SERViÇO FEDERAL MJ - IA FEDERAL DIRETORIA DE INVESTIGAÇÃO E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO GRUPO DE INQUÉRITOS DO STF - GINQ/STF/DICOR

Transcrição

1 .. " _ SERViÇO FEDERAL MJ - IA FEDERAL DIRETORIA DE INVESTIGAÇÃO E COMBATE AO CRIME ORGANIZADO GRUPO DE INQUÉRITOS DO STF - GINQ/STF/DICOR TERMO DE DEPOIMENTO que presta BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JUNIOR: Ao(s) 20 dia(s) do mês de junho de 2017, neste Edifício-Sede da Polícia Federal, em Brasília/DF, onde presente se encontrava MARLON OLIVEIRA CAJADO DOS SANTOS, Delegado(a)de Polícia Federal, 1 a Classe, Matrícula n.o , lotado(a)e/ou em exercício ná Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado - DICOR, compareceu BENEDICTO BARBOSA DA SILVA JUNIOR, sexo masculino, nacionalidade brasileira, casado(a), filho(a) de BENEDICTO BARBOSA DA SILVA e ALICE DINIZ DA SILVA, nascido(a) aos 30/09/1960, natural de Lins/SP, instrução ensino superior - graduação, profissão Engenheiro Civil, documento de identidade n /SSP/SP, CPF , residente na(o) Rua Codajás, 372, Condomínio Jardim Pernambuco, bairro Leblon, CEP , Rio de Janeiro/RJ, fone (21) , celular (21) Compromissado nos termos do do Art. 4, 14, da Lei /2013. Inquirido pela autoridade policial a respeito dos fatos, RESPONDEU: QUE trabalhou na ODEBRECHT por 32 anos, tendo ingressado na empresa desde que saiu da faculdade em 25/02/1985; QUE passou por todos os cargos que um engenheiro civil pode passar dentro da empresa, sendo iniciado com trainee, passando para estagiário, engenheiro civil, chefe de setor, gerente de área, gerente de contrato, diretor superintendente e por fim presidente da CONSTRUTORA NOBERTO ODEBRECHT - CNO, conhecido no jargão interno como líder empresarial da área de infraestrutura; QUE nessa área era responsável por todas as obras de infraestrutura da ODEBRECHT no país, exceto pela PETROBRÁS, que ficava afeta à área de engenharia industrial; QUE como líder empresarial era responsável pela execução das obras de infraestrutura de todo o país, seguindo os padrões da ODEBRECHT; QUE o responsável imediato pela gestão da obra era o diretor de contrato, o qual ficava subordinado ao diretor superintendente regional, e este, por sua vez, era subordinado ao depoente; QUE quando havia negociações com solicit

2 ., de vantagens indevidas, estas eram repassadas ao crivo do depoente; QUE a responsabilidade pela aprovação e autorização de pagamentos indevidos ficava a cargo dos líderes empresariais, presidentes de cada umas das empresas do Grupo ODEBRECHT; QUE não havia um valor de alçada específico; QUE por isso as decisões de pagamentos ilícitos ficavam principalmente a cargo dos líderes empresariais, havendo participação do presidente da holding, MARCELO BAHIA ODEBRECHT, somente quando havia algum embaraço maior que o líder empresarial não pudesse resolver, o que era exceção, ou em caso de doações para eleições presidenciais; QUE os pagamentos realizados em doações oficiais (caixa 1) pela CNO, para doações eleitorais, eram tidos como algo nobre para a empresa, de modo que não havia pagamentos de propina por meio de doações em caixa 1, que eram utilizadas para construir relações com políticos, ter uma interlocução facilitada e poder contar com a boa vontade ou participação do político em eventual demanda de interesse da CNO; QUE no entanto a relação imediata com as casas do Congresso Nacional ficava a cargo do diretor de relações institucionais da holding ODEBRECHT, CLÁUDIO MELO FILHO; QUE os pagamentos a fornecedores realizados pela CNO também, via de regra, não eram destinados à formação de "caixa 2", e essa regra ocorreu principalmente em razão do "escãndalo do orçamento" ocorrido em 1992; QUE a partir daí, passou-se a adotar essa regra no âmbito do Grupo, havendo a expressa proibição a qualquer executivo de adotar esse tipo de conduta, a qual era cara para a empresa; QUE a quebra de referida regra ocorreu em situações esporádicas, as quais fizeram parte de anexos da colaboração do depoente; QUE o depoente tomou conhecimento de que outros colaboradores feriram essa norma, à sua revelia, porém nesses casos, como não se passou pelo crivo do depoente, tais situações não constaram nos anexos que ofereceu à Justiça por ocasião de sua Colaboração; QUE os pagamentos de propina e de caixa 2, relacionados à CNO, eram feitos exclusivamente pelo Setor de Operações Estruturadas - SOE; QUE a relação do depoente com o SOE era direta, através de HILBERTO SILVA, o qual era coordenador do setor; QUE o depoente também tinha relação direta com LUIZ EDUARDO SOARES, o qual era responsável pela "tesouraria nacional" do SOE, e também apoiava o depoente em época de campanha eleitoral, já que o depoente era uma espécie de "coordenador" das doações realizadas pelo grupo ODEBRECHT; QUE Q

