Learning by Ear Aprender de Ouvido Sociedade Civil Nº 6: Homossexualidade África do Sul



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Learning by Ear Aprender de Ouvido Sociedade Civil Nº 6: Homossexualidade África do Sul Reportagem: Valérie Hirsch Redacção: Sandrine Blanchard Tradução: Madalena Sampaio 1 Voz-Off Feminina (Texto de reportagem + Outro): Marta Barroso 2 Vozes (Intro + Diálogo): - Nádia Issufo - Daniel Machava 6 Vozes para voice-overs: - Musa: mulher jovem Débora Miranda - 4 vox pops: duas mulheres (Daiana Dalfito, Helena Gouveia), dois homens (Carlos Martins, António Rocha) - Stanley: homem jovem Márcio Pessôa 1

Opener LbE Intro: Olá a todos! Hoje, no Learning by Ear Aprender de Ouvido, vamos falar de homossexualidade, ou seja, quando os homens gostam de homens e as mulheres gostam de mulheres! São pessoas que se sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo É uma questão de sentimentos. Mas vamos primeiro até à África do Sul e depois falamos. Para já, o destino é Joanesburgo! Então vamos lá! Música: Baka Beyond, Bwamba, 4083639000 2

Primeira Parte: Reportagem O-Ton Musa (Inglês): Acho que sempre soube que era diferente. Diferente no sentido de que sempre gostei mais de mulheres do que de homens. Por isso, pensei que talvez alguma coisa não estivesse bem. Entretanto, todos os meus amigos começaram a ter encontros. Eu ainda tentei sair com um rapaz, mas não funcionou e foi aí que decidi que iria ser eu própria e verdadeira comigo mesma. Tinha mais ou menos 15 anos. Foi então que Musa Ngubane tomou consciência da sua homossexualidade. A jovem sul-africana lembra os seus primeiros passos num mundo que, nessa altura, lhe era totalmente desconhecido: O-Ton Musa (Inglês): Felizmente, descobri que havia uma equipa de futebol feminino perto da minha área e descobri que um grande número de pessoas que jogavam naquela equipa já saía com mulheres. A partir de então, começou a tornar-se mais fácil para mim ser eu própria e expressar a minha identidade sexual. 3

Musa foi capaz de assumir a sua identidade sexual, apesar do olhar dos outros, muitas vezes hostil. O-Ton Musa (Inglês): Falei com a minha irmã mais velha sobre isso e ela mostrou-se muito compreensiva e deu-me muito apoio. E os meus melhores amigos também se mostraram muito compreensivos. Mas havia pessoas de todas as idades que falavam negativamente da minha orientação sexual à minha frente. Cheguei mesmo a ser ameaçada por alguns rapazes, porque eles achavam que eu também queria ser homem e que queria roubar as namoradas deles e coisas do género. Por isso, sofri, de facto, muitos abusos verbais de jovens, mas também de pessoas mais velhas que me perguntavam que tipo de mulher eu era para sair com outras mulheres. Atmo: Rua movimentada em Joanesburgo (SFX: Busy street in Jo'burg) Os preconceitos de que Musa fala ainda se mantêm fortes neste início do século vinte e um, como se constatou quando perguntámos às pessoas nas ruas de Joanesburgo o que pensavam dos homossexuais: 4

Voxpop (Inglês): Homem: Basicamente, acho que é um pecado, em primeiro lugar. Mas, por outro lado, eles também podem ser aceites na comunidade. Mas não há parte alguma na Bíblia que fale dos homossexuais e da sua orientação. E, depois, eles também devem respeitar-se a eles mesmos, porque a maioria se comporta de forma selvagem, exagera, usa mini-saias de uma maneira que as mulheres normais não usam e, se calhar, é isso que aborrece as pessoas. Mulher: Não é algo que diria sim, vai em frente e faz!, mas não tenho problemas com isso, isso não interfere na minha vida. Toda a gente é livre de fazer o que quiser. Homem: Cada um tem a sua maneira de ser. Um homossexual é como outra pessoa qualquer. Mulher: Para mim, isto não é bom! Porque, se és homem, tens de ter a tua mulher e depois fazer filhos, percebes? Sim, é um pecado e acho que, dantes, isso não existia. É uma coisa moderna, algo novo que está a acontecer. 5

