O papel do Psicólogo junto ao movimento LGBTTT



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Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 24 e 25 de junho de 2010 GT 1. Gênero e políticas públicas Coord. Silvana Mariano O papel do Psicólogo junto ao movimento LGBTTT Alessandra Fragoso Batista Soares Ana Carolina Massaro Karluze Suellen Morcella Campanini A pesquisa surgiu a partir de uma proposta acadêmica, de pesquisa sobre a prática do Psicólogo Social, visando pesquisar qual o papel do mesmo atuando junto ao Movimento LGBTTT. Ao ser apresentada a proposta pela docente responsável pela disciplina de Psicologia Social, nenhuma das participantes tinha contato ou informação sobre o tema, o que trouxe uma relativa dificuldade ao processo de levantamento bibliográfico referente a esta pesquisa. Por ser um tema polêmico e permeado por preconceitos sociais, descobrimos que ainda existem poucas pesquisas sobre este tema. Assim, nos deparamos com uma escassez de material bibliográfico, poucos profissionais atuantes nessa área, poucas pesquisas disponíveis em rede (internet) e também com pré-conceitos da sociedade com o movimento e com os profissionais que atuam junto ao movimento. Atualmente, existe demanda de participantes do movimento, não só no Brasil como também no mundo todo. Porém o número de profissionais da área da Psicologia atuantes nesta área ainda é pequena. Nossa grande dificuldade ao redigir esta narrativa, foi não trazer implicações morais, preconceitos e nem expor os participantes do Todas as autoras são alunas do 5 ano do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras. E-mail: karluze@hotmail.com 36

movimento como seres humanos diferentes. Aprendemos a vê-los como cidadãos de direitos e deveres que, assim como qualquer outra pessoa, necessitam de suporte psicológico para lidar com seus problemas pessoais e dificuldades do dia-a-dia. Em campo, fomos ao Centro de Direitos Humanos e Redução de Danos de Londrina-PR, para conhecer como os profissionais que trabalham junto ao grupo LGBTTT atuam, em especial, conhecer o trabalho do Psicólogo junto a esta população. Neste observamos, a importância do trabalho multidisciplinar a partir do qual o Psicólogo atua junto a uma equipe composta por um advogado e assistente social além dos estagiários. No primeiro capítulo, explicaremos o caminho das pedras percorrido pelas pesquisadoras: onde a pesquisa foi realizada, um pouco da atuação de seus participantes e colaboradores e também sobre os instrumentos de pesquisa utilizados pelas pesquisadoras. Já o segundo capítulo, trará a trajetória do movimento LGBTTT até os dias de hoje, no qual será apresentada também sobre a maior parada gay do mundo, a realizada na cidade de São Paulo. O capítulo versará sobre a formação do Psicólogo na atualidade, as diferentes áreas que o mesmo pode atuar e sobre a dificuldade de encontrar nas Universidades pesquisas relacionadas ao tema da homossexualidade. No quarto e ultimo capítulo, discutiremos sobre as conquistas do Movimento LGBTTT, e sobre as visões tanto dos Psicólogos em relação aos membros do grupo, como também dos mesmos em relação ao próprio Psicólogo. Esta pesquisa nos mostrou o quanto é escassa e necessária a atuação dos Psicólogos junto ao Movimento LGBTTT, e o quanto os preconceitos sobre o Movimento perpassa não apenas a sociedade leiga, mas também o meio acadêmico. Com isso podemos dizer que a pesquisa nos trouxe a possibilidade de repensarmos uma prática profissional que entenda seu objeto de estudo, o homem, em sua totalidade. Entendemos que os cuidados éticos devem ser repensados cotidianamente e que agir de acordo com o princípio de alteridade exige compreender o Outro muito além de sua aparência, principalmente àqueles que não atendem aos padrões sociais pregados como normais. Desejamos que esta pesquisa seja um convite à valorização da vida e a repensarmos os valores morais sociais que nos são impostos. Desejamos 37

