Revista Brasileira de Geografia Física
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- Victor Raminhos Figueiroa
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1 ISSN: Revista Brasileira de Geografia Física Homepage: Heterogeneidade da rugosidade em terrenos complexos e implicações para o aproveitamento eólico Thiago Lobão Cordeiro¹; Arcilan Trevenzoli Assireu²; Nandamudi Lankalapalli Vijaykumar³; Ramon Moraes de Freitas 4 ; Reinaldo Roberto Rosa³ ¹ Discente do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos UNIFEI, Itajubá-MG. thiagolc21@gmail.com; ² Prof. do Inst. de Recursos Naturais UNIFEI. assireu@gmail.com; ³ Prof. do Laboratório Associado de Computação e Matemática Aplicada INPE, São José dos Campos-SP. vijay.nl@inpe.br, rrrosa.inpe@gmail.com; 4 Pesquisador da Camargo Schubert Engenharia Eólica C&S, Curitiba-PR. aeroramon@gmail.com. Artigo recebido em 08/12/2015 e aceito em 30/04/2016 R E S U M O A demanda para a produção de energia renovável e de baixo impacto ambiental cresce a cada ano e, com isso, há também o aumento do interesse em turbinas eólicas de pequena escala a serem instaladas em relevos complexos que inclui áreas onde montanhas afetam o padrão de vento, como em grandes sistemas aquáticos localizados em regiões de planaltos. A influência da complexidade do relevo e da intensidade de turbulência foi investigada pela aplicação do método de Análise por Padrões de Gradientes em um modelo digital de elevação e uma série de dados histórica da direção e velocidade do vento. Os resultados indicaram que os padrões de fluxos são extremamente complexos e variam significativamente dependendo da direção do fluxo em sentido contrário. Esta variabilidade também torna difícil definir um plano zero de deslocamento ou um comprimento de rugosidade para um determinado ponto de medição, o que compromete a utilização do modelo de extrapolação vertical do vento baseado no coeficiente de rugosidade fixo. Palavras-chave: GPA. Rugosidade do relevo. Aproveitamento eólico. Heterogeneity of roughness in complex terrains and implications for wind power A B S T R A C T As the demand for environmentally friendly energy production grows, there is also an increased interest in small scale wind turbines located in more complex relief that includes areas where mountains affect the wind pattern, as in large inland aquatic system localized close to hills. Influence of complex relief on the turbulence intensity was investigated by means of time series of the wind direction and speed and digital elevation model. The results indicated that the flow patterns are highly complex and vary significantly depending on the direction of the oncoming flow. This variability also makes it difficult to define a general zero plane displacement height or a roughness length for a certain measuring point. The resulting consequence for the usual one-dimensional wind profiles models are then pointed out. Keywords: GPA. Roughness of the relief. Wind power. Introdução Para que se possa descrever, modelar e prever o comportamento do vento e da turbulência em diferentes escalas é de fundamental importância o conhecimento a respeito das características aerodinâmicas que está intimamente associado às condições morfométricas locais, em especial em regiões de relevo complexo. Um relevo plano influencia os níveis de turbulência ao longo do perfil vertical do vento em menor grau do que formas de relevo mais complexas, como por exemplo, depressões e terrenos montanhosos (ManwelL, 2009). Essa influência da superfície atuando como sumidouro de momentum do vento é denominado rugosidade do terreno, parametrizado pelo comprimento da rugosidade (z 0 ), formalmente caracterizado como a altura a partir do solo onde a velocidade do vento é igual a zero (Martins et al., 2008). O conhecimento das características aerodinâmicas locais é fundamental para descrever a dispersão de poluentes (Formenti et al., 2001), o conforto térmico em grandes cidades (Grimmond e Oke, 1999) e de igual importância para o aproveitamento eólico (Assireu et al., 2011). 546
