As afecções do sistema urinário são comuns em gatos domésticos (Felis
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- Baltazar Weber Monsanto
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1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO CISTITE INTERSTICIAL FELINA ANATOMIA DA BEXIGA CISTITE INTERSTICIAL Etiologia e Epidemiologia Neuroimunoendócrina Deficiência na camada de Glicosaminoglicanos - GAGs Sinais Clínicos Diagnóstico Laboratório Clínico Radiologia e Ultra-sonografia Patologia Clínica Tratamento CONCLUSÂO REFERÊNCIAS...21
2 6 1. INTRODUÇÃO As afecções do sistema urinário são comuns em gatos domésticos (Felis catus), as afecções do trato urinário inferior necessitam de maior atenção quanto ao diagnóstico correto (DAVIDSON et al., 1993). Segundo, Lees (2004), as Doenças do Trato Urinário Inferior dos Felinos devem ser investigadas quanto as diferentes causas e localização, porém se após avaliação apropriada essas não puderem ser identificadas, sugere-se o nome de doença idiopática do trato urinário inferior dos felinos. Em 1994, os pesquisadores descobriram que alguns gatos com formas idiopáticas de DITUIF (Doença Inflamatória do Trato Urinário Inferior dos Felinos) sofriam de Cistite Intersticial, pois esses animais apresentavam alterações similares àquelas relatadas nos humanos com Cistite Intersticial (OSBORNE et al., 2004). A Cistite Intersticial (CI) em humanos, segundo Tejerizo e Gueglio (2004), é uma síndrome caracterizada por um aumento na freqüência urinária, urgência de micção e dor abdominal ou perineal, com ausência de infecção urinária ou qualquer outra doença do trato urinário.
3 7 2. CISTITE INTERSTICIAL FELINA 2.1 ANATOMIA DA BEXIGA Segundo Kealy e McAllister (2005) a bexiga urinária é um órgão localizado no abdome caudal, que varia de posição e tamanho conforme a quantidade de urina no seu interior. No gato a bexiga localiza-se mais cranialmente que no cão e nas fêmeas mais cranialmente que nos machos. Dorsalmente a bexiga está ligada ao reto, ao cólon descendente e ao intestino delgado nos machos, e nas fêmeas está ligada ao ligamento largo do útero e à parede abdominal ventral. A Bexiga é mantida na posição por dois ligamentos laterais e um ligamento ventral, os quais prendem-se na parede lateral da pelve e na sínfise pélvica. Mesmo sua localização sendo extraperitoneal a bexiga é recoberta com peritônio. A parede da bexiga possui três camadas: mucosa, submucosa e muscular. (KEALY e McALLISTER, 2005) 2.2 CISTITE INTERSTICIAL Segundo Davidson (1993), as doenças inflamatórias do trato urinário inferior raramente podem ser incriminadas como causa primária de uma enfermidade dos gatos, já que o sistema urinário felino tem numerosas defesas anatomofuncionais intrínsecas contra o estabelecimento de afecções. Uma superfície epitelial intacta dentro das vias urinárias é uma barreira física contra a colonização bacteriana, por exemplo,
4 8 Em uma grande porcentagem dos casos de ocorrência natural das DITUIF, as causas exatas de hematúria, polaciúria, estrangúria, periúria e ou obstrução uretral ainda são desconhecidas. Após uma avaliação diagnóstica adequada, esses gatos são classificados como tendo DITUIF idiopáticas (LEES, 2004). Atualmente sugere-se que as DITUIF idiopáticas sejam classificadas como obstrutivas ou não obstrutivas, e também quanto à porção do trato urinário afetada. A CI está classificada como DITUIF do tipo não obstrutiva. (OSBORNE et al.,2004). Segundo Coelho e Rebola (2003), a CI humana é uma doença cujo diagnóstico assenta num conjunto de sintomas que são exageros das sensações normais, e onde não há achados patognomônicos. A dor é o sintoma mais característico, em geral é suprapúbica, que aumenta com a bexiga cheia, e alivia ou diminui com o esvaziamento vesical, mas que rapidamente retorna. A freqüência encontra-se aumentada durante todo o dia e os sinais persistem durante a noite Etiologia e Epidemiologia Segundo Tejerizo e Gueglio (2004), existem múltiplas prováveis etiologias para a existência da CI em humanos, entre elas: neurológicas, psicológicas, infecciosas crônicas, linfáticas, inflamações vasculares e autoimunes. Segundo OSBORNE (2004) a CI ocorre em machos e fêmeas felinos de todas as idades, porém é mais comum em fêmeas jovens de meia-idade (média de 3,5 anos, variação de 0,5 a 17,5 anos). Esta doença é rara nos gatos abaixo de 1 ano de idade e menos comum naqueles acima de 10 anos. Não há predileções raciais (OSBORNE, 2004).