que esta permita a divulgação de uma demanda que se mostra urgentemente necessitada de profissionais diversos, inclusive, profissionais da Psicologia. 1. Apresentando o caminho das pedras... Primeiramente, podemos iniciar nossa discussão realizando a seguinte pergunta: o que viria a ser metodologia, método e técnica? A metodologia é a disciplina que se ocupa dos estudos dos métodos e suas inter-relações. (PEREIRA, 2002, p. 140). Já o método seria o caminho que nós, pesquisadoras, percorremos para se chegar a algo. Há vários métodos diferentes, ou seja, existe um experimental, funcionalista, intuitivo, entre outros. A técnica é um conjunto de procedimentos que visam obter determinado resultado, não se excluindo a criatividade do pesquisador. Podemos citar como exemplos, entrevista, observação-participante, análise de discurso e análise de conteúdo. A partir disto, podemos então dar nosso ponto de partida ao especificar o que entendemos por Metodologia do Trabalho Comunitário Social. Esta seria uma produção de conhecimento entendida como um instrumento de luta, ou seja, uma contra-ideologia, pressupondo uma troca de saberes entre os agentes externos e a população. Entendemos como conceito de comunidade, a segunda visão de PEREIRA (2002), ou seja, para ele dentro da sociedade há subgrupos que são percebidos muitas vezes como diferentes. (...) a comunidade é caracteriza por uma forte coesão baseada no consenso espontâneo dos indivíduos; um subgrupo dentro da sociedade, percebido ou se percebendo como diferente, em alguns aspectos, da sociedade mais ampla. (...) (PEREIRA, 2002, p.149). Com isto, caberia ao Estado o gerenciamento desses grupos, para atender as suas necessidades básicas, com suas concepções, planos diretivos e execuções. A partir do referencial teórico trazido acima, no qual tivemos acesso através de uma disciplina no curso de Psicologia, sendo esta Psicologia Social. Quando apresentada as propostas de pesquisa, uma nos despertou interesse, esta seria a inserção do Psicólogo no Movimento LGBTTT. Tivemos nosso primeiro contato no Centro de Direitos Humanos e Redução de Danos, pois neste local se trabalha com diversas políticas publicas, sendo uma delas junto ao grupo LGBTTT. Então entrevistamos uma Psicóloga que trabalha diretamente com o grupo, juntamente com uma equipe composta por advogados, assistentes sociais e estagiários de Psicologia. O trabalho da mesma consiste em realizar 38

oficinas e construir com o grupo LGBTTT uma reflexão a cerca dos problemas enfrentados. Neste mesmo dia, tomamos conhecimento que uma de nossas professoras, trabalha no Centro de Direitos Humanos e Redução de Danos e poderia contribuir quanto ao papel do Psicólogo junto ao Movimento LGBTTT. Apresentado a esta nosso projeto de pesquisa, ela se dispôs em nos ajudar, falando sobre seus conhecimentos a respeito do assunto. A partir destas entrevistas, nós pesquisadoras conseguimos um maior conhecimento quanto ao papel do Psicólogo acerca do assunto, e também vimos como é necessário mais trabalhos frente a este tema de pesquisa. Os materiais utilizados como auxilio para a presente pesquisa, foram os seguintes: livros, materiais da internet, computadores, disquetes, pen drives, mp4, questionários entre outros. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: entrevistas informais, conversas, entrevistas semi-estruturadas, questionários (anexo 1) distribuídos via e-mail, cabe ressaltar que os e-mails enviados partiram de um primeiro contato via site de relacionamento, já que houve uma grande dificuldade em encontrar pessoas que fossem assumidas e que estivessem dispostas em contribuir com a pesquisa. Pelo fato de ser via site de relacionamento, enriqueceu ainda mais os dados, pois os participantes se sentiram à vontade para falar abertamente sobre o assunto, já que não houve contato pessoal com as pesquisadoras. E para o levantamento histórico do Movimento LGBTTT, foi utilizado sites da internet, pois inexiste bibliografia referente à história do Movimento, por se tratar de um assunto ainda não explorado em pesquisas. 2. A história e o código de ética envolvendo o movimento GLBTTT O Movimento Homossexual Brasileiro, desde seu surgimento até os dias atuais passou por diversas transformações. Ao buscarmos a compreensão do mesmo, percebemos que este não é entendido como uma entidade nem como um órgão, mas sim como uma série de manifestações sócio político culturais em favor do reconhecimento da diversidade sexual, e da promoção dos interesses dos homossexuais diante da sociedade brasileira. Quando nos deparamos com a situação do movimento de gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis (LGBTTT) no Brasil ou no restante do mundo, percebemos seu distanciamento de um debate político mais aprofundado e sua quase aversão ao restante das lutas sociais. Porém, ao montarmos a história do movimento, podemos observar 39

