ESTRUTURA POPULACIONAL E ALOMETRIA REPRODUTIVA DE PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE) NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO ARAGUAIA, TOCANTINS

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1 ESTRUTURA POPULACIONAL E ALOMETRIA REPRODUTIVA DE PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES: PODOCNEMIDIDAE) NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO ARAGUAIA, TOCANTINS Tauana Soares de Sousa¹; Adriana Malvasio² ¹Aluna do Curso de Engenharia Ambiental; Campus de Palmas; tetiss19@gmail.com; PIVIC/UFT ²Orientadora do Curso de Engenharia Ambiental; Campus de Palmas; malvasio@uft.edu.br RESUMO No Brasil existem 36 espécies de quelônios onde 29 são de água doce, 2 são terrestres e 5 são marinhas distribuídos entre cágados, tartarugas e jabutis representando aproximadamente 11% do total de espécies existentes no mundo onde só no estado do Tocantins ocorrem 7 enquanto existem 16 espécies de quelônios na Amazônia brasileira distribuídas em seis famílias. O presente estudo foi realizado no entorno do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal) no rio Javaés no Estado do Tocantins e para a captura dos exemplares foram utilizados os métodos de mergulho e rede nas porções médio-rasas do rio. Durante o período estudado, foram capturados 31 indivíduos de P. expansa, nos meses de agosto, setembro, e dezembro de 2013 e após a captura e marcação foi realizada a biometria dos exemplares. Foi observado que o método de captura de rede de arrasto mostrou-se mais eficiente capturando a maior parte dos indivíduos estudados. Também pôde ser observado nesse estudo que os indivíduos jovens permanecem maior parte do tempo próximos as praias enquanto os indivíduos adultos e maduros permanecem nos remansos no período da cópula e mais adiante no período da desova. Existe uma predominância de uma população jovem que pode e deve estar relacionada ao fato de que a predação de fêmeas nas praias no período da desova esta contribuindo para a diminuição do número das mesmas disponíveis para a cópula, o que possivelmente contribuiu também para uma diminuição do número de ninhos nas praias comparado aos anos anteriores. Palavras-Chave: Podocnemis Expansa, Parque Nacional do Araguaia, Alometria. INTRODUÇÃO Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia), é o maior quelônio de água doce da América do Sul podendo alcançar 107 cm de comprimento de carapaça e pesar mais de 90 kg de massa corporal (Cantarelli et al,2014). A espécie é encontrada em rios e lagos, distribuindo-se pelas bacias do Amazonas e Orinoco, ocorrendo na Colômbia, Venezuela, Guianas, Equador, Peru, Bolívia e Página 1

2 Brasil, chegando a alcançar a região central do território brasileiro, nas bacias do rio Araguaia/Tocantins Goiás/Mato Grosso (MOLINA e ROCHA, 1996; BATAUS, 1998; VALENZUELA, 2001). É apontada como espécie predominantemente herbívora na natureza aceitando carne e peixe em cativeiro (MALVASIO et al, 2003). Declínios populacionais de quelônios em muitas partes da América do Sul, principalmente do gênero Podocnemis, levaram o Brasil a tomar iniativas envolvendo as comunidades e instituições locais em relação ao aumento da proteção aos habitats naturais de nidificação (Tera n 2005; Andrade et al. 2008a in Cantarelli, 2014). Entre as principais medidas de manejo, estão a proteção dos locais de desova e o translocamento de ninhos para locais protegidos (IBAMA, 1989; SOINI, 1997). MATERIAL E MÉTODOS Este estudo foi realizado no entorno do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal) no rio Javaés no Estado do Tocantins. Nessa área ocorre o Projeto de Quelônios da Amazônia que é coordenado pelo RAN / ICMBIO (Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), entre os paralelos 9º50 S e 11º10 S e os meridianos 49º56 W e 50º30 W durante as estações seca e chuvosa de 2013/2014. Para a captura dos exemplares foram utilizados os métodos de mergulho e rede nas porções médio-rasas do rio (IBAMA, 1989). No método do mergulho, o animal pôde ser avistado com facilidade dentro da água, procedendo-se a captura de maneira manual. Para o método da rede de arrasto, os exemplares foram capturados por uma rede de nylon, que consiste em amarrar suas pontas em dois barcos e os mesmos é mantido paralelamente com a mesma velocidade. Após o arrasto os animais aprisionados foram retirados da água e colocados dentro do barco (AURICCHIO; SALOMÃO, 2002). A diferenciação sexual realizou-se através de observação visual do tamanho dos escudos caudais do plastrão, que nas fêmeas forma uma fenda em V e nos machos em U, além do tamanho da cauda, que é maior nos machos (PRITCHARD;TREBBAU,1984). Os quelônios foram mensurados com fita métrica de precisão de 0,1cm para se obter as medidas de comprimento e largura da carapaça e plastrão, abertura carapaça-plastrão, altura e pesados em balança de precisão de 100g (MALVASIO et al,2005). Em seguida, foi realizada uma observação das anomalias, essas anomalias e defeitos foram descritos e uma ilustração representando cada animal será realizada a fim de facilitar uma posterior identificação do espécime no momento da recaptura. Página 2

