V Jornada das Licenciaturas da USP/IX Semana da Licenciatura em Ciências Exatas - SeLic: A

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1 JOGOS DIDÁTICOS: UMA METODOLOGIA FACILITADORA NO ENSINO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS Ernani Vicente Pereira Junior, Profa. Dra. Rosebelly Nunes Marques, Ivan Henrique Chagas Universidade de São Paulo/Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São Paulo Eixo 3: Ciências Agrárias RESUMO Os conhecimentos sobre morfologia, fisiologia, identificação e mecanismos de dispersão e sobrevivência de sementes são transmitidos por inúmeras disciplinas componentes de cursos técnicos e superiores na área das ciências agrárias, porém, geralmente, de maneira superficial e fragmentada. Neste contexto, torna-se relevante a busca por metodologias que fujam da aula tradicional e contribuam para o processo de ensino-aprendizagem desta temática. O presente trabalho tem por objetivo relatar as etapas de elaboração, aplicação e avaliação de um jogo didático, cuja estratégia é auxiliar na compreensão de assuntos voltados para o tema sementes e analisar os limites e possibilidades ao aplicá-lo para alunos de nível técnico. Reflexões apresentadas por estudantes de nível superior na área de agrárias, após avaliarem o jogo, revelaram que grande parte deles acredita que a inserção de jogos no ambiente educacional pode facilitar a compreensão de informações de difícil memorização e o desenvolvimento de conhecimentos práticos, sendo a utilização do jogo em questão vista como instrumento facilitador desses processos. Os aspectos lúdico e cognitivo presentes no jogo demonstram ser uma importante estratégia para a aprendizagem de conceitos, ao favorecer a motivação, o raciocínio, a argumentação e a interação entre os alunos e o professor. INTRODUÇÃO Ao longo da história, acreditou-se que a aprendizagem ocorria pela repetição e que seu sucesso era responsabilidade dos alunos. Atualmente, considera-se que o fracasso é também consequência de falhas no trabalho do professor. A ideia do ensino baseado no interesse do estudante tornou-se um desafio à competência do docente, que tem se transformado em gerador de situações estimuladoras para a aprendizagem, devendo, para isso, conhecer uma infinidade de técnicas e recursos (SANMARTÍ, 2002a). As aulas

2 precisam, cada vez mais, assumir um aspecto dinâmico e atraente, tornando-se comum o emprego de atividades que fujam do tradicional esquema de aulas teóricas, dentre estas, as de caráter lúdico são especialmente interessantes (RIBEIRO; SANTOS, 2001). A atividade lúdica em associação com as atividades educativas possui características próprias como: permitir a exploração e a manipulação; fornecer suporte à construção da personalidade; colocar o aluno em contato com outras pessoas, com objetos e com o ambiente em geral (KISHIMOTO, 1996). Durante as atividades lúdicas, o sujeito adapta-se às exigências do ambiente externo enquanto mantém sua estrutura mental intacta. O que distingue a atividade lúdica da não-lúdica é uma variação de grau nas relações de equilíbrio entre o eu e o real, ou seja, entre a assimilação e a acomodação (PIAGET, 1978). Dentre as atividades lúdicas destaca-se o jogo, pois tem uma função vital como forma de assimilação da realidade. Um jogo pode ser considerado educativo quando mantém um equilíbrio entre duas funções: a lúdica e a educativa. A lúdica está relacionada ao caráter de diversão que é propiciada. A educativa se refere à apreensão de conhecimentos, habilidades e saberes (KISHIMOTO, 1996). Para o aluno, o jogo constitui um meio de obter prazer, favorecendo a criatividade e a afirmação da personalidade (DOHME, 2003; KISHIMOTO, 2002). Porém, a aplicação do jogo não pode ser reduzida a um simples divertimento, pois iria rebaixar a educação e o aluno (CHATEAU, 1987). Por isso, para os educadores que lançam mão do uso de jogos com o objetivo de ensinar, este deve ser visto com outras funções: promovem a aprendizagem conceitual (PIAGET, 1978); permitem a estruturação de representações mentais e favorecem a motivação interna, o raciocínio, a argumentação e a interação entre os alunos e com o professor (CAMPOS; BORTOLOTO; FELICIO, 2003; FORTUNA, 2003); desenvolvem níveis diferentes de experiência pessoal e social e ajudam a construir novas descobertas, articulando-as com conhecimentos prévios (POZO, 1998); possibilitam aos participantes integrarem-se em um coletivo, compartilharem ocupações, coordenarem esforços, encontrarem vias para solucionar problemas e a exercerem responsabilidades (SANMARTÍ, 2002b); estimulam cognição, afeição, socialização e motivação (MIRANDA, 2001); introduzem e desenvolvem conceitos de difícil compreensão (CUNHA, 2005; GOMES; FRIEDRICH, 2001); propiciam a interdisciplinaridade, favorecem a competição sadia, resgatam o prazer em aprender e permitem ao professor diagnosticar dificuldades dos alunos (KISHIMOTO, 1996). O presente trabalho faz parte de um amplo projeto que envolve graduandos do curso de licenciatura em ciências agrárias na elaboração de instrumentos pedagógicos que