que sua origem foi bastante diferente. Já houve momentos em que o movimento esteve enraizado socialmente na classe trabalhadora, envolvido com suas lutas e cumpriu um importante papel na politização da discussão sobre a opressão. O movimento LGBTTT brasileiro começou com a fundação do Grupo SOMOS, de São Paulo, o primeiro e mais bem estruturado grupo de homossexuais ativistas do Brasil, e também com o Jornal Lampião no Rio de Janeiro em 1978. Em abril de 1982 foi realizado em São Paulo o I Encontro Paulista de Grupos homossexuais, EPGHO (Encontro Paulista de Grupos Homossexuais), com a participação de 4 grupos: Alegria-Alegria, GALF (Grupo de Ação Lésbico Feminista), Outra Coisa e Somos. Hoje em dia já são mais de 140 grupos GLBTTT espalhados por todo territorio nacional. Foi realizada em 1995, no Rio de Janeiro, a Conferência Mundial da ILGA (Associação Internacional de Gays e Lésbicas), o que deu novo impulso ao movimento. A partir do qual foi realizada a primeira manifestação de rua de homossexuais no Brasil. A parada gay se inicia em São Paulo em 1996, com uma manifestação na praça de Roosevelt, da qual participaram aproximadamente 400 pessoas, apesar do frio do inverno. Em 1997, os ativistas decidiram ocupar as ruas juntando mais de 2.000 pessoas, inaugurando o trajeto que é oficial até hoje em dia. Em 1998, foram 8.000 pessoas; em 1999, 35. 000 já somavam com uma estrutura mais bem organizada, surgindo então, a Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Trangêneros, Travestis e Transexuais. No ano de 2.000 a Associação da Parada trabalhou com planejamento estratégico, definiu missões e metas e chamou o mercado para sua maior responsabilidade de cidadania realizando a maior Parada da América Latina, mais de 120.000 participantes em uma manifestação que entrou para a história social brasileira. Em 2.001 o número de participantes dobrou, começaram a chegar pessoas de todos os estados, de várias cidades e de vários países também. Uma enorme diversidade tomava conta da Av: Paulista, ganhando a irreverência LGBTTT, juntamente com as reinvidicações por um Estado de Direitos e pela plena cidadania dos gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais, Travestis e Trangêneros de todo o país. Em 2.005 a parada Gay de São Paulo foi considerada a maior parada gay com 2 milhões de participantes. Em 2007, aconteceu um novo recorde, com 3 milhões de participantes. Já neste ano de 2008, cerca de 5 milhões de pessoas, segundo os organizadores, participaram da 12ª Parada do Orgulho LGBTTT, considerada a maior manifestação do gênero no mundo. Porém, a Guarda Civil de São Paulo estima que 3 milhões de pessoas tenham passado pela festa. 40

