Turismo de Base Comunitária: uma experiência de desenvolvimento local através do Projeto Cooperativa de Ecoturismo Comunitário de Curuçá/PA



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Transcrição:

Turismo de Base Comunitária: uma experiência de desenvolvimento local através do Projeto Cooperativa de Ecoturismo Comunitário de Curuçá/PA Pablo Vitor Viana Pereira 1 Elcivania de Oliveira Barreto 2 Resumo: Com o objetivo de analisar a experiência de turismo de base comunitária desenvolvida na cidade de Curuçá através do Projeto Cooperativa de Ecoturismo de base comunitária de Curuçá, sob coordenação do Instituto Tapiaim, este trabalho buscou inicialmente analisar os conceitos teóricos que dão base ao desenvolvimento do TBC, para em seguida identificar como vem ocorrendo a participação da comunidade neste processo, assim como identificar se ocorreram transformações na comunidade com o projeto de TBC. Desta forma, realizou-se pesquisa bibliográfica e de campo, sendo que a pesquisa bibliográfica apontou para conceitos inerentes a esse novo eixo do turismo, o planejamento participativo e o desenvolvimento local, que foram a base que estruturou este trabalho. Quanto a pesquisa de campo, neste primeiro momento realizou-se apenas visitas na cidade de Curuçá e no Instituto Tapiaim para uma conversa informal, onde os resultados obtidos apontaram que a cidade de Curuçá-Pará trabalha com o TBC como atividade complementar e que isso tem contribuído com seu desenvolvimento local. O segundo momento corresponderá na aplicação de entrevistas juntos aos atores envolvidos no processo de TBC. Palavras-chave: Turismo de base comunitária. Desenvolvimento local. Curuçá. Pará. Introdução O turismo vem se tornando uma das atividades de grande relevância no mercado global, no entanto quem ganha prestígio é o turismo de massas, que sempre demanda um maior público a uma localidade turística, e que contempla sobremaneira o mercado, enquanto agente de turistificação do espaço. O turismo de base comunitária surge em contraposição ao turismo de massas, trazendo em seu bojo premissas que permitirão o envolvimento da comunidade no processo do turismo, não apenas expectadores, mas como protagonistas, desde o processo de planejamento até a execução e monitoramento da atividade em seu território. Desta forma, este trabalho como objetivo principal de analisar a experiência de turismo de base comunitária que é desenvolvida pelo Projeto Cooperativa de Ecoturismo de base comunitária de Curuçá-Pará, sob coordenação do Instituto Tapiaim, buscou inicialmente analisar os conceitos teóricos que dão base ao desenvolvimento do TBC, para em seguida identificar como vem ocorrendo a participação da comunidade neste processo, assim como identificar se ocorreram transformações na comunidade com o projeto de TBC. Sendo assim, realizou-se pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa de campo foi dividida em dois momentos, o primeiro momento correspondeu a uma visita na cidade de Curuçá e ao Instituto Tapiaim para uma conversar informal, sendo que o segundo 1 Acadêmico do 5º semestre do curso de Turismo da Universidade Federal do Pará. E-mail: pvviana@hotmail.com. 2 Bacharel em Turismo. Concluinte do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará. E-mail: vaniabarreto21@gmail.com 1