3 promovam a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, o objetivo do trabalho foi construir, avaliar e adequar um jogo didático que pudesse promover ganhos conceituais sobre os assuntos: morfologia, fisiologia, identificação e mecanismos de dispersão e sobrevivência de sementes, além de desenvolver em estudantes de nível técnico a motivação pela busca de conhecimentos em ambiente intra e extra classe. MATERIAIS E MÉTODOS O jogo, que recebeu o nome de Spóros (sementes em grego), é composto por 01 caixa de madeira com 16 divisórias, 02 dados numerados de um a seis, 02 recipientes contendo sementes, 32 plaquetas numeradas, 32 cartões ilustrados e 01 gabarito para facilitar a identificação das sementes. O Spóros é destinado a alunos do ensino técnico agropecuário e foi concebido para auxiliar na identificação e diferenciação de sementes de plantas daninhas, cultivadas e florestais. Antes do início do jogo, cada grupo (dois no total, com número variável de integrantes) recebe 8 cartões ilustrados, 8 plaquetas com numeração correspondente aos cartões e 1 tubo contendo 16 sementes iguais as da caixa com divisórias. Iniciado o jogo, os grupos têm 5 minutos para manipular as sementes contidas no tubo, analisar as informações descritas no cartão e definir uma semente para cada conjunto cartão/plaqueta. Cada grupo indica um jogador, o qual terá 1 minuto para ir até a caixa, para encontrar as 8 sementes e utilizar as plaquetas para identificá-las. Após ambos os grupos encontrarem e identificarem suas sementes na caixa, o professor utiliza o gabarito para conferir e quantificar os acertos e o grupo que obtiver maior pontuação vence a partida. Durante o jogo, o professor assume a função de mediador entre os grupos, esclarecendo dúvidas, incentivando a discussão e fornecendo explicações pertinentes a temática sementes. Para a análise da potencialidade do Spóros como ferramenta facilitadora do aprendizado, universitários da área de ciências agrárias foram convidados a utilizaram e avaliarem o jogo. Porém, antes de tomarem conhecimento das regras e da composição do material em questão, os acadêmicos foram submetidos a um questionário, cuja função foi verificar seus pontos de vista sobre o uso de atividades lúdicas no ambiente de ensino. Ao término das atividades, foi aplicado um novo questionário para averiguar o quanto esse modelo de abordagem poderia contribuir para seu próprio aprendizado e, consequentemente, para o desenvolvimento acadêmico de estudantes do ensino técnico. Além disso, as questões também serviram para coletar sugestões para a melhoria do jogo.

4 Figura 1: Componentes do jogo Spóros. RESULTADOS E DISCUSSÕES Todos os universitários participantes da pesquisa consideraram que o jogo foi um método eficaz de reforçar conteúdos sobre a temática sementes. Dentre as respostas apresentadas, podemos destacar as seguintes: O jogo introduz a temática de maneira dinâmica ; O jogo aguça a curiosidade para se buscar mais informações sobre o assunto ; Através do jogo, é possível transmitir o conteúdo de maneira descontraída ; Jogos didáticos são sempre uma boa maneira de aprender novos conteúdos e fixar conhecimentos. Figura 2: Freqüência de alunos que consideraram que o jogo pode trazer contribuições para o desenvolvimento acadêmico no que diz respeito ao tema abordado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Propostas de ensino envolvendo atividades que despertem nos estudantes motivação e proatividade para construir seu próprio conhecimento adquirem cada vez mais importância no cenário atual da educação brasileira. Entretanto, é sabido que para corroborar as considerações em torno das possibilidades e limites no uso do Spóros na busca desse objetivo tão amplo, é imprescindível a realização de testes extensivos com o público alvo. Para tanto, o jogo, recém produzido, encontra-se disponível para os acadêmicos do curso

5 de Licenciatura em Ciências Agrárias da ESALQ/USP para que possam utilizá-lo em atividades desenvolvidas como parte do programa de estágios curriculares. REFERÊNCIAS CAMPOS, L. M. L.; BORTOLOTO, T. M.; FELICIO, A. K. C. A produção de jogos didáticos para o ensino de Ciências e Biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Caderno dos Núcleos de Ensino, p , CHATEAU, J. O Jogo e a criança. São Paulo: Summus, p. 144 CUNHA, N. H. S. Brinquedos, desafios e descobertas. São Paulo: Vozes, p. 213 DOHME, V. Atividades lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelos no aprendizado. Petrópolis: Vozes, p. 182 FORTUNA, T. R. Jogo em aula. Revista do Professor, v. 19, n. 75, p , KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação, v. 22, p , KISHIMOTO, T. M. O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, p. 166 MIRANDA, S. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. Ciência Hoje, v. 28, p , PIAGET, J. A Formação do Símbolo na Criança. Rio de Janeiro: Zahar, p. 370 POZO, J. I. Teorias cognitivas da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, p. 284 RIBEIRO, M. G.; SANTOS, L. M. F. Atividades lúdicas no ensino de ecologia e educação ambiental: uma nova proposta de ensinoencontro Regional de Ensino de Biologia. Anais...Niterói: 2001 SANMARTÍ, N. Didáctica en las ciências em la educacion primaria. Madrid: Sintesis, 2002a. p. 382 SANMARTÍ, N. Didáctica en las ciências em la educacion secundaria obligatoria. Madrid: Sintesis, 2002b. p. 382