2 O aproveitamento eólico, sobretudo na porção continental, tem se concentrado em extensas áreas planas, onde o tipo de cobertura da superfície é o que influencia o escoamento do vento. Desta forma, a rugosidade da superfície, quantificada a partir de métodos Morfométricos (Manwell, 2009; Wieringa, 1993) e baseados em perfis de vento medidos a partir de torres meteorológicas, conhecido como método Micrometeorológico (Colin e Fraive, 2010), são adequados para a quantificação das influências do terreno no escoamento superficial do vento. Enquanto métodos morfométricos (Geométricos) buscam relacionar parâmetros aerodinâmicos com parâmetros associados à morfometria superficial, ou seja, ao tipo de cobertura da superfície, métodos micrometeorológicos (Anemométricos) usam observações de vento ou turbulência para determinar parâmetros aerodinâmicos, nas quais são incluídas relações teóricas derivadas de perfis logarítmicos de vento (Grimmond e Oke, 1999). Porém, a mensuração destes parâmetros de rugosidade é considerada difícil e desprovida de consenso metodológico. Isto, somado ao fato de que em áreas de relevo complexo, tais como as tipicamente encontradas no entorno dos reservatórios situados em regiões de planalto, faz com que os parâmetros morfométricos do relevo sejam dominantes para o escoamento do vento em detrimento ao tipo de cobertura. Desde a década de 60 tem havido interesse pela quantificação da rugosidade do relevo (HOBSON, 1967; STONE e DUGUNDJI, 1965), sendo diversos os métodos para calcular sua rugosidade, bem como também suas definições e aplicações. Grohmann (2008) apresenta diferentes abordagens feitas ao estudo da rugosidade do relevo em Geociências, com métodos baseados em curvas de nível, razão de áreas, orientação de vetores, dispersão de valores, análise de Fourier, geoestatística, análise de imagens e em dimensão fractal. Sampaio (2008) propõe uma metodologia para quantificar a rugosidade do relevo com base em imagens SRTM, chamado de Índice de Concentração de Rugosidade (ICR) do relevo, no qual, através do atributo de declividade derivado das informações presentes na imagem SRTM, é aplicado o estimador geoestatístico de densidade por Kernel, na tentativa de identificar unidades homogêneas do relevo. Alguns estudos foram realizados ao possuir como base o ICR, atingindo resultados satisfatórios na caracterização de unidades geomorfológicas (Nascimento et al., 2010; Silveira et al., 2012; Sampaio e Augustin, 2014). Em terrenos complexos, onde a variabiliade do terreno se apresenta em diferentes escalas, métodos de reconhecimento de padrão apresentam grande potencial enquanto quantificadores da rugosidade do relevo representados em Modelos Digitais de Elevação (MDE). Assireu et al. (2004) utilizaram uma técnica baseada no coeficiente de Assimetria Gradiente (G 1A ) através do método de Análise dos Padrões do campo Gradiente (Gradient Pattern Analysis GPA), que se mostrou eficiente para quantificar o nível de complexidade do entorno dos reservatórios. O GPA caracteriza padrões de variabilidade e tem sido utilizado como método na caracterização de regimes complexos em diversos estudos (maiores detalhes vide Rosa et al., 1999 e Assireu et al., 2002). Desenvolvido para caracterizar turbulência em sistemas de plasma (Rosa et al., 1998), o método também foi utilizado para analisar séries temporais de dados de derivadores lançados no oceano (Assireu et al., 2002), na caracterização de controles geomorfológicos que afetam reservatórios hidroelétricos (Assireu et al., 2004), na caracterização de padrões de estrutura porosa de silício (Baroni et al., 2006), na caracterização e detecção de desflorestamento na Amazônia (Freitas, 2007) e na análise de séries temporais meteolimnológicas de um reservatório tropical (Valério et al., 2012). Em trabalho recente, Freitas (2012) apresentou um aperfeiçoamento no cálculo do coeficiente G 1A, ao deixa-lo mais simples e computacionalmente mais rápido. A turbulência no escoamento do vento é uma variação da velocidade do vento em uma determinada escala de tempo que pode ocorrer através do atrito com a superfície terrestre (relevo e cobertura do solo) ou por efeitos térmicos resultantes das diferenças de temperatura (movimento de células convectivas), geralmente ambos estão interligados. Visto que a turbulência se apresenta de forma irregular, torna-se necessário recorrer a técnicas estatísticas para descrever e analisar tais perturbações ocorridas no escoamento do vento. O modo mais comum é através do cálculo da Intensidade de Turbulência (IT). Tendo em vista investigar a influência do relevo para o escoamento do vento em terrenos complexos, foi aplicado sobre o MDE/SRTM o método de reconhecimento de padrão, baseado no coeficiente de Assimetria Gradiente (G 1A ), e a consequente resposta do vento foi diagnosticada a partir da IT ao longo da rosa dos ventos. Ressalta-se a importância de mais um campo de aplicação do método GPA, desenvolvido por Rosa et al. (1998), ao possuir como base MDEs SRTM. O trabalho é também motivado pela possibilidade de implementação de parques eólicos em reservatórios de hidroelétricas, onde, segundo 547
3 Assireu et al. (2011) e Pimenta e Assireu (2015), apresenta um perfil de complementaridade para a geração de energia, viabilizando a economia de água no reservatório e melhorando a garantia de energia em períodos de seca e de possíveis cenários de mudança climática. Material e métodos Área de estudo A área de estudo contempla o Reservatório Hidrelétrico de Itumbiara (UHE Itumbiara) e seu entorno. Está localizado sob a coordenada 18º 25 S e 49º 06 W, na divisa dos estados de Minas Gerais e Goiás entre os municípios de Araporã (MG), no Triângulo Mineiro, e Itumbiara (GO) (Figura 1). hidrelétricas dispostos em cascata ao longo de todo o curso do rio Parnaíba e, posteriormente, no rio Paraná, na união com o rio Grande, na divisa dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, sendo uma região do país de elevado potencial hidrelétrico. O bioma no qual a área de estudo está inserida é o cerrado, caracterizado como uma formação do tipo savana tropical de acentuada sazonalidade e antropismo, composto por um complexo vegetacional com formações campestres, savânicas e florestais (Sano et al., 2007). Conforme a classificação de Köppen, o clima na região se caracteriza por um regime tropical com dois períodos bem definidos, uma estação seca entre os meses de abril e setembro e uma estação chuvosa que se estende de outubro a março, com precipitação média mensal de 2 mm no período de seca e 315 mm no período chuvoso (Curtarelli, 2012). A velocidade média do vento varia entre 1,6 e 2,0 m/s na estação chuvosa e chega a 3,0 m/s na estação seca, com direção do vento preferencialmente do setor sudeste (Alcântara et al., 2010; Amarante et al., 2010). O relevo da região é caracterizado pela presença de planaltos com escarpas e planícies (Ab saber, 2003), a altitude da área de estudo varia de 435 m a 920 m. Figura 1 Localização da área em estudo. A escolha do reservatório da UHE Itumbiara ocorreu em função de sua importância na geração de energia elétrica, se destacando no conjunto dos grandes reservatórios situados no país, além da disponibilidade de uma base de dados sólida adquiridas in situ; também por apresentar características de relevo típicas, encontradas em outros reservatórios de planalto, como forma alongada e relevo disposto ao longo do eixo principal. O reservatório de Itumbiara foi formado pelo represamento do Rio Parnaíba, inundando também parte dos seus dois principais afluentes, o rio Corumbá (GO) e o rio Araguari (MG). Possui forma dendrítica, com 778 km² de área inundada e 17 bilhões de m³ de volume de água (FURNAS, 2014). O período de enchente vai de Novembro a Maio e o de vazante de Junho a Outubro, com variações no nível d água de até 10m ao longo do ano (Curtarelli, 2012). A UHE de Itumbiara é a maior usina em capacidade de geração de energia do Sistema Furnas, com capacidade instalada de MW em operação desde 1980 (FURNAS, 2014). Está localizada no trecho da bacia do rio Parnaíba, classificado como Médio Parnaíba, integrando um sistema de usinas Dados de vento medidos no reservatório de Itumbiara Os dados de intensidade e direção do vento correspondem ao período entre 01 de Março de 2010 a 28 de Fevereiro de 2011 para a boia SIMA 2 e entre 27 de Abril de 