momento corresponderá na realização de entrevistas com os atores envolvidos no processo. Destarte, este artigo está divido em tres partes, a primeira parte apresenta inicialmente uma breve reflexão sobre o conceito de desenvolvimento local, em seguida traça uma abordagem sobre o turismo de base comunitária, esta que deu base para o primeiro momento do trabalho de campo. A segunda parte, aborda a experiencia de TBC que é desenvolvida em Curuçá. Por fim, apresenta-se a conclusão que traz os primeiros resultados obtidos com a primeira fase da pesquisa de campo. 1. O Turismo de Base Comunitária e o Desenvolvimento Local 1.1. Discutindo o Desenvolvimento Local Diante das discussões acerca da crise ambiental nas décadas passadas, surge um novo modelo de desenvolvimento pautado na conservação ambiental e na inclusão social. Esse desenvolvimento pode ser entendido como local e endógeno, estando aqui a definição local entendida como território (espaço vivenciado e construído historicamente por específicos grupos sociais em determinadas condições naturais, econômicas, sócio-culturais, jurídico-políticas e, até mesmo, psicológicas)(haesbert, 2004 apud MIRANDA, 2008, p.1). O desenvolvimento através das interações sociais com o ambiente natural, com base em suas potencialidades naturais, humanas, financeiras e tecnológicas, cristalizadas na sua infraestrutura econômica e social em dado momento (MIRANDA, 2008, p.3) essas ações dependerá de todo um processo que viabilize esse desenvolvimento, ou seja, recursos oriundos da gestão pública e da própria comunidade, pois só será possível o desenvolvimento local através dos recursos endógenos. Onde segundo Perez e Carrilo ( 2000 apud IRVING, 2004, p. 112). [...] aquele processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local que mediante o aproveitamento dos recursos endógenos existentes em uma determinada zona ou espaço físico é capaz de estimular e fomentar o seu crescimento, criar emprego, renda, riqueza e, sobretudo melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social da comunidade local. Para Miranda (2008, p. 3) O desenvolvimento local deverá ser entendido como processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política, humana e social, isto é, a referida comunidade buscará nesse processo a qualidade de vida em detrimento das transformações relativas, a inclusão social, a participação, o capital social e na gestão do bem comum, sendo esses os requisitos básicos desse desenvolvimento. A inclusão social como um dos requisitos desse processo visa a inserção da comunidade no processo de transformação, no qual o envolvimento comunitário, se alicerça em relações horizontais e na noção de empoderamento das comunidades, (MATTOS, 2009, p. 305). Esse envolvimento se baseia na participação da comunidade e no processo de transformação desses 2

agentes comunitários em protagonistas de seu desenvolvimento. Diante do fator Participação a comunidade exerce o papel fundamental no desenvolvimento local, pois a inclusão dessa localidade no planejamento desse novo modelo é parte importante no decorrer desse processo, onde na visão progressista a participação facilita o crescimento da consciência crítica da população, fortalece seu poder de reivindicação e a prepara para adquirir mais poder na sociedade (BORDENAVE, 1994, p.12). No que tange sobre participação, Ghon (2003, apud IRVING e MENDONÇA, 2004, p.17) coloca: [...] que participar significa dividir as responsabilidades na construção coletiva de um processo, que objetiva fortalecer a sociedade civil para a construção de caminhos que apontem para uma nova realidade social, sem injustiças, exclusões, desigualdades, discriminações. Da analise da afirmação acima a participação requer o envolvimento de todos nesse processo, onde através do fazer saber, os membros de uma comunidade tomaram parte do seu negócio em prol do bem comum. Ou seja, participação que vem da origem da palavra parte, significa que não adianta fazer parte, temos que tomar parte e ter parte, isso referi que a participação ativa é de suma importância para que aconteça o desenvolvimento em uma determinada localidade, região ou até mesmo em uma nação (BORDENAVE, 1994). Confirmando os conceitos de participação como uma das premissas do desenvolvimento local, surge logo após a ideia de capital social como fator condicionante no desenvolvimento de uma dada comunidade (IRVING & MENDONÇA, 2004). Segundo Kliksberg (1999, apud IRVING; MENDONÇA, 2004, p. 16), o capital social é composto pelos seguintes elementos: valores partilhados, cultura, tradições, saber acumulado, redes de solidariedade, expectativas de comportamento recíproco. O capital social, imbuído de espírito público, através de relações horizontais de reciprocidade, cooperação, solidariedade e confiança, na busca de relações e oportunidades igualitárias, se apresenta silenciosamente, junto com o capital econômico, como ferramenta essencial para o desenvolvimento local. Vale reafirmar, que o capital social conceituado acima gera relações igualitárias, ou seja, partindo desse pressuposto o desenvolvimento local requer segurança na sinceridade de todos no planejamento, desse modo a cooperação é um dos meios mais adequados de se organizar, sem deixar de frisar que existem outros modelos de organização visando o bem comum. Nesse sentido capital social é um atributo da estrutura social que não é propriedade particular de nenhuma das pessoas que dele se beneficiam (IRVING, 2004, p. 5). Diante disso, o capital social quebra com o imaginário sobre as comunidades, pois a parti do 3

