme Shimoyama et al. (1991), o índice de densidade é importante para avaliar a qualidade da madeira, sendo utilizada em todos os setores florestais.

Segundo Szücs (2012) a norma brasileira mostra duas definições de densidade utilizadas em estrutura de madeira: densidade básica e densidade aparente. A densidade básica da madeira é obtida através do quociente da massa seca pelo volume saturado. Já a densidade aparente há um maior interesse na sua determinação visto que tem influência da porosidade da madeira e é feita com determinação de massa e volume a um mesmo teor de umidade. De acordo com Trugilho et al. (1996), a densidade básica é a relação entre massa seca e o seu volume verde, obtendo-se a menor densidade da madeira, pois se utiliza a razão entre a menor massa e o máximo volume. Além da densidade, a estabilidade dimensional da madeira é um fator de estudo bastante difundido entre os pesquisadores da área de tecnologia e utilização de produtos florestais. De acordo com Burger et al. (1991), as madeiras são materiais altamente higroscópicos e apresentam os fenômenos de contração e inchamento pela perda ou absorção de umidade, o que impede a sua estabilidade em termos dimensionais. De acordo com Jankowsky et al. (1990), a madeira é um material celular de origem biológica, que apresenta estrutura anatômica complexa e suas principais características físicas podem ser obtidas a partir de ensaios de estabilidade dimensional, os quais servem para predizer usos adequados para a grande diversidade de madeira. Se a madeira está em um local onde há menor teor de umidade ela tende a perder água para o meio, diminuindo assim a sua umidade. Com a diminuição da sua umidade, além da perda de massa tem-se também uma perda em volume, denominada de retratibilidade volumétrica parcial ou simplesmente retratibilidade volumétrica. (REZENDE et al., 1988). Conforme Logsdon (2008), as dimensões da madeira alteram-se substancialmente com a variação da umidade, no intervalo de 0% até o limite de saturação das fibras. Neste intervalo, conhecido como intervalo higroscópico, ao aumentar o teor de umidade as dimensões da madeira aumentam (inchamento) e ao diminuir o teor de umidade as dimensões diminuem (retração). Uma vez que a contração e o inchamento ocorrem pela entrada e saída de água das paredes celulares, madeiras que possuem em abundância células de paredes espessas apresentam estes fenômenos em grau mais acentuado. A anisotropia da madeira no que diz respeito a sua alteração dimensional devido a secagem é um fato conhecido e que pode ser calculado para cada espécie (JANKOWSKY et al. 1984). A madeira é considerada anisotrópica por que suas propriedades variam de acordo com a direção considerada (longitudinal, radial e tangencial). Nas direções paralelas às fibras há uma maior resistência, já na direção normal às fibras há uma menor resistência (KOLLMANN et al.,1968). De acordo com a ABNT (1997), para caracterização das propriedades de resistência podem ser utilizados os seguintes procedimentos: caracterização completa da resistência da madeira serrada, caracterização mínima da resistência da madeira serrada e caracterização simplificada da resistência da madeira serrada. Outro índice importante para avaliar a estabilidade dimensional das madeiras é o coeficiente de anisotropia, o qual se define pela relação entre as contrações tangencial e radial (T/R). O coeficiente de anisotropia dimensional ideal é 1, pois nesse caso, a relação tangencial e radial é igual (FERNANDES, 2011). Conforme Nock (1975), quanto maior o coeficiente de anisotropia dimensional, menor a estabilidade dessa madeira. Este mesmo autor padronizou este coeficiente da seguinte forma: de 1,2-1,5 as madeiras seriam de excelente qualidade e não empenariam; de 1,6-1,9 as madeiras seriam de média qualidade ou normal, devendo-se ter um cuidado maior ao utilizá-las, pois podem empenar e neste caso deve-se utilizar selador e