2010 a 28 de Fevereiro de 2011 para a boia SIMA 3, adquiridos a cada 1h através do Sistema Integrado de Monitoramento Ambiental (SIMA). O SIMA é um sistema automático de coleta de dados e monitoramento de sistemas hidrológicos, composto por uma boia toroidal ancorada e instrumentada com sensores meteorológicos e limnológicos (STECH et al., 2006). No reservatório da UHE de Itumbiara, existem duas boias SIMA fundeadas em pontos distintos, a boia SIMA 2 encontra-se mais próxima a barragem do reservatório e a boia SIMA 3 no interior do reservatório próxima a antiga desembocadura do rio Corumbá. Imagem SRTM Foi adquirida a versão 4 das imagens SRTM (JARVIS et al., 2008) correspondente a cena 27/16. No mosaico disponibilizado pelo CGIAR Consortium for Spatial Information (CGIAR-CSI) sob o domínio srtm.csi.cgiar.org/. As imagens SRTM possuem projeção Geográfica (Lat/Lon), com datum horizontal WGS84 e vertical EGM96, adquiridas em formato TIFF (.tif). 548
4 Os valores de altitude podem ser obtidos de formas distintas, entre as quais, por meio de imagens de sensores orbitais. Destacam-se os dados SRTM (Shutle Radar Topography Mission), com resolução espacial de 3 arco-segundos (aprox.. 90m na linha do equador) (Jarvis et al., 2008), disponibilidade gratuita, de fácil manipulação, cobertura quase global e também por apresentar melhores resultados quanto a sua precisão cartográfica (Chagas et al., 2010; Miceli et al., 2011). mesma borda e números iguais de vetores assimétricos, os valores de G 1A serão os mesmos. Na tentativa de eliminar ou pelo menos minimizar a influencia da borda no resultado do G 1A, este autor propõe a utilização do coeficiente G 1A em submatrizes de 3x3 elementos analisando, desta forma, a distribuição do G 1A na escala mais fina possível. Esta última versão do operador foi utilizada no presente trabalho. O método GPA aplicado ao MDE O método GPA consiste do principio de que a complexidade de um padrão espacial é caracterizada pela sua falta de simetria e grau de fragmentação (Assireu et al., 2004). Para caracterizar a falta de simetria e o grau de fragmentação é utilizado o operador de Fragmentação Assimétrica (FA), denominado de coeficiente de Assimetria Gradiente (G 1A ) (Rosa et al., 2003). Essa técnica consiste em gerar campos vetoriais, a partir de matrizes numéricas, após a remoção dos vetores simétricos e consideração apenas dos vetores assimétricos (Figura 2) (Rosa et al., 1999). Figura 2 Vetores do campo de gradiente. A Figura 2 traz o número de vetores do campo gradiente representada pela letra V e o número de vetores assimétricos pela letra L. A simples comparação entre V e L não permite distinguir a complexidade presente em cada matriz. Deste modo, Rosa et al. (1999) demonstram a necessidade de uma operação para distinguir estas matrizes, conectando os pontos resultantes dos vetores assimétricos, através da Triangulação de Delaunay (Berg et al., 2008) (Figura 3). Portanto, I representa o número de conexões geradas pela triangulação de Delaunay, sendo diretamente proporcional ao nível de desordem Figura 3 Triangulacão de Delaunay. espacial do campo gradiente, ou seja, quanto maior o número de I, maior é a complexidade da matriz em Para cada boia SIMA (2 e 3), foi elaborado análise. A medida de assimetria que define o um recorte no MDE/SRTM de 125 Linhas (L) x 125 parâmetro G 1A é a diferença de I L normalizada por Colunas (C), com as respectivas boias centralizadas L, representada por: no recorte, ou seja, o pixel central de cada recorte corresponde a localização das boias SIMA. O G 1A = (I L) (I L > 0) (1) cálculo do G 1A foi realizado em janelas moveis de L 3x3 (sub-marizes), onde, para cada janela, foi obtido um valor de G Freitas (2012) apresenta uma forma mais 1A, a resultar em uma imagem referente a cada recorte, em que os valores presentes simples e computacionalmente mais rápida de nos pixels correspondem aos valores do G calcular o coeficiente G 1A, mencionando a não 1A. A partir disto, foi possível classificar a imagem em três obrigatoriedade de realizar a triangulação. Segundo classes de Assimetria Baixa, Média e Alta o autor, o fato de existir uma relação do envelope convexo com o número de conexões da triangulação conforme um range de valores possíveis do G 1A na de Delaunay, dispensa a necessidade de realizar a escala 3x3 demonstrado na Tabela 1. triangulação. O supracitado autor ressalta que em Os valores de G 1A iguais ou próximos de zero duas matrizes com núcleos distintos, mas com a apresentam uma série de dados homogênea, simétrica. O aumento dos valores de G 1A iguais ou 549