conceito de capital social, percebe-se que a comunidade, além de se auto-gestora do seu negócio, ela torna-se parte do processo, ou seja, o capital social e o único que aumento com o uso (KLIKSBERG, 1999 apud IRVING; MENDONÇA, 2004, p. 16). Dessa forma, para que de fato aconteça desenvolvimento local atrelado a participação, capital social, preservação ambiental, cultural e histórica, deve haver o envolvimento de todos no planejamento gerando assim o desenvolvimento. Nesse sentido Bordenave (1994, p. 25) conclui, então, que uma sociedade participativa seria "aquela em que todos os cidadãos têm parte na produção, gerência e usufruto dos bens da sociedade de maneira equitativa". Desse modo, o bem comum gerado a parti desses pressupostos reforçaria o conceito de turismo de base comunitária, pois esse tipo de desenvolvimento além de agregar a comunidade, visar o bem de todos, no sentido de está envolvendo a comunidade no planejamento e gestão de seus bens naturais, culturais e históricos como forma de preservá-los do turismo de massa. 1.2. Turismo de base comunitaria: uma alternativa de desenvolvimento local O turismo de Base comunitária é um dos novos eixos do turismo que tem a comunidade como protagonista, sendo uma alternativa de desenvolvimento local com a perspectiva de melhoria de vida da comunidade. Nesse novo modelo de turismo, a comunidade é sujeito de seu próprio avanço, participando desde a concepção do turismo até seu desenvolvimento e gestão, considerando a complexidade, a diversidade e as realidades locais (ZAUOAL, 2008). A comunidade diante desse novo modelo de desenvolvimento tem que sentir parte do processo, pois através do sitio de pertencimento no qual fazem parte, os membros sentiram donos e detentores de seus patrimônios, ou seja, o turismo de base comunitária requer planejamento participativo, pois a partir dessa perspectiva a comunidade é auto-gestora do seu negócio visando o bem comum. Diante disso o turismo de base comunitária é conceituado por Carvalho (2007, não paginado): O turismo comunitário apresenta-se sendo desenvolvido pela própria comunidade, onde seus membros passam a ser ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de vida, levando todos a se sentirem capazes de cooperar e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo. Além de requerer a participação de toda a comunidade, considera os direitos e deveres individuais e coletivos elaborando um processo de planejamento participativo. Este modelo de turismo centrado na participação da comunidade, requer um bom entendimento e envolvimento de quem desenvolve esse tipo de atividade, pois de acordo com alguns conceitos relativos a essa nova modalidade de turismo, o turismo base comunitária pode ser desenvolvido perante a inclusão da comunidade no planejamento, ou seja, através da participação 4

