LITERATURA FANTÁSTICA - A PREFERÊNCIA DOS LEITORES ADOLESCENTES RESUMO A literatura fantástica apresenta elementos que fogem da realidade, inverossímeis, (tais como, vampiros, anjos, bruxos etc.) os quais despertam o interesse por transportarem o leitor a um mundo de imaginação e fantasia. Tal gosto literário pode não ser tão bem aceito, aos olhos de alguns professores de literatura brasileira nas escolas de ensino médio do país. E deve-se frisar que um adolescente pode ter preferência por este estilo de literatura, uma vez que, com certeza, esse mesmo estilo é o que irá guiá-lo até grandes autores e clássicos da literatura brasileira e mundial, ao longo de sua vida. Palavras-chave: Literatura fantástica. Leitor. Estilo literário. INTRODUÇÃO A mais popular tendência literária presente na preferência dos leitores atuais, especialmente jovens entre 13 e 25 anos, é uma literatura que se caracteriza por trazer em sua composição elementos que desviam o leitor da realidade e o leva a um mundo onde tudo é possível e não há limite para o que se possa existir: a Literatura Fantástica. Os jovens estão mais ávidos a ler a cada geração. O que mais se encontra nas livrarias em todos os cantos do mundo são livros sobre histórias de vampiros, anjos, demônios, bruxos e seres imortais, o que faz com que a procura por obras de Machado de Assis, ou por Divina Comédia de Dante nem se compare à procura por livros como os da Saga Crepúsculo (Stephenie Meyer), Diários do Vampiro (L.J. Smith) ou Harry Potter (L.K Rowling). Os objetivos centrais da pesquisa se concentram em buscar o porquê de todo este sucesso que cerca a literatura fantástica, especialmente a partir do século XX. Através de pesquisas bibliográficas, será mostrado um pouco a respeito da teoria e origem deste gênero literário, para que se possa analisar suas características também em relação à literatura brasileira, que é tão oposta. E mostrado também que a preferência por tal estilo de leitura não merece a repulsa que algumas vezes encontra, especialmente entre leitores ávidos de uma idade mais avançada ou até mesmo professores de literatura de ensino médio. 1/5
DESENVOLVIMENTO 1 DEFINIÇÃO DO FANTÁSTICO NA LITERATURA Ainda no século XIX, o filósofo russo Soloviov (1880), foi um dos primeiros a realmente definir o que vem a ser a literatura fantástica. Segundo ele, o fantástico existe na literatura sempre que algo consegue ser explicado por duas vertentes: a primeira remete a causas naturais ou a ciência; e a segunda remete ao sobrenatural, ao incomum. Quando se é incerto sobre qual vertente seguir ou em qual acreditar, temos o surgimento do fantástico. Esta concepção foi complementada pelo inglês Rhodes James (1965) anos mais tarde, já no século XX. Ele diz que é interessante considerar os dois lados (o natural e o sobrenatural) como formas de se encontrar o fantástico na literatura, mas acrescenta que a porta que leva ao natural deve ser bastante estreita como para que não possa ser utilizada. A partir daí, em sua Introdução à Literatura Fantástica, Todorov (1980 p. 15) torna claro que toda vez que uma personagem se depara com esta dualidade de pontos de vista em relação a algo presente no enredo, é onde o cerne do sentido do fantástico está presente. Para iniciar sua explicação e definir o que é literatura fantástica, Todorov (1980 p. 15) passa a contar o enredo básico do livro O diabo apaixonado de Cazotte (1772). O livro trata de um homem que vive com uma mulher e passa a suspeitar que ela seja um espírito do mal ou o próprio demônio. É neste ponto que a personagem de Álvaro entra em conflito, pois ao mesmo tempo em que as maneiras com que a mulher aparece indicam que é definitivamente um ser de outro mundo, a mesma mostra sinais claros de sua humanidade, como sua própria feminilidade e paixão. Ao confirmar que a mulher é na realidade uma sílfide (algo como um ser do ar), Álvaro percebe as duas opções que possui. Ou considera