3 - " P F / FI: depoente tinha relação direta com FERNANDO MIGLlACCIO, o qual era responsável pela "tesouraria internacional"; QUE tinha relação direta com MARIA LÚCIA TAVARES, a qual era responsável pela execução financeira no plano nacional; QUE não tinha relação direta com ÂNGELA PALMEIRA, a qual era responsável pela execução financeira no plano internacional; QUE dentro do SOE ainda tinha UBIRACI, que era responsável por lançar a programação no sistema próprio do setor - DROUSYS; QUE o depoente tinha relação meramente institucional com as pessoas citadas; QUE as ordens de pagamento indevidos, conforme entendido pelo depoente, via de regra, obedeciam a seguinte sistemática: 1) surgia uma demanda de pagamento ilícito advinda do diretor superintendente da CNO, o qual já verificava se havia uma viabilidade do pagamento, correlacionado ao resultado financeiro anual que a sua superintendência poderia gerar para a empresa (havia uma regra dentro da empresa, por meio da qual se estipulava que se a diretoria/superintendência na qual surgiu a demanda por pagamento ilícito estivesse com resultado negativo, esta nem era submetida a apreciação, salvo raras exceções); 2) o diretor superintendente passava a demanda ao líder empresarial; 3) o líder empresarial aprovava a demanda, em seguida o diretor superintendente passava para UBIRACI, que alimentava o sistema, já com as condições de execução, como volume, prazos e parcelas (o codinome normalmente era proposto pela pessoa que gerou a demanda - via de regra, o diretor superintendente); 4) UBIRACI passava a informação para que MARIA LÚCIA TAVARES fizesse a programação de execução financeira; 5) MARIA LÚCIA, por sua vez, entrava em contato com o diretor superintendente para informar a disponibilidade de dinheiro em caixa para a execução financeira, solicitando o endereço para entrega, via doleiro ou mensageiro do demandante (destinatário do pagamento), e fornecendo a senha para que os valores fossem entregues; 6) o diretor superintendente entrava em contato com o demandante para passar a senha para liberação dos valores e acertar a forma de entrega; 7) por fim, o dinheiro era entregue por doleiro ou retirado pelo mensageiro, ou o próprio demandante, com a utilização da senha; QUE dentro da Liderança Empresarial de Infraestrutura, pela qual o depoente respondia, o SOE executava exclusivamente pagamentos de propina e de doações eleitorais não contabilizadas (caixa 2); QUE com relação ao pagamento de propina, a execução da ordem de pagamento seguia os procedimentos acima mencionados; RE N"0088/2017-1