5 Neuroimunoendócrina Segundo Reche e Hagiwara (2004) há uma evidenciação de que tanto os felinos quanto pessoas com CI apresentavam um aumento no número de fibras simpáticas na bexiga, além de contribuir para a teoria de que o processo inflamatório vesical teria um caráter neurogênico, poderia também definir uma provável participação do sistema nervoso autonômico-simpático na patogenia de ambas as doenças urinárias. Poderá existir um padrão de alteração da inervação da bexiga, com um aumento do fluxo simpático. Estudos demonstram uma diminuição da proteína S- 100, proteína essa que existe nas células de Schwann do Sistema Nervoso Autônomo e um aumento da atividade da Tyrosina Hidroxilase na bexiga, enzima que contribui para a síntese de catecolaminas (COELHO e REBOLA 2003). Outro aspecto bastante interessante e que, de certa forma, demonstra o envolvimento do sistema nervoso simpático (SNS) na patogenia das doenças urinária felina e humana é a observação do agravamento dos sinais clínicos frente a situações de estresse (RECHE e HAGIWARA, 2004). Segundo, Beaver (2005), estresse, medo, tensão de curta duração podem resultar em incontinência urinária em 2 ou 3 dias. Caso tais condições sejam prolongadas e suprimidas haverá redução na atividade gastrintestinal e conseqüente retenção urinária. Segundo Coelho e Rebola (2003), em casos de CI o Sistema Nervoso Periférico, e os Sistemas Imune e Endócrino estejam atuando em níveis diferentes. Essa teoria baseia-se no fato de que a ativação dos mastócitos próximos às terminações nervosas pode influenciar os níveis de estradiol e de hormônio liberador
6 10 de corticotrofina. Níveis elevados de Tryptase, fator de crescimento do nervo, neutrofina 3 e o fator neurotrófico derivado de células da linha glial. Segundo Reche e Hagiwara (2004) tem-se observado que o estresse agudo e o crônico aumentam a imunorreatividade da tirosinahidroxilase (IR-TH), enzima limitante da taxa da síntese de catecolaminas, nos neurônios adrenérgicos do complexo LC de animais saudáveis. Porém, pouco se sabe sobre os efeitos do estresse induzido por enfermidades crônicas, como é o caso da DITUIF e da CI. A autoimunidade foi durante muitos anos uma possibilidade considerada, mas ainda hoje é controversa. Há numerosos trabalhos de autoanticorpos em pacientes com CI, e existem numerosos aspectos clínicos e histopatológicos comuns com este tipo de doença. Contudo a doença não parece ter origem em uma reação autoimune do tecido vesical, mas os achados patológicos e os sinais resultaram indiretamente da destruição tissular e inflamação provocadas por outra causa ainda desconhecida. (COELHO e REBOLA, 2003) Deficiência na camada de Glicosaminoglicanos - GAGs Segundo Coelho e Rebola (2003) a inflamação parece ter um papel essencial na CI, onde ao exame histológico observa-se lesões do tipo úlceras da mucosa, pancistite e infiltrados inflamatórios perineurais. A presença de mastócitos, com a libertação de histamina e conseqüentemente o aparecimento de dor, hiperemia e fibrose, está claramente associado ao tipo clássico de CI.