que o fato é simplesmente um fruto de sua imaginação, seu inconsciente lhe pregando peças; ou aceita que, na realidade, é possível que existam sílfides. O sobrenatural surge então no ponto exato de se trazer o supostamente imaginário para que faça parte da realidade. Uma vez que, pelas leis do mundo real, não seja possível de se explicar a existência de vampiros, diabos, anjos ou sílfides, e que Álvaro passa a considerar a mulher não-humana como parte do seu mundo, isso mostra minuciosamente o fantástico presente na literatura. Tomachevski (1978, p. 288) citou uma vez: No campo do fantástico, existe, sempre a possibilidade exterior e formal de uma explicação simples dos fenômenos, mas, ao mesmo tempo, esta explicação carece por completo de probabilidade interna. É por isso que, tanto para as personagens envolvidas na história como para o próprio leitor, o irreal se torna natural. 2 INFLUÊNCIA DO FANTÁSTICO NA LITERATURA NORTE-AMERICANA Segundo Lima Neto (2010), dentro do cenário literário atual, a literatura norteamericana tem um lugar de destaque, porém, ele afirma que ainda não é de todo bem-vista por uma série de fatores, entre eles o preconceito. Percebe-se que este 2/5
preconceito citado pelo autor se dá principalmente pelo fato de que este novo estilo norte-americano de literatura tem transmitido a ideia de ser puramente comercial, ou seja, muitas culturas literárias ainda enxergam que seu objetivo é única e exclusivamente o de vender livros ao redor do mundo, muito mais do que apresentar grandes autores. O fato é que mesmo sendo considerada uma literatura recente em comparação às outras (em especial às originadas na Europa), a norte-americana vem firmando seu conceito literário. O que se iniciou no século XIX com autores como Edgar Allan Poe (1809-1849) já com um certo estilo repleto de fantasias e profundidades psicológicas (como é o caso do estilo gótico), culmina hoje num tipo de romance ficcional que tende a atrair cada vem mais leitores e a afirmar o respeito à literatura norte-americana em relação às outras literaturas mundiais. Mas o que explicaria realmente o tremendo sucesso da literatura norteamericana? Já no século XIX, as pessoas se sentiam atraídas por seu estilo caracterizado por tratar de elementos que pairavam além do natural e alcançavam o fantástico. Isto está basicamente afirmado quando Fred Bottin (1996, p.91) menciona, ao tratar sobre o romantismo dentro do estilo gótico literário norteamericano, sobre tal fascínio: In the period denominated by Romanticism, Gothic writing began to move inside, disturbing conventional social limits and notions of interiority and individuality. Ou seja, é realmente perceptível que, por se tratar basicamente de fatores que extrapolam o comum, atinge-se o interior do leitor (onde se encontram os sentimentos), e vem daí também a predileção por romances deste gênero. É comum, mesmo entre os leitores não adeptos à tal tendência literária, ouvirse falar sobre determinado best seller que tem caído no gosto de cada vez mais pessoas. Atualmente, existe uma saga literária norte-americana que trata de elementos sobrenaturais como vampiros e lobisomens, reflexo do característico estilo gótico comentado anteriormente, e que mesmo assim já conquistou mais de cem milhões de leitores ao redor do mundo: a saga crepúsculo. Impossível seria comentar sobre a literatura norte-americana atual sem citar os livros de Stephenie Meyer, a história de amor entre o vampiro Edward Cullen e a humana Isabella Swan. Ainda é extremamente difícil para muitos leitores compreenderem qual a razão do estrondoso sucesso de uma saga literária que trata de criaturas que, como sabe-se, são irreais. Muitos já tentaram elucidar o motivo para tal paixão, e um deles é o autor Nicola Bardola. Em seu livro escrito exclusivamente para comentar sobre a saga, Bardola (2009) afirma que: A história de amor de Stephenie Meyer nos tira do cotidiano, da monotonia dos