SEGURANÇA PÚBLICA RELATÓRIO FINAL DA REUNIÃO Sessão Especial de Debates sobre o tema Segurança Pública ocorrida em 4 de outubro de 2006, presidida pelo V.. M.. Mauro Pineschi, Secretário Maurício Manfra dos Santos, Orador e Relator Fábio Sérgio do Amaral. 1 - A Loja concorda que a Maçonaria deve se mobilizar sobre a questão da Segurança Pública? SIM. Os debates se iniciaram com a exposição do tema por dois membros da Loja, Ir.. Renato Lopes Gomes da Silva e Ir.. Édison Armesto, de onde podemos destacar: 1. As competências dos órgãos de segurança pública A Constituição Federal, em seu artigo 144, estabelece os órgãos de segurança pública e suas respectivas competências, a saber: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:(redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.(redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. 7º - A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades. 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. (grifos nossos) 2. A violência como um problema social Receosas de se tornarem vítimas de violência, as pessoas adotam precauções e comportamentos defensivos na forma de seguros, sistemas de segurança eletrônicos, cães de guarda, segurança privada, grades e muros altos em suas casas e empresas. Nos Estados unidos, de acordo com o National Crime Victimization Survey, apenas durante o ano de 1992, calcula-se que vítimas de crimes perderam 17,6 bilhões de dólares em custos diretos referentes a furtos, arrombamentos, assaltos, estupros e despesas médicas imediatas. No Brasil, Piquet et alli (1998) estimam os gastos anuais com segurança pública no município do Rio de Janeiro em cerca de 2,5 bilhões de reais, o equivalente a 5% do PIB municipal. Neste cálculo estão computados gastos com atendimento médico, anos perdidos pela morte ou incapacidade prematura, sistema de segurança e justiça, além de transferências sociais na forma de seguros. Não leva em conta gastos com segurança privada nem os efeitos que a violência tem sobre os investimentos privados, o que acarretaria o aumento do montante do prejuízo. Em Minas Gerais, durante o ano de 1995, o Governo do Estado gastou 940 milhões de reais com seu sistema de segurança, o que equivale a 10% do orçamento total realizado durante esse ano. São somas suficientes para amenizarmos outros problemas em setores igualmente estratégicos, tais como saúde, educação ou habitação. 3. A violência como um problema público Crimes, acidentes de trânsito, delinqüência de menores, são problemas sociais. Mas como eles se tornam problemas públicos? Para responder a essa questão, somos remetidos à discussão acerca das dimensões culturais e estruturais envolvidas. Isto implica necessariamente em atribuirmos responsabilidade a quem cabe resolver o problema: significa decidirmos que é o seu proprietário. É aspecto dramático do crime no Brasil que ele venha a ser objeto da
atenção de nossos governantes somente quando ultrapassa os limites estruturais aos quais está tradicionalmente confinado. Quando se estende à classe média e à zona sul, imediatamente soam os alarmes da mídia e a indignação das elites, nesse momento as pessoas põem-se a especular a respeito das causas da criminalidade a fim de combatê-la. Uma das teses mais recorrentes é a de que o crime estaria evidentemente associado à pobreza e à miséria, à marginalidade dos centros urbanos e a processos migratórios. Depois de identificada a suposta causa do crime, este seria rapidamente erradicado, desde que houvesse vontade política. Assim, o messianismo que marca outros setores da vida brasileira não poderia estar ausente da formulação de políticas de segurança pública. Da mesma forma que a inflação deve ser abatida com um tiro apenas, o analfabetismo com uns trocados a mais nos bolsos dos professores, a distribuição de renda com alguns golpes de caneta, ou o problema da saúde com um pouco a mais de recursos, a criminalidade seria combatida mediante políticas de combate à pobreza, miséria e de geração de empregos. Trata-se de