dos organizadores da atividade, os agentes comunitários poderão exigir seus direitos com relação aos atrativos de sua região, desse modo, a população local vai adquirir qualidade de vida, gerações de renda para as famílias, além do que, vai haver a conscientização dos indivíduos de uma dada localidade em preservar e valorizar seus patrimônios naturais e culturais. Nesse sentido Carvalho (2007, não paginado) descreve: O turismo comunitário destaca-se pela mobilização da comunidade na luta por seus direitos contra grandes empreendedores da indústria do turismo de massa que pretendem ocupar seu território ameaçando a qualidade de vida e as tradições da população local. Este modelo de turismo através do desenvolvimento comunitário é capaz de melhorar a renda e o bem-estar dos moradores, preservando os valores culturais e as belezas naturais de cada região. O turismo comunitário no decorrer de seu planejamento deve ser elaborado de forma clara e objetiva, onde os moradores da região em questão devem passar por uma minuciosa compreensão, sobre o que é o turismo de base comunitária e seus conceitos, pois diante do saber, a comunidade entenderá a real função dessa atividade coletiva. O entendimento sobre a importância do TBC deve perpassar por diversos conceitos como: participação, capital social, os sítios simbólicos de pertencimento e a auto-gestão, essa ultima de suma importância, pois requer a comunidade como precursora do seu negócio. 14): Desse modo, confirmando o conceito de turismo comunitário. Segundo Coriolano (2003, p. Turismo comunitário é aquele desenvolvido pelos próprios moradores de um lugar que passam a ser articuladores e os construtores de cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida; leva todos a se sentirem capazes de contribuir, e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo. Vale ressaltar que diversas denominações sobre turismo de base comunitária são descriminadas, porém opiniões revelam que para existir tal processo, alguns conceitos são estudados como a participação, capital social e o sitio simbólico de pertencimento, no qual darão subsídios para essa atividade. No entanto, para que aconteça tal processo de desenvolvimento, a comunidade constituirá cinco objetivos básicos, no qual alavancaria esse turismo alternativo, nesse sentido Rodrigues (1997, p. 25) os destaca, preservação/conservação ambiental; identidade cultural; geração de ocupações produtivas e de renda; desenvolvimento participativo e qualidade de vida. Tais objetivos descriminados acima, darao subsidios a comunidade com relação ao entendimento sobre o TBC, para que de fato aconteça o turismo alternativo. No que tange a preservação/conservação e identidade cultural, seriam trabalhados nesses objetivos o sentido de sitio simbólico pertencimento que segundo Bursztyn e Sansolo (2009, p. 150) no qual é o: 5

O lugar do encontro, o sítio, onde se recebe e é recebido, possui uma especialidade real, histórica e culturalmente construída. Diferente dos espaços turísticos produzidos, os sítios para serem percebidos como turísticos, antes de tudo são reconhecidos pelos próprios residentes; uma auto-identificação típica do sentido de comunidade. O sítio é cheio de significados próprios, valorizados pela comunidade, e que se coloca disponível para o intercambio. No intercambio, as relações de proximidades se tornam mais justas, pois a troca de saberes fortalece a relações entre o visitado e visitante, dando ênfase para as ideias de Zaoual e Heidegger, o lugar da proximidade é o encontro face a face, um acontecimento que habita dimensões metaespaço-temporais (BARTHOLO, 2009). Diante das relações de proximidades o homem ao visitar um lugar deve estabelecer relação Eu-Tu, que permite entender o outro na forma mais completa da relação inter-humano, onde na ideia Buber (apud BARTHOLO, p.47) sobre a relação Eu-Tu no qual a pessoa da relação Eu-Tu é o suporte relacional que permite fazer da alteridade uma presença, numa possibilidade relacional que se estende para além do campo do inter-humano. Vale destacar que diante desses pressupostos, é importante a participação ativa da população no projeto de turismo comunitário, pois a comunidade é protagonista do seu negócio. Nesse sentido a participação direta de todos é de suma importância, sendo assim Carvalho (2007, não paginado) afirma que: Esse tipo de turismo objetiva construir um modelo mais justo e eqüitativo de turismo, que leve em conta a sustentabilidade ambiental colocando a população local no centro do planejamento, da implementação e do monitoramento das atividades turísticas permitindo a geração de emprego, trabalho e renda para a comunidade mudando o caráter global do turismo. Portanto, esse modelo de turismo se diferencia de outros por estabelecer novos parâmetros de desenvolvimento, aonde à participação da comunidade faz a diferença nesse tipo de turismo. Desse modo, a auto-gestão desses localidades trará benefícios que antes não eram visto por eles, ou seja, a comunidade, consciente de seus direitos, tem na luta pela posse da terra uma questão de sobrevivência (MENDONÇA; IRVING, 2004, p.18). Sendo assim esse modelo de turismo está atrelado ao desenvolvimento local em que o protagonismo das comunidades locais pode se efetivar sob uma grande variedade de formas de livres associações por cooperativas, associações, joint ventures, empreendimentos comunitários ou micros, pequenos e médios empresários locais. (BARTHOLO; BURSZTYN; SANSOLO, 2009, p.87). Dessa forma o turismo de base comunitária se torna diferentes dos demais, pois a cooperação de todos no processo, propicia à qualidade de vida e autonomia as populações, tornando o desenvolvimento mais sustentável. a 6