relacionamentos mais ou menos desapaixonados, à medida que a autora apresenta um ideal sobrenatural e consequentemente, irrefutável,que leva a uma intensidade de sentimentos que as pessoas normais não conhecem. (BARDOLA, 2009, p.41). Muito provavelmente seja isso o que fascina os leitores da saga, pois naturalmente a tendência é que se leia algo que prenda a atenção, e o retratamento de elementos sobrenaturais como os vampiros conduzido de uma forma bem feita é a atual receita de sucesso da literatura norte-americana. A partir de 2005, e com uma introdução que perceptivamente encontra-se nas páginas escritas por Meyer, surgem cada vez mais romances seguindo o mesmo estilo. É quase como se os leitores passassem a buscar em páginas que retratam 3/5
fatos tão distantes da realidade, um mundo onde possam estar em contato com sentimentos e sensações que não são alcançáveis em qualquer literatura. Exemplos são encontrados também nos livros de séries House of Night (P.C. Cast e Kristin C); Os Imortais (Alyson Noel); Hush, Hush (Becca Fitzpatrick) e tantos outros, pois falar de vampiros, anjos decaídos ou seres imortais virou sinônimo de sucesso literário. Prova disso é o fato de ser praticamente impossível deparar-se com algum adolescente que não seja fã deste estilo de romance, porém é quase que impossível na mesma proporção que este mesmo adolescente já tenha lido Machado de Assis ou José de Alencar, única e exclusivamente por prazer. Os alunos leem os grandes clássicos da literatura brasileira quando chegam ao Ensino Médio porque estes livros fazem parte do cronograma a ser estudado, mas é evidente o descontentamento que demonstram ao serem obrigados a executarem tal tarefa. O mesmo com certeza não ocorre com algum volume de romance norte-americano que retrata sobre anjos, vampiros ou seres imortais. A intenção não é dizer que é um erro tantos preferirem ou conhecerem melhor livros estrangeiros à própria literatura brasileira, tampouco desmerecer o conceito literário norte-americano atual em relação às outras literaturas mundiais. Isso, a princípio de qualquer coisa, seria ir contra ao conceito de literatura, pois sendo a literatura uma arte, deve ser considerada como a realidade que é presente no interior de cada artista (no caso da literatura, o autor) e que ele opta por querer compartilhar com o resto das pessoas. É esta basicamente a ideia de Coutinho (1978) quando ele afirma que: A Literatura, como toda, arte é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do 4autor e da experiência de realidade de onde proveio. (COUTINHO, 1978, p.9-10). I CONCLUSÃO O que se conclui é que se há um grande sucesso da literatura fantástica entre os leitores, não só brasileiros mas de todo o mundo, é que talvez se sinta, cada vez mais fortemente, a necessidade de se buscar ao menos aliviar as doses de realidade pura presentes na vida do ser humano. O sucesso pode estar no fato de que o mundo fantástico presente nestes romances são mundos em que o leitor não alcança quando lê outras literaturas, e muitas vezes é este fantástico e sobrenatural que faz com que quem lê possa compreender a realidade, saber dosar o que é real e o que é ficção e, de repente, fazer com que a vida seja vista com olhos mais abertos e seja também mais compreensível e prazerosa. REFERÊNCIAS BARDOLA, Nicola. Almanaque Crepúsculo. Tradução: Claudia Abeling. São Paulo: Leya, 2009. 4/5
BOTTING, Fred. Gothic. Londres: Routledge, 1996. COUTINHO, Afrânio. Notas de Teoria Literária. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. NETO, Lima. Lugar das Palavras. Uma Breve História da Literatura Norte- Americana - muito mais do que uma Best-Seller. Jun. 2007. Disponível em: http://lugardaspalavras.blogspot.com/2010/06/uma-breve-historia-da-literaturanorte.html. Acesso em: 25 nov. 2010. TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. 1 ed. Editions du Seuil 5/5
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