Na verdade, não é a homossexualidade que é nova. O preconceito é que está muito alargado. O termo homossexualidade foi inventado por um austríaco no século dezanove, mas sempre existiu tanto em África como no resto do mundo. A maior parte das línguas africanas tem várias palavras para designar diferentes tipos de práticas homossexuais, o que significa que são habituais em sociedades tradicionais. Conforme as pessoas e as épocas, a homossexualidade foi concebida como um rito de passagem, uma marca de igualdade entre duas pessoas ou, por outro lado, como a expressão de uma dominação entre senhor e escravo, por exemplo. Ou então, uma compensação sexual na ausência de homens ou de mulheres. Música: Rwanda slow Mas também encontramos traços de lesbianismo, ou seja, relações sexuais entre mulheres, em sociedades poligâmicas ou onde dantes existiam haréns, porque as mulheres não eram satisfeitas pelos maridos, que viam muito raramente. Era esse o caso, por exemplo, entre os Nkundu, na actual República Democrática do Congo. Música: Rwanda slow 6

Mas voltando à África do Sul de hoje. Tal como Musa Ngubane, Stanley Mabena trabalha para a associação Behind the Mask. Esta organização com base em Joanesburgo ajuda homossexuais de todo o continente e luta para que os seus direitos sejam reconhecidos. Stanley teve a primeira relação sexual aos dezassete anos. Uma relação homossexual. O-Ton Stanley (Inglês): Isso aconteceu com o meu primo e já não me lembro como é que foi. Mas foi a primeira vez que estive em contacto comigo próprio. E houve vezes em que me senti muito mal, porque não podia falar com ninguém sobre isto. Foi tão difícil para mim que me lembro de ter tentado suicidar-me. Graças à Behind the Mask, Stanley Mabena conseguiu construir a vida que queria. A mãe também o ajudou ao fazer um esforço para tentar compreendê-lo e falar com ele. O pai precisou de vários meses para aceitar a homossexualidade do filho, porque tinha vergonha. Hoje, Stanley tem 31 anos e espera, com o seu trabalho, facilitar a vida de outros homossexuais que encontram dificuldades. 7

O-Ton Stanley (Inglês): Há homossexuais que estão a ser assassinados. Sinto-me muito triste, porque todas estas coisas acontecem apesar de haver uma Constituição que nos protege e que também nos serve, como homossexuais. A Constituição existe, mas, ao mesmo tempo, as pessoas também deviam mudar para se adaptarem à Constituição que temos e aos direitos humanos. Música: Baka Beyond, Bwamba, 4083639000 8

Segunda Parte: Diálogo informativo Se bem entendi, a homossexualidade não é um fenómeno novo em África Nádia (interrompe-o): não, longe disso! E não foram os colonizadores brancos que trouxeram a homossexualidade para África apesar do que pensam algumas pessoas. Como já ouvimos, podem ser encontradas práticas homossexuais em várias sociedades tradicionais. E a homossexualidade existe em diferentes formas: entre homens e entre mulheres. É verdade. Mas alguns países africanos baniram os ritos e as práticas homossexuais quando se tornaram independentes. E, em alguns Estados, a homossexualidade ainda é considerada um crime, punível com multas ou até prisão. O problema é que ainda há quem veja a homossexualidade como algo esquisito 9

Alguns consideram mesmo que a homossexualidade é uma doença. Qual doença! Já em meados dos anos oitenta, a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade do manual de diagnóstico de doenças mentais. E em 1992, a OMS retirou a homossexualidade da sua classificação internacional de doenças. Assim, teoricamente, todos os Estados signatários da Carta da OMS reconhecem que a homossexualidade não é uma doença, que não pode ser curada e que não é contagiosa. E o que significa também que se pode falar com homossexuais como se fala com heterossexuais, pessoas que se sentem atraídas por outras do sexo oposto. Claro! Porque eles são pessoas normais, tal como os heterossexuais. Podes apertar-lhes a mão, comer com eles não corres risco nenhum de ficar homossexual! Sim e nem que tu conheças um homossexual, Daniel, isso não significa que ele te vai querer seduzir! 10

Não necessariamente! Só se gostar de mim! Passa-se o mesmo com as mulheres. Algumas gostam de mim, outras não, e às vezes apaixonamse (triunfante) Por falar nisso, conheces o irmão do Pedro? O merceeiro? O Jorge? Claro que conheço! Ele é homossexual! O Jorge? Homossexual? Sim, isso não se vê só de se olhar para alguém. Ora essa! O Jorge! Nunca pensei! (Reflecte por um momento) Então, pelo que disseste, em alguns países, pessoas como o Jorge são mandadas para a prisão? Mas não fazem mal a ninguém Música: Baka Beyond, Bwamba, 4083639000 11

Outro: E assim chegamos ao fim do Learning by Ear Aprender de Ouvido. Obrigada por terem acompanhado este episódio dedicado à sociedade civil e à homossexualidade. Para saber mais, voltar a ouvir esta emissão ou deixar os vossos comentários, basta entrar na nossa página online: www.dw-world.de/lbe [w w w ponto d w traço w o r l d ponto d e barra l b e] Também podem escrever-nos um e-mail para: afriportug@dw-world.de Até à próxima, fiquem bem! 12