Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres Um olhar sobre a herança de Carlos de Foucauld Timor 120 Anos: Memória e Desafio Jovens nas Pedras Salgadas A VIDA CONSAGRAD A PERANTE A CRISE Simplesmente espectadores? Um irmão religioso cubano nos altares
A medida do teu corpo conta pouco, a do teu cérebro conta muito, mas sobretudo conta a do teu Coração
Editorial 3 Tema de Reflexão 5 Partilhando 13 Caminhada Concepcionista 19 A vida consagrada perante a crise 23 Notícias 28 Propriedade: Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos pobres Publicação Quadrimestral Nº 83-1/2009 Jan/Fev/Mar/Abr. Responsabilidade: Comissão de Edições Ir. Maria Ivone Mourão C. - Ir. Madalena Soledade C. Ir. Margarida Sousa - Ir. M. Amélia Martins - Ir. Maria Goreti P. Pedrosa
SE SE tu podes impor a calma, quando aqueles Que estão ao pé de ti a perdem, censurando A tua teimosia nobre de a manter, SE sabes aguardar sem ruga e sem cansaço, Privar com Reis continuando simples, E na calúnia não recorres à infâmia Para com arma igual e em fúria responder, - Mas não aparentar bondade em demasia Nem presumir de sábio ou pretender Manifestar excesso de ousadia,- SE o sonho não fizer de ti um escravo E a luz do pensamento não andar Contigo num domínio exagerado, SE encaras o triunfo ou a derrota Serenamente, firme, e reforçado Na coragem que é necessário ter Para ver a verdade atraiçoada, Caluniada, espezinhada, e ainda Os nossos ideais por terra, - mas ergue-los De novo em mais profundos alicerces E proclamar com alma essa Verdade! SE perdes tudo quanto amealhaste E voltas ao princípio sem um ai, Um lamento, uma lágrima, e sorrindo Te debruçares sobre o coração Unindo outras reservas à Vontade Que quer continuar, e prosseguindo Chegar ao infinito da razão, SE a multidão te ouvir entusiasmada E a virtude ficar no seu lugar, SE amigos e inimigos não conseguem Ofender-te, e se quantos te procuram Para contar com o teu esforço não contarem Uns mais do que outros, - olha-os por igual!, SE podes preencher esse minuto Com sessenta segundos de existência No caminho da vida percorrido Embora essa existência seja dura À força das tormentas que a consomem, Bendita a tua essência, a tua origem, O mundo será teu, E tu serás um Homem! Rudyard Kipling, http://www.essejota.net/index.php?id=26
elebramos cento e vinte anos de nascimento de Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade. Que significa para nós esta celebração? Com duas palavras podemos definir o modo e o sentido de celebrar esta data: memória e desafio. Vamos, neste ano 2009, fazer memória de Madre Isabel, nossa Fundadora. Ainda há Irmãs que viveram com ela, ouviram a sua voz, acolheram os seus conselhos, a abraçaram e beijaram, mas também, com a graça de Deus, aumenta o número das que entrando na Congregação, nos últimos tempos, não a conheceram pessoalmente. O conhecimento que têm dela, vem-lhes dos testemunhos das pessoas, dos seus escritos ou das visitas aos lugares onde viveu. Madre Isabel já ultrapassou a dimensão terrena da vida; vive agora uma nova dimensão a dimensão eterna e imutável. Para ela, passaram as realidades humanas e temporais, o acidental, o supérfluo e o transitório. Vive, como gostamos de dizer, no seio de Deus. Por experiência sabemos que o tempo muda muita coisa no nosso modo de ver, ajuizar e sentir. Liberta-nos o tempo cura muita coisa - de tudo aquilo que não nos deixa ver a realidade das coisas e dos acontecimentos com a necessária objectividade. Nas suas dobras, o tempo, esconde muitos aspectos que desejando conservá-los, poderiam até ter um efeito muito redutor dessa mesma realidade. Isto pode aplicar-se à nossa Madre. Nos princípios, movidas por uma (santa) curiosidade detínhamo-nos em pormenores muito humanos da sua vida, do seu aspecto físico, dos seus jeitos e gostos etc.... Hoje, esses aspectos aparecem diluídos. A figura
de Madre Isabel começa a emergir no horizonte, revestida de novo fulgor. Ultrapassados os acidentes, puramente humanos, vivemos agora o tempo favorável a uma descoberta contemplativa do mistério de Deus presente na sua vida. Por isso, celebrar cento e vinte anos do seu nascimento tem de ser um purificar da memória, para descobrir com maior profundidade a lógica divina, a inspiração que recebeu e o legado carismático que nos deixou. A introdução da causa, com a respectiva Positio nas nossas mãos, lança-nos um grande desafio. Maria Isabel, nossa Fundadora ultrapassou já os umbrais da Congregação que fundou, caminha com a simplicidade e humildade que lhe são peculiares e junta-se àquela plêiade de homens e mulheres insignes, cujas vidas não passam no dizer de Frei David Azevedo. É duplo, este desafio - no hoje e aqui - que esta efeméride nos lança. Um desafio ad-intra convidando-nos a vender tudo para possuir o campo fértil, a pérola fina, (cf. Mt13, 44-46), (dom do carisma) e seguir o caminho do servo da parábola que recebeu cinco talentos negociou com eles, e ganhou outros cinco (cf. Mt 25, 16). Desafio adextra enquanto é urgente e necessário não enterrar o dom, antes, procurar que ele brilhe, congregue, impelindonos a alargar a nossa tenda criando espaço para acolher, aceitar, ouvir e servir, para partilhar a nossa missão com os leigos, estreitar com eles, laços de reciprocidade, dando, assim, novo vigor ao Carisma Concepcionista de Serviço aos Pobres. Com audácia e determinação purifiquemos a memória da nossa Fundadora, Madre Maria Isabel e trabalhemos para fazer brilhar a pérola fina que na Madre nos foi oferecida (dom do carisma). Tenhamos, também, a coragem de abrir a nossa mente, o nosso
coração e as nossas casas, aos leigos que Deus chama, a viver de modo novo o mesmo dom carismático. Veremos, então, aparecer novas coisas, de que nos fala o Profetas Isaías, porque um caminho foi aberto, ao encontro da pessoa despojada de bens e de dignidade, a água jorra no deserto da vida de tantos irmãos sequiosos de encontrar o verdadeiro sentido da sua existência e de experimentar o Amor Misericordioso do nosso Deus (Is. 43, 19-20).