7 11 Segundo Reche e Hagiwara (2004) para explicar as causas da inflamação vesical encontrada na CI podem ser incluídas as infecções virais, doenças mediadas por mastócitos e defeitos na camada superficial mucosa urinária de GAGs. Segundo Coelho e Rebola (2003) em humanos o defeito dos GAGs das células da superfície aumenta a permeabilidade da mucosa, expondo a submucosa e as terminações nervosas aos metabólitos da urina. Os glicosaminoglicanos (GAGs), segundo Cardoso e colaboradores (2000), são heteropolissacarídeos complexos que possuem quantidades diversas de grupamentos carboxila e sulfato. Os GAGs portanto têm alta densidade de grupamentos aniônicos, e in vivo esses polissacarídeos existem sob a forma de glicoconjugados denominados proteoglicanos, cuja parte protéica contem quantidades variáveis de domínios de adesão. Os proteoglicanos têm, dessa forma, grande capacidade de interações específicas com o meio circundante, e suas funções fisiológicas são basicamente decorrentes dessa propriedade. Essas funções incluem principalmente: retenção seletiva de íons e moléculas difusíveis; organização estrutural da matriz extracelular; regulação da interação célula-matriz extracelular e célula-célula; modulação do efeito de citocinas; e regulação da atividade de proteases. Os GAGs desempenham diferentes e importantes funções na fisiologia da bexiga. Em virtude de sua bem conhecida interação com o colágeno e outros componentes da matriz extracelular, pode-se inferir que os GAGs têm participação marcante nas propriedades de complacências da parede vesical. A camada de GAGs não apenas impedem a difusão dos componentes da urina para dentro da parede da bexiga, mas também dificultam a aderência de bactérias ao urotélio. Baseados nessas propriedades tem-se correlacionado alterações de GAGs do urotélio com a CI.
8 12 Segundo Reche e Hagiwara (2004) a simples identificação da diminuição das GAGs na bexiga de pessoas e gatos com CI parece não ser suficiente para elucidar as dúvidas concernentes à inflamação vesical em ambas as espécies. Informações importantes ainda precisam ser obtidas para um melhor esclarecimento da participação das GAGs, tais como os tipos mais freqüentes das GAGs em felinos e humanos, se ocorre diminuição seletiva de algumas GAGs e principalmente, se ocorre alteração qualitativas ou quantitativas de GAGs em outras doenças urinárias inferiores tanto em gatos como em humanos Sinais Clínicos A CI em humanos, trata-se, de um quadro clínico complexo caracterizado, principalmente, por urgência, polaciúria, e dor pélvica ou perineal. Atualmente, acredita-se que essa tríade clássica representa apenas de 5% a 10% dos casos (PALMA e DAMBROS, 2001). Segundo Tejerizo e Gueglio (2004) em humanos a dor vesical está presente em 85% dos casos, a localização da dor pode ser variável, podendo ser suprapúbica, perineal, vulvar, vaginal e/ou muscular. O número médio de micções diárias é de 16, porém para fins de diagnóstico considera-se mais que 8 micções diárias,com dor e urgência, há pacientes que têm 40 micções por dia. O volume de cada micção em mulheres geralmente está abaixo de 100ml. Toda a sintomatologia pode ser exacerbada após atividade sexual, em mulheres no período de menopausa e nos dias que antecedem a menstruação. Segundo Lees (2004) Os animais com distúrbios de micção apresentam sinais correlacionados com anormalidades na fase de micção. Os distúrbios da fase
9 13 de armazenamento geralmente desencadeiam incontinência urinária. Já os distúrbios da fase de eliminação da urina geralmente produzem um grau de esvaziamento vesical incompleto e retenção urinária. A Cistite Intersticial Felina, segundo Osborne et al. (2004) aumenta a estimulação do reflexo da micção podendo causar incontinência de urgência. A eliminação de urina está normal, mas a fase de armazenamento está encurtada, havendo assim uma vontade intensa de urinar, a ponto de não ser controlada, onde muitas vezes a micção pode parecer involuntária Diagnóstico A suspeita diagnóstica em humanos é feita observando-se a sintomatologia clínica. Devem ser eliminadas suspeitas de moléstias relativas ao trato urinário e genital para se poder chegar ao diagnóstico da cistite intersticial, constituindo diagnóstico de exclusão (COSTA e COSTA, 2004) Laboratório Clínico Segundo Barsanti, Finco e Brow (1994), o diagnóstico da CI é baseado em urinálises e exclusão de outras causas de hematúria e disúria. A urinálise típica de CI mostra hematúria, pode haver piúria. A cultura de urina encontra-se negativa. Em animais sadios, segundo Rich, Coles e Meyer (1995) é comum aparecer um pequeno número de células epiteliais na urinálise, mas este número pode aumentar em animais com cistite e outras inflamações do trato urinário inferior.