2. Turismo de base comunitária: uma experiência através do Projeto Cooperativa de Ecoturismo Comunitário de Curuçá O município de Curuçá fica localizado na região nordeste do estado do Pará, nele esta Inserida a Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, o município faz limite, ao norte, com o Oceano Atlântico; a leste, com Marapanim; ao sul, com Terra Alta; e a oeste, com São Caetano de Odivelas e São João da Ponta. Na região existem duas unidades de conservação, a APA de Algodoal (estadual) e a Resex de Maracanã. Localizada na Costa Amazônica, a Reserva Extrativista Resex Mãe Grande de Curuçá, de âmbito federal, tem sua principal atividade extrativista a pesca, sendo que outras atividades estão sendo trabalhadas pela população local, nesse sentido destacam-se o Ecoturismo de base comunitária, uma atividade que vem complementar as demais. O município que tem um dos maiores manguezais do planeta, a biodiversidade e a cultura são patrimônios que precisam ser conservados, foi nessa perspectiva que surgiu o Projeto Ecoturismo de base comunitária, que tem como proponente o Instituto Peabiru com missão de gerar valores para a conservação da biosociodiversidade da Amazônia. Após o término de um projeto chamado Casa da Virada idealizado pelo instituo Peabiru, surgi o Instituto Tapiaim uma iniciativa dos alunos da comunidade, onde promovem encontros para leituras, discussões e organização de visitas dos grupos que estão recebendo. Nesse contexto o modelo desenvolvido idealizado pela comunidade que tem como propósito resguardar o patrimônio, visando o bem esta de todos. Segundo Irving e Mendonça (2004, p. 18) esse Modelo vem contribuído com a preservação da identidade cultural de sua população, pois: 7

A história da comunidade através do exercício da participação, de seu modelo de organização e gestão local, de sua história de resistência (ausência de empreendedores externos, com a oferta de acomodações em pousadas comunitárias), a convivência com o cotidiano da comunidade, a relação com a pesca, a tranqüilidade do local e a forma de vida simples têm sido os principais fatores diferenciais, comparativos e de atratividade da hospitalidade deste destino turístico. Tais fatores contribuem para que o Ecoturismo de base comunitária seja uma alternativa de desenvolvimento local. Nessa perspectiva a Cooperativa de Ecoturismo de Base Comunitária foi criada para dinamizar essa atividade, dessa forma o capital social é gerido por todos. Ou seja, todos tem a responsabilidade e comprometimento com a gestão da sua localidade, a construção desse modelo, considerado "socialmente responsável", ou seja, de base comunitária, é o resultado de um processo de conscientização da comunidade, que parte da valorização de seu local de moradia. Irving e Mendonça (2004, p. 19). Cabe ressaltar que durante os roteiros, é realizado lanches, uma refeição na praia, nas barracas de pesca, feita de modo tradicional, pela comunidade permitindo promover a gastronomia local. Também é possível visitar casas de farinhas e comunidades organizadas por associações, nas quais, em conversas informais, os participantes contam como se organizam, dando ênfase ao conceito de capital social onde o lucro é de todos, além do que a relação de proximidade fortalece a ideia de amizade entre o visitante e o visitado. O artesanato e as manifestações culturais são parte importante nesse processo, pois a parti desses elementos de identificação, os roteiros de expressão da cultural local, valoriza o que há de bom no município. A implantação do projeto a parti de outros projetos viabilizou na atividade turística, um complemento de renda, no qual os próprios moradores são responsáveis em elaborar os roteiros, sendo que o Instituto Peabiru está sempre divulgando e apoiando o Instituto Tapiaim em suas atividades, existe também uma operadora de turismo de base comunitária que trabalha em parceria com o instituto, oferecendo seus pacotes no mercado. O Instituto Tapiaim é um exemplo de TBC, que visa o bem coletivo da comunidade, sendo que falta a presença do poder público com o apoio a infra estrutura no local, pois só será possível um turismo de qualidade quando houver um trabalho conjunto entre a comunidade e o poder público, sendo que a comunidade caminhar com seus próprios recursos. Conclusões O turismo de base comunitária é uma modalidade de turismo que vem aos poucos se consolidando em cenário nacional, estimulando discussões e produções de profissionais que o identificam como uma possibilidade de inclusão social e desenvolvimento local de comunidades até 8

