FONTES LITERÁRIAS COMO MEMÓRIA CULTURAL NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE
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- Giovanna Mendonça Meneses
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1 FONTES LITERÁRIAS COMO MEMÓRIA CULTURAL NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Markley Florentino CARVALHO (FACALE- UFGD/Dourados M.S.) 1 RESUMO: A literatura e a memória cultural apontam para a interdisciplinaridade, a qual se concretiza no encontro do discurso literário e do discurso da memória e se torna uma fonte de pesquisa e de produção de saberes para a reconstrução da identidade de um sistema literário pluricultural. Sob um olhar comparatista, relacionado com a história da literatura, é possível refletir sobre o processo de releitura das fontes literárias a partir da perspectiva da heterogeneidade do sistema literário, pois no acervo da literatura se realizam as consignações das fontes literárias, das tendências críticas e dos discursos de um modo sistêmico, mas não hegemônico. E pensar acerca das especificidades locais e históricas da literatura para que a identidade pluricultural seja potencializada entre os sistemas literários de culturas centrais e periféricas. O discurso da literatura pode acontecer por meio de uma releitura dos textos literários sob a ótica da interrelação dos estudos literários e dos estudos culturais coexistentes no acervo da memória cultural. Para tanto, é necessário um olhar para o sistema da literatura por uma perspectiva histórica não-linear e pelos conceitos do limiar, ruptura, corte e transformações. A correlação da História da Literatura e da Literatura Comparada tem no aspecto da memória coletiva a possibilidade de um dispositivo de pesquisa e de socialização do conjunto de obras literárias. É preciso pensar nos acervos literários como patrimônios culturais, pelo viés do discurso da memória para uma reflexão histórica e comparatista sobre o sistema literário no contexto da globalização e da recontextualização da literatura a partir da produção de textos de uma determinada época, de um círculo literário de autores; de uma comunidade de leitores, e assim pode se tornar uma fonte de conhecimento dos registros literários e de descobertas acerca das inúmeras pesquisas a respeito da complexidade dos textos literários. PALAVRA-CHAVE:Acervo Literário; Pluriculturalidade; Memória Cultural. 1 Mestre em Letras do Programa de Pós-graduação em Letras. UFGD/Faculdade de Comunicação, Artes e Letras. markleycarvalho@gmail.com.
2 ABSTRACT: The literature and cultural memory point to interdisciplinarity, which is realized in the encounter of literary discourse and memory discourse and becomes a source of research and production of knowledge for the reconstruction of the identity of a multicultural literary system. Under a comparative look, related to the history of literature, it is possible to reflect on the reinterpretation process of literary sources from the perspective of the heterogeneity of the literary system, as in literature collection are carried out assignments of literary sources, the critical trends and speeches of a systemic way, but not hegemonic. And think about the local and historical specificities of literature for the multi-cultural identity is enhanced between the literary systems of central and peripheral cultures. The discourse of literature can happen through a re-reading of literary texts from the perspective of the interrelation of literary studies and cultural studies coexisting in the cultural memory collection. For that, you need a look at the literature system for a nonlinear historical perspective and the concepts of threshold, rupture, cut and transformations. The correlation of the History of Literature and Comparative Literature has the aspect of collective memory the possibility of a search device and socialization of the set of literary works. You have to think in literary collections as cultural heritage, the memory address of the bias for a historical and comparative reflection on the literary system in the context of globalization and literature recontextualisation from the production of texts from a particular time, a literary circle author; a community of readers, and so can become a source of knowledge of literary records and findings about the numerous studies about the complexity of literary texts. KEYWORD: Literary Collection; multiculturalism; Cultural memory.