10 Radiologia e Ultra-sonografia Se o gato tiver repetidos episódios deve ser realizado exame radiográfico para excluir a existência de urolitíases e massas neoplásicas (BARSANTI, FINCO e BROW, 1994). A cistouretrografia contrastada pode estar normal ou revelar espessamento da parede vesical, irregularidades da mucosa, divertículos uracais e estreitamento uretral. Os achados ultra-sonográficos das CI não foram caracterizados; entretanto, coágulos sangüíneos e irregularidades ou espessamentos murais podem ser detectados (OSBORNE et al., 2004). Segundo Kealy e McAllister, (2005) em gatos pelo risco de embolia na realização de pneumocistografia, a cistografia de contraste (positivo) é mais indicada. O meio de contraste diluído de 10 a 20% de peso por volume de iodo é injetado através de um cateter urinário, com o animal sob anestesia, até que a bexiga esteja moderadamente distendida (6-12ml/kg) Patologia Clínica A cistoscopia, sob anestesia, auxilia o diagnóstico. A realização da mesma após hidrodistensão com infusão de água com pressão entre 60-80cm de água por cerca de 2-3 minutos, confirma o diagnóstico em presença de hemorragia submucosa e glomerulações. As úlceras de Hunner, forma clássica de CI, são identificadas em 10% dos casos. Adicionalmente, a biópsia vesical mostra infiltração de mastócitos na submucosa. (ZIMMER et al., 2005)
11 15 Segundo Palma e Dambros (2001) para que seja possível confirmar o diagnóstico de CI em humanos o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos propôs os seguintes critérios: para inclusão automática a presença de úlceras de Hunner e para fatores de exclusão a capacidade vesical maior que 350ml, ausência de urgência sensitiva na cistometria, duração dos sintomas inferior a nove meses, ausência de noctúria e freqüência miccional menor que oito vezes ao dia. Segundo Reche e Hagiwara (2001) em um estudo comparativo entre gatos sadios e gatos com DITUIF foi observado que os gatos com DITUIF apresentaram hiperplasia e pregueamento epitelial, não evidenciados na bexiga dos gatos normais. A lâmina própria de bexiga de todos os gatos com DITUIF (Figura 1 B) apresentou edema, intenso infiltrado inflamatório mononuclear e proliferação de tecido conjuntivo, quando comparada à lâmina própria da bexiga dos gatos normais (Figura 1 A). O número de vasos na lâmina própria mostrou-se aumentado na bexiga de todos os gatos com DITUIF. As alterações histopatológicas encontradas são bastante semelhantes às descritas nos pacientes humanos com CI. A hiperplasia e pregueamento do epitélio vesical, observados na bexiga dos gatos com DITUIF, são também descritos nos estudos histopatológicos da CI, e evidenciam o caráter crônico do processo inflamatório vesical.
12 16 FIGURA 1 HISTOLOGIA COMPARATIVA DA BEXIGA DE UM GATO SADIO E DE UM GATO COM CISTITE INTERSTICIAL FELINA A B A: Fotomicrografia da bexiga (corpo) de um gato normal. Coloração: H-E. Aumento: 100x. B: Fotomicrografia da bexiga (corpo) de um gato com DITUIF evidenciando hiperplasia e pregueamento do epitélio vesical, hemorragia subepitelial, denso infiltrado inflamatório mononuclear, aumento do número de vasos em lâmina própria e proliferação de tecido conjuntivo. Coloração H-E. Aumento: 100x. FONTE: RECHE et al.(2001) Tratamento Segundo Costa e Costa (2004) o tratamento da CI em humanos não é curativo, mas sintomatológico, com medidas clínicas e medicamentosas. Apesar da cura ainda não ser possível, pode-se chegar à diminuição dos sinais clínicos e uma melhora da qualidade de vida do paciente. Segundo Osborne e colaboradores (2004) como os sinais clínicos vinculados a essa forma de doença muitas vezes são autolimitantes e de curta duração, qualquer terapia utilizada pode ser benéfica, desde que não traga prejuízos ao