Ainda assim, podemos perceber que a sociedade brasileira é fortemente marcada pela homofobia 1. Percebemos isto nas estatísticas recentes do IBOPE, como por exemplo, que 51% das pessoas desaprovam a presença de casais homossexuais em telenovelas e cerca de 42,3% dos travestis declaram já terem sofrido alguma forma de violência física e até mesmo da própria policia. Frente a este cenário muitos homossexuais terminam por não assumirem-se enquanto tais como forma de escapar das consequências dos preconceitos da sociedade. Outro fato importante a ser destacado é que aqueles que optam por explicitar sua orientação sexual, como é o caso dos travestis, muitas vezes terminam por se tornarem profissionais do sexo, como se fosse esta a única maneira de sobrevivência permitida a estes. O Movimento LGBTTT, tem um Código de Ética 2 que deve ser seguido por todos os seus associados. Este define alguns valores que são importantes para o Movimento, que é o de lutar pelos direitos civis de gays, lésbicas, bissexuais e trangêneros. Sendo assim, todas as atividades relativas ao Movimento, são desenvolvidas de forma a preservar a integridade e a honestidade, respeitando as leis legitimadas pelos interesses do grupo e da sociedade. Desta forma, todos os membros do Movimento devem ter o conhecimento do Código de Ética, para que possam tanto apontar suas deficifiências, como também, contribuir para que o mesmo seja efetivamente cumprido e através dessas informações possam reivindicar seus direitos. Assim podemos comparar com a literatura de Lapassade, quando este traz a discussão sobre o juramento. (...) O juramento é o poder de cada um sobre todos e de todos sobre cada um: ele me garante contra a minha própria liberdade e ele institui o meu controle sobre a liberdade do outro. (...) (LAPASSADE, Georges, 1977. p.: 235) Sendo assim, vemos que o juramento citado por Lapassade no contexto do Movimento LGBTTT, é visto através do Código de Ética do mesmo, pois este traz artigos que dizem respeito da importância de se prevenir comportamentos anti-éticos, ter comportamentos embasados nas 1 Homofobia é o preconceito motivado por orientação sexual que atinge gays, lésbicas e bissexuais, ou por identidade de gênero que atinge travestis e transexuais, e provoca discriminação e violência contra GLBT. A homofobia se inter-relaciona com outras formas de preconceito por sexo, raça, classe, idade e assim tende a vitimar os/as GLBT de diferentes maneiras 2 PSTU. Código de ética. Disponível em: <http://www.paradasp.org.br/modules/articles/article.php?id=10> Acesso em 20/05/2008. 41

leis em busca do sucesso do Movimento, tendo como principios básicos, a ética, transparência de processos, justiça, respeito e solidariedade com todos. 3. Na formação do psicólogo, estuda-se a homossexualidade? Nos últimos anos, a Psicologia vem se preocupando com a formação do Psicólogo, afim de que o mesmo ao fazer intervenção possa levar em conta a realidade na qual o individuo está inserido. Neste processo de formação, são realizadas atividades de produção de pesquisa e conhecimento. Antigamente a idéia que se tinha do Psicólogo, era a de que este atuava somente nos consultórios a partir de uma prática clínica individual. Porém, hoje em dia, nós graduandos do curso de Psicologia encontramos diferentes áreas que vêm sendo demandadas socialmente, ou seja, os profissionais de psicologia nos dias atuais precisam atentar às necessidades locais permeadas por uma grande diversidade, diversidades esta que está para além das paredes de um consultório individualizado como, por exemplo: questões voltadas à saúde mental, saúde coletiva, necessidades das entidades educacionais, hospitalares, prisionais, judiciárias, organizações não-governamentais (ONGs) e em projetos de inclusão social. Com esta demanda crescente, cria-se então a necessidade de estudar como o ser humano se constrói a partir de seu contexto social, o que vem sendo estudado pelos alunos durante o curso, para se entender as várias maneiras do Psicólogo se inserir e manter uma relação dialética com outras áresa de conhecimento. Para os alunos com maior afinidade à determinados assuntos, o acesso a determinadas informações é facilitado mediante estágios, seminários e eventos científicos como por exemplo, congressos. Contudo, é muito difícil enxergar em um curso de Psicologia alguma matéria ou algum projeto desenvolvido por professores e alunos cujo tema seja a homossexualidade. Talvez, por se tratar de um assunto muito polêmico, e também, porque pode haver preconceito mesclado à educação. Como por exemplo, somente tivemos acesso a este tema em razão da prática de pesquisa desenvolvida na disciplina de Psicologia Social. Algumas Universidades vêm desenvolvendo núcleos de estudo sobre direitos e cidadania LGBTTT. Este constitui-se em um importante passo na tentativa de formação de profissionais atentos às necessidades sociais atuais e comprometidos com uma Psicologia que prima pelo estabelecimento da justiça e de uma sociedade mais justa. 42