5 maiores do que 1,0 (um) reflete a complexidade da série de dados analisada, caracterizada pela quebra de simetria do campo gradiente. Quanto maior forem as variações dos valores presentes na matriz de análise, no caso valores de altitude, mais assimétrica será essa matriz, refletida em variações constantes de cotas de altitude e consequentemente maior complexidade do relevo em questão. A intensidade de turbulência (IT) É a medida básica para mensurar turbulência no escoamento do vento. É definida pela razão entre o desvio padrão da velocidade do vento e a velocidade média do vento, conforme equação 2: IT = σ u U (2) Em que σ u é o desvio padrão da velocidade do vento e U a média da velocidade do vento (ManwelL, 2009). Os valores do desvio padrão e velocidade média do vento foram calculados em um período de tempo de uma hora, embora o ideal fosse a cada 10 minutos, impossível aqui por conta do intervalo amostral dos dados. Apesar disso, os valores de IT apresentados em forma de um gráfico polar, tem a capacidade de indicar a direção na qual o vento se apresenta mais turbulento, com isso cria-se condições para relacionar com os setores de maior ou menor concentração das classes de Alta, Média ou Baixa Assimetria indicadas pela imagem classificada dos valores de G 1A para cada estação anemométrica estudada. Para elaborar o gráfico polar foi encontrada a direção predominante do vento para cada dia de dados analisado, com isso foi associado a IT daquele dia a direção predominante do vento para o mesmo dia em questão, fazendo com que o gráfico polar de IT siga o preceito da rosa dos ventos, onde cada ponto presente está associado a uma direção cardeal. Resultados e discussão Quantificação da rugosidade A classificação das imagens resultantes dos valores do G 1A para o recorte das áreas referente às boias SIMA 2 e 3, são apresentadas nas Figuras 4 e 5, respectivamente, onde a classificação em baixa, média e alta assimetria segue a Tabela 1. Na classe de Baixa Assimetria, apesar do agrupamento de alguns valores do G 1A, a frequência do G 1A nulo (igual à zero) foi de 99% para os dois recortes referentes às boias SIMA. Sendo assim, praticamente tudo o que aparece classificado nas imagens das Figuras 4 e 5, referente à classe de Baixa Assimetria, corresponde ao valor nulo do G 1A, ou seja, regiões de complexidade nula, simétricas. A Tabela 2 apresenta a frequência dos valores do G 1A para cada recorte. Tabela 1 Classes de assimetria com base nos valores possíveis de G 1A na escala 3x3 conforme, Freitas (2012). G1A 3X3 0,0000 0,4000 0,5714 0,6000 0,7143 0,7778 0,8000 MÉDIA 0,8571 0,8889 1,0000 1,1111 1,1429 ALTA 1,2222 1,3333 Classes de Assimetria BAIXA Tabela 2 Frequência dos valores do G 1A em escala 3x3 referente as boias SIMA 2 e 3. SIMA2 SIMA3 Contagem Contagem G1A3x3 % % Classe (pixels ) (pixels ) 0, , ,10 0, ,01 0 0,00 0, ,01 3 0,04 0, ,03 0 0,00 0, ,04 3 0,04 0, ,01 44,48 0 0,00 0, ,10 3 0,04 0, ,01 0 0,00 0, , ,12 0, ,01 2 0,02 0, , ,64 0, , ,37 0, , ,75 0, ,14 13,86 1 0,04 0, , ,12 0, , ,72 1, , ,74 1, , ,07 1, ,76 41, ,66 1, , ,53 % % Classe 52,73 15,16 32,11 Classes de Assimetria Baixa Média Áreas de baixa assimetria correspondem a relevos menos rugosos, de baixa complexidade e, consequentemente, menor variação das cotas de altitude. Tais condições, em termos de aproveitamento eólico, apresentam potencial reduzido para causar turbulência no escoamento superficial do vento quando comparados a áreas de alta assimetria, com variações elevadas e constantes das cotas de altitude. Nas imagens classificadas observam-se áreas com baixa assimetria fora do limite do lago. Nas imagens SRTM, corpos d água de proporção equivalente ou maior a resolução do pixel de aproximadamente 90m, são representados por um único valor de cota de altitude, interpretado como baixa ou nula assimetria pelos operadores do G 1A. A captura de áreas no entorno do reservatório com os Alta 550