13 17 animal. O manejo de gatos com CI, deve englobar (1) uma avaliação diagnóstica completa para excluir outras causas de DITUIF, (2) estratégias para minimizar a freqüência de seqüelas com risco de vida, (3) orientação ao cliente enfatizando a carência de estudos definitivos e demonstrando a eficácia das terapias propostas, (4) consideração de agentes farmacológicos para o controle sintomático dos sinais clínicos persistentes e (5) prevenção da doença iatrogênica. A Uroidrodistensão, sob anestesia, faz parte do diagnóstico e da terapêutica da CI. Em humanos as melhorias sintomáticas costumam ter duração de 3 a 6 meses, mas não costumam ser imediatas, ocorrendo exacerbações após a recuperação anestésica e nos primeiros dias, onde há necessidade de administração de analgésicos. Segundo Osborne e colaboradores. (2004) há relatos, de que a distensão controlada da bexiga durante a cistoscopia alivia os sinais clínicos em alguns gatos com DITUI idiopáticas. Entretanto, a eficácia da uroidrodistensão não foi avaliada de modo apropriado por meio de provas clínicas controladas. O uso de antibióticos não é recomendado, já que não trás benefícios terapêuticos e pode contribuir para o aparecimento de cepas resistentes (OSBORNE et al., 2004). Segundo Coelho e Rebola (2003) o uso de instilações intravesicais de DMSO (Sulfóxido de dimetila ou Dimetilsulfóxido), o qual se acredita ter ação antiinflamatória e analgésica, com fraca atividade antibacteriana, antifúngica e antiviral, é largamente utilizado na medicina humana. Já foram verificadas acima de trinta propriedades farmacológicas e terapêuticas do DMSO as quais resultam da sua capacidade de interagir ou
14 18 combinar com ácidos nucléicos, carboidratos, lipídeos, proteínas e muitas drogas sem alterar de forma irreversível a configuração molecular (ALVES, 1998). O DMSO foi usado para tratar DITUIF em gatos com base na eficácia relatada em humanos com CI. As dosagens e as freqüências de administração de DMSO foram empíricas. A instilação intravesical de 10 a 20 ml de DMSO a 10% foi associada com a melhora dos sinais clínicos em três gatos com DITUIF crônica (OSBORNE et al., 2004). Porém, os efeitos colaterais da administração intravesical de DMSO em gatos normais e naqueles com CI não foram claramente avaliados. Na dependência de estudos adicionais não é recomendado o uso desse agente. O Piroxican, um fármaco antiinflamatório não-esteróide, segundo Osborne e colaboradores (2004), foi empiricamente sugerido para reduzir a disúria e a polaciúria em gatos com CI. A dose empírica é de 0,26mg/kg por via oral cada 24 horas. Na dependência de provas clínicas controladas duplo-cegas, não é possível tecer recomendações sobre a segurança e a eficácia desse agente para o tratamento de gatos com CI. Em virtude de suas potentes propriedades antiinflamatórias os glicocorticóides, segundo Osborne e colaboradores, (2004) são uma escolha terapêutica coerente para minimizar a disúria e a hematúria, esses agentes devem ser usados, sob qualquer condição,com cautela nos gatos com CI. Segundo Coelho e Rebola (2003) o Pentosan Polissulfato de Sódio (análogo semi-sintético de baixo peso molecular da heparina), é a única medicação oral específica para a CI humana. A sua utilização tem como suporte a deficiência na camada de GAGs. Atua restaurando a mucosa lesada, e há melhoria da dor, da urgência e da freqüência miccional.
15 19 Segundo Osborne e colaboradores a segurança e a eficácia do uso do Pentosan Polissulfato de Sódio para o tratamento de CI nos felinos ainda não foram avaliadas por meio de provas clínicas controladas. Recomenda-se cautela no emprego de GAGs para tratar a CI. A Amitriptilina é uma droga antidepressiva e ansiolítica com propriedades anticolinérgicas, anti-histamínicas, antiinflamatórias e analgésicas, utilizada de modo abundante no tratamento de cistite hemorrágica humana, e empiricamente no tratamento de CI em felinos. As doses em gatos variam de 5 a 10 mg/gato, administradas por via oral uma vez ao dia. Segundo Osborne e colaboradores (2004) não há relatos de estudos que avaliem de forma eficaz a ação da amitriptilina no tratamento de CI em felinos, recomendando-se cautela ao utilizá-la. Segundo Beaver (2005), o estresse desempenha um papel importante relacionado ao aparecimento dos sinais da CI, mesmo esse não sendo a causa primária a redução de modificações no ambiente contribui para evitar a ocorrência de DITUIF. Um manejo adequado,minimizando as alterações na dieta, evitando a introdução de novos animais, a disponibilização de brinquedos e esconderijos para o animal, evitam a exacerbação dos sinais.