4. conquistas: visão do psicólogo e dos integrantes do movimento LGBTTT 4.1. A visão do Psicólogo Através de entrevista realizada com uma Psicóloga relatou que: Homossexualidade não é uma doença, e que preconceito é crime. Vemos que várias leis surgiram em virtude de reivindicações de técnicos especializados nas áreas e da articulação de movimentos sociais. Frente a isto, foi necessário um posicionamento do Conselho Federal de Psicologia que manifestou somente em 1999 um posicionamento a favor da homossexualidade enquanto um comportamento que nada tem a ver com doença, distúrbio ou perversão. A Psicóloga entrevistada ressalta que o papel do psicólogo é analisar criticamente as construções sociais sobre a homossexualidade, para que ele não seja homofóbico em sua prática, de forma a não pressupor que a condição sexual de seu cliente seja um problema para ele. O psicólogo deve, então, deixar que seu cliente relate o motivo para qual busca a terapia sem direcionamentos À opção sexual do mesmo. A homossexualidade, ainda nos dias de hoje, sofre em razão de preconceitos históricos, sociais, políticos e religiosos o que pode levar uma pessoa homossexual a vivenciar um sofrimento psíquico. Com isso, é preciso atentar que o grande problema a ser trabalhado refere-se à relação entre sociedade e o entendimento sobre o que vem a ser a homossexualidade, cabendo ao psicólogo também atuar junto a esta questão. Um psicologo atuante dentro de um centro de referencias, trabalha lidando com questões polemicas e conflituosas para os seus participantes através de grupos onde cada um dos participantes podem trocar suas experiencias e estabelecer vinculos com pessoas do movimento. Um exemplo seria a do serviço realizado pela equipe (advogado, assistente social, psicólogo e estagiários) com um grupo de travestis que trabalham em uma Avenida na cidade de Londrina, residindo quinze em um mesmo endereço. Segundo a própria psicóloga vários problemas são enfrentados por esse grupo, que atualmente tem sido a dificuldade de relacionamento com os vizinhos, estes fizeram um abaixo assinado para que eles saíssem do bairro onde moram, por não se enquadrarem as padrões de vida daquela determinada sociedade. Então a equipe e o grupo construíram uma melhor solução para esse problema. 43

4.2. A visão do Movimento A partir de dez questionários enviados a participantes do Movimento LGBTTT através de um site de relacionamentos, vemos que a sociedade nos dias de hoje está lidando melhor com a aceitação da opção sexual dos participantes desse movimento, vemos ainda que 90% desses tiveram maior facilidade de aceitar sua própria sexualidade enquanto que 10% não, ou seja, a maioria não esconde perante os outros. Apesar da sociedade lidar mais abertamente com as diferenças sexuais, a grande maioria dos participantes do Movimento LGBTTT já sofreram ou sofrem preconceitos tanto em família quanto com amigos, colegas de trabalho de estudo e etc. Dentre os entrevistados 80% participam de algum movimento homossexual, suas opiniões são de que hoje em dia as manifestações estão perdendo o foco:...sou a favor dos movimentos homossexuais desde que a proposta não seja banal e sim válida para que cada vez mais sejamos vistos como pessoas normais com todos e quaisquer direitos válidos para os heterossexuais. Assim vemos que 100% dos entrevistados do movimento LGBTTT reivindicam os direitos humanos que são concedidos a todas as pessoas heterossexual ou homossexual, pois se sentem excluídos e prejudicados pela sociedade. Vemos que 90% dos entrevistados vêem que a atuação de um Psicólogo pode ajudar a lidar com questões que envolvam a aceitação de sua sexualidade, questões familiares e preconceito: (...) o Psicólogo pode nos ajudar tentando lidar com a orientação sexual valores sentimentos e sociedade, pois muitos homossexuais não tem estrutura familiar educacional e emocional, muitos ficam volúveis e vulneráveis ao preconceito e até mesmo não sabem que postura tomar diante de sua opção sexual no cotidiano ou que papel no meio gay irá desempenhar(...). O Psicólogo é visto como uma alternativa para lidar com as dificuldades enfrentadas pelos membros do Movimento LGBTTT, podendo ajuda-los a ver se sua opção sexual é aquela mesmo, se for poderá ajudalos a ter uma postura diante da mesma.questões de aceitação Concluímos que esta pesquisa nos possibilitou repensarmos em uma prática profissional que compreenda o seu objeto de estudo, o homem como um todo, independente de sua opção sexual, e que os profissionais devem ter cuidados éticos, repensados no dia-a-dia para assim poder entender as diversidades do mundo atual, compreendendo o outro muito 44