3 A marcação dos animais realizou-se conforme a biometria perfurando-se os escudos marginais da carapaça que representam as unidades, dezenas, centenas e milhares, seguindo sentido horário conforme (Portelinha, 2007). A cada animal capturado cabe uma ficha de campo contendo dados sobre sua identificação, local de captura georreferenciado (uso de GPS), sexo, peso, biometria, anomalias e etc. RESULTADO E DISCUSSÕES Durante o período estudado, foram capturados e marcados 31 indivíduos de P. expansa, nos meses de agosto, setembro, e dezembro de 2013 onde 14 eram fêmeas e 17 eram machos com comprimento médio de carapaça de (34,9+/-6,6 cm), fêmeas uma média de (32,6+/-13,4 cm), apresentando uma razão sexual de aproximadamente 1,2:1 desviada para os machos. Durante as amostragens foram capturados indivíduos ao longo do leito do rio, sendo que a maioria eram adultos sexualmente maduros, (N=25, 81,3%). No entanto, também foram capturados indivíduos (N=6, 18,7%) em locais mais rasos (aproximadamente 50 cm) e com corrente mais rápida, próximos às praias, todos aparentemente juvenis. Dos animais capturados, 65,6% apresentaram defeitos e em nenhum registraram-se anomalias. No presente estudo, utilizou-se duas técnicas de amostragem e observou-se que a de rede arrasto foi a mais eficiente, tendo sido responsável pela captura de animais (83,8%) e os outros (16,2%) capturados pelo método de mergulho. No entanto, esse menor número de indivíduos que pode ser capturado em locais com águas mais rasas (aproximadamente 50 cm) e correntes, próximo às praias de desova no leito do rio, o que pode estar relacionado ao fato de que P. expansa possa estar usando os remansos e leito do rio como possíveis nichos ecológicos separando assim os indivíduos de acordo com a fase sexual que se encontram. Os mais jovens permanecem a maior parte do tempo próximos as praias enquanto os adultos e maduros sexualmente permanecem nos remansos no período da cópula e mais adiante no período da desova. Existe uma predominância de uma população jovem que pode e deve estar relacionada ao fato de que a predação de fêmeas nas praias no período da desova esta contribuindo para a diminuição do número das mesmas disponíveis para a cópula, o que possivelmente contribuiu também para uma diminuição do número de ninhos nas praias comparado aos anos anteriores o que dificulta o processo natural de vida da espécie. Ao analisar a razão sexual para a área de estudo, encontrou-se a proporção de 1,2:1 desviada para os machos, demonstrando que a população é constituída, em sua maioria, por machos. Página 3

4 A fêmea de P. expansa normalmente é maior que o macho quando chega a maturidade sexual (MOLINA, 1992; PRITCHARD, 1979), mas nesse estudo podemos observar que os machos adultos são maiores que as fêmeas mas isso não implica no resultado obtido na análise de variância porque apesar de ser menor a fêmea é naturalmente mais pesada que o macho por isso na análise os dois tem aproximadamente o mesmo peso. LITERATURA CITADA Andrade, P.C.M., Duarte, J.R.M., Benetton, M.L.F.N., Silva, R.L., Fernandes, F., Pinto J.R.S., Silva, A.V., Oda, W., Brelaz, A., e Rodrigues, W Manejo reprodutivo, predação e sanidade. In: Andrade, P.C.M. (Ed.). Criação e Manejo de Quelonios no amazonas. Manaus, AM, Brasil: IBAMA, Pró-Várzea. Pp BATAUS, Y.S.L. Estimativa de parâmetros populacionais de Podocnemi expansa (SCHWEIGGER, 1812) no rio Crixas-açu (GO) a partir de dados biométricos. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Ecologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 58p CANTARELLI, V.H, et al. Brazil s Podocnemis expansa Conservation Program: Retrospective and Future Directions p IBAMA;Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais ProjetoQuelônios da Amazônia 10 anos. Brasília,119 p Renováveis. MALVASIO, A.; SALERA JÚNIOR, G.; SOUZA, A.M. de; MODRO, N.R. Análise da interferência do manuseio dos ovos no índice de eclosão e no padrão de escutelação do casco e as correlações encontradas entre as medidas das covas, ovos e filhotes em Podocnemis expansa (Schweigger, 1812) e P. unifilis (Troschel, 1848) (Testudines, Podocnemididae). Publicações avulsas do Instituto Pau Brasil de História Natural, São Paulo, v. 8-9, p , MALVASIO, A.;Comportamento e preferência alimentar em Podocnemis expansa (Schweigger), P. unifilis (Troschel) e P. sextuberculata (Cornalia) em cativeiro (Testudines, Pelomedusidae). Revista Brasileira de Zoologia. v.20, n.1, p MOLINA, F.B. O comportamento reprodutivo dos quelônios. Biotemas, Florianópolis, v.5, pag , 1992 MOLINA, F.B.; ROCHA, M.B. Identificação, caracterização e distribuição dos quelônios da Amazônia Brasileira. Apostila da aula ministrada no mini-curso Metodologia de Pesquisa e Classificação de Quelônios, realizado durante o XI Encontro Sobre Quelônios da Amazônia. CENAQUA/IBAMA, Belém PA, PORTELINHA, T.C.G. Estudo das populações de Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis no rio Javaés, Tocantins. Monografia (Bacharelado em Engenharia Ambiental) Fundação Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 75 p Página 4

5 PRITCHARD, P.C.H. Encyclopedia of turtles. United States: T.F.H. Publications, Inc. Ltd,1979. Terán, A.F Participação comunitária na preservação de praias para reprodução de quelônios na reserva de desenvolvimento sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil. Uaraki 1(1): SOINI, P. Biología y manejo de latortuga Podocnemis expansa(testudines, Pelomedusidae).Tratado de CooperaciónAmazonica, Caracas, Venezuela, 47 p AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT Página 5