16 20 3. CONCLUSÂO A Cistite Intersticial felina é uma forma de DITUIF, que até 1994 era conhecida apenas como uma das formas de DTUI idiopática. Porém com o aumento no interesse do estudo da medicina felina essa pôde ser parcialmente elucidada. O diagnóstico da CI baseia-se principalmente no histórico clínico e na não confirmação de outras formas de DITUIF através de exames complementares, já que as alterações típicas da CI dificilmente são observadas. Ainda atualmente a(s) etiologia(s), da CI são controversas, tanto na medicina veterinária com na humana, a deficiência na camada de GAGs mesmo sendo comprovada ainda não é totalmente aceita, o que leva a acreditar que estudos complementares devem ser realizados. Com um maior aprofundamento no estudo da medicina felina e das afecções do trato urinário inferior é possível obter maiores informações sobre o uso de fármacos para o tratamento da CI, já que poucos experimentos têm sido realizados para comprovar a eficácia de medicamentos atualmente utilizados para o tratamento da CI humana.
17 21 4. REFERÊNCIAS ALVES, Geraldo Eleno Silveira. Dimetilsulfóxido. Disponível em: Acesso em: 12 de abr BARSANTI, Jeanne A.; FINCO, Delmar R.; BROW, Scott. Diseases of the Lower Urinary Tract. In: SHERDING, Robert. The Cat Diseases and Clinical Management. v.2. 2 ed. Washington, p BEAVER, Bonnie. Comportamento de Micção e Defecação de Felinos. In:. Comportamento Felino. 2 ed. São Paulo: Roca, p CARDOSO, Luiz E. M. et al. Developmental Changes of Glycosaminoglycans in the Human Fetal Bladder Wall. Disponível em: Acesso em: 12 de abr COELHO, Manuel Ferreira; REBOLA, Jorge. Cistite Intersticial etiopatogenia e atitudes terapêuticas. Acta Urológica,Lisboa, v.20, p.19-24, COSTA, Artime; COSTA, Aretusa Ferreira da Motta. Cistite Intersticial Aspectos diagnósticos e terapêuticos. Disponível em: Acesso em: 13 de abr DAVIDSON, Autumn P.; LEES, George E. Diagnóstico y tratamiento de la uropatía infecciosa. In: AUGUST, John R. Consultas em Medicina Interna Felina. Buenos Aires: Inter Médica, p KEALY, J. Kevin; McALLISTER, Hester. O abdome. In:. Radiologia e ultrasonografia do cão e do gato. 3 ed. São Paulo; Manole, p LEES, George E. Incontinência, Enurese, Disúria e Noctúria. In: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward. Tratado de Medicina Interna Veterinária Doenças do cão e do gato. v.1. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p
18 22 OSBORNE, Carl A.; et al. Doenças do Trato Urinário Inferior dos Felinos. In: ETTINGER, Sephen J.; FELDMAN, Edward. Tratado de Medicina Interna Veterinária Doenças do cão e do gato. v.2. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p PALMA, Paulo César Rodrigues; DAMBROS, Miriam. Avaliação e tratamento da Cistite Intersticial. Associação Paulista de Medicina, São Paulo, Disponível em: RECHE JÚNIOR, Archivaldo; HAGIWARA, Mitika. Semelhança entre a doença idiopática do trato urinário inferior dos felinos e a cistite intersticial humana. Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.1, jan./fev RECHE JÚNIOR, Archivaldo; HAGIWARA, Mitika. Histopatologia e morfometria da Bexiga de Gatos com Doença Idiopática do Trato Urinário Inferior. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.6, nov./dez RICH; COLES; MEYER. Anormalidades em testes do trato urinário. In:. Medicina de Laboratório Veterinária interpretação e diagnóstico. São Paulo: Roca, p TEJERIZO, J. C.; GUEGLIO, G. Cistitis intersticial. Revista Argentina de Urologia, Buenos Aires, v. 69. n.3, ZIMMER, Michael G. et al. Importância do Diagnóstico de Cistite Intersticial na dor pélvica crônica. Scientia Medica. Porto Alegre, v.15, n.1, p , jan./mar
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