além de sua aparência, principalmente àqueles que não atendem aos padrões sociais pregados como normais. Esperamos que através desta pesquisa, o leitor possa ter uma visão mais clara despida de valores impostos pela sociedade, valorizando a vida e repensando os valores morais e sociais que a sociedade impõe o qual rotula e exclui as pessoas que pertencem ao movimento LGBTTT. Desejamos então que essa pesquisa contribua para repensarmos que a demanda de profissionais junto a movimentos sociais é escassa, o que faz necessários mais profissionais atuantes e comprometidos com causas sociais. 45

ANEXOS Questionário Idade: Sexo: Data: / / 1. Você acha que a sociedade nos dias de hoje lida melhor com aceitação dos homossexuais: ( ) Sim ( ) Não ( ) Muito pouco 2. Para você foi difícil se conscientizar sobre sua opção sexual: ( ) Sim ( )Não Por que: 3. As pessoa a qual você convive sabem sobre sua opção sexual: ( ) Sim ( ) Não 4. Você já sofreu pré-conceito: ( ) Sim ( ) Não 46

5. Se referindo ainda a questão 4, se sua resposta for sim,em quais lugares: ( ) Família ( ) Amigos ( ) Escola/Faculdade ( )Trabalho 6. Qual sua opinião sobre os movimentos homossexuais: 7. Para você os homossexuais são prejudicados se tratando de direitos humanos: ( ) Sim, pois a sociedade os excluem dificuldade os direitos humanos. ( ) Não, pois conseguem acessar qualquer direito humano. 8. Para você os homossexuais deveriam ter orientação psicologia: ( ) Sim ( ) Não Por que: 47

9. Você acha que um psicólogo poderia ajudar os homossexuais em quais aspectos: ( ) aceitação de sua sexualidade para si próprio. ( ) ajudar nas questões familiares. ( ) lidar com pré-conceitos. 10. Na sua opinião os psicólogos estão preparados para ajudar a comunidade homossexual: ( ) sim ( ) Não Por que: 11. Você aceitaria participar de algum trabalho psicológico: Por que: 48

Bibliografia ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO GLBT DE SÃO PAULO. Código de Ética. Disponível em: <http://www.paradasp.org.br/modules/articles/article.php?id=10>. Acesso em: 23/10/2007. ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO GLBT DE SÃO PAULO. Homofobia é Crime! Direitos Sexuais são Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.paradasp.org.br/modules/articles/article.php?id=24>. Acesso em 23/10/2007. CÂMARA MUNICIPAL DE ARARAS. História do Movimento Sexual Brasileiro, Disponível em: <http://72.14.209.104/search?q=cache:wnug1e77er8j:www.camaraararas.sp.gov.br/goto/store/textos.aspx%3fsid%3d430d71ead8a8fe04 7e77c76d88dc7cda%26id%3D134+Hist%C3%B3ria+do+Movimento+ GLBT&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=8&gl=br> Acesso em 23/10/2007. CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À DISCRIMINAÇÃO. Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à discriminação contra GLBT e promoção da cidadania homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. MOTT, Luiz. Moções brasileiras em defesa da cidadania homossexual. Disponível em: <http://64.233.169.104/search?q=cache:8qq2j9rhatgj:www.athosgls.c om.br/noticias_visualiza.php%3fcontcod%3d20788+%22psic%c3%b 3logo%22+%22junto%22+%22ao%22+%22movimento%22+%22GLB T%22&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=22&gl=br> Acesso em 17/11/2007. PRADO, Marco Aurélio Máximo. MACHADO, Frederico Viana. Preconceito contra homossexualidade: A hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Cortez Editora, 2008. PSTU. Movimento GLBT e a esquerda: uma relação tensa, Disponível em: <http://72.14.209.104/search?q=cache:ums - 5VcyIJ:www.pstu.org.br/opressao_materia.asp%3Fid%3D5556%26ida% 3D0+Hist%C3%B3ria+do+Movimento+GLBT&hl=pt- BR&ct=clnk&cd=1&gl=br> Acesso em 23/10/2007. 49

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