3 INTRODUÇÃO O texto que segue aponta para a possiblidade de repensar as relações e conflitos acerca da pluriculturalidade 2 que formam o acervo de obras de um sistema literário. E, principalmente apontar que o estudo das fontes documentais pode propiciar as interrogações e os caminhos para a relevância do conhecimento das vozes plurais que formam a produção e crítica literária. Fazer uma leitura do sistema literário como um acervo da memória cultural da literatura proporciona a reflexão acerca da co-relação entre a História da Literatura e a Literatura Comparada com a possibilidade de refletir sobre a relação entre a literatura e a formação de identidades plurais, discutida por Evelina Hoisel: [...] o processo de releitura operado pela contemporaneidade que abala, a história instituída, impõe refigurações de culturas e formações identitárias, desvela os pressupostos etnocêntricos que edificaram a cultura européia como cultura de referência [...]. Afirma a pluralidade de histórias, de culturas, impõe outros critérios de filiação, de hereditariedade, desconstrói noções de fontes, influência, origem, através dos quais, a História Literária e a Literatura Comparada alicerçam as suas investigações [...] (HOISEL, 2001, p.78). Porém, quando se pensa nos registros dos textos literários e a sua representatividade no sistema literário brasileiro é necessário uma releitura em contraponto para também se pensar a respeito do texto-limite produzido sob a instância da colonização e que tanto foi debatido, do Modernismo ao Pós-modernismo, como circunstância de uma sociedade resultante do multiculturalismo. A releitura torna-se uma possibilidade para se enxergar no acervo da memória da literatura brasileira, a pluralidade presente na história da literatura. O ACERVO DA LITERATURA E A MEMÓRIA CULTURAL COMO FONTES DOS DISCURSOS E DA FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES PLURICULTURAIS Resende (2001, p. 83) estabelece que a construção do discurso crítico da literatura, precisa acontecer por uma revisão crítica das identidades pluriculturais 3 e das interrelações entre os estudos literários e os estudos culturais, pois esta pluralidade e 2 VIANNA NETO, A.R. Multiculturalismo e pluriculturalismo, In.: FIGUEIREDO, E. (org.). Conceitos de literatura. Juiz de Fora: UFJF, O autor define o pluriculturalismo a partir dos estudos multiculturalistas sob a perspectiva da construção do sujeito à teoria da identidade (inclusive gênero, relações interpessoais e reivindicações identitárias) e a concepção da realidade e do conhecimento, no âmbito de uma antropologia urbana. 3
4 essa interdisciplinaridade são coexistentes no acervo da literatura, ou seja, presentes no sistema literário através dos registros literários e da memória cultural. Portanto, um olhar significativo para a formação do sistema da literatura operado em tempos de pós-modernidade é possível a partir de uma perspectiva histórica nãolinear e operado sob os conceitos de rupturas e transformações. Assim, o discurso crítico do sistema literário representa um espaço de observações, interpretações e interrogações sobre a incidência das irrupções dos acontecimentos, dos deslocamentos e transformações (HOISEL, 2001, p.74). Além, dos registros das fontes literárias e históricas do sistema literário, outra possibilidade de observar a pluriculturalidade em relação à literatura pode ser por meio dos registros da memória coletiva 4 representativa do universo literário de uma sociedade ou de uma comunidade, com as suas marcas e influxos: a memória apóia-se sobre o passado vivido, o qual permite a constituição de uma narrativa sobre o passado do sujeito de forma viva e natural [...] (HALBWACHS, 2004, p.75). Verifica-se, também, no aspecto da memória coletiva, uma co-relação da História da Literatura e da Literatura Comparada que se torna um dispositivo de pesquisa e de socialização das obras literárias produzidas e/ ou lidas por certa sociedade ou por uma comunidade de leitores (as). Por isso, quando se fala da literatura na pós-modernidade, é necessário observar e pensar numa renegociação da memória, do patrimônio cultural (por meio dos acervos literários), entendendo o discurso da memória como grande sintoma cultural nas sociedades ocidentais (RESENDE, 2001, p.83). Além da reflexão histórica e comparatista acerca da literatura sob o contexto da globalização, se faz necessário a recontextualização do problema da literatura, perante a questão da tensão entre a homogeneização e a pluralidade cultural fazendo justiça a suas variantes locais e principalmente as suas complexas misturas geográficas e temporais, e para isto se recorre aos estudos focalizados nas questões de memória e direito humanos (HUYSSEN, 2002, p.17). O que reforça a importância do discurso da memória, como meio de pesquisa e valorização da presença das pluriculturalidades na literatura. O encontro do discurso da memória e a literatura proporciona o meio de resistência à homogeneização do sistema literário, assim como é um lugar para a socialização da produção e da crítica literária. Portanto, a partir de um acervo de textos literários produzidos em uma determinada época, em um círculo de autores, e os estudos acerca da recepção das obras em uma comunidade de leitores; pode se pensar em pesquisas e estudos acerca dos textos e registros literários abrindo caminhos para inúmeras propostas de novas pesquisas, por exemplo, estudos a respeito da complexidade de repetição, a reescrita, a bricolagem [...], a intertextualidade sugestiva, a imitação criativa, o poder de questionar hábitos enraizados por meio de estratégias narrativas [...] (HUYSSEN, 2002, p.30). Segundo Antelo, cabe no propósito de estudos literários e culturais, a formação de um discurso crítico pelo viés da memória cultural, representada por um acervo literário, com o fim de abranger as ações simbólicas unitárias ou pluralistas que cabem ao papel do multiculturalismo (ANTELO, 2002, p.157) na literatura brasileira, em conformidade com a literatura produzida pelo encontro das vozes interculturais, periféricas e centrais (étnicas, de gêneros, e de outros grupos). 4 HALBWACHS, M. A memória coletiva. S. Paulo: Centauro, 2004.
