O QUE É O PROGRAMA PROEJA FIC? UM RELATO SOBRE O PROEJA FIC DO IF FARROUPILHA-CÂMPUS SÃO BORJA

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1 O QUE É O PROGRAMA PROEJA FIC? UM RELATO SOBRE O PROEJA FIC DO IF FARROUPILHA-CÂMPUS SÃO BORJA Elenize Nicoletti 1 Onorato Fagherazzi 2 Caroline Lacerda Dorneles 3 Resumo: O referido trabalho tem como objetivo descrever o programa PROEJA FIC do Instituto Federal Farroupilha Campus São Borja, sua metodologia e organização. Também busca apresentar um relato sobre o perfil dos sujeitos envolvidos no Programa e a sua importância para a Instituição. Os dados foram coletados durante atuação no referido programa no ano de 2011 e durante o desenvolvimento de uma pesquisa no ano de Palavras-chave: Relato; Perfil dos estudantes; Programa PROEJA FIC. Introdução O presente trabalho apresenta um relato sobre a realidade investigada durante uma pesquisa realizada no Instituto Federal Farroupilha, Câmpus São Borja/RS, no programa PROEJA Formação Inicial e Continuada/Ensino Fundamental, no ano de 2012, com o Curso de Pesca Artesanal de Água Doce e com o Curso Auxiliar de Cozinha. Além disso, busca descrever o programa PROEJA FIC e a sua organização. O curso PROEJA FIC/Ensino Fundamental ocorre através da parceria do Instituto Federal, que oferece formação técnica, com as escolas municipais, as quais oferecem a formação inicial. No Instituto Federal Farroupilha Câmpus 1 Licenciada em Ciências Biológicas pela (UFSM), Mestre em Educação em Ciências: Químicas da Vida e Saúde e Doutoranda em Educação em Ciências: Químicas da Vida e Saúde na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). elenizenicoletti@gmail.com 2 Licenciado em Filosofia, Especialista em Educação pela (UFRGS); Especialista em Psicologia pela UNIPAZ (2011); e Mestre em Filosofia pela UFRGS. Doutorando em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde (FURG). Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul- IFRS campus Bento Gonçalves. onorato.fagherazzi@bento.ifrs.edu.br 3 Pedagoga; Psicopedagoga pela (URI-campus Santiago); Mestre em Educação (UFRGS); Doutoranda em Educação em Ciências: Químicas da Vida e Saúde na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atualmente trabalha como Pedagoga no Instituto Federal Farroupilha- IF Farroupilha. carol.lacerda.ped@gmail.com 1

2 São Borja, a parceria no ano de 2011, com o Curso de Pesca Artesanal de Água Doce, e com o Curso Auxiliar de Cozinha. Com base na realidade vivenciada no ano de 2011 e na coleta de dados realizada durante pesquisa em 2012, apresenta-se a descrição do programa PROEJA FIC, sua estrutura e organização para demonstrar que programa é este. A estrutura dos cursos abrange o currículo do Ensino Fundamental para Educação de Jovens e Adultos, desenvolvido por professores da Rede Municipal, e a integração de disciplinas da área profissional, desenvolvida por professores do Instituto Federal. As disciplinas técnicas e do currículo dos anos iniciais são elaboradas a partir das demandas detectadas durante as entrevistas, com os candidatos, no processo seletivo e no decorrer do processo de reconhecimento dos saberes. O curso PROEJA FIC é projetado de acordo com a legislação vigente e conforme a cartilha Documento Base Brasil (2009), precisa ter duração de 18 meses, carga horária de 1400h, sendo 200h destinadas à qualificação profissional. As atividades são desenvolvidas pela equipe de professores e técnicos administrativos do Instituto Federal Farroupilha, que é uma instituição de educação superior, básica e profissional, pluricurricular e multicampi, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com sua prática pedagógica. Para atuar no PROEJA FIC/Ensino Fundamental, as equipes de educadores do Instituto Federal de Educação e da Rede Municipal participam de Formação Continuada, na qual trocaram experiências e articularam o currículo integrado ao material pedagógico, organizado conforme a realidade dos alunos. Para Ciavatta (2005), a construção do currículo integrado visa a agregar o sentido de plenitude, de compreensão das partes no todo, em uma visão holística, enfocando o trabalho como princípio educativo, tentando superar a dicotomia do trabalho manual/trabalho intelectual e incorporar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo. Dessa forma, as escolas participantes utilizam materiais elaborados 2

3 pelos professores através da Formação Continuada, articulando a visão de currículo integrado em suas propostas pedagógicas. A equipe planeja o material didático baseado nas reuniões de formação. Como havia duas escolas envolvidas, os professores do Curso de Pesca trabalhavam com base em uma apostila com o tema gerador: o rio Uruguai e os professores do Curso Auxiliar de Cozinha trabalhavam utilizando material de diversos livros e materiais midiáticos, tentando articular o planejamento ao projeto integrador proposto pela equipe da escola. Para realizar as aulas práticas o Curso de Pesca contava com um barco doado pela Receita Federal, que servia como laboratório, e o Curso Auxiliar de Cozinha, com a cozinha, que servia como laboratório. Ao levar em conta as diferentes realidades dos cursos, as aulas no Curso Auxiliar de Cozinha, ocorriam durante a semana no turno da noite, sendo um único dia destinado às disciplinas profissionalizantes. No Curso de Pesca era diferenciado em função da piracema 4. Nos meses de outubro, novembro e dezembro, as aulas ocorriam todas as noites. Em março, quando retornam das férias, as aulas eram adaptadas à piracema e aos dias em que os educandos não estavam acampados na beira do rio. Os cursos eram estruturados por semestre, havendo uma projeção de disciplinas referentes ao Ensino Fundamental e ao Ensino Profissionalizante em cada semestre. A duração era de dezoito meses, o que representou três semestres para a conclusão do Ensino Fundamental. A avaliação foi realizada no decorrer do semestre, havendo necessidade de ser desenvolvido, no mínimo, dois instrumentos avaliativos, e, a cada final de semestre, geradas médias finais. Ao concluir o curso PROEJA FIC/Ensino Fundamental, o aluno recebe o certificado de Trabalhador Pescador Artesanal de Água Doce que lhe permite trabalhar em barcos de pesca, realizando captura, manuseio e armazenamento do pescado a bordo, bem como o beneficiamento inicial do pescado para 4 Período de desova dos peixes que ocorre entre os meses de outubro a março. A pesca nesse período é considerada crime. 3