impermeabilizante; maior que 2, as madeiras são de péssima qualidade, com grande propensão ao empenamento. Devido à grande diversidade de uso e por ser uma madeira de excelente qualidade e facilidade de se trabalhar, a exploração desta madeira vem crescendo de forma acelerada e possivelmente em um horizonte não muito distante, essa espécie poderá ser extinta. Diante disso, esse trabalho teve como objetivo analisar algumas propriedades físicas da madeira de Cedro (Cedrela fissilis), visando futuramente, a substituição dos usos dessa espécie por outras que apresentem o mesmo nível tecnológico dela, contribuindo assim para a sua permanência no planeta. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Material O material utilizado para a realização desse trabalho foram quatro árvores nativas de cedro, de aproximadamente 35 anos, com 7 metros de altura e 30 cm de dap. Esse material é proveniente de uma área experimental de manejo florestal, localizada nas coordenadas 13º10 26 S, 57º29 37 W, próximo à cidade de Nova Maringá MT. 2.2 Métodos Depois de derrubadas, as árvores foram transformadas em toretes e estes em discos, os quais foram criteriosamente separados para diferentes estudos. Para o estudo em tela, foram separados três discos por árvore, totalizando 12 discos de 8,0 cm de espessura. A partir dos discos foram feitos pequenas pranchas com 5 cm de largura e 40 cm de comprimento. O material que sobrou foi aproveitado para análises químicas e estudos anatômicos. Em seguida a partir das pranchas foram retirados os corpos de prova nas dimensões de 2,0 cm x 3,0 cm x 5,0 cm nos sentidos tangencial, radial e axial respectivamente, descartandose a medula. Foram retirados doze corpos de prova de cada disco, totalizando 144 corpos de prova para os ensaios. Após retirados, os corpos de prova foram pesados, medidos e em seguida encharcados com água destilada para recuperar o teor de umidade acima do ponto de saturação das fibras, tomando-se o cuidado de deixar alguns desses corpos para controle. No primeiro dia do encharcamento foi realizada a leitura de massa e dimensão de 30 em 30 minutos nos corpos de prova de controle. Após o primeiro dia as leituras foram feitas diariamente, sempre no mesmo horário. A fase de encharcamento se encerrou no 18º dia, quando os corpos de prova não apresentaram variação de massa superior a 0,5% entre duas leituras. Em seguida, os corpos de prova foram deixados em sala climatizada, a 20 C e 65% de umidade, para estabilização dos corpos de prova a 12% de umidade. Essa fase durou 7 dias e após estabilizados, os mesmos foram pesados e medidos, sendo sequencialmente levados para estufa a uma temperatura de 103 C ± 3 C para a secagem. No primeiro dia da secagem foram realizadas leituras de massa e dimensão dos corpos de prova de controle a cada 30 minutos. A partir do primeiro dia as leituras foram realizadas duas vezes ao dia, sempre no mesmo horário. A fase de secagem encerrou-se no nono dia, quando os corpos de prova de controle, não apresentaram variação de massa superior a 0,5% entre duas leituras. A metodologia empregada para a retirada dos corpos de prova e para as análises, teve como base a norma ABNT NBR 7190 (1997), bem como os ensaios propostos por Logsdon