um argumento moralmente ambíguo, pois procura combater a pobreza, desigualdade e miséria, não pela sua própria existência (que em si são injustificáveis), mas associando-as a uma espécie de ameaça à tranqüilidade das classes média e alta. Uma das dificuldades em identificar-se as variáveis responsáveis pelo crime está no fato de estarmos tratando de um conceito a violência que envolve comportamentos diferentes, bem como uma diversidade grande de eventos: furtar uma revista em quadrinhos, esmurrar um colega, sonegar impostos, assassinar a esposa, roubar um banco, corromper políticos, seqüestrar aviões, etc, esses e inumeráveis outros atos são crimes. A heterogeneidade de eventos e fenômenos encobertos sob o conceito de violência acarreta dificuldades para a formulação de políticas públicas que são de ordem cognitiva, pois significa identificar fatores de risco distintos a cada situação. O caso do crime organizado, que emerge cada vez mais nas grandes capitais, ilustra os equívocos decorrentes desta conceituação ampla. O crime organizado representa um padrão de criminalidade que se distingue da comum por estar organizada como associações empresariais estáveis com objetivo de cometer
atos ilícitos e lucrativos, que envolvem a participação, por ação ou omissão, de agentes públicos. Tratam-se, portanto, de delitos cujas características específicas envolvem uma relação estreita com órgãos governamentais e com o aparelho do Estado. 4. Soluções encontradas em outros países Muitas são as experiências bem sucedidas em outros países na questão da segurança pública. Vale mencionarmos algumas delas: 4.1. Itália - Operação Mãos Limpas, encabeçada pelo Juiz Federal Giovanni Falcone, cujo trabalho perseverante desarticulou a máfia na Itália e nos Estados Unidos e inspirou a criação do Instituto Giovanni Falcone em vários países, inclusive no Brasil; 4.2. Holanda estabeleceu uma política cuja base cognitiva era a prevenção situacional do crime. A idéia é não reformar indivíduos, o que é extremamente difícil, mas dificultar as condições de ocorrência de crimes. Isto é feito por meio da contratação de desempregados para atuarem como guardas civis uniformizados, mas sem autoridade policial. Além disso, existe uma Plataforma Nacional de Controle do Crime, que analisa tendências da criminalidade a cada ano e define prioridades e estratégias de ação para cada tipo de crime. 4.3. México (região da Costa-Montaña de Guerrero) o sonho de qualquer secretário de segurança pública, que é reduzir entre 90 a 95% dos assaltos, roubos, seqüestros, estupros e atividades do narcotráfico, foi alcançado em seis municípios da região, onde habitam por volta de 100 mil pessoas, com a participação cidadã, voluntária e gratuita no Sistema Comunitário de Segurança, Administração de Justiça e Reeducação (SCSIJR). A legitimidade da ação da Justiça Comunitária vem de eleições mediante assembléias comunitárias e regionais. 4.4. índia (Nova Delhi) no presídio de Tihar o maior do país, com 10.000 detentos, cursos de meditação Vipassana estão sendo usados para a recuperação de presos. O resultado foi tão positivo na reabilitação dos detentos e na criação de um ambiente harmonioso que hoje existem centros de meditação Vipassana em dezenas de presídios da Índia. 4.5. Estados Unidos Na cidade de Nova Iorque foi implementada com estrondoso sucesso a política da Tolerância Zero, que tem por fundamento a Teoria
das Janelas Quebradas ( Broken Windows Theory), elaborada pelo cientista político James Q. Wilson e pelo psicólogo criminologista George Kelling, a qual estabelece uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade. Kelling e Wilson sustentavam que se uma janela de uma fábrica ou de um escritório fosse quebrada e não fosse consertada imediatamente, as pessoas que por ali passassem concluiriam que ninguém se importava com isso, e que naquela localidade não haveria uma autoridade responsável pela manutenção da ordem. Em pouco tempo, algumas pessoas começariam a atirar pedras para quebrar as demais janelas