O alfaiate teve uma ideia. Cortou um cinto e bordou nele, em vermelho: Sete de uma só vez. Ajustou-o à cintura, fechou a alfaiataria e partiu para

Transcrição

1 O alfaiate valente E ra verão e o calor estava insuportável. O alfaiate do povoado havia levado a mesa para perto da janela, à procura de um pouco de vento fresco. Em decorrência do calor, muitas moscas voavam no aposento. O alfaiate as espantou, mas outras chegavam, cada vez mais insistentes. Então, ele perdeu a paciência, agarrou um pano e deu-lhes um golpe. Sete moscas tombaram em cima da mesa, mortas. O alfaiate sentiu-se um herói. Sou deveras corajoso. Sete de uma só vez!

2 O alfaiate teve uma ideia. Cortou um cinto e bordou nele, em vermelho: Sete de uma só vez. Ajustou-o à cintura, fechou a alfaiataria e partiu para enfrentar o mundo em busca de aventuras. Afinal, para um homem valoroso como ele, era um desperdício ser alfaiate! Levou para a viagem apenas um pedaço de pão e um queijo fresco. Caminhando, chegou ao topo de uma montanha e encontrou um gigante refrescando-se à sombra de uma moita. O alfaiate o cumprimentou, colocando o cinto bem à vista. O gigante leu a frase Sete de uma só vez e imaginou que aquele homenzinho tivesse matado sete homens de uma só vez.

3 Vamos ver se você é forte para me imitar! disse o gigante, pegando do chão uma pedra e apertando com tanta força que ela se espatifou. Disfarçadamente, o alfaiate puxou do bolso o queijo fresco, que parecia uma pedra, e o espremeu. O gigante assustou-se. Vamos realizar uma outra prova propôs o grandalhão. O gigante arrancou um pinheiro bem alto e colocou-o nas costas, como se fosse um raminho e pediu ao alfaiate que o ajudasse a levar a árvore para fora da mata. Vamos, ajude-me a levar esta árvore para fora da mata. Mas, assim que o gigante arrumou o tronco no ombro, o alfaiate sentou-se num galho, bem escondido entre o verde das folhas e só desceu de lá quando o gigante largou o tronco no chão, ofegante. O alfaiate o repreendeu: Eu carreguei o maior peso e é você que fica cansado?

4 O gigante desistiu de continuar aquela brincadeira e, espantado, foi embora. O alfaiate estava tão cansado que se deitou embaixo de uma árvore e adormeceu. Passou por ali um camponês que leu aquela frase no cinto, arregalou os olhos, correu para a corte e contou a todos que no bosque dormia um guerreiro que matara sete inimigos de uma só vez. A notícia chegou aos ouvidos do rei, e ele achou que um tipo corajoso assim tinha de estar ao seu serviço e o convidou para o exército do reino. O alfaiate aceitou o desafio.

5 Com o passar do tempo, o rei começou a sentir medo de que um dia aquele homem tão valente o destronasse. Desse modo, na esperança de eliminá-lo, o rei o enviou a uma missão perigosíssima: matar dois gigantes malvados que viviam próximo àquele reino. A recompensa seria metade do reino e a mão da princesa, a filha do rei, em casamento. O alfaiate partiu e levou com ele cem cavaleiros dos quais se livrou assim que chegaram à mata onde moravam os terríveis gigantes. Esperem aqui! Eu dou um jeito neles, sozinho. Para quem matou sete de uma só vez, livrar-se de dois não é nada! Os gigantes dormiam embaixo de uma árvore. O alfaiate colocou algumas pedras nos bolsos e subiu na árvore. Depois, deixou cair uma pedra na testa de um dos gigantes, que acordou e sacudiu o companheiro que dormia. Ei! Você está maluco? Por que me bateu? Eu? Não mexi um dedo sequer. Você sonhou! E os gigantes começaram a brigar, um atingindo o outro com troncos arrancados na hora. A luta foi tão violenta que após alguns minutos ambos estavam estirados no chão, mortos. O alfaiate desceu da árvore e foi chamar os cavaleiros.

6 Pronto, olhem! Missão cumprida. Foi dura a batalha, mas, enfim, eu venci! Ao ver o homenzinho são e salvo, sem arranhão algum e os gigantes mortos, os cavaleiros sentiram arrepios de medo. O rei recebeu-o sorrindo, mas logo lhe falou: Antes de levar metade do reino e casar-se com minha filha, você terá de executar uma outra tarefa. Em uma mata, aqui perto, há um javali enorme que arrasa as colheitas e mata ovelhas e bezerros. Terá de pegá-lo vivo. Dê-me uma corda e um machado, e vencerei disse o alfaiate.

7 Uma hora mais tarde, ele estava na mata. A certa altura ouviu um barulho. Olhou para trás e viu um javali grande como um elefante movendo-se em sua direção. Com um pulo, o alfaiate refugiou-se atrás de uma árvore. O javali corria tão rápido que acabou enfiando as longas presas no tronco da árvore e não conseguiu mais retirá-las. Com um golpe de machado, o alfaiate cortou as presas, amarrou bem firme o javali e o arrastou à frente do rei que, desta vez, não soube mais o que inventar para não manter a promessa. Assim, uma semana mais tarde o casamento foi celebrado e o pequeno alfaiate tornou-se rei de metade do reino.

8 Mas o rei não havia desistido de se livrar do alfaiate e, certo dia, pediu à filha: Esta noite deixe a porta do quarto aberta. De madrugada, um grupo de guardas surpreenderá o alfaiate enquanto dorme e o levarão para terras muito distantes. Mas um camareiro escutou a trama e alertou o alfaiate. Mais tarde, o alfaiate foi para a cama e fingiu dormir. Quando escutou os guardas chegando, começou a falar em voz alta, como se estivesse sonhando: Se já eliminei sete de uma vez só, se acabei com dois gigantes e capturei um javali, por que eu teria medo desses quatro covardes que estão entrando neste momento em meu quarto? Ao ouvir aquelas palavras, os guardas sentiram muito medo e correram assustados. A fama do alfaiate cresceu ainda mais e ele continuou a reinar sem ser importunado, governando sabiamente por muitos e muitos anos.