4 . '.. ~~ pagamentos de propina eram alocados na própria obra, ou seja, o demandante do pagamento ilícito poderia gerar benefícios para o Grupo dentro daquele determinado projeto; QUE com relação aos fatos apurados nos autos deste inquérito, diga-se, processo licitatório da cidade administrativa de Minas Gerais e pagamentos indevidos para o então governador AÉCIO NEVES, o depoente se recorda que no início de seu segundo mandato como governador do Estado de Minas Gerais, foi convocado para uma reunião no Palácio das Mangabeiras, na qual AÉCIO NEVES mencionou a sua intenção de reunir toda a administração do Estado em um centro administrativo, e que desejaria que a CONSTRUTORA NORBERTO ODEBRECHT - CNO participasse desse projeto; QUE o depoente já possuía uma relação de proximidade com o então governador AÉCIO NEVES, que foi construída ao longo de vários anos desde o tempo em que AÉCIO era deputado federal, se mantendo próxima durante o período do seu primeiro mandato como governador de Minas Gerais; QUE na reunião acima mencionada o então governador AÉCIO NEVES solicitou que algum representante da ODEBRECHT procurasse OSWALDO BORGES DA COSTA FILHO, então presidente da CODEMIG, para tratar da participação da CNO na obra; QUE o depoente indicou o diretor superintendente da CNO para o Estado de Minas Gerais, SÉRGIO LUIZ NEVES, para estabelecer contato com OSWALDO BORGES DA COSTA; QUE foi informado por SÉRGIO NEVES que OSWALDO BORGES teria informado que a CNO participaria de um consórcio junto com a OAS e a QUEIROZ GALVÃO para a construção do lote 2 da cidade administrativa de Minas Gerais; QUE também tomou ciência por meio de SÉRGIO NEVES que ele, OSWALDO BORGES e representantes de outras empresas elaboraram conjuntamente os termos do processo licitatório, de modo a fraudá-lo, e beneficiar somente as empresas escolhidas; QUE durante o processo licitatório SÉRGIO NEVES informou ao depoente sobre a solicitação feita por OSWALDO BORGES DA COSTA FILHO para o pagamento de uma propina no percentual de 3% sobre o valor da participação da CNO na obra, a pretexto de abastecer caixa de futuras campanhas políticas do PSDB; QUE o depoente autorizou o pagamento do percentual solicitado; QUE naquela época já era notória a condição de OSWALDO BORGES DA COSTA FILHO como um "tesoureiro informal" de AÉCIO NEVES e ser pessoa da sua estrita confiança, vez que além de ser nomeado presidente da CODEMIG pelo próprio AÉCIO NEVES, ainda tinha uma relação de c:!if.- r

5 . ' '.., parentesco com este; QUE por esses motivos, além de ter sido o indicado de AÉCIO NEVES para tratar de questões relacionadas a construção da cidade administrativa, aceitou as condições solicitadas por OSWALDO BORGES; QUE o depoente não sabe especificar quais foram os valores pagos para AÉCIO NEVES, por intermédio de OSWALDO BORGES, até porque houve reajustes e aditivo ao contrato, mas de fato autorizou pagamento de 3% sobre o valor; QUE os pagamentos foram operacionalizados pelo SOE, mas SÉRGIO NEVES poderá fornecer maiores informações sobre a entrega dos valores; QUE o depoente conheceu OSWALDO BORGES em uma ocasião em que almoçaram juntos com SÉRGIO NEVES, tendo OSWALDO BORGES, inclusive, mostrado sua coleção de carros antigos; QUE os pagamentos indevidos foram registrados no sistema drousys, mas não foi o depoente que teria atribuído eventual codinome a esta programação; QUE os pagamentos se prolongaram por aproximadamente 02 (dois) anos e meio, período em que durou a construção da cidade administrativa; QUE o depoente não sabe informar se houve pagamento no exterior em decorrência dessa programação. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado(a) Foi então advertido(a) da obrigatoriedade de comunicação de eventuais mudanças de endereço em face das prescrições do Art. 224 do CPP. Encerrado o presente que, lido e achado conforme, assinam com a Autoridade Policial, O(a) Declarante, na presença de seu (sua, s) advogado(a, s) SALO DE CARVALHO, inscrito na OAB/RS sob n 34749, com escritório na Avenida Getúlio Vargas, 901/607, bairro Menino Deus, CEP , P Alegre/RS, comercial(51) , celular(21) , e comigo, Escrivã de Polícia Federal, 3 a Classe, " FRANCYS MARA SILVA PEREIRA, a rícula n.o , lotado(a)e em exercício na AUTORIDADE POLICIAL :... 'ra' ~~~~ ICO fpf, que o lavrei. DECLARANTE SILVA JUNIOR ADVOGADO(A) ADVOGADO(A) fls. 5/5