6 mesmos valores do G 1A para os corpos d água, água) foi mais determinante para o regime dos evidencia um importante resultado no uso do método ventos do que as direções e intensidades GPA para a análise da complexidade de matrizes predominantes do vento. representativas do relevo. Com o método demonstrou-se ser possível à identificação de áreas de baixa complexidade em locais onde a simples inspeção visual do MDE não possibilita tal identificação. O método mostrou-se mais sensível e robusto na identificação de áreas de baixa complexidade e, consequentemente, menor rugosidade do relevo devido à baixa variação das cotas de altitude. O ganho principal está mais na identificação destas áreas de baixa complexidade do que na identificação de áreas de alta complexidade, devido justamente a sensibilidade presente no método GPA frente aos dados do MDE SRTM. Os valores utilizados na elaboração das classes de assimetria foram definidos por Freitas (2012), com base em matrizes canônicas. Quando Figura 4 Intensidade de turbulência SIMA 1. aplicado a dados correspondentes de elementos reais provenientes da aleatoriedade da natureza, como são as matrizes representativas do relevo, oriundas das imagens SRTM, resulta em aumento das variações dos valores na matriz de análise, colaborando para o resultado de valores altos do G 1A. Neste caso, fica evidente o nível de complexidade dos valores presentes nas matrizes analisadas, mesmo que na menor janela de análise possível (3x3). Este fato é o principal responsável pela grande cobertura da classe de Alta assimetria, correspondente aos maiores valores possível do G 1A encontrados na escala 3x3. Deste modo, a melhor forma de análise e ganho real está na observação das áreas classificadas como de Baixa assimetria, na associação destas áreas Figura 5 Intensidade de turbulência SINA 2. com relevos menos complexos, de menor rugosidade. Devido ao comportamento isotrópico A isotropia apresentada pelos gráficos de apresentado nos gráficos polares para ambas as boias Intensidade de Turbulência (IT) para as duas boias SIMA, a comparação da IT com o mapa de classes SIMA (2 e 3) (Figura 4 e 5, respectivamente). É resultante dos valores do G 1A fica prejudicado ao explicada pelo fato de que as boias encontram-se ponto de se chegar a conclusões elementares. Mas fundeadas dentro do lago do reservatório, a uma ainda assim, estabelece indícios de convergência distância considerável das margens (~ 1km). Este entre as direções com as maiores IT e as áreas com regime de baixa assimetria no entorno destes pontos as maiores concentrações de classe de média e alta equivalem à homogeneidade espacial dos assimetria, ou seja, regiões de maior complexidade coeficientes de rugosiade, o que resultou na esperada do relevo. isotropia confirmada nas Figuras (4 e 5). As rosas dos ventos (Figuras 4 e 5) indica a Implicações para os modelos de extrapolação predominância absoluta dos ventos de direção leste, vertical do vento associado ao alinhamento ao longo do eixo principal As análises discutidas acima, aplicadas a de convergência do vento proporcionada por casos onde o terreno no entorno do anemômetro condições orográficas favoráveis. Apesar disso, os apresenta grande complexidade topográfica (Figura níveis de turbulência para as diferentes direções 6), resultou em anisotropia refletida no IT (Figura 6). mantiveram-se isotrópico, conforme mostrado nas Em termos práticos, no contexto de escoamento do referidas Figuras. Este fato indica que a rugosidade vento, significa que o vento interagirá de forma do entorno (neste caso, baixa rugosidade associada à diferente com o relevo dependentemente da direção 551