ainda intactas. Logo, todas as janelas estariam quebradas. Assim, as pessoas que passassem por ali concluiriam que ninguém é o responsável por aquele prédio, e tampouco pela rua em que se localiza o prédio. Inicia-se, assim, a decadência da própria rua e daquela comunidade. A esta altura, apenas os desocupados, imprudentes ou pessoas com tendências criminosas sentir-se-iam à vontade para manter algum negócio ou mesmo morar na rua cuja decadência era evidente. O passo seguinte seria o abandono daquela localidade pelas pessoas de bem, deixando o bairro à mercê de desordeiros. Pequenas desordens levariam a grandes desordens e, mais tarde, estas levariam ao crime. Com fundamento nessa teoria, a idéia é não permitir que se instale a sensação de abandono e falta de autoridade, reprimindo pequenas infrações para evitar que estas conduzam a grandes infrações e, finalmente, ao crime. A estratégia das prioridades adotada pelos órgãos públicos no Brasil, que consiste em priorizar o combate à criminalidade violenta sob argumentos diversos, tais como falta de recursos e a desnecessidade de reprimir comportamentos menos graves, repete o equívoco americano anterior à Teoria das Janelas Quebradas (Tolerância Zero), pois a criminalidade violenta é justamente o resultado da falta de combate à desordem e aos pequenos delitos. 5. Conclusões e propostas Partindo dessas premissas, adiante enumeramos as propostas que foram colhidas durante os debates e aprovadas por unanimidade em Loja, visando a solucionar, ou ao menos minimizar, os problemas relacionados à Segurança Pública, a serem adotadas em três etapas:
5.1. A curto prazo - Composição de uma Força Tarefa integrada por membros do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, do Ministério Público, de entidades de classe e representantes da sociedade civil para sejam criadas e adotadas medidas de combate ao crime organizado; - valorização das instituições policiais por meio de políticas claras e adequadas de recursos humanos e materiais; - Intensificação na fiscalização das empresas de fachada que legalizam o lucro obtido ilegalmente; - Combate à corrupção; - Intensificação na fiscalização das fronteiras, visando a diminuir o tráfico de entorpecentes e armas; - Intensificação das campanhas educativas visando a alertar sobre os efeitos nocivos das drogas; - Realização de estudos sérios e aprofundados sobre as causas dos diversos tipos de crimes para definir as políticas de combate. 5.2. A médio prazo - Criação de um serviço nacional de inteligência policial, que tenha por tarefa desenvolver fórmulas de combate ao crime (comum e organizado), orientando as polícias civil e militar e propondo estratégias a serem seguidas; - Revitalização de áreas degradadas; - Endurecimento de penas para crimes graves e para delitos cometidos contra as autoridades e contra o Estado (Ex: desacato, resistência); - Apoio a ONG s que atuem junto a presídios, com o fim de fomentar a educação, o ensino profissionalizante e o trabalho do preso, assegurando a disponibilização de meios para sua ressocialização; - Investir na seleção e formação dos funcionários de estabelecimentos prisionais, encarregados de dar à pena sua finalidade mais importante: a reeducação do preso e sua preparação para o retorno ao convívio social; - Redução dos recursos e benefícios processuais que dão a sensação de
impunidade ao autor do delito; - Investir na geração de empregos. 5.3. A longo prazo - Desenvolvimento de estratégias que envolvam a sociedade civil e os órgãos governamentais, proporcionando educação às crianças carentes da comunidade, lazer, atendimento médico-odontológico, orientação vocacional e amparo à família, desde a gestação; - Adotar uma política de transição entre o endurecimento das penas, necessário para o restabelecimento da ordem e do respeito ao Estado, e uma aplicação de medidas alternativas mais brandas, que visam a recuperação do preso. Oriente de São Paulo, 4 de outubro de 2006 (E..V..) Loja Maçônica Theobaldo Varolli Filho Nº 2699 São Paulo