4 comercialização. Os alunos do Curso de Auxiliar de Cozinha recebem o certificado de Auxiliar de Cozinha e podem atuar em restaurantes, cozinhas de escolas, em atividades como higienização da cozinha e auxílio no preparo de alimentos. Após a conclusão do curso PROEJA FIC/Ensino Fundamental, os alunos também são convidados a elevar a escolaridade, participando de cursos oferecidos pelo Instituto Federal, tendo a vaga garantida. Desenvolvimento Como desenvolvimento deste trabalho apresenta-se o perfil dos sujeitos envolvidos durante a pesquisa realizada em Os sujeitos da pesquisa eram os alunos do programa PROEJA Formação Inicial e Continuada/Ensino Fundamental do Instituto Federal Farroupilha, Câmpus São Borja/RS, matriculados no Curso de Pesca Artesanal de Água Doce e no Curso Auxiliar de Cozinha. Esses alunos passaram pelo processo de reconhecimento de saberes e foram encaminhados para o curso PROEJA FIC/Ensino Fundamental por ainda não terem o Ensino Fundamental completo. De acordo com levantamento de dados, o grupo dos pescadores era composto por trinta e três (33) trabalhadores matriculados; destes, dezenove (19) estavam concluindo o Ensino Fundamental e realizavam as disciplinas do ensino técnico e do ensino fundamental, e quatorze (14) já possuíam o Ensino Fundamental completo e buscam apenas a certificação. Do grupo de pescadores com Ensino Fundamental completo, apenas um (1) aluno cursava as disciplinas práticas (técnicas), pois os outros demonstraram domínio dos conhecimentos relativos ao tema. O Curso Auxiliar de Cozinha possuía trinta e um (31) educandos; sendo que seis desses evadiram e quatorze estavam concluindo o Ensino Fundamental, cursando as disciplinas técnicas e do Ensino Fundamental. Onze (11) alunos concluíam o Ensino Fundamental em uma escola do interior do município, através de uma parceria com a prefeitura, cursando apenas as disciplinas do Ensino Fundamental. A maioria dessas alunas trabalha com atividades voltadas para a cozinha e manejo de alimentos em restaurantes da 4

5 cidade, ou como ambulantes, na venda de produtos alimentícios, assim como em atividades em seus próprios lares. Além de ajudarem no sustento da família, são mães e esposas que retornaram aos estudos em busca de melhores condições de vida, e depositam na escolarização a força para lutar em prol de uma vida melhor. No desenvolvimento deste trabalho, demonstraram-se interessadas em participar para ajudar na pesquisa e para auxiliar nos estudos com adultos, pois acreditam que trabalhos dessa natureza podem ser importantes para o futuro de seus filhos. Diante disso percebemos que, em todos os aspectos, os filhos são lembrados, ou seja, a família é o motivo que as leva a retomar os estudos e a buscar melhorar de vida. No Curso de Pesca, havia grande participação de homens e mulheres, com predominância de homens. Já no Curso Auxiliar de Cozinha, ocorre uma situação inversa, pois havia pouca participação de homens, predominando as mulheres. Nas fichas de inscrições, há relatos de que esses sujeitos pararam de estudar por diversos motivos, tais como para cuidar da família, falta de acesso à escolarização, bem como para iniciar atividades laborais. A maioria cursou até a 4ª série do Ensino Fundamental, e os que não concluíram a 4º série estão cursando a alfabetização para, posteriormente, entrar no PROEJA FIC/Ensino Fundamental. Os homens trabalham diretamente com a pesca e a limpeza dos pescados, bem como na conservação e venda dos peixes; já as mulheres, além de trabalharem na pesca, ajudam seus esposos a remar o barco, a limpar os peixes, assim como na confecção de artesanatos com as escamas dos peixes e produção de alimentos, com base no próprio pescado. Observamos que a prática da pesca foi aprendida com os pais dos pescadores e eles ensinam essa atividade a seus filhos e esposas. Considerações finais O Programa PROEJA FIC possibilitou a inclusão dos pescadores e dos auxiliares de cozinha na escola e na sociedade, pois se acredita que elevando a escolaridade estas pessoas têm mais chance de buscar uma vida melhor. 5

6 Além de possibilitar o acesso à escola, o Programa possibilitou uma capacitação profissional e inclusão na sociedade, tendo em vista que foram realizados encontros e almoços comemorativos. Referências CIAVATTA, Maria. A formação integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade. In: FRIGOTTO, Gaudêncio, CIAVATTA, Maria e RAMOS, Marise (orgs.). O ensino médio integrado. 1ª ed. Concepção e contradições. São Paulo: Cortez, BRASIL. Ministério da Educação. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de jovens e Adultos PROEJA. Documento Base, Brasília, agosto, Lei 9.394/1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional - LDB. Disponível em: Acesso em: 21 fev