fls. 192 SENTENÇA Processo Digital nº: 1026976-02.2015.8.26.0002 Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Interpretação / Revisão de Contrato Requerente: Bruna Della Flora Requerido: Santo Evaristo Empreendimentos Imobiliários Ltda CONCLUSÃO Aos 9 de setembro de 2015, faço estes autos conclusos ao MM. Juiz de Direito Titular II da 6ª Vara Cível do Foro Regional II Santo Amaro, Comarca de São Paulo, Dr. Emanuel Brandão Filho. Eu,, escr. subscr. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Emanuel Brandão Filho Vistos. BRUNA DELLA FLORA ajuizou a presente ação de rescisão contratual em face de SANTO EVARISTO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (ROSSI RESIDENCIAL) narrando, em apertada síntese, que comprou da ré um imóvel na planta com previsão de entrega para janeiro/2016, mas que já recebeu correspondência enviada pela ré dando conta de que a entrega do empreendimento sofrerá atraso. Sustenta que o descumprimento do prazo dá azo para que haja rescisão do negócio por culpa da ré. Afirma que, do preço contratado, já pagou R$ 52.869,42, sendo R$ 29.909,42 de parcelas e R$ 22.960,00 de comissões de corretagem. Requer a declaração de rescisão do negócio por culpa da ré e a restituição da íntegra dos valores. Juntou documentos. A ré foi citada e ofereceu contestação (fls. 90/123) arguindo a preliminar de legitimidade passiva ad causam quanto a restituição das comissões de corretagem; no mérito, a legalidade do contrato, notadamente da carência de 180 dias e a retenção das parcelas, e afirma não ser responsáveis pelo atraso da entrega do imóvel, já que houve escassez na mão-de-obra. Combate o pedido de restituição da comissão de corretagem. 1026976-02.2015.8.26.0002 - lauda 1
fls. 193 Juntou documentos. É o relatório. Fundamento e D E C I D O. O feito comporta julgamento nos termos do art. 330, I, do CPC, já que a matéria de fato se encontra bem demonstrada nos autos. Afasto a preliminar, pois a autora atribui responsabilidade ao réu pela rescisão contratual e, por isso, a restituição das partes ao status quo ante, com a devolução do que ela já pagou (inclusive o que pagou a título de comissão de corretagem). Se a pretensão merece ou não acolhida, é matéria de mérito. Passo ao mérito. De saída, cumpre consignar que a relação contratual trazida aos autos está regida pela Lei nº 8.078/90 (CDC). Está demonstrada a relação jurídica entre as partes. O atraso na entrega do imóvel vem demonstrado às fls. 49, inclusive superando-se o prazo de carência de 180 dias previsto às fls. 23. A ré alega não ser culpada pelo atraso em razão da ocorrência de escassez de mão-de-obra. Porém tal risco é perfeitamente previsível e até, de certa forma, corriqueiros à sua atividade, não se configurando caso fortuito ou força maior excludentes de responsabilidade, mas tentativa da ré em imputar o ônus do negócio ao consumidor. Neste sentido: INDENIZAÇÃO. Atraso na entrega de imóvel adquirido na planta. Preliminar de ilegitimidade passiva afastada. Dificuldade de obtenção de mão de obra e ocorrência de fortes chuvas no período de obras que constituem risco do negócio, integrando a obrigação assumida. Inadimplemento caracterizado. Danos materiais. Lucros cessantes. Pagamento de aluguel no período em que o autor já deveria se encontrar na posse do imóvel. Indenização de rigor. Sentença confirmada. Recurso desprovido. (TJSP - Apelação nº 0009495-17.2012.8.26.0562 ) [g.n] Assim, não tendo o fornecedor comprovado fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito da autora, é patente sua responsabilidade pela resolução do contrato. 1026976-02.2015.8.26.0002 - lauda 2
fls. 194 Nos termos do enunciado da Súmula nº 543 do STJ Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento. Logo, deve restituir o réus as parcelas adiantadas pela autora (R$ 29.909,42). Quanto à chamada comissão de corretagem, não é ela ilegal por si só: "(...) Comissão de corretagem. Reconhecimento de que, ainda que a praxe seja o seu pagamento pelo vendedor (comitente-contratante), inexiste óbice à avença em sentido diverso, carreando tal ônus ao comprador. Assinatura de documento que claramente dispunha acerca da comissão de corretagem. Verba que é devida sempre que a intermediação se efetiva, com a assinatura do instrumento particular de venda e compra, ainda que este não se aperfeiçoe, por desistência das partes, como no caso em apreço. Inteligência do art. 725, CC. Sentença de procedência. Recurso provido para julgar extinto o processo, sem conhecimento do mérito" (TJSP, 5ª Câmara de Direito Privado, ap. 0013992-16.2010.8.26.0604, Relator James Siano, j. 18/07/2012) E no caso dos autos há expressa previsão contratual cf fls. 45/46. Ocorre que, com a rescisão do negócio por culpa exclusiva do promitente vendedor, é ônus restabelecer o status quo ante da parte inocente (o promitente comprador) que arcou com a devida comissão de corretagem. Logo, deve também restituir o valor (R$ 22.960,00). Ante o exposto, com fulcro no art. 269, I, do CPC, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado por BRUNA DELLA FLORA em face de SANTO EVARISTO EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA (ROSSI RESIDENCIAL) para (1) declarar rescindido o negócio por culta do réu e (2) condenar o réu a restituir a autora em uma só parcela R$ 52.869,42 atualizados pela tabela prática do TJSP a partir do ajuizamento da ação e acrescidos de juros de mora legais a partir da citação do réu. O réu arca com as custas e honorários do patrono do autor, que fixo em 10% sobre o valor da 1026976-02.2015.8.26.0002 - lauda 3
fls. 195 condenação. Nada sendo requerido em 10 dias do trânsito em julgado, aguarde-se provocação em arquivo. P.R.I. São Paulo, 10 de novembro de 2015. DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA 1026976-02.2015.8.26.0002 - lauda 4