5 Portanto, o espaço da valorização e o próprio lugar da produção de saberes são intrínsecos à memória cultural e ao acervo literário. E tem na produção do texto e na crítica literária, o dispositivo que fomenta o discurso e o desenvolvimento da crítica cultural, sob a ótica da multiculturalidade brasileira, e por fim, da pluriculturalidade contemporânea embasada no intercâmbio das vozes e das identidades plurais. CONCLUSÃO A literatura e a memória cultural como um caminho para a interdisciplinaridade e o fomento do discurso literário e do discurso da memória contribuem para a reconstrução da identidade de um sistema literário pluricultural. No entanto, com o exercício da releitura do conjunto de obras literárias corre-se o risco (visto como perigo) de aproximação das literaturas, de lidar com uma perspectiva fora do eixo centro-periferia e com o plural de textos, críticas e vozes literárias que dinamizam o jogo intertextual da literatura contemporânea. Em contrapartida aos tempos da globalização e da idéia de homogeneização das culturas, há na literatura, a busca pela heterogeneidade, pela pluriculturalidade e a fragmentação das identidades locais, afirmando o afastamento da dicotomia centro e periferia. Partimos dos estudos do cânone para o estudo das margens e da memória literária, as vozes do discurso da memória literária passam a ser plurais e intercambiais. Atualmente, pode-se dizer que, os espaços de produção e de crítica literária estão no entre-lugar, na interdisciplinaridade e na busca por narrativas de memórias e registros literários de diferentes enunciados. A história literária configurada numa perspectiva nãolinear ganho novos espaços de diálogos entre os estudos literários e os estudos culturais, a literatura canônica passa a ser mais uma fonte dos registros literários a ser considerada, e não mais como referência única e significativa da produção literária e do discurso crítico de um grupo ou sociedade. Esses espaços da produção de saberes e da valorização da pluralidade presente na literatura e o próprio lugar são intrínsecos aos registros da memória cultural e aos estudos do acervo literário e inserem na pesquisa e na produção do texto literário, a ótica abrangente e consciente da pluriculturalidade na literatura. Nos estudos e trabalhos acerca da memória literária há a perspectiva de se refletir a questão do acervo literário como, com bem simbólicos, um patrimônio cultural e de fomento às pesquisas abertas ao novo, à interdisciplinaridade entre História e Literatura e a Literatura Comparada, o que certamente, proporciona um interessante espaço para o debate e para a soma das produções dos textos e das críticas produzidas na Literatura com forte interesse na heterogeneidade, na diversidade de campos de pesquisas e aos diferentes lugares dos enunciados. Os acervos literários enquanto produções literárias que comportam tempos, espaços, histórias, impressões distintas dos padrões tradicionais, mas com configurações particulares que formam a pluralidade do sistema literário escapando das tentativas de homogeneização da história da literatura em vogas até então. Pelo viés do estudo do acervo literário, a expectativa é abranger o estudo das fontes documentais e literárias com o interesse de refletir acerca das plurais identidades presentes na literatura.
6 REFERÊNCIAS ANTELO, R. Valor e pós-crítica. In.: MARQUES, R.; VILELA, L.H. (Orgs.). Valores: arte, mercado, política. B. Horizonte: UFMG. ABRALIC, 2002, p HOISEL, EVELINA. Os discursos sobre a literatura: algumas questões contemporâneas. p In.: COUTINHO, E. (org.). Fronteiras imaginadas. R. de Janeiro: Aeroplano, HALBWACHS, M. A memória coletiva. S. Paulo: Centauro, HUYSSEN, ANDREAS. Literatura e cultura no contexto global. In.: MARQUES, R.; VILELA, L.H. (orgs.) Valores: arte, mercado, política. B. Horizonte: UFMG. ABRALIC, 2002, p RESENDE, BEATRIZ. A formação de identidades plurais no Brasil moderno. p In.: COUTINHO, E. (org.). Fronteiras imaginadas. R. de Janeiro: Aeroplano, VIANNA NETO, A.R. Multiculturalismo e pluriculturalismo. p In.: FIGUEIREDO, E. (org.). Conceitos de literatura e cultura. J. de Fora: UFJF, 2005.
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