7 de onde sopra. Isto tem implicações para os modelos de extrapolação vertical do vento, conforme será discutido a seguir. A escassez de torres anemométricas, com medidas em diferentes alturas tem como alternativa a utilização de modelos teóricos para estimativas do perfil do vento a partir de medidas realizadas próximas a superfície, por estações meteorológicas convencionais. Um modelo simples e amplamente utilizado é o perfil logarítmico dado por (Manwell et al., 2009). u(z) = u k [ln ( z z 0 )] (3) Onde a velocidade do vento u na altura z é determinada pela velocidade de atrito u, e pelo comprimento de rugosidade aerodinâmico z 0. Neste caso, k denota a constante de von Karman (tomado como 0,4). Assim, se a velocidade do vento é conhecida a uma altura, o perfil de velocidade vertical do vento é determinado a partir de z 0. Note que, ao contrário do que foi observado para as medidas de vento realizadas no ambiente aquático, marcada por baixa assimetria de cotas no entorno, e onde z 0 poderia ser assumido homogêneo, a consideração de valores constantes de z 0 na Equação 3, para o caso da Figura 6, levaria a erros nas estimativas do perfil vertical da velocidade do vento. Assim, no caso exemplificado pela Figura 6, a heterogeneidade do relevo e a isotropia verificada nos valores de IT indicam que nestes terrenos, a Equação (3) deveria ser acrescida de um termo que leve em conta a dependência do coeficiente de rugosidade (z 0 ) com a direção do vento (θ), o que resultaria em u(z, θ). Figura 6 Heterogeneidade do relevo e a isotropia. Conclusões As análises baseadas no Índice de Turbulência em conjunto com os operadores morfométricos aqui utilizados, aplicados sobre dados de vento medidos no reservatório, indicaram um campo isotrópico, o que indica que na parte central dos reservatórios as perturbações dos ventos devido ao relevo adjacente são minimizadas. Em contrapartida, ao se considerar medidas de vento realizadas em terreno com pronunciada assimetria, tendo-se como referência a posição do anemômetro, conclui-se que a anisotropia de rugosidade, que equivale a não homogeneidade no coeficiente de rugosidade (z 0 ), compromete a utilização do modelo de extrapolação vertical do vento baseado em (z 0 ) fixo. Sugere-se como trabalho futuro a utilização dos dados SRTM com resolução de 30m, disponível a partir do início de Recomenda-se a análise sazonal do vento para o cálculo da IT, ao possibilitar observar as possíveis diferenças no comportamento do vento durante a noite e o dia para a área de estudos. Agradecimentos O primeiro autor agradece ao apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através da concessão de bolsa de estudo e ao Programa de Pós- Graduação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos (MEMARH/UNIFEI). Os autores agradecem ao apoio institucional da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Referências Ab sáber, A. N Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 159 p. Alcântara, E. H.; Stech, J. L.; Lorenzzetti, J. A.; Bonnet, M. P.; Casamitjana, X.; Assireu, A. T.; Novo, E. M. L. M Remote sensing of water surface temperature and heat flux over a tropical hydroelectric reservoir. Remote Sensing of Environment 114, Amarante, O. A. C. Do; Da Silva, F. De J. L.; De Andrade, P. E. P Atlas eólico: Minas Gerais. Cemig. Assireu, A. T.; Rosa, R. R.; Lorenzzetti, J. A.; Vijaykumar, N. L.; Rempel, E. L.; Ramos, F. M.; Sá, L. D. A.; Bolzan, M. J. A.; Zanandrea, A Gradient pattern analysis of short nonstationary time series: an application to Lagrangian data from satellite tracked drifters. International Journal of Modern Physica D, Assireu, A. T.; Lorenzzetti, J. A.; Novo, E. M. L. M.; Stech, J. L.; Braga, C. Z. F.; Lima, I. B. T Aplicação do Operador de Fragmentação Assimétrica (FA) na caracterização de controles geomorfológicos em reservatórios hidroelétricos. Revista Brasileira de Geociências 32, , Assireu, A. T.; Pimenta, F.; Souza, V Assessment of the wind power potential of hydroelectric reservoir. In: Enner H. Alcântara. 552
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42,6 42,0 43,0 40,0 40,3 29,0 30,1 23,4 28,7 27,7 19,5 29,4 23,1 20,5
% Armazenamento 1.1 ARMAZENAMENTO HISTÓRICO DO SISTEMA INTEGRADO NACIONAL 100 60 40 20 56,8 55,7 54,8 53,5 50,2 42,3 42,9 38,5 40,4 42,6 42,0 43,0 40,0 34,9 37,0 38,1 40,3 34,4 35,7 29,0 30,1 32,3 23,4
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