(2008). As leituras de massa foram feitas em balança de precisão e as leituras de dimensão foram feitas com paquímetro digital Mitutoyo de precisão 0,01 mm. Efetuou-se 3 leituras em cada sentido do corpo de prova, usando-se as médias dessas leituras para os cálculos. Os corpos de prova foram marcados com 3 pontos em cada sentido para que as leituras de dimensão fossem feitas sempre no mesmo ponto, evitando-se assim possíveis erros. Depois de realizadas as leituras em todas as fases, os dados foram processados determinando-se a umidade (verde e saturada), a densidade básica (massa específica) e a estabilidade dimensional (inchamento, retração, coeficiente de anisotropia) da madeira, conforme normatizado. Em seguida, os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 são apresentados os resultados dos teores médios de umidade e densidade para a espécie estudada. Tabela 1. Valores médios de umidade (verde e saturada) e densidade básica Variável Média Desvio padrão Teor de umidade verde (%) 10,25 1,70 Teor de umidade saturada (%) 44,05 2,76 Densidade básica (g/cm³) 0,53 0,04 De acordo com essa tabela, verifica-se que o teor médio de umidade (verde) foi de 10,25% e na madeira saturada foi de 44,05%, nesta mesma tabela, verifica-se também que o valor médio da densidade básica foi de 0,52g/cm³. Este resultado de densidade foi superior ao encontrado por outros autores ao trabalharem também com a madeira de cedro. A saber: Valério et al. (2008) encontraram valor de 0,43g/cm³, Jankowsky et al. (1990), encontraram valores de 0,44g/cm³, Alves et al. (2010) encontraram valores de 0,40g/cm³ e Alves et al. (2012) encontraram valores de 0,37g/cm³. Essa diferença de resultados, possivelmente foi ocasionada pela idade das árvores, pois em cada trabalho a espécie apresentava uma idade diferente, consequentemente as mais velhas apresentaram maior densidade, pois eram detentoras de maior massa lenhosa por volume. Os resultados da variação dimensional no inchamento e na retração, para a madeira de cedro estão apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Resultados médios do inchamento e retração lineares Material Inchamento - ε (%) Retração - ε (%) tangencial radial axial tangencial radial axial Árvore 1 6,34 6,55 0,22 5,94 6,11 0,22 Árvore 2 6,41 6,24 0,38 5,98 5,83 0,37 Árvore 3 8,33 5,44 0,20 7,68 5,13 0,20 Árvore 4 6,84 6,28 0,27 6,39 5,87 0,27 MÉDIA GERAL 6,98 6,13 0,27 6,50 5,73 0,26

Retração Inchamento II Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia da Madeira Conforme observado na tabela, os valores médios da variação dimensional no inchamento para as direções tangencial, radial e axial foram respectivamente 6,98%, 6,13% e 0,27%. Já a variação dimensional para a retração apresentou médias de 6,50% no sentido tangencial, 5,73% no radial e 0,26% no axial. Os resultados de retração encontrados nesse trabalho foram superiores no sentido tangencial e radial, porém inferior no sentido axial, quando comparados com os resultados descritos por Alves et al. (2010) que obteve os seguintes valores médios de retração: 4,42% no sentido tangencial, 3,76% no radial e 0,57% no axial. Na Tabela 3 são apresentados os resultados para a variação volumétrica no inchamento e retração, bem como o coeficiente de anisotropia para a madeira estudada. Tabela 3. Estatística descritiva da estabilidade dimensional Variável Média Desvio padrão Intervalo de Confiança (5%) Mínimo Máximo Coeficiente de Anisotropia 1,39 0,78 1,17 1,61 ε tang 6,98 1,93 6,42 7,54 ε rad 12,50 2,15 11,88 13,12 ε axial 0,27 0,25 0,19 0,33 Δ volume 13,80 1,40 13,40 14,20 ε tang 6,50 1,70 6,00 6,98 ε rad 5,73 1,90 5,18 6,28 ε axial 0,26 0,25 0,19 0,33 Δ volume 12,11 1,08 11,80 12,42 De acordo com a tabela acima, verifica-se que a variação volumétrica média para o inchamento foi de 13,80% e de 12,11% para a retração. O valor médio de retração volumétrica encontrado nessa pesquisa, foi superior ao descrito por Valério et al (2008) que foi de 11,6%, e também superior ao obtido por Alves et al. (2010) cuja variação volumétrica foi de 8,66%. O coeficiente de anisotropia médio encontrado para a espécie estudada foi de 1,39 o que de acordo com Nock (1975), se trata de uma madeira de excelente qualidade e sem propensão ao empenamento. Quando comparado com outros trabalhos o coeficiente de anisotropia médio encontrado, foi inferior ao relatado por Alves et al (2010) que obteve o valor de 1,55 para o coeficiente de anisotropia, entretanto, ele foi superior ao encontrado por Alves et al. (2012), cujo valor foi de 1,18. 4 CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, concluiu se que: - O valor médio da densidade básica e da variação volumétrica foram superiores aos valores relatados em literatura para a mesma espécie. - O coeficiente médio de anisotropia indicou que a madeira estudada se mostrou de excelente qualidade, podendo ser utilizada na fabricação de instrumentos musicais, esquadrilhas e móveis finos, sem risco de empenamentos.

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