então relegadas por outras práticas de turismo. Diante disso, o TBC, visto como uma possibilidade de desenvolvimento local, promove a inclusão dos atores sociais no processo, estimulando a sustentabilidade da sua localidade, uma vez que ao se ter a comunidade envolvida, a responsabilidade com o seu patrimônio natural e cultural aumentam, permitindo desta forma a durabilidade da atividade, bem como a maximização dos benefícios a localidade. Diante de tantas experiências de TBC, o município de Curuçá aponta para esse exemplo de desenvolvimento local. Esse primeiro momento da pesquisa, apontou que o TBC desenvolvido na cidade de Curuçá através do Instituto Tapiaim, é uma atividade que tem sido planejada em parceria com a população local, transformando a realidade da localidade uma vez que é uma atividade de conhecimento e conservação do seu patrimônio e como forma de geração de renda para a população. Os resultados obtidos até esta fase da pesquisa ainda apontam que a comunidade esta preparada para receber o turista, pois como foi dito o roteiro é elaborado por jovens da comunidade, sendo um dos diferenciais desse exemplo de TBC, aliando a atividade com a educação dos jovens comprometidos em conservar seus patrimônios. Portanto, observou-se que a atividade turística consciente esta aliada ao desenvolvimento local do município de Curuçá. Nessa fase da pesquisa, o estudo ainda aponta que o Instituto Tapiaim esta muito bem direcionado nesse modelo, sendo que ainda a falta de subsídios da administração pública, dando ênfase ao suporte a infraestrutura do local. Dessa forma, o ecoturismo de base comunitária de Curuçá tem a chance de possibilitar a experiência de troca de valores entre quem visita e é visitado, além do que, o modelo implantado esta nos conceitos de TBC reforçando o desenvolvimento local. Referências BARTHOLO, Roberto. Sobre o sentido da proximidade: implicações para um turismo situado de base comunitária. In: BARTHOLO, R; BURSZTYN, I; SANSOLO, D. Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Letra e Imagem, 2009. BORDENAVE, J. R. Díaz. O que é participação. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994 (Coleção Primeiros Passos). BURSZTYN, I; BARTHOLO, R; DELAMARO, M. Turismo para quem? Sobre caminhos de desenvolvimento e alternativas para o turismo no Brasil. In: BARTHOLO, R; BURSZTYN, I; SANSOLO, D. Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Letra e Imagem, 2009. CARVALHO, Vininha. F. O Turismo Comunitário como instrumento de desenvolvimento sustentável. 2007. Disponível em: <http://www.revistaecotour.com.br/novo/home/default.asp?tipo=noticia&id=1759]>. Acesso em: 9 mar. 2012. CORIOLANO, L. N. M. T. Os limites do desenvolvimento e do turismo. In:. O Turismo de inclusão e o desenvolvimento local. Fortaleza: FUNECE, 2003. p. 13-27. MATTOS, Flávia Ferreira. Ecoturismo e inclusão social na Resex Marinha do Delta do Parnaíba (MA/PI): tendências, expectativas e possibilidades. In: BARTHOLO, R; BURSZTYN, I; SANSOLO, D. Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Letra e Imagem, 2009. IRVING, M. A. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária In: BARTHOLO, R; BURSZTYN, I; SANSOLO, D. Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiências brasileiras. Letra e Imagem, 9

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